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  • segunda-feira, 7 de julho de 2014

    Tolerância (Jose Passini)



                                                                                                               “Trabalho, solidariedade e tolerância.”
                                                                                                                                                    Allan Kardec
               

           
                Há pessoas que invocam a lapidar divisa de Kardec, na parte referente à tolerância, aplicando essa virtude no campo das publicações de livros que estão sendo editados sem o menor critério, tanto no que se refere ao conteúdo, quanto à forma.
             É evidente que a recomendação do Codificador se aplica ao relacionamento entre as pessoas. Nesse sentido, há inúmeras páginas de benfeitores espirituais a recomendarem o exercício constante dessa virtude no relacionamento pessoal. Tolerância para com pessoas, não para com suas obras. Sobre estas, Kardec sempre exercitou o mais severo critério, recomendando se fizesse o mesmo, antes de se divulgar algo em nome do Espiritismo.
             Será que em nome da tolerância deve-se publicar tudo o que vem por via mediúnica, seja uma simples mensagem ou um livro, a fim de não se melindrar o médium? Se não há oportunidade de análise, onde situar a célebre recomendação do Espírito Erasto, contida em “O Livro dos Médiuns” (230)?: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”?
        E como aplicar o que Kardec recomenda no mesmo livro (266)?: Em se submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, em se lhes perscrutando e anali­sando o pensamento e as expressões, como é de uso fazer-se quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitan­do-se, sem hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom-senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito que se supõe ser o que se está manifestando, leva-se o desânimo aos Espíritos mentirosos, que acabam por se retirar, uma vez fiquem bem convencidos de que não logra­rão iludir. Repetimos: este meio é único, mas é infalível, porque não há comunicação má que resista a uma crítica rigorosa. Os bons espíritos nunca se ofendem com esta, pois que eles próprios a aconselham e porque nada têm que temer do exame. Apenas os maus se formalizam e procuram evitá-lo, porque tudo têm a perder. Só com isso provam o que são.”
     Continuando, o Codificador cita recomendação do Espírito São Luiz:
    "Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspi­rem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro.”
             Diante de tal concepção equivocada da tolerância, onde se situaria a recomendação de Jesus: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disso é de procedência maligna.” (Mt, 5:37)? Com Jesus aprende-se a clareza, a transparência, o amor à Verdade nas manifestações pessoais. E com Kardec aprende-se a refutar comunicações não condizentes com a estrutura doutrinária do Espiritismo.      
             Ser tolerante será que é dar a público tudo o que se produz mediunicamente, sem nenhuma avaliação, sem nenhum critério? E onde ficaria a recomendação de Paulo, a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29)? Estaria o Apóstolo faltando com a tolerância? Além do mais, é de se notar que essa passagem está num trecho que o tradutor, João Ferreira de Almeida, entendendo o alcance da recomendação, intitulou: “A necessidade de ordem no culto”.
             Entretanto, aqueles que zelam pela coerência, pelo nível de linguagem, pela manutenção da nobreza e da dignidade do discurso espírita são, não raro, tachados de intolerantes, e, por alguns articulistas e médiuns atuais, até de descaridosos e de inquisidores.       
             A verdade é que há uma ânsia infrene de se publicar tudo o que se recebe – ou se supõe tenha sido recebido mediunicamente –, sem uma análise criteriosa de conteúdo e de forma.        
    Mas, quem analisaria o conteúdo e a forma dos escritos? Seria, por certo, uma equipe formada por pessoas equilibradas, conhecedoras da Doutrina, sabedoras da importância da sua atuação junto ao médium. Seriam pessoas serenas, cônscias da gravidade do papel assumido perante o Alto, pois se tornariam também responsáveis pela obra, e que, por isso mesmo, analisariam os textos, parágrafo a parágrafo, à luz da prece, quando obteriam de Jesus o amparo, no sentido de aumentar-lhes a lucidez, a serenidade e o equilíbrio. Nesse círculo, constituído por trabalhadores de alta responsabilidade, é que deve ser exercitada a tolerância entre seus componentes, mas nunca em relação à matéria em exame.

    José Passini
             jose.passini@gmail.com



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