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  • sábado, 23 de dezembro de 2017

    Será que há espíritos de “crianças” nos domínios do além tumba? (Jorge Hessen)




    Jorge Hessen
    Jorgehessen@gmail.com

    Um objeto de estudo instigante, cuja explicação devemos ao Espiritismo, diz respeito à situação da “criança” no além após a sua morte. Será que há “crianças” no além? E o “bebê”, como será a sua forma perispiritual quando desencarna? Será que o seu períspirito retoma a forma “adulta” ou por quanto tempo permanece “bebê” e ou “criança” no Além-túmulo? Há muitas interrogações sobre o que ocorre com as “crianças” recém-desencarnadas. Como “ela” se adapta no Mundo dos Espíritos? Sim, são inúmeras dúvidas.

    Cremos que “crianças” no além são imediatamente recolhidas por familiares ou mentores, que lhes darão ampla assistência. Se são Espíritos com ótima bagagem moral, retomam a personalidade anterior. Se são de mediana evolução, acreditamos que conservam a condição infantil, que será superada com o decorrer do tempo, como sucede com as “crianças” na Terra. Podem, também, retornar à reencarnação.

    Porém, pasme, segundo um famoso escritor espírita, “não há uma única manifestação mediúnica de criança nas obras de Allan Kardec”. Portanto, afirma que não existem “Espíritos crianças”, pois o período de infância, adolescência, maturidade e envelhecimento, é uma condição do corpo físico, que obedece a esse processo orgânico de maturação, próprio dos nativos do planeta Terra.

    Será? É urgente contar ao notório e equivocado confrade que o Codificador publicou comunicação do Espírito de uma criança na Revista Espírita de 1859. E ainda registrou a manifestação do Espírito do menino Marcel, conforme publicado na obra “O Céu e o Inferno”, cap. 8, parte II. Aliás, antes de Kardec, encontramos personagens históricos que mencionam os espíritos de “crianças” no além. A exemplo de Swedenborg, que descreve “crianças” sendo bem recebidas no além nas instituições onde adolescem e são cuidadas por jovens mulheres. Há distintos precursores do Espiritismo que fazem alusões às “crianças” no além, a saber: Louis Alphonse Cahagnet, na França e Andrew Jackson Davis, nos EUA.

    André Luiz apresenta no cap. X do livro “Entre a Terra e o Céu” acurados painéis de crianças desencarnadas. Cairbar Schutel apresenta as “crianças” no além tumba no seu livro “A Vida no Outro Mundo”; Frederico Figner (Irmão Jacob) faz menções a “crianças” no além, conforme agenda no livro “Voltei”. Informações confirmadas por Yvonne Pereira em “Cânticos do Coração, Vol II”e George Vale Owen, na obra “A vida Além do véu”, dentre outros.

    Na questão 381 de O Livro dos Espíritos, o Codificador questiona aos Espíritos se na morte da criança, o ser readquire imediatamente o seu antecedente vigor. Os Benfeitores aclaram o tema afirmando que o Espírito não readquire a anterior lucidez, senão quando se tenha completamente separado do envoltório físico. E nas questões 197, 198, 199, 346 e 347, da mesma obra básica é explicado que o Espírito da “criança” não é infantil, e sim reencarnação de Espírito que teve outras existências na Terra ou em outros orbes. Especificamente na questão “199-a”, os Espíritos inquiridos por Kardec sobre o destino espiritual da criança que morre bebezinho, anotaram que o Espírito “recomeça outra existência”.

    No entanto, antes do reinício de nova existência física, tais Espíritos são recolhidos em Instituições apropriadas. Há apresentações psicográficas citando escolas, parques, colônias e instituições diversas consagradas ao acolhimento e amparo às “crianças” desencarnadas. E ademais, ao reencarnar o Espírito entorpece a consciência e somente finalizará o processo reencarnatório a partir dos sete anos aproximadamente, quando se remata a reencarnação. Por isso, se a criança desencarnar no meio do processo reencarnatório, ou seja, entre os 3 anos e 4 anos, o Espírito possivelmente possa retomar imediatamente a forma adulta precedente.

    Também devemos considerar o seguinte: se a “criança” desencarnada possui grande experiência no campo intelecto e moral, readquire rapidamente os valores parciais da memória, logo após a desencarnação, conseguindo, por isso, ordenar conceitos e anotações de acordo com a maturação intelectual alcançada com seus empenhos.

    O mesmo não sucede com “criança” desencarnada que ainda não possui condição moral elevada. Em tal estágio, o desenvolvimento no além-túmulo é idêntico ao que se processa no plano físico, quando o Espírito é constrangido a aprender pausadamente as lições da vida e avançar gradualmente, segundo as injunções do tempo.

    Morre o corpo infantil (em qualquer faixa etária), e sobrevive o Espírito imortal e eterno, com toda uma bagagem de aquisições intelectuais e morais advindas das múltiplas experiências reencarnatórias, e que integram a sua individualidade.

    Recordemos que a almas ainda prisioneiras no automatismo inconsciente acham-se relativamente longe do autogoverno. Em face disso, permanecem transportados pela Natureza, à maneira de bebês no colo materno. É por esse motivo que não se pode prescindir de períodos de recuperação para quem desencarna na fase infantil. Porquanto, precisarão continuar aprendendo, estudando e recebendo esclarecimentos espirituais adaptados à sua idade e compreensão, e serão separadas por faixas de idade e entendimento, tal como ocorre aqui na Terra.

    Nas fontes que examinamos, não encontramos informações de Espíritos de “crianças” nas regiões “umbralinas” – ainda bem!

    Temos muito que aprender com os Espíritos.

    150 anos de A Gênese - a fidedignidade das primeiras edições



    Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

    Com A Gênese completa-se o quinto volume das chamadas Obras Básicas da Codificação. Allan Kardec discorre sobre questões importantes que destaca no subtítulo: os milagres e as predições segundo o Espiritismo; e analisa a origem do planeta de acordo com as leis da Natureza e a interpretação espírita.A edição da Revista Espírita de janeiro de 1868 anunciava que o livro A Gênese estaria à venda no dia 6 de janeiro de 1868.
    O exemplar da Revista Espírita, de fevereiro de 1868, trazia uma dissertação do espírito São Luís sobre a nova obra:
    “A religião, antagonista da Ciência, respondia pelo mistério a todas as questões da filosofia céptica. Ela violava as leis da Natureza e as adaptava à sua fantasia, para daí extrair uma explicação incoerente de seus ensinamentos. Vós, ao contrário, vos sacrificais à Ciência; aceitais todos os seus ensinamentos sem exceção e lhe abris horizontes que ela supunha intransponíveis. [...] A questão de origem que se prende à Gênese é para todos uma questão apaixonada. Um livro escrito sobre esta matéria deve, em consequência, interessar a todos os espíritos sérios.”1
    Ao longo do ano de 1868 transcreveu vários trechos dessa nova obra naRevista Espírita. Surgem notícias sobre duas novas edições: 2a edição (março) e 3a edição (abril). Até a desencarnação de Kardec (1869), constam referências a três edições dessa Obra Básica do Codificador.1,2
    A maioria das traduções para o português foi feita a partir de edição francesa do ano de 1870, ou seja, após a desencarnação de Kardec, como as edições da FEB do IDE. Apenas a editora do Centro Espírita Léon Denis, do Rio Janeiro, lançou uma tradução da edição francesa de 1868.
    Há dúvidas e polêmicas a respeito das edições dessa obra em francês, lançadas logo após a desencarnação do Codificador.
    Recentemente, a Confederação Espírita Argentina (CEA) providenciou a edição em espanhol de versão pioneira de A Gênese, isto é, a lançada em janeiro de 1868. Ao mesmo tempo a CEA divulgou o resultado de estudos que estimulou, e divulgou em publicação lançada em Buenos Aires em outubro de 2017 e distribuiu uma carta explicativadurante reunião da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional, ocorrida em Bogotá (Colômbia), em outubro de 2017, com divulgação de carta do presidente da Confederação Espírita Argentina. Consta a informação de que a tradução de A Gênese teria sido motivação de um questionamento em um momento da reunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, em novembro de 2017.
    A nosso ver são louváveis as providências do presidente da Confederação Espírita Argentina em divulgar o resultado do estudo que apoiou e em levar a questão ao CEI.
    A CEA solicitou uma pesquisa à sra. Simoni Privato Goidanich, junto aos Arquivos Nacionais da França e na Biblioteca Nacional da França, localizadas em Paris, assim como na própria CEA e na Associação Espírita Constancia, de Buenos Aires. A conclusão da pesquisa é que um único exemplar, publicado em 1868, foi depositado legalmente durante a existência física de Allan Kardec na Biblioteca Nacional da França. Assim o Codificador não teria modificado o conteúdo.4 Estes esclarecimentos se encontram no livro El legado de Allan Kardec, de autoria de Simoni Privato Goidanich, lançado na sede da C.E.A., em Buenos Aires, aos 3/10/2017.5
    Assim, reaparecem dúvidas que já existiam sobre a fidedignidade da versão francesa que serviu de base para as traduções de A Gênese.
    Há suspeitas de que alguns trechos de A Gênese poderiam ter sido alterados provavelmente por Pierre-Gaëtan Leymarie (1827-1901). Com a desencarnação de Kardec, este dirigente passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue Spirite" (1870 a 1901), gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897) e foi presidente da “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”.2,6 Passou a cuidar das edições e autorizações de traduções de obras de Kardec.2
    Inclusive, há o caso das traduções pioneiras das obras de Kardec, em nosso país. No princípio do ano de 1875, Pierre-Gaëtan Leymarie autorizou em carta ao dr. Joaquim Carlos Travassos a tradução das obras de Allan Kardec para o português, cuja correspondência foi publicada naRevista Espírita. Com exceção de A Gênese, Joaquim Carlos Travassos (1839-1915) utilizando o pseudônimo de "Fortúnio", traduziu para o português quatro obras básicas da Codificação, publicadas pela Editora B. L. Garnier, do Rio de Janeiro, em 1875 e 1876.Fato interessante foi o comentário de Zêus Wantuil em biografia sobre o tradutor Travassos: “[...]sem nos referirmos ao bom estilo do tradutor, é o judicioso esclarecimento, de fundo rustenista, que vem na obra ‘O Céu e o Inferno’...”6 Há correspondências de Leymarie com a então novel Federação Espírita Brasileira e a 1aedição da revista Reformador, de janeiro de 1883, noticia que ele representou a França em congresso ocorrido em Bruxelas, objetivando a criação de uma União Espiritualista Universal.7
    Muitos fatos ressurgem agora com a tradução para o português de livro histórico e esgotado de autoria Berthe Fropo - Beaucoup de Lumière (1884) -, disponibilizado em edição digital bilíngue: a tradução em português e o original em francês. A autora foi espírita atuante, fiel aos ideais de Allan Kardec, muito amiga de Amélie Boudet, vizinha e apoiadora desta depois da desencarnação do codificador do Espiritismo.2 Nesta obra fica clara a ação polêmica de Leymarie, que inclusive foi envolvido no histórico “processo dos espíritas”, relacionado com exploração das chamadas fotos de espíritos, em que foi condenado.
    No referido livro, Berthe Fropo aborda pontos destacados do desvirtuamento doutrinário ocorrido no movimento espírita francês logo após a desencarnação de Kardec, comprometendo a continuação das obras do Codificador da Doutrina; fica claro que “com o aval de Amélie Boudet, Gabriel Delanne e Berthe Fropo se lançaram numa investida para reavivar os planos de continuação das obras de Kardec, que nas mãos de Leymarie haviam sido deturpados, por influência de ideologias outras, como o roustainguismo e — ainda mais fortemente — a mística doutrina da Teosofia de Madame Blavatsky e do Coronel Olcott.”2
    Portanto, há indícios que robustecem as suspeitas sobre eventuais alterações promovidas por Leymarie em itens de A Gênese.
    Nas edições da FEB, apenas a traduzida pelo Evandro Noleto Bezerra, também a partir da 5a edição francesa de 1870, traz uma nota de rodapé no item 67 do capítulo XV, anotando que há uma diferença com relação à edição de 1868, com Kardec ainda encarnado. Justifica que “ao revisar a obra com vistas à 4a edição, Allan Kardec houve por bem suprimir o item 67 que constava nas edições anteriores”. Nessa nota de rodapé, de número 124, o tradutor Evandro transcreve o item suprimido em outras versões “pelo seu inestimável valor histórico, o item 67 das três primeiras de edições de A Gênese”.8Porém como fica a afirmação de revisão da 4a edição, feita por Allan Kardec?
    Na edição do Centro Espírita Léon Denis, a tradutora Albertina Escudeiro Sêco, se baseia numa 4a edição francesa, de 1868.
    Essa tradutora do CELD introduz o item 67 original, a saber:
    “67. A que se reduziu o corpo carnal? Este é um problema cuja solução não se pode deduzir, até nova ordem, exceto por hipóteses, pela falta de elementos suficientes para firmar uma convicção. Essa solução, aliás, é de uma importância secundária e não acrescentaria nada aos méritos do Cristo, nem aos fatos que atestam, de uma maneira bem peremptória, sua superioridade e sua missão divina. Não pode, pois, haver mais que opiniões pessoais sobre a forma como esse desaparecimento se realizou, opiniões que só teriam valor se fossem sancionadas por uma lógica rigorosa, e pelo ensino geral dos espíritos; ora, até o presente, nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle. Se os espíritos ainda não resolveram a questão pela unanimidade dos seus ensinamentos, é porque certamente ainda não chegou o momento de fazê-lo, ou porque ainda faltam conhecimentos com a ajuda dos quais se poderá resolvê-la pessoalmente. Entretanto, se a hipótese de um roubo clandestino for afastada, poder-se-ia encontrar, por analogia, uma explicação provável na teoria do duplo fenômeno dos transportes e da invisibilidade. (O Livro dos Médiuns, caps. IV e V.).” E surge um item 67, em geral ausente nas várias versões, e com uma renumeração aparece o item 68, identificado como item 67, nas demais traduções.9
    De qualquer maneira persistem os recentes questionamentos que mencionamos. O ideal seria que as editoras das obras de Allan Kardec somassem esforços para se esclarecer as dúvidas que vêm sendo aventadas. Os 150 anos do lançamento de A Gênese, poderiam ter como marco a clara definição sobre a fidedignidade das versões das primeiras edições desta obra em francês e se acrescentar nota(s) explicativa(s) nas edições traduzidas para o português.

    (*)  O autor é ex-presidente da FEB e da USE-SP

    Referências:
    1)  Kardec, Allan. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. Revista Espírita. Ano XI. No. 1. 1868. Rio de Janeiro: FEB.
    2)  Fropo, Berthe. Trad. Lopes, Ery; Miguez, Rogério. Muita luz. 1.ed. Edição digital:  www.luzespirita.org.br; acesso em novembro de 2017.
    3)  Kardec, Allan. Trad. Martínez, Gustavo N. La génesis. 1.ed. Buenos Aires: Confederación Espiritista Argentina. 2017.
    4)  Carta do presidente da Confederación Espiritista Argentina, Sr. Gustavo N. Martínez, de 14/10/2017, distribuída em reunião do Conselho Espírita Internacional, em Bogotá (Colômbia).
    5)   Goidanich, Simoni Privato. El legado de Allan Kardecgoo.gl/Pgdiad; acesso em novembro de 2017.
    6)  Wantuil, Zêus. Grandes espíritas do Brasil. 1.ed. Cap. Joaquim Carlos Travassos. Rio de Janeiro: FEB. 1969.
    7)  Reformador, Ano I, n.1, 21 de Janeiro de 1883, p.1-4.
    8)  Kardec, Allan. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. A gênese. 1.ed. Cap. XV. Item 67. Rio de Janeiro: FEB. 2010.
    9)  Kardec, Allan. Trad. Sêco, Albertina Escudeiro. A gênese. 3.ed. Cap. XV. Itens 67-68. Rio de Janeiro: Ed. CELD. 2010.


    Fonte: Revista eletrônica O CONSOLADOR, edição 548 link: http://www.oconsolador. com.br/ano11/548/principal. html

    quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

    “Alzheimer” - delongado e gradual processo de desencarnação (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen
    Jorgehessen@gmail.com

    Antigamente a doença de Alzheimer era vulgarmente conhecida como “caduquice” e tratada como um estado de demência progressiva. Caracterizada pela perda contínua das aptidões do indivíduo, como extermínio da memória, dificuldade na linguagem e no pensamento, ela afeta progressivamente as funções corticais do indivíduo, ocorrendo atrofia do cérebro e, por isso mesmo, as funções cognitivas e motoras são deterioradas irreversivelmente.

    Embora ainda não tenha cura, o uso de medicamentos como Rivastigmina, Galantamina ou Donepezila, junto com terapia ocupacional (estímulos), podem auxiliar no controle dos sintomas e retardar a sua progressão, melhorando a qualidade de vida do paciente.

    A “Alzheimer” é mais comum em idosos. No estágio inicial (leve) podem surgir sintomas como: dificuldade para lembrar os acontecimentos mais recentes (a lembrança de situações antigas permanece normal), dificuldade para achar o caminho de casa, não saber o dia da semana, repetir as mesmas perguntas. Na fase moderada, a pessoa apresenta incapacidade de fazer a higiene pessoal, anda sujo, tem dificuldade para ler e escrever, alterações do sono, troca do dia pela noite.

    Na etapa avançada o doente não consegue memorizar nenhuma informação atual e nem antiga, não reconhece os familiares, os amigos e locais conhecidos, nem as coisas do ambiente (agnosia), perdem a coordenação para os mais simples movimentos úteis, como vestir uma roupa (apraxia).

    Allan Kardec não fez referência à enfermidade, todavia cremos que o Espírito do enfermo permanece em estado parcial de “desdobramento”, pela impossibilidade de utilizar-se do cérebro que está em definhamento. São pessoas comprometidas com graves crimes morais de existências passadas. Certamente a rigidez de caráter (intolerância), a culpa, os processos obsessivos de subjugação, a depressão, o ódio e a mágoa realimentados a longo prazo podem ser matrizes admissíveis para a ocorrência do mal de Alzheimer.

    Naturalmente, o empenho da família em moléstias desse tipo é de elevada importância, tanto em relação à melhoria da qualidade de vida do paciente quanto do ponto de vista das demandas espirituais, pois seguramente o grupo familiar está coligado às “contas do destino criadas pelo mesmo”, por isso o imperativo da reparação.

    O tratamento espiritual é de essencial importância, inclusive para a família, pois os parentes sofrem muito com o gradual alheamento do ser querido, que passa por um processo lento, espesso, dolorido de perda de intercâmbio cognitivo com os familiares e amigos. É como um delongado e gradual “processo de desencarnação”.

    As presumíveis causas espirituais, como processos obsessivos e atitudes de intransigência moral, entre outras conforme mencionamos acima, recomendam a necessidade de ininterrupta diligência de esclarecimento espiritual, com leitura diária de páginas evangélico-doutrinárias e frequência, se possível semanal, à casa espírita para tratamento com passes e águas fluidificadas.

    Nessas penosas conjunturas os familiares e ou cuidadores têm a chance de desenvolver suas potencialidades espirituais como a resignação, a tolerância, a aceitação, a vigilância irrestrita ao enfermo, a renúncia, a submissão, o amor, que inequivocamente são tesouros morais adquiridos pelos que se dedicarem aos portadores da doença de Alzheimer.

    terça-feira, 12 de dezembro de 2017

    Jesus e a marcha da deformidade espírita (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen


    É comum localizamos em nossas hostes doutrinárias alguns confrades agindo semelhantes aos “crentes evangélicos” (da ala neopentecostal), talvez por “olho gordo”, exaltando inflamados o “nome” Jesus, a “imagem” do Crucificado, a “personalidade” do Messias, quase sempre sob argumentos desprovidos de coerência, comprovando desconhecimento dos códigos morais do Evangelho racionalmente explicados por Allan Kardec e os espíritos superiores. 
    Por causa do “cristianismo” arcaico, a figura de Jesus se caracteriza por debilitada representação simbólica e, como sabemos, todo símbolo que passa do tempo fica enferrujado, desgastado e perde a sua essência e sentido. É óbvio que reverenciamos o excelso valor de Jesus e O defendemos enquanto Verdade Maior, porém, sem afastar um milímetro da lógica kardequiana. 
    Encontramos no M.E.B. (movimento espírita brasileiro) muitos “espíritas” de sacristia, como dizia Arnaldo Rocha, ou seja, espíritas “rezadores” (artificiais e dissimulados), que muito reza (tagarelando) e não se cuida da própria honra.
    Conhecemos embustes de oradores que falam apaixonadamente sobre Jesus (chegam a chorar de emoção), que discursam sobre o valor da monogamia, na união familiar, todavia fazem andar a “fila” das esposas. Há ilustres palestrantes “espíritas” que insistem nos temas repetitivos, sempre sob a lideranças dos agenciadores de seminários improdutivos. Nessa inadvertência seguem algumas federativas (mal dirigidas) que insistentemente promovem congressos inócuos, pobres de conteúdos e onerosíssimos (não gratuitos) sempre destinados aos espíritas endinheirados.
    Em tais eventos (congressos soberbos e inóxios) expõe-se temas evangélicos recorrentes, desgastados, abarrotados de trivialidades e lugares comuns, defendidos com afetação e tradicionalíssimas vozes veludíneas banhada de camuflada emoção veiculadas por intocáveis palestrantes sacralizados, santificados e “insubstituíveis” ante os apelos idolátricos da frenética e delirante caravana de “espiritólicos”.
    Aliás, não obstante “carismáticos”, há oradores endeusados que fazem das palestras proferidas e a fama obtida nos escombros reivindicatórios da extravagante multidão de “espiritólicos”, uma execranda máquina de fazer dinheiro. Sim! São os confrades vendilhões do Espiritismo. 
    Neste cenário ainda há espaço para identificarmos “espíritas oba-oba”, espalhafatosos, recheados de fraternidade de boteco, sorrisos maquinais, comportamentos que contrastam com a simplicidade cristã. Isso tudo sem aprofundarmos nas práticas de diretores de órgãos oficiais (federativas) que se esgrimam (mentalmente) pela caça do poder de direção do M.E.B., totalmente distantes do exemplo edificante da humildade. Tais líderes intransigentes traem a si, aos amigos, ao M.E.B. e ao Espiritismo.
    Certificamos que o caminho do M.E.B. tem sido de duas vias: uma é ocupada pela chamada liderança oficial, dos espíritas autócratas, cheios de “não me toques”, repletos de salamaleques; a outra via é ocupada pelos espíritas “combativos” do bem, fieis a Kardec, lealdade essa que nada tem a ver com extremismo ou intolerância, mas compromisso com a verdade. 
    Os “combativos” fazem o trabalho de azorragar a “oficialidade”, de fustigar os eternos “donos” do M.E.B. para não os deixar comodamente em “berço esplêndido” sob os narcóticos da ilusão. Os “combativos” de Kardec são, por isso, mal vistos e execrados permanentemente, tidos como desagregadores , mas são eles que agem com a coragem e virilidade necessária para evitar a perda total de uma doutrina tão cara à humanidade.
    Quando se trata da moral, Jesus é o grande exemplo. Quando se trata de conhecimento espírita, Kardec é a verdade. Não pode haver mais espaço para o estereótipo de um Jesus decrépito, idolatrado, da tradição arcaica, pois o Espiritismo fez avançar no conhecimento de modo que sem o Espiritismo Jesus permanece no estado da incompreensão e da superficialidade do simbolismo sectário. 
    Portanto, jamais pode haver espaço para um Espiritismo segundo o Evangelho, pois o evangelho não pode explicar o Espiritismo ; ao contrário, apenas o Espiritismo pode explicar o evangelho. Como me ensinou um atilado espírita de vanguarda. 
    O futuro do Espiritismo está fixado nesse quadro contemporâneo, das lutas entre os que defendem os princípios kardequianos e os fracos, que mais se importam com os aplausos da plateia, com os resultados que agradam à audiência e os transformam famosos. A luz intensa da verdade os incomoda, daí a preocupação em defenderem-se para não perder o comando. Desfiguram o Espiritismo para se manterem na posse do “movimento espírita oficial”. 
    Cabe aos impávidos “combativos” do bem se contraporem a isso, mesmo sabendo que a luta é inglória sob o aspecto da capacidade de deter a marcha do embuste doutrinário. Mas como Jesus foi desfigurado e ainda se mantém deformado enquanto amor sem igual, o Espiritismo prosseguirá em sua desfiguração contínua, mas ao mesmo tempo se manterá firme e forte enquanto conhecimento fundamental para o despertamento da consciência humana.

    terça-feira, 5 de dezembro de 2017

    Jesus é a sublime síntese do Amor (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen

    O Divino Mestre sempre enviou seus emissários para instruir povos, raças e civilizações com conhecimentos e princípios da lei natural. Além disso, há dois milênios, veio pessoalmente sancionar os conhecimentos já existentes, deixando a Boa Nova como patrimônio para toda Humanidade.
    Observando o fluxo histórico dos povos, raças e civilizações identificamos que em todos os tempos houve missionários, fundadores de religião, filósofos, Espíritos Superiores que aqui encarnaram, trazendo novos conhecimentos sobre as Leis Divinas ou Naturais com a finalidade de fazer progredir os habitantes da Terra. Porém, por mais admiráveis que tenham sido esses apóstolos, nenhum se iguala ao Soberano Governador da Terra. Até mesmo porque todos eles estiveram a serviço do Mestre Incomparável, o Guia e Modelo do homem neste mundo de prova e expiação.
    Kardec, na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, escolhe o Ensino Moral das Escrituras, porque não está afeito a controvérsias, podendo inclusive unir todas as crenças em torno da sua proposta universalista. Na Terra, onde se multiplicam as conquistas da inteligência e fazem-se mais complexos os quadros do sentimento conspurcado no materialismo, compreendamos que o Cristo, na trajetória da Humanidade, foi o único mestre completo, exato e inquestionável, que abdicou do convívio com os seres celestiais para viver e coexistir conosco na carne.
    Nos tempos áureos do Evangelho o apóstolo Pedro, mediunizado, definiu a transcendência de Jesus, revelando que Ele era "o Cristo, o Filho de Deus vivo" . No século XIX o Espírito de Verdade atesta ser Ele "o Condutor e Modelo do Homem". Para o célebre pedagogo e gênio de Lyon, o Cristo foi "Espírito superior da ordem mais elevada, Messias, Espírito Puro, Enviado de Deus e, finalmente, Médium de Deus." Não há dúvidas que Jesus foi o Doutrinador Divino e por excelência o "Médico Divino”, segundo André Luiz.  Por sua vez, Emmanuel o denomina de "Diretor angélico do orbe e Síntese do amor divino".
    Quando o Codificador questionou os Espíritos sobre quem teria sido o ser mais evoluído da Terra, recebeu uma resposta tão curta quanto profunda: "Jesus!". Sua lição é não só a pedra angular do Consolador Prometido, da Doutrina dos Espíritos, mas a régua de medida, o referencial universal com que aferiremos o nosso proceder, o nosso avanço ou o nosso recuo no processo de espiritualização que nos propusermos: a visão real do que somos no íntimo de nossa consciência e quão perto ou distante estejamos do incondicional Amigo e   Mestre que nos exorta a amarmos uns aos outros como Ele nos amou.
    Adorado por uns, execrado por outros, indiferente para muitos, o Crucificado deixou ensinamentos muito singelos, porém profundos, Ele aplicou a filosofia que difundia, desconcertando os inimigos gratuitos, recebendo apoios no povo e confundindo os restantes. Aos Espíritas sinceros cumpre não perder de vista essa realidade de suma importância - a total vinculação do Espiritismo com os ensinos do Filho do Homem, com o Cristianismo primitivo, pela base moral comum a ambos, sem desvios impostos pelo interesse dos religiosos infiéis.
    O Desejado das Nações vigia e cuida a nau terrestre e se compadece de cada um de nós, facultando-nos vários recomeços para conquista definitiva da paz. Cada palavra que o Bom Pastor plasmou na atmosfera terrena dirige-se a todos nós, ontem, hoje e sempre independentemente de onde possamos estar ou do que fazemos.
    O Príncipe da Paz transcende as dimensões de toda análise convencional e paira muito além do grau de desenvolvimento científico, moral ou espiritual de qualquer representante dos mais renomados intelectuais humanos, porquanto Ele foi, é e sempre será o construtor excelso do nosso planeta, quando sequer a vida existia nas plagas do orbe.

    quarta-feira, 29 de novembro de 2017

    A dor é o chamamento ao cultivo do amor (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen

    A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso"[1]Entendemos que a dor seja o medicamento que solicitamos na fronteira da experiência terrestre. Sim! Espíritos doentes e endividados que somos, imploramos, antes do berço, as dores e as provações capazes de propiciar-nos o regozijo da cura e a benção do resgate. Portanto, as dificuldades são benfeitoras do coração. Aceitemo-las no caminho, com o equilíbrio da resignação que tudo abrange para tudo auxiliar e expurgar, na marcha de nossa via crucis.
    A dor , seja física ou espiritual, é sofrida por quem a provoca e que jamais bate em porta errada. Não há razão, em hipótese alguma, atribuir a terceiros a culpa de nossas dores, pois que elas resultam das atitudes, dos procedimentos, das ações praticadas contra as leis divinas. Para aliviá-la existe a necessidade de assumirmos a responsabilidade de uma mudança comportamental, que sempre pode libertar-nos da dor, quando bem realizada segundo padrões éticos/morais cristãos.
    As provações da vida fazem adiantar quem as sofre, quando bem suportadas; elas apagam as faltas e purificam o espírito faltoso”.[2] Quando a dor chega, ninguém permanece indiferente, não importando suas causas. Por vezes, chega através da doença física, minando a saúde antes inabalável. De outras, é a dor da separação do ente amado que desencarna.
    De toda forma, não importando por quais caminhos a dor nos visite, sempre é presença contundente, alterando-nos as paisagens emocionais. Ela sempre traz consigo seu caráter pedagógico, em um convite ao cultivo das virtudes que ainda não nos dispusemos a acionar.  “As provas rudes são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus”.[3]
    Há três categorias de dor: a dor-evolução, a dor-expiação e a dor-auxílio. A dor-evolução atua de fora para dentro, aprimorando o ser, e sem ela não haveria progresso. A dor-expiação vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça. Quanto à dor-auxílio, pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e à nossa vitória, recebemos a bênção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. [4]
    O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitá­vel na Vida Espiritual. [5]
    A oração habitual, o comportamento retificador, o descortino mental e o bem que se pode patrocinar ao próximo, retratam as atitudes inteligentes daqueles que almejam o bom aproveita­mento da dor no processo de evolução .

    Referências bibliográficas:
    [1]            KARDEC , Allan . A Gênese, Cap. III, item 5, RJ: Ed. FEB 2001
    [2]            KARDEC , Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V, item 10, RJ: Ed. FEB 2001
    [3]            Idem cap. XIV, item 09, RJ: Ed. FEB 2001
    [4]            XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação, ditado pelo Espírito André Luiz, cap. 19, RJ: Ed. FEB 1959
    [5]            Idem





    terça-feira, 28 de novembro de 2017

    O passe não modifica as coisas, para nós, mas pode modificar-nos a nós em relação às coisas (Jorge Hessen)

    )

    Todo o encanto dos ensinos espíritas, oriundo da fé racional considerando o potencial do magnetismo pelo passe, desaparece ante as ginásticas pedantes e caricatas de tratamentos “espirituais” ultimamente praticados em algumas instituições espíritas mal administradas.
    Dos muitos disparates que já ouvi nas hostes espíritas de Brasília, um deles é que a aplicação do passe quando “concentrado" (concentrado???....!!!) e muito demorado pode causar "congestionamento fluídico” (congestionamento fluídico???...!!!) e com isso o assistido pode se sentir mal (sentir mal???...!!!) Acredite se puder!
    Ora, na aplicação do passe oferecido numa casa espírita bem dirigida, os Benfeitores manipulam e espargem os fluidos exatamente na quantidade necessária para cada assistido, nem mais, nem menos. Nunca em excesso.
    O passe não poderá, em tempo algum, ser aplicado com movimentos bruscos, com malabarismos manuais, estalos de dedos, cânticos estranhos e, muito menos ainda, com passistas incorporados com “aconselhamentos” para o assistido.
    Por conseguinte, na aplicação do passe não se fazem necessários a gesticulação violenta, a respiração ofegante ou o bocejo contínuo, e que também não há necessidade de tocar o assistido. A transmissão do passe dispensa qualquer recurso espetacular.
    São ridículas as encenações preparatórias com as mãos erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para “melhor assimilação” fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante – só servem para achincalhar o passe, o passista e o paciente.
    A transfusão sanguínea promove a renovação das forças biológicas. O passe é transfusão de energia psíquica e magnética. A diferença é que os recursos sanguíneos são extraídos de um reservatório limitado, mas os elementos psíquicos são retirados do reservatório interminável das forças espirituais.
    A transfusão ocorre através do períspirito, órgão sensitivo do Espírito, que interage de forma profunda com o corpo biológico, razão pela qual as energias psíquicas, transmitidas pelo passe e recebidas inicialmente pelos “centros de força”, alcançam o corpo físico através dos “plexos”, proporcionando a renovação das células enfermiças. As energias psíquicas poderão ser espirituais, considerando o magnetismo advindo dos desencarnados que participam dos processos, e fluidos humanos, através do magnetismo animal pertencente aos passistas encarnados.
    O passe é prece, concentração e doação. A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai. Por ela, consegue o passista duas coisas importantes: primeiro, expulsar da mente os sombrios pensamentos remanescentes da atividade comum das lutas materiais diárias; segundo, sorver do plano espiritual as substâncias renovadoras a fim de conseguir operar com eficiência em favor do próximo.
    Por questão de bom senso, o passe deverá sempre ser ministrado de modo silencioso, com simplicidade e naturalidade. Todo o potencial e toda a eficácia do passe genuinamente espírita dependem do espírito e da assistência espiritual do passista e não apenas do passista. Jesus utilizou o passe "impondo as mãos" sobre os enfermos, a fim de beneficiá-los. E ensinou essa prática aos seus discípulos e apóstolos, que também a empregaram largamente nos tempos apostólicos.
    Vale relembrar aqui que apesar dos estranhos passistas que criam confusões ao aplicarem o passe, reconhecemos que muitos encarnados e desencarnados são beneficiados pela transfusão dos fluidos psíquicos, pois sabemos que é manifestação do amor de Deus, esse sentimento sublime que abarca a todos e os alivia.

    Importa-nos lembrar, porém, um pensamento de Chico Xavier: o passe, tal como terapia, não modifica necessariamente as coisas, para nós, mas pode modificar-nos a nós em relação às coisas.

    segunda-feira, 27 de novembro de 2017

    A criança livre é a semente do malfeitor (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen

    Bethany Thompson lutou contra um câncer no cérebro quando tinha apenas 3 anos de idade, e sobreviveu. A cirurgia que retirou o tumor foi um sucesso, mas deixou uma pequena sequela em seu rosto: a boca ficou levemente repuxada para a direita. Isso foi suficiente para ela se tornar alvo de comentários maldosos de outras crianças na escola. Bethany, 11 anos de idade, sofria bullying implacável na escola, até que chegou a um ponto em que não suportou mais e tirou a própria vida com um tiro. [1]

    Caso semelhante ocorreu no Colégio Holy Angels Catholic Academy, em Nova York, Estados Unidos. Aí estudava Daniel Fitzpatrick, um aluno de 13 anos, que estava sofrendo bullying. Resultado: Daniel acabou se suicidando. Deixou uma carta de despedida e dentre outros bramidos de dor moral escreveu: "Eu desisto"! Disse ainda que os seus colegas da escola o atormentavam há muito tempo e a direção do colégio não fazia nada a respeito, mesmo após ele e os seus pais terem feito uma reclamação formal. A resposta do Holy Angels teria sido "Calma, tudo vai ficar bem. É só uma fase, vai passar".

    Como esquecermos a chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, em que meninos e meninas ficaram irmanados num trágico destino. Suas vidas foram prematuramente ceifadas num episódio de insonhável bestialidade. O assassino Wellington Menezes de Oliveira, embora com a mente arruinada e razão obliterada, fez sua opção de atirar contra os alunos que o incomodavam. Numa fita gravada, Wellington alegou ter sofrido bullying anos antes, na mesma escola; neste caso houve uma reação violentíssima.

    O bullying é uma epidemia psicossocial e pode ter consequências graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa. Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade.

    Os fatos, chocantes e tristes, trazem dois alertas a todos os pais e mães: o primeiro deles é estar atento às mudanças de comportamento dos filhos e buscar ajuda profissional sempre que necessário. O segundo alerta é falar com o filho sobre o respeito às diferenças. Ensinar sobre diversidade e tolerância. Essas lições, quando assimiladas desde cedo, formam pessoas mais empáticas e sensíveis à dor do outro – além, é claro, de evitar comportamentos agressivos como o bullying.

    Urge estabelecer limites aos nossos filhos. Desde os primeiros anos, devemos ensiná-los a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto as más, manifestadas na intimidade do lar. Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo amando-os, independentemente de como se situam na escala evolutiva.

    Crianças criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor, serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal-acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.

    Por isso mesmo, importa ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois a infância é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida. A criança livre é a semente do malfeitor. A própria reencarnação se constitui, em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma necessitada de expiação e corretivo.

    Pensemos nisso!

    Referência:

    quinta-feira, 16 de novembro de 2017

    Fábulas da carochinha e o ancestral “espiritismo” à brasileira (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen

    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com


    Um belo dia, assisti a um vídeo (documentário) sobre as atividades de certa instituição espírita dirigida rigorosamente sob os preceitos da coerência doutrinária. Entretanto, no que pese o admirável trabalho assistencial efetivado por essa instituição, ela o realiza em sociedade (parceria) com outro “centro espírita”, que é administrado sem discernimentos e integral inobservância dos princípios kardecianos. 

    Eis aí o nó da questão! 

    Para meu espanto, notei no vídeo que alguns trabalhadores do segundo centro espírita estavam trajados com camisetas brancas à guisa de uniformes e coruscantes manifestações de idolatrias ao “médium” protagonista que “incorpora” “doutores do além” e/ou “espíritos curadores”. 

    No documentário ainda percebi cenas em que são exibidas substâncias acondicionadas em diversas garrafas, supostamente contendo “remédios” prescritos por orientações de “pretos velhos”. Com obviedade estranhei sobre tal prática, considerando que o documentário foi exibido numa instituição de orientação genuinamente kardeciana. Por isso, deliberei escrever aqui sobre as inconsistências da segunda instituição. 

    São raros, ainda, as instituições espíritas que se podem entregar à prática mediúnica, com plena consciência da tarefa que têm em mãos, deste modo, é aconselhável e prudente, a intensificação das reuniões de estudos sérios das obras de Kardec , a fim de que os trabalhadores de boa vontade não venham a cair no desânimo ou na inércia, por causa de um antecipado e imaturo comércio com as energias do plano invisível. 

    Creio que os médiuns são úteis, mas não indispensáveis numa casa espírita. É evidente que a ausência de estudos de Kardec não é prudente nas instituições espíritas, e é de se estranhar que médiuns estudiosos e sinceros, continuem com suas consciências escravizadas, incidindo no velho erro do misticismo e / ou da idolatria. 

    Quantos aos médiuns idolatrados é importante adverti-los que o seu maior inimigo não é quem os adverte, mas o seu personalismo e sua pirraça no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho. Há médiuns que se convenceram quanto aos fenômenos, sem se converterem ao Evangelho pelo coração, trazendo para as fileiras do Espiritismo os seus caprichos pessoais, opiniões cristalizadas no endurecimento do coração.

    É importante prevenir fraternalmente que os Espíritos que se apresentam como “caboclos” e “pretos(as)-velhos(as)” nos terreiros ou noutros recintos possuem muito pouco ou quase nada de si mesmos para ensinar, em termos de filosofia espírita. 

    O princípio do ÓBVIO nos sussurra que devemos ter respeito, atenção, carinho, amor, sincero desejo de ajudar tais entidades, porém essa não é uma recomendação isolada para Espíritos de “caboclos” e “pretos(as)-velhos(as)”. Isso vale para toda e quaisquer comunicação mediúnica.

    Dizem que por trás desses estereótipos (“pretos(as)-velhos(as)” , “caboclos”) podem estar "médicos", "filósofos", "poetas", etc., que apenas se utilizam de tais "roupagens" para ensinarem melhor (!...). Conquanto exista obra mediúnica já consagrada nas hostes espíritas que afiance isso, particularmente, duvido sobre tal veridicidade. Nada mais precipitado do que se dar crédito a esses argumentos. Até porque, o PENSAMENTO é a linguagem, por excelência, no mundo espiritual e a forma e trejeitos no falar e agir são adicionais supérfluos e desnecessários. 

    Ora, não há eternos espíritos de “pretos(as)-velhos(as)”, nem brancos(as)-velhos(as), até porque todos estão em processo de evolução e não podem permanecer nessas categorias. Por essa razão, devemos ter toda cautela com os seus atavismos primários. Até porque, essas entidades precisam descontruir tais psiquismos atávicos que, a rigor, mais assemelham-se aos mitológicos “deuses” do velho politeísmo.

    A Doutrina dos Espíritos está estruturada nas Obras Básicas de Allan Kardec e não possui ramificações ou subdivisões com outras crenças. Seu corpo doutrinário está contido nos ensinos dos Espíritos Elevados (isso mesmo! Espíritos Superiores). Motivo pelo qual, não podemos nos acomodar com um Espiritismo "à moda brasileira" , ou seja, um Espiritismo umbandizado, catoliquizado, irracional, místico e mistificado por desajustados centros “espíritas” que insistem por difundir as ingênuas fábulas da carochinha...

    quarta-feira, 8 de novembro de 2017

    Quantos espíritas há no Brasil ? (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com

    Será que o espírita é somente aquele que está vinculado a uma instituição espírita, ou ao movimento espírita? Para Kardec, não! Observemos o que ele diz na Introdução ao estudo do Espiritismo, contido em O Livro dos Espíritos - “para se nomearem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida." [1]
    Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em face disso, ao invés de usar as palavras espiritual, espiritualismo, Kardec empregou os termos espírita e espiritismo para indicar a Codificação. Ora, a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com dos Espíritos.
    Como especialidade, o Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão porque traz no cabeçalho da 1ª. Edição, de 1857, no seu título as palavras: Filosofia espiritualista.
    Notemos uma curiosa afirmativa do Codificador, quando diz que do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, independentes de qualquer culto particular. Seu objetivo é provar, aos que negam ou duvidam, que a alma existe, que sobrevive ao corpo e experimenta após a morte as conseqüências do bem ou do mal que tenha feito durante a vida corporal. Ora, isto é de todas as religiões.
    Os adeptos do Espiritismo são os espíritas, ou os espiritistas. Mas Kardec acrescenta que como crença nos Espíritos, o Espiritismo é igualmente de todas as religiões, assim como é de todos os povos, visto que, onde quer que haja homens, há almas ou Espíritos; que as manifestações são de todos os tempos, achando-se seus relatos em todas as religiões, sem exceção.
    Por essa razão, Kardec afiança que pode-se ser católico, grego ou romano, protestante, judeu ou muçulmano, e crer nas manifestações dos Espíritos; por conseguinte, ser espírita. A prova disso é que o Espiritismo tem aderentes em todas as religiões. [2]
    Não há como negar que há muitos confrades que jazem dentro da Igreja romana, são os espiritólicos, ou seja, são os católicos espíritas (porque aceitam as comunicações dos Espíritos). É verdade! Muitos dizem que são espíritas, mas não conseguem desapegar da igreja; outros não desapegam dos terreiros. Se se sentem bem aí, que fiquem aí. Não temos nada contra, mas só não podem trazer suas crenças para as hostes espiritas. Óbvio que não podem fazer um Espiritismo à moda do catolicismo, da umbanda etc.,  pois seria uma inversão dos objetivos e significados da Doutrina dos Espíritos.
    Considerando as ponderações de Kardec aqui demonstradas, basta um adepto de qualquer seita ou religião aceitar a comunicação dos espíritos para ser considerado espírita, logo, sob esse ponto de vista, podemos acrescentar dezenas de milhões de espíritas no Brasil. Em face disso, naturalmente há um número de espíritas que vai muito além dos declarados pelo último censo do IBGE.
    Concordam comigo?
    Matutemos, pois!

    Referências bibliográficas:
    [1]     KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Introdução ao estudo do Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 2002
    [2]     KARDEC, Allan. O Espiritismo em sua mais simples expressão, RJ: Ed. FEB,  1992


    domingo, 29 de outubro de 2017

    Angústia, consciência e reencarnação

    Angústia, consciência e reencarnação


    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com


      O vocábulo angústia advém do latim angustia e significa estreiteza, espaço reduzido, carência, falta. Medo vago ou indeterminado, sem objeto real ou atual. É um temor intempestivo e invasor que nos sufoca (angere, em latim, significa apertar, estrangular) ou nos submerge.

    Na filosofia existencialista, a palavra "angústia" tomou sentido de "inquietação metafísica" em meio aos tormentos pessoais do homem. No conceito sartreano, “é na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade (…) na angústia que a liberdade está em seu ser colocando-se a si mesmo em questão”.[1]

    Os materialistas sem norte acreditam que o ser humano é um ser imperfeito, aberto e inacabado. Segundo Heidegger, “a angústia é uma característica fundamental da existência humana. Quando o homem desperta para a consciência da vida, percebe que ela não tem sentido ou uma finalidade”. [2]

    Afastando-nos desse materialismo decrépito, compreendemos que pelo princípio da reencarnação as raízes intensas da angústia frequentemente encontram-se entrelaçadas no curso de vidas passadas, construídas na culpa do Espírito, que reconhece o erro e receia ser descoberto. Portanto, é um estado mórbido que deve ser combatido na sua causalidade.

    Por essa razão, a origem da angústia depressiva tem seu suporte no perispírito, e a rigor não tem raízes de causa na estrutura carnal. O corpo físico tão-somente reflete o estado da mente. O conflito do enfermo remonta a causas passadas, possivelmente remotas, com reverberação no presente através do psicossoma.

    Certificamos que as mortes prematuras traumáticas (acidentes, suicídios, homicídios) naqueles que possuem grande reserva de fluido vital, impõem fortes impressões e impactos vibratórios na complexa estrutura psicossomática, formando no espírito um clichê mental possante no momento da morte.

    Na reencarnação seguinte desse espírito, o amortecimento biológico do corpo carnal pode não ser suficiente para neutralizar os traumas registrados, em formas de flashes, dos derradeiros momentos da vida anterior. Essa distonia vibratória tende a reaparecer, guardando identidade cronológica entre as reencarnações. Os flashes impressionam os neurônios sensitivos do SNC (sistema nervoso central) e estes desencadeiam os angustiantes sintomas psíquicos via neurotransmissores cerebrais.

    Obviamente o uso dos fármacos pode estabelecer a harmonia química cerebral, melhorando o humor de tais espíritos; no entanto, cuidam simplesmente do efeito, pois os medicamentos não curam a angústia depressiva em suas intrínsecas causas; apenas restabelecem o trânsito físico das mensagens neuroniais, melhorando o funcionamento neuroquímico do SNC.

    Se os médicos muitas vezes são malsucedidos, tratando da maior parte das doenças fisiopsíquicas, é que tratam apenas do corpo biológico, sem acercarem-se dos traumatismos que os doentes apresentam na alma edificados em vidas anteriores.

    Jesus nos enviou como legado um dos maiores tratados de psicologia da História: a Codificação Espírita, cujos preceitos traz à memória humana a certeza de que apesar das chibatas visivelmente destruidoras da angústia, o homem precisa conservar-se de pé, denodadamente, marchando firme ao encontro dos supremos objetivos da vida, enfrentando os obstáculos como um instrumental necessário que Deus envia a todos nós.

     

    Referência bibliográficas:

    [1]SARTRE, J. P. O Ser e o Nada: Ensaio de ontologia fenomenológica, trad. Paulo Perdigão Petrópolis: Vozes, 2002.
    [2] CHAUÍ, Marilena. Heidegger, vida e obra.  In: Prefácio.  Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.