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  • terça-feira, 6 de maio de 2014

    A HORA DA VERDADE


     
    José Passini
                Dr. Ignácio Ferreira, médico psiquiatra, Diretor do Sanatório Espírita de Uberaba por mais de cinquenta anos, continua, no Mundo Espiritual, a dar sua colaboração no campo de trabalho em que se notabilizou enquanto encarnado, conforme referências na obra “Tormentos da Obsessão” e “Entre dois Mundos”, de Manoel Philomeno de Miranda, psicografadas por Divaldo Franco, editadas nos anos de 2001 e 2005, respectivamente .
                No ano de 2001, vieram a lume dois livros psicografados por Carlos A. Baccelli, tendo como autor espiritual o Dr. Inácio Ferreira: “Sob as Cinzas do Tempo” e “Do Outro Lado do Espelho”; em 2002, foi publicado “Na Próxima Dimensão”; em 2003, “Infinitas Moradas”; em 2004, A Escada de Jacó”; em 2005, “Fala, Dr. Inácio!”
                Como constatamos fortes discrepâncias entre o perfil do Dr. Ignácio apresentado nas obras de Divaldo Franco, e aquele retratado nas obras de Carlos A. Baccelli, passamos a enumerá-las, a fim de que o leitor analise e ajuíze os fatos. Mas, antes de começarmos a comparação dos perfis, vejamos a discordância sobre as atividades desse Espírito, nas obras dos dois médiuns:
                Manoel Philomeno de Miranda declara que o dirigente do grande Hospital é Eurípedes Barsanulfo:
                “Nesse Nosocômio espiritual encontram-se recolhidos especialmente pacientes que foram espiritistas fracassados, graças à magnanimidade do Benfeitor Eurípedes Barsanulfo, que o ergueu, dando-lhe condição de santuário para a saúde mental e moral, e o administra com incomparável abnegação auxiliado por dedicados servidores do Bem e da caridade.” (Tormentos da Obsessão, 19)
                No livro de Baccelli, Dr. Inácio diz que é ele o Diretor do Hospital, e se declara ansioso por livrar-se da tarefa. Como é que pode, alguém que foi honrado com um encargo dessa natureza estar querendo livrar-se de tão nobre  tarefa, chamando-a “carma”? E o que pretendia ele? Aposentadoria, ou ficar na ociosidade? Como é que se pode aceitar tal declaração de um Espírito que, na Terra, embora sob condições muito adversas, dedicou-se por mais de cinquenta anos ao serviço da psiquiatria? Onde fica a afirmação de outros Espíritos quando se referem à “honra de servir” no Mundo Espiritual? Vejamos como Manoel Philomeno de Miranda se refere ao Dr. Ignácio:
                “Terminados os seus labores diuturnos, às 20:00 horas o incansável médico me aguardava no seu gabinete, para onde rumamos, Alberto e eu.” (Tormentos da Obsessão, 198)
                Mas, na obra de Baccelli, o Dr. Inácio reclama do trabalho:
                “(...) grande hospital, cuja direção, no Mais Além, estava sob minha responsabilidade (eu não sei quando é que vou me livrar desse carma!) (Na Próxima Dimensão, 12)
                Entretanto, Ignácio Ferreira, no livro de Divaldo, em conversa com Manoel Philomeno de Miranda, declara que é responsável por somente um pavilhão do hospital:
                “Esclareceu-me que era responsável somente por um dos pavilhões que albergava médiuns e alguns outros equivocados, enquanto diversos trabalhadores (...).” (Tormentos da Obsessão, 89)
                Neste contexto, para que se delineie com justiça o perfil do Dr. Ignácio, vejamos um trecho da obra “Entre dois Mundos”, psicografia de Divaldo Franco, onde ele é citado, notando-se que ele é situado entre dois veneráveis nomes :
                “Encontramo-nos, porém, dispostos a seguir adiante, abrindo espaços para o futuro, como fizeram nossos predecessores, particularmente o apóstolo da caridade, Dr. Adolpho Bezerra de Menezes Cavalcanti, o eminente Dr. Ignácio Ferreira, o inesquecível médium Eurípedes Barsanulfo e muitos outros que se empenharam em atender os distúrbios mentais gerados nas obsessões de natureza espiritual.” (Entre dois Mundos, 146)
                O Dr. Ignácio (grafamos conforme está no livro) apresentado nas obras de Divaldo Franco é muito diferente do Dr. Inácio que se apresenta através de Carlos A. Baccelli. Manoel Philomeno de Miranda refere-se a ele como o médico prudente, ponderado, gentil, bondoso, afável, figura bem compatível com a idéia que se tem de um Espírito a quem foi dada importante tarefa no Mundo Espiritual. Modesto, que quase não fala de si, ficando as descrições a seu respeito a cargo do Autor do livro.
                Nas obras de Baccelli, nos relatos do seu tempo de encarnado, o Dr. Inácio mostra-se rude, impaciente, irônico, irreverente, despreocupado com as imagens negativas que iria suscitar nos seus leitores. Ainda que tivesse sido assim enquanto na Terra, será que não teria mudado nada no Mundo Espiritual, depois de treze anos? Será que para ser franco é necessário que se seja rude? Compare-se a franqueza fraterna de Henrique de Luna, o médico que atendeu André Luiz, ao comentar suas falhas na Terra; a delicadeza com que Clarêncio abordou aspectos menos felizes da vida do seu tutelado; a ternura e o carinho que impregnaram alertamentos severos  que a mãe de André Luiz fez-lhe, conforme se lê em “Nosso Lar”? Não se vê, em toda a obra de Francisco Cândido Xavier, um só servidor do Mundo Espiritual usando expressões contundentes, mesmo quando compelido a advertir um subalterno.
                Entretanto, a rudeza, a agressividade, as expressões chulas e de desapreço a médiuns e a espíritas continuam sendo usadas por esse Espírito, que parece não ter aprendido nada, não se ter beneficiado da convivência – que diz desfrutar – com Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo.
                Comparemos alguns trechos:
                Ao ser convidado a participar de uma reunião mediúnica no Sanatório de Uberaba, onde poderia se comunicar através de um dos médiuns dentre aqueles com quem trabalhara quando encarnado, na condição de diretor, responde:
                – Para quê?  Só se for para xingá-los... (Por favor sr. Médium e sr. Revisor,  não me queiram tolher a liberdade de dizer o que penso, da maneira que penso.) Aliás, para que saibam que sou eu, basta mesmo que eu abra a boca ou... que acenda um cigarro. Vou dizer a vocês o que penso: Os meus gatos, que ainda sobrevivem no Sanatório, apesar da vontade de alguns de expurgá-los, serão melhores intérpretes meus do que os médiuns que andam por lá... (...) Os médiuns não querem estudar, não querem disciplina... Ficam parados ao redor da mesa feito uns robôs; nem pensar eles pensam; esvaziam a mente de idéias, esperando que os espíritos façam tudo... Isto não é mediunidade, se o pobre do morto pudesse fazer tudo sozinho, os médiuns seriam meras figuras decorativas. E, depois, mentem: dizem que são inconscientes, que não se lembram de nada. (Do outro lado do Espelho, 158 / 159)
                Continuando seus ataques aos médiuns do grupo que dirigiu, no Sanatório:
                – O médium me acolhe, me agasalha, abre a boca e só deixa passar o que não conflita com os seus pensamentos. Sendo assim, o que vou fazer lá? Passar raiva? Passar raiva, eu passava na condição de doutrinador, de dirigente dos trabalhos mediúnicos do Sanatório, que fui por mais de cinquenta anos... (Do outro lado do Espelho, 159 / 160)
                Na psicografia de Baccelli, o Dr. Inácio ataca continuadamente os médiuns. Note-se nos trechos citados o ataque indiscriminado que lhes é feito! Será que não escapam nem Maria Modesto Cravo e o próprio médium de que se serve? Além do mais, se aqueles médiuns que trabalhavam com ele no Sanatório eram tão relapsos, por que ficou sendo enganado durante cinquenta anos? É muito grave dizer que os médiuns mentem! Como é que um dirigente de reunião mediúnica pode sentir raiva dos companheiros de trabalho? Como conciliar esse ambiente de trabalho tumultuado pela irresponsabilidade dos médiuns e a raiva do dirigente com o relato de Manoel Philomeno de Miranda?
                Dr. Ignácio Ferreira houvera experienciado com muito cuidado, enquanto no corpo físico, o tratamento de diversas psicopatologias incluindo as obsessões pertinazes, no Sanatório psiquiátrico que erguera na cidade de Uberaba, e que lhe fora precioso laboratório para estudos e aprofundamento na psique humana, especialmente no que diz respeito ao interrelacionamento entre criaturas e Espíritos desencarnados. (Tormentos da Obsessão, 59)
                Como conciliar o que diz o Dr. Inácio, rude, malhumorado, usuário de expressões vulgares, capaz de escrever o trecho que citamos a seguir, com o Dr. Ignácio citado por Manoel Philomeno de Miranda?
                – Isto deve ser gente do Xandico – resmunguei em voz alta, acendendo um cigarro e incinerando o abjeto bilhete, na impossibilidade de incinerar o seu autor. (Sob as Cinzas do Tempo, 179)
                Essa, a reação do Dr. Inácio, ao ler um bilhete insultuoso deixado à sua porta. Modo irreverente de referir-se a um clérigo que se opunha a ele. Se o Autor era assim, irritadiço, à época, deveria agora fazer uma ressalva, mostrando que reconhece o seu erro, a fim de que a atitude equivocada não sirva de modelo. Entretanto, ao longo da obra, tem-se a impressão que lhe causa um certo prazer mostrar-se agressivo,  contundente, ríspido, treze anos depois de desencarnado...
                Não faremos mais comentários. Apenas transcreveremos trechos da obra “Tormentos da Obsessão”, psicografada por Divaldo Franco, nas quais são postas em relevo atitudes do Dr. Ignácio Ferreira, em relato natural, mostrando-o como Espírito equilibrado, educado, gentil, paciente. Deixamos a você, Espírita consciente, o trabalho de ler, comparar, meditar e formar juízo para, no âmbito das suas atividades, tomar posição relativamente a essas obras que tentam desacreditar a mediunidade através de uma terrível caricatura do nobre Dr. Ignácio Ferreira.
                Todas as citações abaixo são do livro “Tormentos da Obsessão”
                Apresentando-se própria a ocasião, face à presença em nosso grupo de um dos seus atuais diretores, o Dr. Ignácio Ferreira, que fora na terra eminente médico uberabense, interroguei ao amigo gentil, sobre a história daquele Santuário dedicado à saúde mental, e ele, bondosamente respondeu: (29)
                Sempre gentil, o caro médico elucidou: (35)
                Dr. Ignácio encontrava-se sereno e bem apessoado. Ante o silêncio que se fez natural, ele começou a exposição, utilizando-se da saudação que caracterizava os cristãos primitivos:
                – Que a paz de Deus seja conosco! (61)
                Porque diversos ouvintes se houvessem acercado do Dr. Ignácio Ferreira, fizemos o mesmo, endereçando-lhe algumas rápidas questões, que foram respondidas com bonomia e gentileza. (73)
                Com jovialidade irradiante, o Dr. Ferreira recepcionou-nos, exteriorizando os júbilos que o invadiam, face à possibilidade de esclarecer-me em torno da das nobres atividades daquela Casa de Socorro. (89
                – Vige, em todos os momentos, expôs com delicadeza – (90)
                Com a afabilidade que lhe é natural, o distinto esculápio não se fez rogado, permitindo fossem-lhe propostas as questões. (146)
                Desenhando um suave sorriso na face, em razão da pergunta algo ingênua, o amigo educado retrucou: (149)
                Paciente e educativo, respondeu: (171)
                Apresentando excelente disposição defluente do bem fazer e da alegria de servir, recebeu-nos com demonstração de afeto, logo dispondo-se a conduzir-nos à área especializada. (198)
                Com a sua proverbial prudência, respondeu: (206)
                Dr. Ignácio respondeu com tranquilidade: (227)
                Pacientemente, o Amigo explicou: (228)
                O médico uberabense recebeu-nos com efusão de júbilos, explicando-me que Eurípedes Barsanulfo, recordando-se que o prazo referente ao meu estágio terminara, houvera-me convidado... (310)
                Os números entre parênteses indicam as páginas.      

                                                                                                               José Passini                                                                                                                                                                                 jose.passini@gmail.com

    “Fundação Emmanuel”

    José Passini

              Ao tecermos estes comentários sobre o livro “Fundação Emmanuel”, não nos move outro propósito além daquele de promover uma discussão sadia, a fim de que possam ser esclarecidos pontos um tanto obscuros e outros que não nos pareceram consentâneos com a Doutrina codificada por Kardec, deixando claro que discutimos idéias e não pessoas.
                Para maior facilidade e fidelidade, transcreveremos os trechos em estudo em negrito, seguindo-se os comentários em letra comum. Como os trechos já estão em negrito, não os colocamos entre aspas, deixando-as para usar onde o Autor as usou.

                — Então, – indaguei –, existem demônios?
                — Não, na acepção da palavra... Deus é único e, no final, a Luz há de prevalecer sempre. No entanto, devemos admitir que, do ponto de vista intelectual, em seu aspecto avesso, existem espíritos que se confrontam com o Cristo quase em seu nível.
                — Quase em seu nível?
                — Quase, Inácio... São espíritos tão altamente intelectualizados, que não temos cabeça para conceber-lhes a existência.
                — E onde vivem? Nas adjacências do Planeta?...
                — Estão em toda parte, mas o seu habitat preferencial é o interior do Orbe; enquanto o Senhor nos atrai para cima, eles nos atraem para baixo... (26 - 27)
                Sabe-se que a evolução do Cristo está muitíssimo acima de qualquer outro Espírito que a Terra conheceu, logo,  esses Espíritos voltados ao mal – que estão próximos à evolução intelectual do Cristo – devem estar muitíssimo acima de todas as grandes inteligências que já se encarnaram no Planeta.

                — É, mas ele, Chico, não acreditava que fosse a reencarnação do Codificador... (31)
                Qual a utilidade de bater nessa tecla desgastada, da reencarnação de Kardec? Que contribuição isso traz para o esclarecimento e melhoria das pessoas?

                — Em situações semelhantes, ele se viu muitas vezes, Odilon; as propostas que o próprio Clero lhe fez ou lhe mandava fazer, para que regressasse às suas origens, ou seja, ao seio da Santa Madre Igreja...
                — Inclusive, tentando-o com dinheiro...
                — Com muito dinheiro e prestígio, prometendo custear os seus estudos na faculdade em que desejasse se matricular, em Belo Horizonte e, ainda, lhe auxiliar a família. (35)
                Em que essa afirmativa contribui para a edificação do leitor? Onde os documentos ou testemunhas que possam comprovar acusações tão graves?  Por que essas acusações contra a Igreja? Que benefício esse relato traz ao Movimento Espírita?

                — Aqueles sonetos perfeitos e de rara inspiração e beleza, “escritos” por um rapazinho que calçou o seu primeiro par de botinas com quase 15 de idade...
                — Doado por um padre! – para mim, é o único senão da história. Ora bolas, será que em Pedro Leopoldo não havia ninguém que pudesse doar um par de botinas a um menino pobre? Tinha que ser um padre!... (36)
                O Dr. Inácio faz sempre questão de mostrar a sua aversão à Igreja e aos padres. Em que essa “gracinha” contribui para a difusão da nobre mensagem espírita? Qual a sua finalidade? Encher páginas de livro?

                As páginas mediúnicas em questão se inspiraram no espírito de Allan Kardec, mas não foram evidentemente, inspiradas por ele.
                — A mediunidade – comentei – tem tantas nuances!...
                — Muitas, Inácio, muitas nuances que carecem ser levadas em consideração no estudo do fenômeno. (38)
                É um tanto complicada essa questão de se inspirar no Espírito de Kardec. Parece vontade de confundir as coisas. Se um Espírito se inspirou nos ensinamentos de Kardec e fez com que a mensagem fosse atribuída a ele, trata-se de mistificação. Se o médium se inspirou, e deu a público como se fosse Kardec, foi animismo. Não se trata, portanto, de nuance mediúnica.
                                                              
                — Exatamente. Os que correram os olhos mais detidamente sobre o livro “Paulo e Estevão”...
                — Uma obra prima da literatura espiritualista!
                — ... perceberão, na excelente narrativa de Emmanuel, que Jesus, redivivo, toca diversas vezes a cabeça do ex-doutor do Sinédrio, que, num átimo, se converte...
                — A súbita conversão de Paulo sempre intrigou! Ele não poderia se tornar um outro homem, apenas pela visão ao Cristo Ressurecto... (39)
                A referência não confere com o que está no famoso livro de Emmanuel, que registra o seguinte: “o Mestre tocou-lhe os ombros com infinita ternura, dizendo, com inflexão paternal: — Não recalcitres contra os aguilhões!...”
                Seria até irrelevante o fato de haver equívoco na referência ao local do toque de Jesus, não fosse o aspecto milagroso atribuído ao acontecimento: Jesus, redivivo, toca diversas vezes a cabeça do ex-doutor do Sinédrio, que, num átimo, se converte.
                Diante do relato, poder-se-ia concluir que a conversão de Saulo não se deu por decisão própria, mas porque fora ‘tocado pela graça’, o que contraria frontalmente os ensinamentos espíritas. Não se nega o efeito benfazejo da presença do Mestre, mas a decisão coube a Saulo, mesmo porque, seria de se perguntar por que Jesus não convertera os soldados que o crucificaram.

                — Sem a intervenção direta do Cristo, um espírito não logra cumprir a missão que Chico Xavier cumpriu sobre a Terra.
                – Ah! – exclamei, com sinceridade –, como anelaria que Jesus me tocasse a cabeça com suas Divinas Mãos... (40)
                Será que o Dr. Inácio está querendo dizer que Chico Xavier foi “agraciado” com uma prerrogativa especial? Teria ele sido escolhido para a missão, não pelos seus valores espirituais, mas pela possibilidade de receber a intervenção direta do Cristo? O Autor parece não fazer distinção entre intervenção de ajuda, de amparo e interveniência no livre-arbítrio de um Espírito. Se o Mestre mudasse milagrosamente as pessoas, teria mudado Pedro, que não o teria negado. Teria transformado também a Judas, mas, um Espírito, quanto mais evoluído, tanto mais respeita o livre-arbítrio do próximo. 

                — O personalismo campeia entre médiuns e dirigentes...
                — Necessitamos de rever a proposta de Unificação; o homem ainda não sabe ocupar qualquer condição de liderança, sem que o cargo lhe suba à cabeça. (42)    
                Depois de atacar espíritas e médiuns em outras obras, agora ataca a Unificação. Ataca essa realização gigantesca, que não encontra similar no mundo. Unificação que foi conseguida exatamente porque nela, o amor à causa superou as posições pessoais, graças à compreensão dos abnegados espíritas que a ela se dedicaram e se dedicam com denodo, por amor à Verdade. Esse Movimento sui generis causa admiração a todo aquele que o observa, seja do ângulo teológico, seja do sociológico, como um fato inusitado na História: Uma comunidade religiosa que se une em torno de uma Doutrina, em âmbito nacional, sem que ninguém tenha autoridade religiosa ou poder decisório sobre os demais. É a verdadeira realização da religião ensinada e exemplificada pelo Cristo, que se concretiza através do Espiritismo.

                — Os centros espíritas devem guardar a sua independência; cooperar, sim, e sempre com toda iniciativa geral de caráter doutrinário, mas não se submeterem...
                — A situação é delicada, Inácio. Em seu processo de hierarquização, foi que o Catolicismo começou a se perder. Em nosso meio, a liderança deve ser espontânea. (42 - 43)
                É de se perguntar a que vem esse conselho extemporâneo aos centros espíritas, no sentido de não se submeterem. Não se submeterem a que ou a quem? Novamente, a confusão intencional entre esforço de unificação e processo de hierarquização.
                Trata-se de um plano ardilosamente preparado para desestruturar a Unificação do Espiritismo, que vem sendo habilmente posto em prática, através de uma pregação baseada em pressupostos falsos. Àquilo que os mal intencionados chamam processo de hierarquização, os bem intencionados chamam de nobre esforço de trabalho conjunto.
                 
                — Os espíritos que integram a Fundação “Emmanuel” sempre se comunicam, usando o seu nome?
                — Quando o médium lhes fornece abertura e se liberta de qualquer fixação mental, no que tange à identidade do comunicante, se lhes amplia o leque de possibilidades junto ao medianeiro.
                — Quer dizer que a questão da identidade do espírito comunicante...
                — Está mais afeta ao médium do que propriamente ao espírito, o qual, em última análise, se preocupa com a transmissão de suas idéias. (85)
                Realmente, aprende-se com Kardec que não se deve valorizar uma mensagem pelo simples fato de ter sido assinada por alguém de nome ilustre, mas sim pelo seu conteúdo.    Mas, ficar ao arbítrio do médium o uso do nome de um Espírito como Emmanuel...
               
                — Por aqui também, Doutor, eles se reproduzem...
                — Os gatos?! – indaguei, agradavelmente surpreso, olhando de soslaio para Odilon.
                — Os gatos, os pássaros, as flores...
                — Esse assunto  de reprodução, depois da morte, é um  dos  que  mais  me  interessam – observei. — Quer dizer...
                — ... que a Vida, em qualquer dimensão em que se manifeste, prossegue inalterável, sublimando-se sempre. (97)
                É interessante notar que o próprio Dr. Inácio, no livro “Na próxima Dimensão” (214 - 215), relata que vira uma espécie de rouxinol chocando, e, nesse momento, toma conhecimento do nascimento de crianças no Mundo Espiritual (sic). Agora, neste livro, demonstra surpresa ante a reprodução de gatos... Se essa reprodução fosse real, como o Dr. Inácio, depois de dezoito anos no Mundo Espiritual, sendo diretor de um hospital, ainda não soubesse disso?

                Confesso-lhes que eu não conseguia tirar os olhos do ventre daquela menina que me passou a inspirar enorme simpatia.  
                — O senhor quer tocar-lhe o abdômen, Doutor? Érica não se importa e Gustavo não é ciumento.
                Eu estava tão absorto e encantado, que mal pude atinar com a espirituosa brincadeira de Ferdinando. Como se aquela garota, que mais me parecia uma boneca falante de tão bela, fosse a filha que eu nunca pude ter, apalpei-lhe carinhosamente o ventre e, pasmem, a criança deu sinal de vida sob a minha mão... Os meus olhos se encheram de lágrimas e, notando minha forte emoção, Érica, que conseguia ser menor do que eu, ficou na ponta dos pés e me osculou a face.
                — Você está realmente grávida concluí e isso, minha filha, será um problema!  
                — Um problema para nós, isto é, para mim e para o Gustavo?
                — Não – respondi –; para os nossos irmãos na Terra!... A turma por lá...
                — Eu sei, Doutor, é preconceituosa...
                — Se fosse só uma questão de preconceitos, a questão não seria tão grave assim. É mais sério, porque se trata de ignorância mesmo! (98 - 99)  
                Quando André Luiz começou a fazer aquelas revelações extraordinárias, principiando pelo livro “Nosso Lar”, não se preocupou com a repercussão que a obra provocaria na Terra: tinha a segurança própria dos que detêm a Verdade. O Dr. Inácio, repetidamente, manifesta sua preocupação com o que os espíritas estão dizendo ou irão dizer daquilo que ele revela... E tacha a todos aqueles que não aceitam as suas “revelações” de preconceituosos e de ignorantes!
                Quando, através de Chico Xavier, André Luiz se referiu com palavras menos fraternas àqueles que não aceitaram de imediato suas revelações?
               
                — Para quando será a criança, minha filha? – questionei.
                — Dentro de uma semana, completarei os cinco meses...
                — Faltam três, para oito...
                — Não, doutor, o nosso tempo de gestação é menor – se passar da data, não será muito.
                — E de onde vem esse menino? – criei coragem e formulei a pergunta que mais me intrigava. Mas, antes que um dos dois, ou o próprio Ferdinando, me respondesse, me virei para os amigos, que se mantinham em silêncio, e reclamei: — Vocês vão me deixar sozinho nesta?... (100)
                Será que o Dr. Inácio não sabe que uma gestação normal dura nove e não oito meses? Através de seus livros, pretende fazer revelações, mas será que essas novidades também são novas na Colônia Espiritual onde estagia? Se isso fosse real, seria possível que ele, diretor de hospital psiquiátrico, não soubesse – depois de dezoito anos de desencarnado – de onde viriam os espíritos para essas encarnações espirituais?

                — É o bisavô de Gustavo que está reencarnando – disse a jovem às vésperas de ser mamãe. — Ele reside em Plano Espiritual mais elevado, e cremos que, talvez, se não tivéssemos desencarnado, fosse estar conosco na Terra... Muitos necessitam dele por aqui...        
                — Acreditamos, Doutor, que seu próximo passo será mesmo voltar ao convívio de nossos familiares no mundo – observou o futuro genitor.
                — O espírito, quando pretende se demorar em determinada dimensão espiritual, inferior à que esteja presentemente habitando, necessita ganhar corpo – elucidou Ferdinando, resumindo: — Para cima, ele tem que perder, para baixo, ele tem que ganhar... (100 - 101)
                Importa notar que aqui fica claro que um Espírito superior, para permanecer nessa colônia, deveria ganhar corpo, ou seja sofrer um processo semelhante à reencarnação terrena. Logo, não passariam por esse processo Espíritos inferiores.

                —Quer dizer, então, que aqui só nascem – ou renascem – espíritos de maior elevação?
                — No plano em que estagiamos, ainda não.
                — Por favor, Ferdinando, seja mais claro – solicitei.
                — Não é tão simples traduzir isto em palavras, porém vamos tentar. É que, além das dimensões espirituais que se nos localizam acima e aquelas que se nos posicionam abaixo...
                — O próprio Umbral, a Crosta, as Trevas, o Abismo...
                — Sim, além das mencionadas pelo senhor, existem as dimensões paralelas... (100 – 101)
                Há uma flagrante contradição nessa pretensa revelação de encarnações espirituais, pois agora não fala mais em dimensões acima, mas paralelas... Essa gravidez no Mundo Espiritual, já revelada na obra “Na Próxima Dimensão” é tão absurda que nem merece mais comentários. Parece até que o Dr. Inácio está querendo testar o nível de conhecimento doutrinário dos espíritas, para não dizer o nível de bom-senso.

                — Estou aqui com um exemplar do “Resenha Espírita da Crosta”, nas mãos...
                — Como?! – interpelei, admirado.
                — Um periódico espírita com notícias da Terra e, em especial, do Movimento Espírita no Brasil.
                — Impresso onde?
                — Na “Fundação”... Circula internamente.
                — Um jornal espírita no Além, com notícias do Aquém?...
                — Do Aquém, Doutor, e do Mais Além! (124)
                Lê-se  exatamente o contrário dessa preocupação com o que ocorre na Terra, conforme o diálogo entre André Luiz e Lísias:
                “— Mas não há recurso – indaguei – para recolher as emissões terrestres?
                — Sem dúvida que temos elementos para fazê-lo, em todos os Ministérios; entretanto, no ambiente doméstico o problema da nossa atualidade é essencial. A programação do serviço necessário, as notas da Espiritualidade Superior e os ensinamentos elevados vivem, agora, para nós outros, muito acima de qualquer cogitação terrestre.” (N. L., 127)
                Em “Nosso Lar” não há interesse nem em notícias familiares, mas na “Fundação” há até jornais que veiculam falatórios terrestres...

                — Dr. Inácio, por favor, uma derradeira pergunta...
                — Pois não.
                — É verdade também o que o Resenha está dizendo?...
                — A menos que os jornais daqui também se equivoquem como os da Crosta costumam se equivocar – respondi.
                — “Aos espíritas que me criticam...” – leu o rapaz, em voz alta.
                — “...ofereço, solenemente, uma banana!...” – não me esquivei de concluir, na alusão grotesca ao gesto feito com a mão esquerda apoiar-se no braço direito, tendo o antebraço voltado para cima com a mão fechada. (135)
                O diálogo acima se deu no encerramento de uma palestra que o Dr. Inácio teria proferido na “Fundação Emmanuel”. No encerramento, o Dr. Odilon, ao lado de conceitos elevados, não deixou de fazer uma defesa do Dr. Inácio, que logo depois foi protagonista, diante de imensa platéia, da cena acima descrita, que dispensa comentários...

                — Então...
                — Mas – justifiquei – essa história de eu oferecer banana aos espíritas é antiga, tão antiga, meu filho, que, a estas alturas, já deve ter virado um cacho inteiro delas!
                É evidente que, uma vez mais, o meu propósito era o de provocar a descontração dos estagiários, que ficaram a gargalhar enquanto nos retirávamos. (136)
                Será que o nobre orientador de Chico Xavier, conhecido pela sua austeridade – não só pelas suas páginas, mas também pelas informações do próprio médium – iria emprestar seu nome a uma Fundação onde fosse permitida a circulação de jornais, revistas e panfletos que veiculariam conteúdos inaceitáveis até mesmo em instituições terrestres? Esse tipo de imprensa e o nível do comentário parecem mais consentâneos com o Umbral...

                Antes que eu prossiga com detalhes do diálogo que travamos, apenas a título de curiosidade, devo esclarecer que os quinze participantes do grupo revelavam, inclusive, estreita semelhança fisionômica com Emmanuel.
                — O senhor deve estar imaginando – disse-me Orígenes com espontaneidade –, como se o meu pensamento para ele se desnudasse: — Emmanuéis em série, não é, Doutor?
                — É!... – respondi, sem alternativa.
                — O senhor sabe, naturalmente, que é o pensamento que nos plasma a forma, não?
                — Sim! –— É, então, por esse motivo, Doutor – prosseguiu Orígenes –, que muitos sensitivos, além de ‘psicografarem’ Emmanuel, chegam a vê-lo.
                — Estou...
                — ... bestificado!
                — Se o senhor parasse de ler os meus pensamentos e de se apropriar de minha terminologia...
                — ... eu agradeceria! – emendou, desculpando-se em seguida:
                 — Não leve a mal; é involuntário... A Área em que nos especializamos nos deixa de mente aguçada.
                — Meu Deus, quantos Emmanuéis! – exclamei.
                — Estes são os originais...
                — Acaso existem os falsos?!
                — É claro que sim, e em maior número. Por que o espanto, Doutor? O senhor, por ventura, acha que, em breve – muito breve –, não haverão de aparecer outros Inácios Ferreiras operando mediunicamente?
                — Tão falsos quanto o original! – respondi, ainda um tanto aparvalhado.
                — Segundo levantamento que fizemos, só no Brasil, existem, presentemente, mais de cinqüenta médiuns ‘psicografando’ Emmanuel!...
                — Outros tantos Andrés Luizes, outros tantos Irmãos X, outros tantos Meimeis...
                — Qual o seu nome, meu filho? – continuei, aproximando-me de um jovem que, para mim, era a cara de Emmanuel, o verdadeiro. O verdadeiro?! – perguntava, confuso, a mim mesmo. Que garantia possuía , já que eu nunca estivera, face a face, com o original?!...
                — Emmanuel! – respondeu-me o jovem de belos traços romanos, a me glosar.
                — Eu agora estou falando sério... Por favor, você me poupe.
                — O meu nome real não diria nada ao senhor e nem para os nossos irmãos médiuns que me ‘recebem’...
                — Mesmo assim, eu gostaria de saber e, se possível...
                — ... com carteira de identidade!
                — Não! Todos aqui lêem pensamentos?!
                — Doutor, o meu nome é Joaquim da Silva.
                — Um “Emmanuel” que é Joaquim!... E os demais, como se chamam?
                Um a um, foram se apresentando:
                — Carlos José! Francisco dos Santos! Luís Antônio! Marcus Vinicius! Pedro de Souza! Hermógenes Pereira! Luciano Alvarenga!...
                Os outros nomes, tão comuns quanto os primeiros, poupar-me-ei de decliná-los, em protesto por não encontrar, entre eles, nenhum Inácio.
                — Mas, – comecei a questionar – como entender-se, então...
                — a diferença de estilo, Doutor, do Emmanuel de “Chico Xavier”, dos “Emmanuéis” de outros médiuns? – completou Orígenes. —  O problema é que os mensageiros, como o senhor está podendo constatar, estudam, já os médiuns, não.
                — Ah, isso é verdade! – apressei-me em concordar.
                — De resto, no entanto, o que vale é a essência do pensamento.
                — Ainda que, do ponto de vista do estilo, a mensagem deixe a desejar?
                — A autenticidade doutrinária, ou seja, o conteúdo é a característica mais importante. Ressaltemos, porém, que os nossos mensageiros são todos instruídos no sentido de que auxiliem o médium a se libertar e...
                —  a independer do nome que assume a autoria do comunicado.
                — O senhor aprende depressa, Doutor: conseguiu ler o meu pensamento... Com um pouco de treino, daria um ótimo “Emmanuel” (140 - 142)
                Seria o caso do Doutor Inácio, coerentemente com o que diz, não assinar seus livros. Para que identidade? Para quem conhece um pouco da obra de Kardec e dos Espíritos equilibrados que se comunicaram através de Francisco Cândido Xavier, de Yvonne do Amaral Pereira, de Divaldo Pereira Franco, de José Raul Teixeira, seria necessário algum comentário sobre tudo o que foi dito acima?

                — (...) Outra constatação digna de nota é o fato de que quase todos os artistas; em todas as épocas da Humanidade, retratarem a Augusta Face do Senhor de maneira praticamente idêntica! Não se sabe de ninguém que O tenha retratado ao seu tempo... (180)
                Pelo contrário, é difícil encontrar-se alguém que tenha sido retratado de maneira tão diversa quanto o Cristo!

                “— Inácio, meu amigo – dizia delicado cartão – , eu não me esqueci que amanhã, 15 de abril, seria o dia de comemorarmos o seu aniversário. Com o meu carinho e a minha gratidão, Modesta”.
                Logo abaixo, estava escrito:
                “– P. S. – O nome dela é “Mimi”. Foi atropelada ontem, quase em frente à sua antiga residência. Fiquei com muita pena dela e me lembrei de você. Só tem uma particularidade e espero que você não se importe: “Mimi” está grávida!...”
                — Não, não é possível! – balbuciei, sentando-me na cama e acariciando o pêlo sedoso da gata. (183)
                Novamente, a gravidez no Mundo Espiritual. Desta vez, com a agravante de não ter-se iniciado lá, mas na Terra...

                — Desembuche, Manoel, antes que eu continue dizendo e escrevendo o que não devo...
                — Dr. Inácio – esclareceu –, quatro padres estão à sua espera...
                — Quatro?!... Um só já seria muito! Que desejam? Me converter?
                — Estão pedindo permissão para uma visita ao Hospital, alegando que receberam graves denúncias.
                — Era o que estava me faltando: os espíritas ortodoxos de um lado e os padres de outro! Isto é um complô! Que denúncias?...
                — De que, contra a vontade deles, estamos mantendo católicos internados aqui...
                — E louco tem vontade, Manoel? Por que não se entendem com o Carmelita?...
                — Insistem em falar com o senhor. Disseram inclusive, com base nas informações que receberam, que mantemos um arcebispo em regime de internação compulsória.    
                — Certamente estão se referindo a A., que acolhemos por solicitação de sua genitora.
                — Se o senhor não os atender, ameaçam denunciar-nos aos órgãos competentes; voltarão com um mandado judicial...         
                — Meu Deus!, isto aqui está parecendo a Terra ... E eu, que tinha esperanças de que, após a morte, tudo se modificasse radicalmente!
                (...)
                — Queremos que o senhor nos dê permissão para apurar certas denúncias.
                — Seja mais preciso – solicitei.
                — Sabemos que o hospital dirigido pelo senhor mantém aqui, contra a sua vontade...
                (...)
                — Trata-se, especificamente, de um arcebispo da Igreja... Poupe-nos uma ação judicial: é verdade que ele está internado neste nosocômio? (186 – 189)
                Deixamos de comentar os trechos acima, remetendo o leitor à obra de André Luiz e de outros autores espirituais, que nos deram uma visão muito diferente dos Planos Espirituais organizados no Bem.

                Menino e Stela vinham sendo tratados por nós há quase cinco anos e, quando foram transferidos para o hospital sob nossa direção, o quadro que compunham não dá para ser descrito, sem que nos arrisquemos a impressionar as mentes encarnadas ainda um tanto despreparadas. A entidade feminina vivia, “literalmente”, no estômago do seu algoz. (210)
                Mais uma vez, o Dr. Inácio se declara diretor do hospital...
                Este é o caso de um apaixonado que matou sua amada e devorou-lhe as vísceras. No Mundo Espiritual, a infeliz ainda “vivia” dentro dele, sendo, mais tarde, necessário que ele a vomitasse.
               
                — Já está nascendo a criança? – Perguntei.
                — Quase.
                Gustavo, ao lado da mãe de seu primeiro filho, se mostrava naturalmente apreensivo.
                Diligente equipe médica se encontrava a postos, na expectativa do parto, o qual deveria acontecer sem necessidade de qualquer intervenção instrumental.
                (...)
                — Que aparelho é esse no braço dela?
                (...)
                — É, então, um minicomputador...
                — Funciona como se fosse e é capaz de apontar, com precisão absoluta, desequilíbrios de risco para o organismo.
                — Como, por exemplo, a iminência de um colapso cardíaco, alteração da pressão sangüínea? 
                — Taxas de glicose, oscilação de temperatura, presença de um microorganismo patogênico... (226)
                Essas, as possibilidades de um aparelho que a “parturiente” trazia no braço... O que aconteceria se a “parturiente” sofresse um ataque cardíaco? Uma hiperglicemia? Uma hipotermia? “Desencarnaria”?
                Será que há necessidade de comentários?

                — Como aquele tripulante português – o senhor conhece esta? – que, tendo subido à torre de observação da nau de Pedro Álvares Cabral, pôs-se a gritar em desespero: — “Terra na vista! Terra na vista!...”
                 O Dr. Hernani, que sempre apreciou uma boa anedota, gargalhou e perguntou:
                — E daí?...
                — Cabral lhe respondeu: — “Então, desça, infeliz, que o médico está no convés...”
                — Dr. Inácio, e no caso não havia jeito: o tripulante era português mesmo, não é?
                Nem o próprio Cairbar conseguiu conter o riso.
                — Mas – tomou Hernani a palavra –, o senhor sabe aquela do papagaio que era médium?...
                — A do papagaio português?
                — Não, este era baiano: morava num terreiro de macumba... Não sei se era papagaio português reencarnado; o senhor sabe, a reencarnação torna tudo possível...Quando a coisa começou, ou melhor, a sessão de terreiro teve início, os médiuns incorporaram todos ao mesmo tempo e era só tamborete e tambor voando para todos os lados... O papagaio, coitado, mal teve tempo de se abaixar, e um tamborete quase lhe decepa o pescoço. — Currupaco! – disse ele no puleiro. — Ainda bem que sou médium vidente, pois, no caso contrário, teria desencarnado!... (241)
                Depois de lermos as obras edificantes de Emmanuel, temos de ler piadas de mau gosto num livro que leva o seu nome... Onde localizar esse Espírito que, se intitula “Dr. Inácio”, na “Escala Espírita”, que Kardec mostra em “O Livro dos Espíritos”, a partir do item 100?

                — Meu caro Dr. Hernani – aparteou Odilon, aproveitando a deixa –, o senhor não repare, se precisamos ir; temos ainda uma visita a ser feita hoje...
                — Que pena! – lamentou.
                — Voltaremos para uma nova sessão de piadas – enfatizei. — Tenho algumas para lhe contar, mas só nós dois...
                — Picantes?
                — Piada espírita não tem graça, Hernani! (241)
                Será, ainda, necessário algum comentário? 

                — De que se trata? – questionei Odilon.
                — O sangue em sua roupa é conseqüência do seu condicionamento mental: todo ferido sangra... Além das fraturas, ele deve ter tido hemorragias internas e, certamente, foi o que ocasionou o seu desenlace.
                — E o líquido avermelhado que continua a lhe escorrer da fronte?
                — Inácio, você não ignora que em nossas veias alguma coisa continua circulando, não é? O sangue é uma transubstanciação do princípio vital. Para nós, o perispírito é um envoltório quase tão grosseiro quanto o corpo feito de carne...
                — O perispírito “sangra”? (256)
                Esse diálogo se dá ante a visão de um jovem que desencarnara em um desastre automobilístico.
                O que causa admiração é o fato de, depois de dezoito anos no Mundo Espiritual, um médico, diretor de um hospital, nada saber da anatomia do perispírito...

                Esconjuro-vos, ó adeptos da ortodoxia retrógrada de qualquer sistema religioso vigente no Planeta!... Afastai-vos! Deixai “Mimi” parir em paz!... Que tendes contra o dom divino da procriação em todas as dimensões? Por que somente vos supondes viris o bastante para o ato de fecundar? O que vos leva a crer que sejamos, após a morte, animais, dotados ou não de razão, anjos destituídos de orgasmo? Que Bastet, a deusa egípcia dos gatos, à qual rendo culto em minha herança idolátrica, se compadeça de vossas almas incrédulas e pecadoras!... Vós, que sequer sabeis onde tendes o nariz, não queirais intrometer-vos no que não é da alçada senão dos místicos e dos poetas. Se não vos considerais preparados para a Grande Iniciação, estacai vossos passos no pórtico do templo da Verdade! Retrocedei, ó vós que vos apegais à letra que mata –, mesmo que essa letra seja a da Codificação Espírita – , e não ao espírito que vivifica. Deixai “Mimi” parir em paz!... (270 – 271)
                Como enquadrar esse Espírito e suas comunicações em “O Livro dos Médiuns”?  Em “O Livro dos Espíritos” poder-se-ia classificá-lo nos itens 103 e 104, como  Espírito leviano e pseudo-sábio, respectivamente.

                — Quem se sente destituído de palavras, nesta hora, sou eu, o Chico que muitos de vocês conheceram, e não o Allan Kardec, o apagado Professor de outras eras, que nada mais fez do que compilar o ensino dos Bons Espíritos, e, como médium, continuou a fazer o mesmo trabalho – o trabalho de simples intermediário, de limitado intérprete do que os Espíritos Amigos escreveram por minhas mãos... (296)

                As palavras acima teriam sido proferidas durante um pronunciamento de Chico Xavier na Fundação Emmanuel. Na sua infeliz tentativa de provar que Chico Xavier foi a reencarnação de Allan Kardec, o Dr. Inácio, contando com o desconhecimento de muitos espíritas a respeito da estatura intelectual do Codificador, coloca essas palavras absurdas na boca do Chico, através das quais, exagerando a humildade dele, desmerece a ambos, ao dizer que Allan Kardec foi um apagado professor. Nega, assim, ao insigne Codificador a condição de brilhante educador, de autor de planos educacionais que lhe valeram premiações do governo de França, de autor de mais de uma dezenas de obras referentes aos mais diversos campos do saber; de homem dotado de assombrosa inteligência e de cultura geral extraordinária, colocando-o na condição de um simples escriba, que teria desempenhado um papel inteiramente passivo, sem dar nenhuma contribuição intelectual nem moral à codificação do Espiritismo. Seria de se perguntar por que Jesus teria escolhido alguém com tal capacidade (vide “Cartas e Crônicas”, cap. 28), para ser um simples compilador dos ensinamentos dos Espíritos Superiores.

                — Quem me dera encerrar em mim tanta sabedoria e grandeza! Tenho vindo assim, conforme sabem alguns, desde os tempos da Hélade, quando, igualmente, na humilde condição de discípulo, registrei imperfeitamente para a Humanidade as inesquecíveis lições do mais sábio de todos os filósofos...  Perdoem-me a referência, que faço com o único propósito de que os amigos me vejam como realmente sou, muito distante ainda da posição em que me colocam. Tanto como Allan Kardec quanto como Chico Xavier, eu poderia ter feito mais, se a minha condição humana o tivesse permitido! (296)

    Prosseguindo na sua tentativa de lançar a dúvida e a confusão no meio espírita, esse Espírito ardiloso que se faz passar pelo Dr. Inácio Ferreira insinua que Chico Xavier, além de ter sido Allan Kardec, foi também Platão, apequenando a figura do eminente filósofo, colocando, também ele, na condição de simples anotador dos ensinamentos de Sócrates. Além do mais, essa declaração: eu poderia ter feito mais, se a minha condição humana o tivesse permitido! é inteiramente absurda, diante do que se aprende na Doutrina Espírita, pois o Espírito reencarna e vem dar seu testemunho no meio social que escolheu ou que lhe foi destinado, o mesmo acontecendo com a vestimenta física de que dispõe. Será que o Chico teria  sonhado em desempenhar sua missão fora da condição humana?


                — Muitos não aceitam que você é Kardec...
                — E qual o problema? Já fui, não sou mais... Agrada-me ser Chico Xavier, a responsabilidade de ser médium é grande, mas é menor... Não é verdade, Odilon?
                — É claro, Chico!
                — Deus me livre de continuar sendo o Allan Kardec que querem que eu seja! E mesmo do Francisco que fui sobrou só o cisco!...
                — Eu prefiro você como Chico – atrevi-me a dizer. Com o Codificador da Doutrina, não poderíamos ter uma conversa tão informal assim... Seria um despropósito e, para muita gente, uma heresia.
                — Foi por esse motivo que eu pedi que ficassem para conversar comigo: vocês me conheceram como eu gosto de ser e como eu não quero deixar de ser! (316)
                O Dr. Inácio, em quase todos os seus livros, faz questão de abordar esse assunto, embora note, ele mesmo, que se trata de duas personalidades diferentes. É de se perguntar, qual a relevância desse assunto, ainda que fosse verdade? Revelação sem fundamento, de que nunca se ocuparam os Espíritos Superiores.
                Pela insistência com que é trazida à baila, verifica-se que tal abordagem tem o fim exclusivo de causar confusão e de distrair os espíritas, encaminhando-os a discussões estéreis, que só são úteis àqueles que desejam desmerecer a Doutrina Espírita.


                                                                                                   José Passini
                                                                                                   Juiz de Fora MG        

                                                                                                   passinijose@yahoo.com.br