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  • terça-feira, 8 de maio de 2018

    Exorcismos, ah! Exorcismos! (Jorge Hessen)


    Exorcismos, ah! Exorcismos! (Jorge Hessen)

     Jorge Hessen

    jorgehessen@gmail.com

    O Vaticano acaba de abrir as portas para seu curso anual de exorcismo em meio a uma demanda crescente de comunidades católicas ao redor do mundo. Cerca de 250 padres, vindos de 50 países, chegaram a Roma para, entre outras coisas, aprender a identificar uma "possessão demoníaca", ouvir testemunhos de colegas e conhecer os rituais para a expulsão de “demônios".

    Em 2017, o papa Francisco disse a clérigos que eles "não deveriam hesitar" em encaminhar casos para exorcistas ao notarem "distúrbios espirituais genuínos". Em 1999, a Igreja Católica fez a primeira grande atualização nas regras sobre exorcismo desde 1614, distinguindo a possessão demoníaca de doenças físicas e psicológicas. [1] 

    Em geral, o padre, pratica o ritual usando uma túnica branca de renda chamada sobrepeliz com uma estola roxa. A pessoa possuída pode ser atada, e água benta deve ser usada. O padre faz o sinal da cruz várias vezes em frente à pessoa ao longo do procedimento. O padre convoca santos, reza e lê trechos da Bíblia nos quais Jesus expulsa demônios de pessoas. 

    Em nome de Jesus, ele pede ao demônio que se renda a Deus e vá embora, tantas vezes quanto necessário. “Assim que o padre se convence de que o exorcismo funcionou, ele reza a Deus para que impeça o espírito maligno de importunar a pessoa afetada novamente, e que, em vez disso, a "bondade e paz do nosso Senhor Jesus Cristo" se apossem dela.” [2] 

    O jornal Correio Braziliense [3] publicou em 03 de julho de 2014 que o Vaticano reconheceu juridicamente a Associação Internacional de Exorcistas (AIE). A notícia foi espalhada pelo jornal L'Osservatore Romano, confirmando que a Congregação para o Clero aprovou os estatutos da associação através de um decreto. O ritual do “exorcismo” foi restaurado pelo papa João Paulo II, “quando a Igreja católica decidiu, depois de quase 400 anos, revisar o texto anterior de 1614 , devido às mudanças realizadas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e aos avanços da ciência no campo da mente.[4] 

    Será que existem fundamentos coerentes a prática do exorcismo? Consta que no ritual da Igreja romana tão-somente os bispos podem autorizar um sacerdote a fazer “exorcismos”. Segundo relatos, no esconjuro, os "demos" respondem com mentiras às indagações do “exorcista” sobre a identidade e/ou os motivos da subjugação. 

    Amparados no bramido beneditino “vade retro satanás!” os exorcistas exortam os espíritos satânicos a saírem do corpo dos possessos, valendo-se igualmente da invocação do nome de Deus, de Cristo e todos os anjos. Ao fim das extenuantes algazarras e invocações, sempre sob o arrimo da “reza brava”, o resultado poderá aparecer de forma ligeira , sem sustento duradouro. 

    Os espíritas compreendem que os tais “demônios”, “capetas”, “coisa-ruim”, “lúcifer”, “diabo”, “satanás”, “satã”, “cão”, “demo”, “besta” etc. no senso comum, não são seres votados por Deus à prática do mal, e sim seres humanos desencarnados que se desequilibraram em atitudes infelizes perante a vida. “Na raiz do problema encontramos a necessidade de considerar os chamados “espíritos das trevas” [demônios] por irmãos verdadeiros, requisitando compreensão e auxílio, a fim de se remanejarem do desajuste para o reequilíbrio neles mesmos.” [5] 

    Se o célebre “exorcismo”, aplicado consoante os rituais das igrejas não funciona , como tratar o processo de subjugação espiritual? Ora, a maioria dos Centros Espíritas dispõe de trabalhos de desobsessão. Embora saibamos que a tarefa de tratamento espiritual não é simples , pois muitas vezes obsedado e obsessor comungam um mesmo estado mental, dificultando a identificação de quem é vítima de quem. 

    Há trabalhos de “desobsessão”, conforme garantem os incautos , que são mais “fortes” e “imediatos”, contudo infelizmente nesses estranhíssimos “tratamentos espirituais” são fixados apenas um imperativo urgente, o afastamento rápido do obsessor. Mas será que esse instantâneo banimento espiritual é possível? Ora, “como rebentar, de um instante para outro, algemas [mentais] seculares forjadas nos compromissos recíprocos da vida em comum?”[6] 

    Portanto, são inteiramente inúteis as fórmulas e rituais exteriores para “exorcismos”, o que importa é a autoridade moral do doutrinador. Nesse sentido, a técnica da conversação [doutrinação] com os perseguidores do além estabelece uma das grandes contribuições do Espiritismo para a melhora das relações entre encarnados e desencarnados. Em face disso as reuniões de desobsessão bem orientadas são de grandiosa força revolucionária, por disseminar nas suas sessões o convite amorável do Mestre sobre o amor e o perdão. 

    Referências bibliográficas:


    [1]           Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/geral-43819104   acessado em 04 de maio de 2018
    [2]           Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/geral-43819104   acessado em 04 de maio de 2018
    [5]           XAVIER Francisco Cândido. Caminhos de Volta, ditado por espíritos diversos, SP: edição GEEM, 1980



    [6]           XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970.