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  • sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

    Um pouco de luz

    Um pouco de luz

    Autora: Berthe Fropo

    Tradução: Rogerio Migoez (rogcedm@yahoo.com.br)

                   Eu li na Revista Espírita do mês de setembro, um artigo intitulado "AOS NOSSOS LEITORES" vindo da Administração da sociedade para a continuação das obras de Allan Kardec, que não passa de uma exagerada e tardia glorificação do mestre. Desde junho, a sociedade permitiu insultá-lo, criticá-lo e se dignou a dar asilo em sua Revista a dois de meus artigos, quando ela deveria ter sido a primeira a defender o homem a quem ela deve tudo, o escritor, o moralista fora de série que mais tarde fará a glória da França e a felicidade da humanidade.
                   Diz a página 402:
                   "Sim, defender Allan Kardec, ser seu advogado e defender sua causa, seria uma enganação. Porque ele não precisa de protetores, nem de bons dialogadores, ou artigos sensacionalistas para ser respeitado e reverenciado."
                   Mas eu presumo que ele não precisa também de caluniadores ou de panfletos sensacionalistas, tão perigosos como falsos, e que não são para todo espírita sério mais do que balões de ensaio, cuja indignação geral fez justiça1.
                   Eu também perguntaria à Sociedade por que decidiu por unanimidade, em uma assembléia geral, que o antigo título "Sociedade para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec" fosse renomeado no futuro para Sociedade Científica do Espiritismo. Por que essa evolução? O que se pretendia fazer, removendo o nome do fundador, o mestre que vocês diziam ser tão respeitado e tão venerado. Em nome de todos os meus irmãos de crença, venho pedir-lhe o motivo; essa evolução é muito grave para que não tenhamos a explicação.
    O nome de Allan Kardec significa comunicação dos espíritos, demonstrada de forma irrefutável, reencarnação e o progresso indefinido do espírito.
                Sociedade científica do Espirtismo não significa nada e testifica uma imensa pretensão. Parece que estamos questionando os princípios que exigiram trinta anos de estudos cuidadosos até serem admitidos. Onde estão os sábios que devem formar a nova organização? Que tipos de experiências serão entregues? Quanta confiança haverá nas demonstrações daqueles que têm um prestigitador como garantia? Tudo isso é lamentável, e vocês se dizem os discípulos sérios e judiciosos de Allan Kardec? Vocês dificilmente o demonstram.
    Gostaria também de lembrá-los que o Sr. Allan Kardec pretendia fazer de uma parte de sua propriedade, um asilo para os espíritas idosos (Desejo que ele expressou no projeto de constituição do Espiritismo - Revista de 1868, páginas 375 e 387 - e sobre o qual ele falou comigo muitas vezes).
                   Agora venho, em nome do meu amigo tão lamentado, exigir a execução de seus desejos, à Sociedadde anônima, exceto pelo interesse variável do fundo geral e central do Espiritismo fundado2 pela Sra. Allan Kardec, por ato em 3 de julho de 1869, perante um notário de Paris, Sociedade para a propagação das obras de Allan Kardec.
                   Esta propagação não pode ser eficaz, a menos que os livros do mestre sejam baratos, foi o desejo de sua viúva, ela se impôs, apesar de sua adiantada idade, as mais difíceis privações, de modo a deixar uma fortuna real para o Espiritismo, aceitando comprometer sua saúde, já tão delicada, e ser tratada como uma avarenta para alcançar o objetivo que ela propôs a si mesma: o de divulgar a instrução moral e intelectual entre os seguidores pobres do Espiritismo, para ver crescer a obra de seu marido.
    1 Veja o artigo do Tempos de 15 de agosto.       
    2 Título de fundadora que lhe foi negado em sua morte nos documentos fúnebres.

                   Ela deixou, além de sua propriedade, cujo terreno vale 300 mil francos, trinta e dois aluguéis, que dão uma renda anual de 8 a 10 mil francos; e uma quantia considerável de valores para pagar todas as despesas do inventário.
                   A Sociedade anônima é, portanto, rica, pois já tinha 40 mil francos deixados pelo Sr. Allan Kardec quando de sua morte, mais 25 mil francos de uma casa de campo, legado de um espírita cujo nome eu não lembro; e, finalmente, os 100 mil francos doados pelo Sr. J. Guérin, o executor testamentário de J.-B. Roustaing e seu discípulo: um total de 460 mil francos, sem mencionar os lucros realizados desde a fundação.
                   Parece-me que agora é a hora de baixar o preço dos livros, especialmente porque uma edição de 2.000 cópias custa:
    Para o papel............ 800 francos.
    Para o impressor...... 533    ─
    Para o encadernador. 144    ─
    TOTAL ..................1477   ─
                   O que coloca cada volume ao custo de 80 centavos, que a livraria nos faz pagar 3 francos. Esta nota me foi dada pela Sra. Allan Kardec algum tempo antes de sua morte.
                   Como vocês tem apenas uma ambição, a de serem trabalhadores, coloquem-se a trabalhar, respeitem a vontade dos dois fundadores do Espiritismo; pelas ações são julgados os homens, e não por suas palavras. Sejam gratos, devotados, altruístas, e quando vocês nos provarem por seus esforços e ações que vocês são os vigilantes guardiões do trabalho espírita em sua integridade, acreditem que terão adquirido o carinho e a estima de todos seus irmãos em fé, e teremos o prazer de fazer apenas uma grande família, caminhando sob o estandarte:
    Fora da caridade não há salvação.
     B. Fropo

     Vice-presidente da União espírita Francesa.