MINHAS PÁGINAS

  • LEITORES
  • terça-feira, 25 de julho de 2017

    As expressões “Kardecismo” e/ou “kardecista” não devem ser desestimadas (Jorge Hessen)





    Jorge Hessen

    É evidente que o termo espírita só é aquele preconizado por Kardec, sem hibridezes. Entretanto, as palavras “kardecista" e/ou "kardecismo" seriam de uso censuráveis? Talvez seja ineficaz a utilização dessas palavras, no entanto jamais serão impróprias. Além disso, entendemos que há algumas ponderações plausíveis a serem expostas com relação ao assunto.

    Primeiramente recorramos ao Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa [1]. Nele encontraremos as definições: kardecismo - Doutrina religiosa de Allan Kardec; kardecista - pertencente ou relativo a Allan Kardec ou ao kardecismo - adepto do kardecismo. A Enciclopédia Universal define o seguinte: kardecismo - Doutrina de Allan Kardec, espiritismo - kardecista - aquele que adota as doutrinas de Allan Kardec - Relativo a kardecismo [2]. Estamos aqui fazendo referência a duas consagradíssimas fontes do saber.

    Dizem que existe uma guimba de preconceitos a substituição dos termos espírita e Espiritismo pelos termos "kardecista" e "kardecismo", visando que suas crenças não sejam confundidas com aquelas que, para tais, são "inferiores", portanto não querem ser identificados como feiticeiros ou macumbeiros. Mas vale aqui uma ponderação. Em quase todos os lugares que se pratica o mediunismo, alcunha-se de “espírita”.

    Vejamos, existem instituições nomeadas como "centro ‘espírita’ caboclo beltrano", "tenda ‘espírita’ pai sicrano", "cabana ‘espírita’ vovô fulano", "centro ‘espírita’ tenda fraterna", "centro ‘espírita’ de umbanda cobra coral", "centro ‘espírita’ pai Joaquim” etc. Em tais instituições não há qualquer orientação espírita, portanto precisariam substituir o nome ‘espírita’ por espiritualista.

    Apesar das apropriações indébitas do termo ‘espírita’, conquanto sem cumplicidade, pois cada coisa deve estar em seu devido lugar. Os espíritas, respeitamos todas as seitas, cultos, religiões, valorizamos todos os esforços para a prática do bem, trabalhamos pela confraternização entre todos os homens, independentemente de raça, cor, nacionalidade, crença ou nível cultural e social, e reconhecemos que, segundo Kardec, "o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza".[3]

    Se o Espiritismo rejeita quaisquer cultos externos, é óbvio que não pode ser considerado espírita quem exercita cultos em “terreiros”, quem é adepto de magia “branca” ou “negra”, quem adota idolatria, conquanto se consideram espiritualistas. Com as lições de Allan Kardec, cuja literatura não poderá deixar de ser fonte básica do Espiritismo, devemos asseverar que o conceito ou o nome de espírita não podem ser aplicados aos seguidores de qualquer seita ou prática espiritualista, porém tão somente aos estudiosos e praticantes que abarcaram a Doutrina dos Espíritos e por lógica já não se vinculam mais ao ritualismo nem aos preceitos e dogmas que estreitam a inteligência, petrificam a fé e fragmentam o bom senso.

    É por essas e outras que o emblemático sincretismo religioso brasileiro tem remetido as pessoas a confundirem Espiritismo com ocultismo, esoterismo, teosofia, orientalismo, umbandismo, xamanismo, exorcismo, exoterismo, ubaldismo, ramatisismo e demais mistismos iguais ao roustanguismo febiano e outros análogos. Em face disso é perfeitamente compreensível a defesa de alguns confrades para o uso do célebre "sou kardecista" para se harmonizarem de forma racional às circunstâncias cabíveis.

    Kardecismo? Anos atrás, jamais se admitiria essa hipótese, pois Espiritismo só existe um. No entanto, e embora consciente de que o Espiritismo não foi obra de um homem, mas dos Espíritos Superiores, e que o mestre lionês, por isso mesmo, foi apenas o instrumento de que a espiritualidade maior se serviu para transmitir novas diretrizes de amor e paz à Humanidade, nada obsta que cheguemos ao fato concreto de que o sufixo "ismo", em seu pseudônimo, seja disseminado para designar o movimento religioso (Espiritismo) por ele codificado. Ou seja, o termo Kardecismo distinguiria a doutrina por si só.

    Como exemplo dessa ordem, podemos citar o Darwinismo, Platonismo, Socratismo, Luteralismo, Calvinismo etc. E quem nos garante que os métodos desses grandes vultos da História tenham sido particularíssimos, isto é, sem a inspiração de Espíritos Superiores? É óbvio que foram inspirados. Portanto, nada mais justo, oportuno e conveniente que estudemos essa possibilidade, "também", pois os espíritos superiores, por serem superiores, representam a permanente tranquilidade interna ante as atitudes que promovam e dignifiquem o legítimo pensamento espírita.

    Urge que se faça a distinção, pois não podemos admitir que a Doutrina Espírita caminhe com luzes na essência e obscurantismo na sua difusão e aplicação prática. É um fato real e digno de nossa atenção. Naturalmente a nossa presunção no texto não é modificar coisa alguma, mesmo porque não detemos poder para tanto, porém reafirmamos (sem o fantasma da culpa) que o uso das expressões Kardecismo ou Kardecista não constitui um atentado contra a Doutrina dos Espíritos, por isso mesmo não deve ser motivo de censuras, análises severas ou indignação, pois esses vocábulos estão perfeita e intrinsecamente associados ao termo Espiritismo.

     Referências bibliográficas:
    [1]            Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, SP: Ed Positivo, 2010
    [2]            Enciclopédia Universal.  São Paulo:  Editora Pedagógica Brasileira LTDA, 1969

    [3]            KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XVII, Item 3, RJ: Ed. FEB, 2001

    “Andar com fé eu vou...” (Jorge Hessen)




    Jorge Hessen

    “Andá com fé eu vou. Que a fé não costuma faiá”, diz o refrão da música do cantor Gilberto Gil. Narra a carta aos Hebreus que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Cremos que fé é a certeza da aquisição daquilo que se tem como finalidade.

    Sem a fé racional, nas situações de crise, seja de ordem econômica ou agravamento da insegurança pública, as relações sociais, pessoais e familiares se deterioram. Diante das incertezas, é comum que o medo domine as mentes de uns ou de outros. Pensar que não se conseguirá enfrentar uma doença, lidar com os erros, a perda do emprego ou dos bens materiais amplia o temor de muitos. Surge o pânico nalguns ante a chegada da velhice, da solidão, da perda de um amor e assim por diante. Caminha o tímido sob as ansiedade e desconfortos psicológicos.

    Os irrequietos, os estressados visitam, cinco vezes mais, médicos que uma pessoa normal. O sintoma crônico da ausência de fé e do medo estão gerando enigmas físicos e emocionais, tais como infarto do miocárdio, úlcera e insônia. Para nós, estudiosos do Espiritismo, sabemos que a solução para o enfrentamento dos embates da vida e do medo é o exercício da fé coerente, apontando-nos o rumo do equilíbrio emocional. É igualmente a certeza da reencarnação e a convicção da imortalidade que nos reforça o alimento da fé diante dos desafios do viver.

    Fundamentalmente, a fé deve apoiar-se na razão sempre. Até porque a fé não é um dom fornecido por Deus para alguém em especial, nem deve ser imposta de fora para dentro. A fé é o produto da conquista pessoal na busca da compreensão do caminho correto, das verdades que permeiam a essência das próprias vidas, por meio do conhecimento, da experiência, das reflexões pessoais e pelo esforço que se faz para o auto amor e por entender que o amor é a causa da vida, e a vida é o efeito desse amor.

    Na mensagem de Jesus, aprendemos a lição da fé (transportadora de montanhas) da coragem, do otimismo, do bom senso capazes de renovar nossas tendências, impedindo que o medo, a depressão e a angústia se apossem de nosso cotidiano. Até porque “a fé não costuma faiá”.