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  • quinta-feira, 21 de maio de 2020

    Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)

    Deus é um imenso “inexistir”? (Jorge Hessen)
    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com
    Brasília/DF

    Ora, quando refletimos sobre Deus e pensamos nele como “existente”, e ainda quando cremos que ele “existe”, nossa ideia dele não aumenta nem diminui. Científica e filosoficamente, Deus é impossível! Deus é um absurdo! No surto da Reductio ad absurdum, o bispo Anselmo afirmava que “Deus é aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado ou o que é tal que não pode ser pensado algo maior.”[1]
    Cada filósofo, cada cientista tem uma visão diferente sobre a possibilidade da “existência” de um “Deus”. Albert Einstein afirmava crer na visão de Deus de acordo com o definido pelo filósofo Baruch Spinoza, na qual tudo e todos fazem parte da composição do Criador. O genial cientista refutava a possibilidade de um Deus individual ou antropomórfico e se definia como agnóstico, ou seja, reconhecia a possibilidade da “existência” de um Deus – por mais difícil que fosse descobrir se isso é verdade ou não. [2]
    Carl Sagan negava ser ateu, porque para ele um ateu é alguém que tem evidências persuasivas de que não existe um Deus Judaico-Católico-Islâmico. Sagan dizia que não era tão sábio, mas ao mesmo tempo não considerava que havia algo próximo a uma evidência adequada para a “existência” de um Deus. O astrofísico americano Neil Degrasse Tyson, o mais ativo divulgador da ciência depois de Carl Sagan, também afirma que não enxerga evidências que corroborem a existência de Deus.[3]
    Stephen Hawking se definia como ateu. Acreditava que o universo era governado pela supremacia das leis da ciência. Para ele, existia uma diferença fundamental entre a religião, que é baseada na autoridade, e a ciência, que é baseada na observação e na razão. A ciência é suprema porque ela funciona, afirmava Hawking.[4]
    Deus “É” imaterial, portanto incriado, porém criou a existência ou essência de tudo, logo, Deus não pode ser a própria criação, ou seja,  não pode “existir”. Deus criou não só um Universo, mas infinitos universos. Nos fenômenos materiais, tudo o que pode ser verificado, o cientista procura encontrar os porquês do existente como possibilidade de ser raciocinado e medido, entretanto, Deus “É” não existente como possibilidade de ser verificado e mensurado.
    É impossível  provar a “existência” de Deus, isso apenas porque sua inexistência é perfeitamente possível. Vale ressaltar aqui que nossa reflexão não é provar a impossibilidade de Deus “existir”, mas apenas a impossibilidade de se demonstrar Sua possível “existência”, até mesmo porque Ele é o Criador da “existência”. Deus “existente” é coisa limitada; o Deus “existente” é um ente restrito; o Deus “existente” é uma concepção da fé da criatura;  o Deus “existente” é uma finitude; o Deus “existente” é adstrito ao pensamento do crente.  Em verdade, Deus tem que SER, e não pode “existir”, até porque tudo o que “existe” é o que d’Ele procede, pois Deus simplesmente “É”. Se Deus “existisse”, teria criado a si mesmo.
    A compreensão de Deus alcançada por uma pessoa é aquela possível em face do seu conhecimento e do conhecimento do seu grupo social. No entendimento do Espiritismo, Deus não se relaciona ao mágico, ao místico, ao divinal, ao sacro, ao infinito, ao absoluto. Deus não é matéria, nem energia: é imaterial. Para Kardec, não é permitido ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Se o homem não pode penetrar na essência de Deus, sendo a existência divina dada como premissa, o homem pode chegar pelo raciocínio ao conhecimento dos seus atributos necessários; porque, vendo o que ele não pode ser sem deixar de ser Deus, deduz-se daí o que ele deve ser.
    Sem o conhecimento dos predicados de Deus, seria impossível compreendermos a obra da criação. Deus é a inteligência suprema e soberana. Se a imaginássemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, e assim por diante até ao infinito. [5]
    Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada. Ora, não sendo coisa alguma, o nada não pode produzir nada. Deus é imutável. Se ele estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade. Deus é imaterial, de outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. Deus é todo-poderoso. Se ele não possuísse o poder supremo, poderíamos imaginar um ser mais poderoso e assim por diante, até encontrarmos o ser que nenhum outro pudesse ultrapassar em potência, e então esse outro é que seria Deus. [6]
    Deus é soberanamente justo e bom. Deus não poderia ser ao mesmo tempo bom e mau, porque, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, ele não seria Deus. Consequentemente, Ele não poderia deixar de ser ou infinitamente bom ou infinitamente mau; se fosse infinitamente mal, não faria nada de bom; a soberana bondade resulta na soberana justiça.
    Deus é infinitamente perfeito. É impossível concebermos Deus sem o infinito das perfeições. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se preciso que ele seja infinito em tudo. Deus é único. Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que, se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao seu poder, e então não seria Deus.
    Em resumo, Deus não pode ser Deus senão sob a condição de não ser ultrapassado em nada por nenhum outro ser, pois o ser que o superasse no que quer que fosse, ainda que apenas na grossura de um cabelo, é que seria o verdadeiro Deus.  Portanto, Deus é a inteligência suprema e soberana, é único, eterno, imutável, imaterial, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições, e não pode ser de outra forma. Tal é a sustentação sobre a qual repousa o edifício universal. [7]
    Em filosofia, em psicologia, em moral, em religião, só há de verdadeiro o que não se afaste — nem que seja um til — das qualidades essenciais da divindade. A religião perfeita será aquela que não contenha entre seus artigos de fé nenhum que esteja em oposição com aquelas qualidades, em que todos os seus dogmas suportem a prova desse controle, sem sofrer nenhum dano. [8].

    Referências bibliográficas:

    [1]           ANSELMO. Proslogion. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2008.
    [2]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
    [3]           Disponível  em https://veja.abril.com.br/ciencia/nao-vejo-evidencias-que-corroborem-a-existencia-de-deus/    acesso 18/05/2020
    [4]           Disponível em https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/01/5-reflexoes-de-cientistas-sobre-ateismo-e-agnosticismo.html  acesso em 17 de maio de 2020      
    [5]           KARDEC ,Allan. A Gênese,SP: Ed. Portal Luz Espírita,  2018, item 8 cap. II (versão digital da 1ª edição traduzido por  Louis Neilmoris )
    [6]           Idem
    [7]           Idem
    [8]           Idem

    quarta-feira, 6 de maio de 2020

    O bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual (Jorge Hessen)

    O bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com
    Brasília




    Há estudiosos que atestam que o SARS-CoV-2 se originou através de processos naturais. Os vírus não são organismos vivos, portanto,  não se pode matá-los com antibióticos, apenas se pode desintegrar sua estrutura com os diversos métodos higiênicos. O SARS-CoV-2 se expande com muita rapidez entre os humanos, por isso o isolamento social tem sido a solução admissível. Apesar de a longa quarentena ocasionar múltiplos efeitos colaterais, com agravos na economia e nos recursos financeiros para países, empresas e pessoas, até agora, esta é a principal medida exequível adotada por quase todos os países do planeta.
    Obviamente, as estratégias de confinamento não afiançam que a pandemia não ocorra em algum lugar, porém desacelera seu processo de expansão, ocasionando uma incidência menos drástica e mais gradual, permitindo que as instituições de saúde garantam o atendimento médico.
    Para o psicólogo e sociólogo Jocelyn Raude, especialista em doenças infecciosas emergentes e professor da Escola de Altos Estudos de Saúde Pública de Rennes, na França, o individualismo e o "otimismo irrealista" em relação aos riscos de contágio dificultaram o confinamento social para a prevenção ao coronavírus em países ocidentais. É verdade, por displicência, tanto na Europa quanto nos EUA, onde as sociedades são bastante individualistas, causou devastadores efeitos diante da Covid-19. Em países da Ásia, o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. Por exemplo, o uso de máscaras é habitual para proteger os outros quando alguém está contaminado. Isso é algo pouco frequente no Ocidente, enquanto na Ásia é praticamente corriqueiro.
    No Brasil, algumas vezes ocorreram as displicências  das doenças emergentes, decorrentes das diferentes epidemias dos últimos anos. Atualmente, já bastante afetado pelo novo coronavírus, o comportamento dos brasileiros está mudando ante o crescente número de contaminações e óbitos no país.
    Em que pese a estatística, a despeito de tudo e de poucos desajuizados, há os brasileiros "destemidos irrealistas" que não levam a sério a devastadora pandemia, batizando-a de “gripezinha”. (Pasmem!) Uma “gripezinha” que já matou no Brasil mais de 7 mil pessoas em menos de 90 dias.  Uma “gripezinha” que em menos de 90 dias matou quase 60 mil pessoas nos Estados Unidos, portanto, mais do que os 58 mil soldados americanos que morreram no Vietnã durante os 9 anos da guerra.
    Para nós, espíritas, o fato de não se temer a morte não significa que não damos valor à vida física, tanto que Kardec, na RE de 1865, cita categoricamente que devemos seguir as medidas sanitárias, ou seja, o espírita segue as diretrizes e as normas das autoridades públicas, visando prolongar a vida, não por apego, mas por desejo de progredir e ponto!
    É mais do que óbvio que o conhecimento espírita propicia uma força moral capaz de nos preservar de muitas doenças, porquanto essa força moral repercute no corpo físico, inclusive no sistema imunológico. Há diversos estudos que correlacionam o binômio fé/saúde, que não se limita, é claro, apenas na crença espírita.
    Urge aqui refletir na questão solidária em que o bem-estar coletivo é mais importante do que o comportamento individual. A solidarização é o “sentimento de identificação com os problemas de outrem, o que leva as pessoas a se ajudarem mutuamente” (1). Mas, ainda vivemos num ambiente social de ilusões, de sonhos frustrados, de mentes cansadas, numa sociedade de manchas morais, de “mentes vazias” e atoladas nas futilidades modernas, isoladas nas teias do “ego” glacial. Vivemos completamente mergulhados na vida egocêntrica.
    A pandemia que hoje aflige a Humanidade é resultante do orgulho, do egoísmo e da ausência de solidariedade. A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de doenças, delírios e paixões desajustantes.
    O Espiritismo ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos. Deste modo, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade” (2). A recomendação do Cristo “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”(3) assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens.
    Em época de pandemia ou não, a solidariedade na vida social é como o ar para uma aeronave, pois o avião, com toda tecnologia, não voa se não tiver o ar.
    A prática desse sentimento vivifica e fecunda os germens que nele existem em estado latente nos corações humanos. A Terra, local de provação e de exílio, será pacificada por esse fogo sagrado e verá exercido na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor e da solidariedade.

    Referências bibliográficas:
    [1]       Cf. Dicionário Caldas Aulete
    [2]       KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799
    [3]       Jo 15.12