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  • sexta-feira, 31 de março de 2017

    Espiritismo e medicina - Caminhos para terapêutica dos distúrbios mentais (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen

    As mulheres em quase toda a Inglaterra são agredidas ou às vezes ficam em situações muito desumanas, como no caso das mulheres grávidas que perdem seus bebês (aborto)  diante das violências praticadas pelos seus esposos (muitos deles obsidiados) diagnosticados como estressados pós-traumático. Uma delas , a britânica Lindsey Roberts, diz ter sofrido cinco abortos após ser agredida por seu marido, o militar Andrew Roberts, que era um obsedado  e repleto  de paranóias de guerra , além de distúrbios de ansiedade  contraídos nos campos de batalha (Iraque, Afeganistão). (1)
    A obsessão é a trágica pandemia dos dias atuais. A perturbação espiritual  dos soldados oriundos dos campos de batalha não é um problema inglês, pois nos EUA, na França, na Itália é comum existirem homens (ex-soldados) obsidiados, portadores de demência e distúrbios de ansiedade, contraídos nos campos de guerra, lembrando aqui que tais países fomentam,  convivem e mantêm a guerra no planeta.

    O fato é que a ciência desses países e do mundo não alcança elucidar suficientemente as razoáveis causas dos distúrbios espirituais , psicológicos e mentais de ex-combatentes. O psiquiatra se mantém aprisionado aos limites do cérebro, fonte que, como nós espíritas sabemos, não é a raiz essencial das patologias, sejam espirituais e/ou mentais, mas tão somente a exteriorização do efeito da enfermidade.

    A ideia da existência de um “ente” extra físico (Espírito) pode elucidar a origem de muitos enigmas patológicos da psiquê. Em todas as épocas da história das civilizações, existiram psicopatas que sofriam influências nefastas desses “entes” extra físicos (obsessores e inimigos de guerra), e, em alguns casos, envolvendo personagens que se celebrizaram por seus atos.
    Nabucodonosor II, rei dos Caldeus, sofreu uma licantropia e pastava no jardim do palácio, como um animal. Tibério, envolvido por muitos espíritos cobradores, cometeu muitos deslizes, com muita malignidade. Calígula e Gengis-Khan marcaram presença, em função de suas aberrações psicóticas. Domício Nero, em função de grandes desequilíbrios psíquicos, entre tantos equívocos, mandou assassinar a mãe e sua esposa, e, depois, as reencontrava em desdobramentos.

    Até mesmo no campo das artes encontramos obsedados por “entes” extra físicos. Dostoiévski sofria de ataques “epilépticos”. Nietzsche perambulou pelos asilos de “alienados”. Van Gogh cortou as orelhas num momento de “insanidade” e as enviou de presente para sua musa inspiradora, findando, posteriormente, a vida, com um tiro. Schumann, notável compositor, atirou-se ao Reno, sendo salvo pelos amigos e internado num hospício, onde ele encerrou a carreira. Edgar Allan Poe sucumbiu arrasado pelo álcool e tendo visões infernais.

    Naturalmente há tratamento para tais problemas. A terapêutica para as tragédias psicopatológicas (obsessivas ou não) é essencialmente preventiva. O Espiritismo sugere a resignação ante às vicissitudes da vida que poderiam causar o acirramento ou a atenuação da doença. Para que haja mais sucesso no tratamento do processo obsessivo, o primeiro passo é que se faça um bom diagnóstico do conjunto dos sintomas.

    Apesar de todos os esforços, às vezes, é difícil fazer um diagnóstico diferencial específico, considerando que os sinais e sintomas são idênticos, tanto na loucura, propriamente dita, com lesões cerebrais, quanto nos processos obsessivos, onde há grande perturbação na transmissão do pensamento.

    Para tratamentos das obsessões é fundamental que se considere a existência do psicossoma, contextura sutil que envolve o corpo físico. “É por seu intermédio que o Espírito encarnado se acha em relação contínua com os desencarnados. O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos.” (2)

    O êxito do tratamento ou até mesmo “a cura se opera mediante a substituição de uma molécula [perispiritual] malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada; mas depende, também, da energia, da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido.” (3)

    Urge, mais uma vez, deixar bem claro que o tratamento espiritual, oferecido na Casa Espírita, não dispensa tratamento médico. O prognóstico, de modo geral, poderá ser bom ou ruim, considerando todos os fatores envolvidos, especialmente, o interesse do obsidiado em profundas transformações íntimas e a boa vontade da família em dar-lhe toda a assistência possível sob todos os aspectos.

    “A Doutrina Espírita, aliada às Ciências Médicas, poderá se entender não se contradizendo, mas de mãos dadas, caminhando juntas, buscando todos os recursos disponíveis no sentido de abrandar o sofrimento do doente[obsedado]” (4). Caso contrário, “a ciência nadará em um oceano de incertezas, enquanto acreditar que a loucura depende, exclusivamente, do cérebro. A ciência precisa distinguir as causas físicas das causas morais, para poder aplicar às moléstias os meios correlativos”.(5)

    Referencias bibliográficas:
    [1]       Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/geral-39191695    acesso em 30/03/2017
    [2]       KARDEC, Allan. A Gênese, RJ: Ed. Feb, 29ª edição, 1986, cap. XIV
    [3]       KARDEC, Allan. A Gênese, RJ: Ed. Feb, 29ª edição, 1986, cap. XIV
    [4]       KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 117ª edição, 1990, Instituto de Difusão Espírita - IDE, 117ª ed., cap. I, item 8

    [5]       MENEZES Adolfo Bezerra de. A Loucura sob um Novo Prisma, 2ª edição, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1987

    sexta-feira, 24 de março de 2017

    Um homem, uma história resignificando o vínculo solidário (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com 

    Objetivando transmitir uma mensagem de “alento” e “esperança” a pessoas em desespero, John Edwards, de 61 anos, um ex-dependente de drogas e ex-alcóolatra (sóbrio há mais de duas décadas) inexplicavelmente se voluntariou deitar em um caixão que foi fechado e enterrado no terreno de uma igreja de Belfast, na Irlanda do Norte. Obviamente o ataúde foi especialmente adaptado para que Edwards “sobrevivesse” por três dias (quando fosse desenterrado) e pudesse transmitir a experiência ao vivo pelas redes sociais.

    No passado Edwards enfrentou abuso sexual, viveu na rua, recebeu tratamentos para distúrbios mentais, sobreviveu a várias overdoses e “perdeu” mais de 20 amigos por conta de abuso de drogas, álcool e suicídios. Sobreviveu a dois cânceres e a um transplante de fígado após desenvolver hepatite C por causa de uma agulha contaminada.

    Há quase 30 anos, após passar pelo que descreveu como um "incrível encontro com Deus”, Edwards criou vários centros cristãos de reabilitação e abrigos para moradores de rua. Atualmente se dedica a aconselhar e orar com pessoas em situações de abandono e desesperança. [1]

    Em que pese o desígnio altruístico de John Edwards, é evidente que agiu de forma irracional ao se permitir enterrar vivo por três dias, visando gritar o brado da “esperança” para as pessoas em desespero. A rigor, tal manifesto não faz sentido lógico sob qualquer análise racional. Entretanto, deixando de lado essa insanidade (sepultar-se vivo), vislumbremos os efeitos positivos da transformação de sua vida pessoal.

    Importa reconhecermos que os diversos núcleos de reabilitação e abrigos para moradores de rua instituídos por John são passaportes pujantes para auto conquista da paz espiritual. Nisso Edwards acertou em cheio, pois embrenhou-se no orbe da solidariedade através do compartilhamento de um sentimento de identificação em relação ao sofrimento alheio. Não apenas reconheceu a situação delicada dos moradores de rua, mas também auxiliou essas pessoas desamparadas.

    Sabemos que os males que afligem a Humanidade são resultantes exclusivamente do egoísmo (ausência de solidariedade). A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de desatinos e paixões desajustantes. A máxima “Fora da Caridade não há Salvação” [2] é a bandeira da Doutrina Espírita na luta contra o egoísmo. Nesse sentido, a solidariedade é a caridade em ação, a caridade consciente, responsável, atuante, empreendedora.

    Os preceitos espíritas contribuem para o progresso social, deterioram o materialismo, orientam para que os homens compreendam onde está seu verdadeiro interesse. O Espiritismo destrói os preconceitos “de seitas, de castas e de raças, ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos” [3]. Destarte, segundo os Benfeitores espirituais, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade” [4].

    A recomendação do Cristo de “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” [5] assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens. A solidariedade na vida social é como o ar para o avião.

    É imprescindível darmo-nos através do suor da colaboração e do esforço espontâneo na solidariedade para atender substancialmente as nossas obrigações primárias à frente do Cristo. [6]

    Ante as responsabilidades resultantes da consciência doutrinária que nos impõe a superar a temática de vulgaridade e imediatismo ante o comportamento humano, em larga maioria, a máxima da solidariedade apresenta-se como roteiro abençoado de uma ação espírita consciente, capaz de esclarecer e edificar os corações com a força irresistível do exemplo



    Referências bibliográficas:

    [1] Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-39191185 acesso em 21-03-2017
    [2] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. XV
    [3] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799
    [4] Idem 
    [5] Jo 15.12
    [6] Xavier, Francisco Cândido. “Fonte Viva” ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992

    quarta-feira, 15 de março de 2017

    Espíritos afins (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen

    Jennifer Bricker participa de espetáculos de acrobacias aéreas e fascina as plateias com sua técnica. O mais impressionante é que Jennifer não possui as duas pernas. Aos 11 anos, já era uma campeã da ginástica, esporte pelo qual se apaixonou ao ver Dominique Moceanu ganhar uma medalha de ouro olímpica para os Estados Unidos em 1996.

    Jennifer não sabia, porém, que as duas tinham muito mais em comum do que o talento de atleta, eram irmãs consanguínea. Jennifer tinha poucos meses quando foi entregue para adoção porque não tinha pernas. Aos três anos recebeu próteses para as pernas, mas nunca as usava - se movimentava melhor sem elas. Ela adorava ver a equipe de ginástica feminina dos Estados Unidos e, especialmente, uma atleta: Dominique Moceanu.

    Aos 10 anos, ela disputou os Jogos Olímpicos da Juventude e aos 11, foi campeã de ginástica tumbling pelo Estado de Illinois. Quando completou 16 anos, Jennifer perguntou à Sharon, a mãe adotiva, se havia algo que ela não tinha lhe contado sobre a sua família biológica. A adolescente não imaginava que a resposta fosse "sim". Sharon revelou-lhe que o sobrenome da sua família biológica era Moceanu e Dominique era sua irmã.

    Quatro anos depois, Jennifer escreveu uma carta para Moceanu, contando sua história explicando que Dominique foi seu ídolo a vida inteira a tinha inspirado a ser uma ginasta também. Ambas se encontraram e se conheceram pessoalmente até hoje estão unidas.

    Outro caso interessante aconteceu com as irmãs gêmeas Anais Bordier e Samantha Futerman. Ambas puderam se conhecer após 25 anos de idade. Uma não sabia da existência da outra, mas, um episódio da vida e a internet fizeram com que elas se reunissem. Ambas foram separadas depois do nascimento na Coréia do Sul e viveram e adotadas por famílias em diferentes países; Anais, em Paris, na França, e Samantha, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

    O reencontro começou a ser desenhado em dezembro de 2012, enquanto Anais, uma designer de moda, estava em um ônibus e recebeu de um amigo a imagem de um vídeo do YouTube onde aparecia Samantha, que é atriz. Anais diz que pensou que alguém havia postado um vídeo dela, mas percebeu que era uma garota que vivia nos Estados Unidos muito parecida com ela.

    Entrou em contato pelo Skype e ficaram mais de três horas de conversa. Posteriormente elas se conheceram pessoalmente em maio de 2013, em Londres, e desde então, mesmo vivendo em países diferentes, se comunicam várias vezes ao dia. Para Anais, descobrir que tem uma irmã é incrível, mas perceber que tem uma irmã gêmea é ainda mais inacreditável, porque as duas têm muito em comum.

    A história das irmãs foi transformada no livro "Separated @ Birth: A True Love Story of Twin Sisters Reunited", lançado em 2014 e o interessante é que cada uma escreveu um capítulo alternadamente.

    Sob o enfoque espírita, efetivamente, muitas afeições terrenas são condições construídas, geralmente nas preexistências, através dos laços permanentes de afinidades espirituais, que se estabelecem entre seres, que comungam das mesmas inclinações psicológicas, em estado semelhante de evolução intelecto-moral.

    Portanto, podemos analisar tema pelo prisma das almas “afins” que reencarnam na mesma família. Sabemos que a reencarnação é um mecanismo extremamente complexo. Suas variáveis vinculam-se ao estágio espiritual de cada reencarnante, considerando-se as obrigações de aprendizagem de todos os espíritos envolvidos para a convivência na Terra. Quando o espírito detém boa estrutura moral pode esquematizar sua reencarnação junto dos seres “afins”, sob a supervisão dos Benfeitores do além.

    Na dimensão espiritual, estando libertos das paixões que nos ligaram na Terra, nos atraímos e agrupamos em famílias mais amplas, unidos por sentimentos sinceros, tendo em vista o aperfeiçoamento de todos e alegrando-nos, com as conquistas de cada um dos nossos entes queridos em cada regresso ao além-túmulo, após mais uma vida na Terra, plena de lutas e provações experimentadas e ultrapassadas.

    No conjunto das reencarnações, “se uns espíritos encarnam e outros permanecem no além , nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que se conservam “livres” [no além] velam pelos que se acham em “cativeiro” [no corpo físico]. Os mais adiantados se esforçam por fazer que os retardatários progridam. Após cada existência, todos têm avançado um passo na senda do aperfeiçoamento. ”[1]

    É bem verdade que dois Espíritos, que se afeiçoam, naturalmente se procuram um ao outro, nas suas caminhadas. Não ignoramos que entre os seres humanos há ligações afetivas ainda indecifráveis nos seus códigos misteriosos. O espectro do magnetismo é o auxiliar destas ligações, que futuramente compreenderemos melhor. ” [2]

    Os personagens mencionados nesta narrativa são incontestavelmente espíritos afins que se juntaram, pelas leis da atração e amam estar juntos. Não obstante, nem todos os espíritos “afins” tenham necessariamente que se ter conhecido numa vida anterior, pois eles se atraem magneticamente por inclinações semelhantes, isso frequentemente acontece.

    “A afeição que existe entre pessoas [especialmente]parentes são um índice da simpatia anterior que as aproximou…”[3] Desta forma, se todas as afeições forem purificadas “acima dos laços do sangue, o sagrado instituto da família se perpetuará no Infinito, através dos laços imperecíveis do Espírito. ”[4]

    Referências bibliográficas:

    [1]        KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IV, item 18, RJ: Ed. FEB, 1977
    [2]        KARDEC, Alan. O Livros dos Espíritos, questão 388, RJ: Ed. FEB, 2002
    [3]        KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IV, item 19, RJ: Ed. FEB, 1977

    [4]        XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador, questão 175, RJ: Ed. FEB, 2001

    sexta-feira, 10 de março de 2017

    Entrevista com o escritor espírita Jorge Hessen



    Jorge Hessen em visita 
    ao Museu Chico Xavier em Uberaba




    O Codificador do Paráclito
    Blog   http://pointier.blogspot.com.br/

    Jorge Hessen, nascido no Rio de Janeiro a 18/08/1951, aposentado do INMETRO, residente em Brasília desde 1972. Formado em Estudos Sociais com ênfase em Geografia, Bacharel e Licenciado em História pela Universidade de Brasília- Unb.
    Membro fundador do Posto de Assistência Espírita (DF), jornalista, historiador e escritor. Autor dos livros “Luz na Mente”, “Praeiro, um Peregrino nas Terras do Pantanal”, “Anuário Histórico Espírita 2002”( coletânea de diversos autores e trabalhos históricos de todo o Brasil, coordenado pelo Centro de Documentação Histórica da União das Sociedades Espíritas de São Paulo – USE ). Autor de 22 (vinte e dois) livros eletrônicos (E Books), todos traduzidos em Madri (espanhol), 2 (dois) traduzidos em Paris (francês) e 1 (um) traduzido para o inglês  (publicados pelo portal Autores Espíritas Clássicos), conforme o link: http://www.autoresespiritasclassicos.com/Apostilas/Artigos%20Espiritas%20-%20Jorge%20Hessen/Artigos%20Espiritas%20-%20Jorge%20Hessen.htm


    O Codificador do Paráclito:  Por que se tornou Espírita?

    Jorge Hessen: Entrei no orbe espírita estimulado por incontida investigação da Verdade cristã. Como não encontrava respostas noutras doutrinas cristãs busquei o Espiritismo e ele a tudo me respondeu.

    O Codificador do Paráclito:  O que lhe mais lhe impressionou na Doutrina Espírita?

    Jorge Hessen: Desde a primeira hora, fiquei maravilhado com a cautela, o bom senso, a habilidade de síntese e o acervo cultural de Allan Kardec. Procurei conhecer a biografia do professor Rivail. Percebi que estava diante de um gênio. Seu labor se consubstanciou na Terceira Revelação e obviamente isso foi fundamental para inspirar a minha paixão pelo Espiritismo.

    O Codificador do Paráclito:  O que sobressai na mensagem espírita?

    Jorge Hessen: O Espiritismo é o Consolador Prometido que desvenda conceitos surpreendentes sobre Deus, o Universo, os homens, a natureza e comunicação dos “mortos” com os “vivos”, a pluralidade dos mundos habitados, a reencarnação e as leis naturais que regem a vida. A Terceira Revelação acena-nos ainda com o soberano apelo para compreendermos e refletir sobre o que somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o objetivo da nossa existência e qual a razão da dor e do sofrimento.

    O Codificador do Paráclito:  Quais foram os momentos que marcaram sua experiência doutrinária?

    Jorge Hessen:  Nesse absorvente rumo muitas vezes esbarro com as lágrimas, reflexas e resultantes da ignorância e truculência do homem hodierno; doutros momentos deparo em mim mesmo o ânimo do regozijo em razão dos grandes exemplos de amor, humildade e abnegação que identificamos  aqui e além no coração do próximo.

    O Codificador do Paráclito:    O que é a Terceira Revelação para você?

    Jorge Hessen:  É Ciência porque se consubstancia num conjunto reunido de informações concernentes a certas classes de eventos ou fenômenos transcendes avaliados experimentalmente, relacionados e descritos por Kardec e outros pesquisadores de renome, representado principalmente pelas obras básicas. É Filosofia sem tanger necessariamente o contexto filosófico tradicional (materialista), embora de cunho evolucionista e metafísico, pontua a necessidade de o homem ir em busca de seu autoburilamento, estimulando-o à averiguação de respostas às questões magnas da Humanidade: sua natureza, sua origem e destinação, seu papel perante a Vida e o Universo tendo como bandeira o axioma: “nascer, viver, morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei. ”É, por fim e sobretudo  Religião, porque propõe unir os povos em um ideal de fraternidade, preconizado pelo Evangelho de Jesus, permitido, dessa forma, que o homem se encontre com o próprio Criador, tendo como bandeira o lema:  “fora da caridade não há salvação.”

    O Codificador do Paráclito:  O Espiritismo precisa ser atualizado sob o ponto de vista científico? 

    Jorge Hessen: Fundamentalmente é importante ressaltarmos que o Espiritismo não tem incondicional necessidade da ciência terrena, pois como nos adverte Emmanuel na primeira questão da obra O Consolador: “Essa necessidade de modo algum pode ser absoluta. O concurso científico é sempre útil, quando oriundo da consciência esclarecida e da sinceridade do coração. Importa considerar, todavia, que a ciência do mundo se não deseja continuar no papel de comparsa da tirania e da destruição, tem absoluta necessidade do Espiritismo, cuja finalidade divina é a iluminação dos sentimentos, na sagrada melhoria das características morais do homem.”  Eis aí o meu pensamento.

    O Codificador do Paráclito:  Qual é a sua mensagem àqueles que incorrem ao fanatismo religioso espírita?

    Jorge Hessen: O espírita sincero precisa compenetrar-se da oportunidade, no tempo e no ambiente, com relação aos assuntos doutrinários no seu tríplice aspecto, porquanto, qualquer inconsideração nesse particular, pode conduzir a fanatismo abominável, sem nenhum caráter construtivo.
    Herculano Pires já advertia sobre o igrejismo que assolava as hostes espíritas. Entendo que a FEB é roustanguista , por impor nos seus Estatutos o Parágrafo único , item III , Art. 1º  que “além das obras básicas a que se refere o inciso I, o estudo e a difusão compreenderão, também, a obra de J.-B. Roustaing e outras subsidiárias e complementares da Doutrina Espírita.” Desta forma,  o louvor das obras de Roustaing na FEB tem pervertido a racionalidade espírita no Brasil. Desconheço espíritas  mais maníacos do que os roustanguistas.
    Pelo exposto, entendo que no Brasil seja imprescindível a criação URGENTE de uma Confederação Espírita (longe de Roustaing), a fim de unir concreta e racionalmente os corações dos espíritas em torno do eminente Kardec, considerando sempre o Espiritismo em seu tríplice aspecto. Para esse desígnio compete aos atuais jovens espíritas e as lideranças contemporâneas se movimentarem a fim de concretizarem tal projeto.

    O Codificador do Paráclito:  Deveria ser acelerada a propagação do Espiritismo pelo mundo ?,

    Jorge Hessen: Não deve ser apressada a expansão e a propaganda espírita. Não há necessidade imediata. A organização do Espiritismo está nas mãos de Jesus, antes de qualquer esforço incerto e volúvel de nossa parte. É imprescindível estudarmos e aplicarmos os ensinamentos do Mestre à luz do Espiritismo, pois nossa tarefa maior deve ser da própria iluminação através de uma fé racional , inabalável e serena. Ademais, devemos oferecer aos serviços da propaganda doutrinária a cota de tempo de que possamos dispor, entre os trabalhos diário do ganha pão e o cumprimento dos deveres familiares. Para Emmanuel,  a execução dessas obrigações é sagrada e urge não cair no declive das situações parasitárias, ou do fanatismo religioso.
    No trabalho da propaganda da verdade, Jesus caminha antes de qualquer esforço humano e ninguém deve guardar a pretensão de converter alguém, quando nas tarefas do mundo há sempre oportunidade para o preciso conhecimento de si mesmo.

    O Codificador do Paráclito: Suas considerações finais?

    Jorge Hessen: Espíritas!  Em favor da unidade entre nós,  repudiemos os conceitos equivocados que nos dividem, a exemplo do misticismo roustanguista febiano , por exemplo,  e esquadrinhando em Allan Kardec a segura orientação doutrinária para melhor compreendermos Jesus.

    quarta-feira, 1 de março de 2017

    O “amor a si” , o “auto perdão” e o “próximo” como alvo (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com 

    Estabeleceu Jesus a síntese da Lei: “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos”. [1] O resumo da Norma indicada pelo Mestre é das mais admiráveis terapias pessoais. Somos todos importantes. Somos criaturas únicas no Universo que buscamos a felicidade através do aprendizado do amar a nós mesmos, ao próximo e a Deus.

    Contudo, de que forma amar a nós mesmos? Naturalmente a proposta de Jesus é um imperativo que não deve ser confundido com o egoísmo ou o egocentrismo. Quando escolhemos aprender, para o aprimoramento intelectual, estamos nos auto amando. Quando compreendemos as nossas imperfeições temporárias, nos esforçando para corrigir os erros, estamos amando a nós mesmos. “O auto amor proporciona uma visão mais clara de quem se é, do que se deseja e do que não se deseja para si”. [2]

    Quando escolhemos perdoar e extinguir o peso de uma mágoa, estamos amando a nós mesmos. O asseio mental e a estabilização emocional têm procedências brilhantes naquele que consegue praticar e receber o perdão. Todos somos convocados a praticar o perdão no ambiente doméstico, profissional, religioso; enfim na convivência social.

    Afinal de contas, perdoar significa absolver, indultar, desculpar, anistiar. O prefixo “per” quer dizer “total” e “doar” significa dar inteiramente, ou seja, um empenho de autodoação plena. Portanto, perdoar-nos resulta no pleno amor a nós mesmos.

    Para nos libertarmos, tanto da culpa quanto da desculpa, necessitamos cultivar o auto amor, a autoconsciência, o arrependimento e o aprendizado para as reparações imprescindíveis. É verdade! O auto perdão não é uma simples revogação da consciência de culpa, mas um procedimento de auto-exame consciencioso de nós mesmos, o que requer arrependimento e reparação.

    Somente cultivando o auto amor é que crescemos espiritualmente. Por isso não podemos ficar sob o guante do ingênuo pesar. Quem ama a si mesmo (como recomendou Jesus) preenche a vida de alegria e paz. Todavia, uma das causas de auto-agressão vem da procura frenética de perfeição irrestrita, como se todos devêssemos ser deuses ou deusas de um momento para o outro.

    Quando esperamos perfeição em tudo e confrontamos o lado "primário" de nossa natureza humana, nos sentiremos fatalmente diminuídos e envolvidos por uma aura de fracasso. A baixa autoestima nasce quando não nos aceitamos como somos. Somente a auto aceitação nos leva a sentir plena segurança ante os fatos e ocorrências do cotidiano.

    Nossas reações perante a vida não acontecem em função tão somente dos episódios exteriores, mas sobretudo de como percebemos e julgamos interiormente esses mesmos acontecimentos. A forma de refletirmos e nos comportarmos em face das nossas reações perante os outros, avaliando-os como bons ou maus, é talhada por um mecanismo de autocensura que se encontra alojado em nossos níveis de consciência mais profundos. Este juiz íntimo foi cultivado sobre bases de valores e de princípios que empilhamos através dos tempos recuados sob reencarnações inumeráveis.

    Todos nos equivocamos tendo o dever de perdoar-nos, porém não permaneçamos no erro. É imprescindível, buscarmos não reincidir no mesmo endividamento moral, libertando-nos das algemas constringentes do remorso, até mesmo porque “o remorso é um lampejo de Deus sobre o complexo de culpa que se expressa por enfermidade da consciência”.[3] Podemos experimentar culpa e condenação, perdão e liberdade, de acordo com os nossos valores, crenças, princípios e normas vigentes. Apreendemos assim que para alcançar o auto perdão é imperioso que reexaminemos nossas convicções profundas sobre a natureza do nosso próprio EU.

    Todos cometemos desacertos de maior ou menor agravamento, alguns dos quais, como vimos, são arquivados nos porões do inconsciente. Cedo ou tarde ressurgem devastadores, causando mal-estar, ansiedade, insatisfação pessoal, em caminho de transtorno de conduta.

    A terapia moral pelo auto perdão impõe-se como indispensável para a recuperação do equilíbrio emocional e o respeito por nós mesmos. Seja qual for a gravidade do ato infeliz, é possível repará-lo quando se está disposto a fazê-lo, recobrando o otimismo, a alegria de viver, amando a Deus e ao próximo, perdoando-nos e amando-nos verdadeiramente.

    Referências bibliográficas:

    [1] Mt. 22:34
    [2] FRANCO, Divaldo Pereira. Amor, imbatível amor, ditado pelo espírito de Joanna de Ângelis, Bahia: ed. Leal, 2005, cap. 13
    [3] XAVIER, Francisco Cândido. Pronto Socorro, ditado pelo espirito Emmanuel SP: Ed CEU 1980