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  • quinta-feira, 30 de junho de 2016

    SOLUÇÕES TERAPÊUTICAS DA MEDICINA ESPIRITA Jorge Hessen




    Jorge Hessen 

    Diante das enfermidades o Espiritismo não recomenda o conformismo, por isso é justo buscar a medicina terrena, que pode suavizar a dor e refrear a doença no limite da permissão de Deus. Se a Providência Divina pôs os remédios ao nosso alcance é porque podemos e precisamos utilizá-los a fim de combater as energias danosas que migraram do perispírito para o corpo físico. 

    Tem médico receitando bom humor, outro trocando remédio por aulas de surf para tratar doenças crônicas e até aquele que investe em comida fresquinha, saudável e barata. O médico Garth Davis, do Mermorian Herman Medical Center, no Texas, vem chamando atenção por cuidar de seus pacientes de uma forma muito orgânica. [1] Davis costuma receitar alimentos frescos como tratamento. Para isso, ele criou sua própria farmácia responsável por distribuir legumes, verduras e frutas orgânicas, a Farmacy Stand. Garth fechou uma parceria com a Kristina Gabrielle Carrillo-Bucaram, fundadora da Rawfully Organic, a maior rede de cooperação sem fins lucrativos de alimentos orgânicos com sede em Houston. [2] 

    Sem entrar no mérito das eficácias da alimentação sadia, dos medicamentos fitoterápicos, alopáticos ou homeopáticos, cremos que as causas das doenças transpõem os aspectos biológicos. Há enfermidades que exigem tratamentos demorados, outras vezes precisamos até de cirurgia, mas tudo tem sua matriz na alma e está sob as diretrizes da “Lei de Causa e Efeito”, que visa despertar a reforma moral do doente através de processos dolorosos. 

    Qualquer medida preventiva ou profilática em relação às doenças tem que se iniciar na conduta mental do doente, exteriorizando-se na ação moral que reflete o velho conceito latino: mens sana in corpore sano. A doença não é uma causa, é uma consequência proveniente dos alentos negativos que circundam os nossos organismos psicossomático e físico. 

    O controle das energias mento-espiritual é proeza dos pensamentos, dos desejos e dos sentimentos, portanto possuímos potências energéticas que nos causam saúde ou doenças em razão das disciplinas ou desordens mentais e emocionais. Por conseguinte, “assim como o corpo físico pode ingerir alimentos venenosos que lhe intoxicam os tecidos, também o organismo perispiritual absorve elementos que lhe degradam, com reflexos sobre as células materiais”. [3] 

    Se ainda não conseguimos disciplinar e dominar as emoções e mantemos paixões (ódio, inveja, mágoa, rancor, ideia de vingança), invariavelmente entraremos em sintonia com os irmãos enfermos do plano espiritual (obsessores), que emitirão fluidos maléficos para impregnar nosso perispírito, intoxicando-nos com suas emissões de energias insalubres, podendo nos levar a doenças crônicas. 

    Os médicos de boa formação espírita compreendem muito bem que a resposta para as enfermidades, que há milênios perturba a humanidade, está em nossa mente. Sobre a base dos estudos de médicos encarnados e desencarnados, a medicina à luz do espiritismo vem se fortalecendo cada vez mais na Terra. São enfermos e médicos, que encontraram na Doutrina Espírita diferentes interpretações para toda e qualquer enfermidade. 

    Ao contrário dos médicos tradicionais, os médicos espíritas dizem anular paradigmas ao avaliar, em seus consultórios, também a essência (alma) daquele paciente que busca socorro. Seja diante de um simples resfriado, um transtorno mental ou até mesmo um câncer, os médicos que abraçam o Espiritismo, ao contrário do médico clássico, não analisam no paciente apenas o corpo biológico enfermo, mas o espírito, a alma e suas vivências morais, que dizem muito para o diagnóstico eficaz. 

    Não ignoram os médicos espiritas que a saúde e a doença estão enraizados no espírito e não na matéria, como acredita a medicina clássica. Obviamente os tratamentos à luz do Espiritismo não abandonam os remédios tradicionais e tampouco as tecnologias, porém vão além. Propõem os recursos terapêuticos da água fluidificada. Indicam o passe, isto é, a transfusão de energias fisiopsíquicas através das emissões de magnetismo pela imposição das mãos de um médium. E ainda sugerem a técnica básica do tratamento da obsessão fundamentada na doutrinação dos espíritos envolvidos, encarnados e desencarnados. 

    Todos tipos de doenças pertencem às provas e às vicissitudes da vida terrena. São intrínsecos à nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. Nos orbes mais adiantados, física e moralmente, o corpo humano, mais refinado e menos pesado, não está sujeito às mesmas doenças a que está exposto no nosso, e o corpo não é minado pela devastação das paixões. Se Deus não quisesse que pudéssemos curar ou aliviar os sofrimentos mentais e físicos, em certos casos, não teria colocado diversos meios medicinais à nossa disposição. Ao lado da medicação ordinária, elaborada pela ciência, o magnetismo e a desobsessão nos deram a conhecer o poder da ação dos Espíritos, e o Espiritismo veio comprovar-nos o potencial da mediunidade curativa e a poderosa influência da prece. 

    Referências: 

    [1] Disponível em http://razoesparaacreditar.com/saude/medico-cuida-de-paciente-com-alimentos-frescos-em-vez-de-remedios/ acessado em 25/06/2016
    [2] idem
    [3] Xavier , Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, ditado pelo espírito André Luiz, Rio de janeiro: ED. Feb, 1999

    terça-feira, 28 de junho de 2016

    A Participação da Criatura no Mecanismo da Evolução



    José Sola

    Explicitei em o texto que desenvolvi “Deus Prescinde da Intervenção da Criatura na Obra Gloriosa da Criação” a intervenção dos Avatares divinos na construção de mundos e sois informando de que Jesus é o arquiteto que colocou a Terra em órbita ao redor do Sol.

    Mas não esclareci de que todos os seres participam do desenvolvimento da vida, seja de maneira inconsciente, ou consciente, o que pode deixar entender de que essa participação só acontece da parte de espíritos privilegiados, e que essa intervenção aconteça apenas em momentos especiais da vida, entretanto nós somos um elemento da natureza como os demais, e por esta mesma razão, não nos demoramos aparteados ao mecanismo da evolução.

    Entretanto se apreciarmos a vida em sua manifestação, e esta apreciação só podemos fazê-la a partir do momento em que na maturação da substância, ou fluido universal, conforme Kardec, a centelha divina inicia no reino do minério sua caminhada em busca da individualidade, - pois não temos como penetrar os arcanos da eternidade para apreciarmos os momentos que antecedem a substância, anterior a essa sua manifestação, - nos aperceberemos que trazemos como herança divina do eterno , o atributo de co-criadores, atributo este que se matura como a inteligência, o amor, e infinitos outros que sequer concebemos.

    E quando da maturação da substância o “Ser” inicia no reino do minério sua caminhada rumo à individualidade, embora se demore ainda a dormitar, já participa do mecanismo da evolução no contexto da vida, e embora não tenhamos a percepção da atividade de todos eles, já podemos destacar alguns. 

    O ferro, o alumínio, o cobre, a barita, a prata, o ouro, o diamante, o rubi, as esmeraldas, estes elementos trabalhados pelas mãos humanas participam da evolução da vida. O ferro, o alumínio, a barita o cobre, levados a calorias intensas participam das construções que colaboram na evolução das sociedades, nas construções de casas, edifícios, pontes, e diversos outros utensílios que atendem as necessidades do homem, o alumínio, atende as construções das casas e dos edifícios no acabamento das mesmas, como vitros, portões, etc.

    O cobre, o alumínio, como excelentes condutores de corrente elétrica, são utilizados na elaboração de cabos elétricos, que permitam transportar a energia gerada nas usinas para as grandes capitais, e lembramos ainda que o ouro e a prata possuem melhores condições de condutibilidade, entretanto estes materiais são mais raros, e evidentemente mais custosos.

    O ouro, a prata, o diamante, as esmeraldas, retirados do solo são lapidados, e passam a participar da vida dos seres humanos em diferenciados momentos de ser, a estes o homem atribui um apreço maior, são estes um meio de permuta entre os homens, pois a moeda pode ser de papel ou outro produto qualquer, entretanto os governos não emitem a moeda que circula nas nações, sem que haja o valor equivalente em ouro.

    Os diamantes, rubis, a prata, as esmeraldas, são pedras preciosas participam da comercialização dos valores humanos, e meu amigo Euripedes aventou uma hipótese questionando a possibilidade de serem estes minérios, elementos deste reino já na fase de maturação extrema, vivendo a condição que lhe permitirá realizar a mutação do reino mineral para o vegetal. Não temos como apresentar uma afirmativa neste sentido, pois embora a lógica e a razão favoreçam a mesma, esta possibilidade merece um estudo mais acurado, mas que tem um senso lógico e racional é certo que tem.

    Algum confrade poderá me questionar afirmando, mas o que apreciamos no discorrer de suas argumentações é de que o homem é quem esteve trabalhando os minérios tornando-os utilitários, ou atribuindo-lhes valores, e não discordamos, pois o homem havendo se maturado mais, conquistou condições requeridas para colaborar na ascensão de elementos ainda embrionários, mas não podemos nos esquecer de que a colaboração da parte dos mais maturados, a favor dos menos, é um desígnio do Criador, pois espíritos de uma evolução maior colaboram conosco em nossa ascensão na eternidade.

    Mas o que não devemos olvidar, é que nós homens podemos destaca-los, atribuindo-lhe funções adequadas ao momento evolutivo em que se demorem, mas o trabalho moroso e lento que estes realizaram através dos milênios, este é um trabalho intrínseco que esses elementos realizam, é um processo que nós já vivemos, mas que nos é impossível interferir modificando lhe o curso, podemos interagir, e interagimos atentos às causas que os antecedem, pois estas causas não são outra coisa que não, a Lei Divina se manifestando pulverizada atuando nos infinitos fenômenos, que se manifestam de Deus na vida. 

    No reino vegetal, o principio inteligente também participa com o Criador, pois as plantas como o sabemos já desenvolveram órgãos sexuais que lhes permite reproduzir a espécie, através da permuta sexual, vejamos alguns exemplos. 

    O sexo nas plantas acontece de forma organizada, em que plantas masculinas e femininas, desenvolvem órgãos apropriados para a fecundação e a reprodução. Havendo uma imensa variedade de espécimes, há também várias formas de fecundação e reprodução das mesmas. Demorar-nos-emos, entretanto a descrever o processo de reprodução dos musgos e hepáticas, no intento de ilustrar a temática que estamos desenvolvendo, descrever todas se torna cansativo e anti-producente, existe uma vasta literatura de botânica que desenvolve esta matéria com propriedade.

    Em determinado momento a planta masculina, forma em seu ápice, estruturas globosas denominadas anterídios, no interior destes anterídios se formam os gametas, que são dotados de dois flagelos e são chamados de anterozoides.

    A planta feminina por sua vez, também forma seu ápice, o arquegônio, no interior deste arquegônio está o gameta feminino, a oosfera.

    Por ocasião de uma chuva ou garoa, os anterídios liberam os anterozoides até as proximidades dos arquegônios, os anterozoides que são flagelados (dotados de movimento), nadam até o arquegônio e atingem a oosfera, ocorrendo à fecundação.

    Estas plantas que produzem gametas são chamadas de gametófitos, e, a célula resultante da fecundação é o zigoto, que é chamado de diploide (2n), este zigoto encontra-se no gametófito feminino e desenvolve-se formando uma plantinha diminuta, que é dependente do gametófito.

    Esta plantinha se chama esporófito e é diploide (2n) este esporófito alonga-se e forma, na extremidade, uma cápsula, e, é no interior dessa cápsula que ocorre a meiose e as células resultantes da meiose são os esporos (n), estes esporos liberados, são carregados pelo vento, caem sobre um substrato adequado, onde germinam, formando o protonema, que originará novos gametófitos (n), fechando-se o ciclo.

    Este processo de fecundação e reprodução se faz, da parte dos musgos e hepáticas, sexuadas e assexuadas, chamados de hermafroditas. 

    Mas não é só na reprodução da espécie que a planta participa do mecanismo da evolução, a mesma nos oferece também a essência medicamentosa para a elaboração de remédios, nos oferece ainda uma variedade infinita de vitaminas quando ingerimos suas folhas e seus frutos, e através da fotossíntese, colabora com a purificação do ar que respiramos, absolvendo o gás carbônico que exalamos, oferecendo-nos o oxigênio de que necessitamos para bem viver; enfim as florestas são reservatórios maravilhosos de oxigênio, que associadas ao oceano, propiciam a manutenção de vida do planeta.

    Mais, pois as mesmas oferecem beleza e perfume ao homem, enfeitam e perfumam os lares, os templos, nos intensificam a vivenciação de amor, pois quando apaixonados, ofertamos um buque de rosas a mulher amada, e esta se sente sensibilizada, correspondendo-nos a esta manifestação de amor.

    Entretanto as mesmas não se ausentam ao ultimo adeus ao corpo que nos foi propiciado por Deus, para que continuássemos nosso aprendizado ascensional na eternidade, parecem desejar amainar esse momento que é ainda para nós um momento lúgubre, e triste. 

    Acredito que esta breve síntese seja o suficiente para corroborar de que as plantas se utilizam da inteligência, do amor, e do sexo para cooperar com o mecanismo da evolução, participando com Deus na evolução do “Ser”, pois as mesmas desenvolvem uma manifestação ativa.

    Provavelmente alguém me dirá, mas esta inteligência, esta vontade, que as plantas manifestam, não está contida na mesma, esta conduta inteligente em que a mesma se demora, é apenas intuitiva, é Deus que com sua inteligência suprema as impulsiona na evolução. 

    Não temos como negar, é lógico que sim, mas para nós que já compreendemos a evolução anímica, está evidente que as plantas já trazem o principio inteligente a sonhar, aguardando ser impulsionado pelo mecanismo da evolução, para agitar-se no animal, e despertar no homem; mas será que o espirito de uma evolução que nos escape a percepção, na maturação de seus atributos prescinda da inteligência cósmica do universo? Estará este dissociado da mesma?

    E apreciando os primórdios da vida, nos apercebemos de que vírus, bactérias, amebas, e outros, se reproduzem de maneira assexuada, sequenciados pelos batráquios, peixes e moluscos, estes últimos já se utilizam do sexo; não estarão esses elementos fazendo uso do principio inteligente que herdaram de Deus?

    Lógico de que a causa dessas inteligências ainda rudimentares, é Deus, pois Ele é a fonte da vida, e todo principio inteligente, desde os mais elementares como o estou apresentando, as mais sublimes inteligências que podemos conceber no universo, se sustentam nessa fonte inesgotável de inteligência e de amor, pois existimos em Deus, e em Deus nos movemos.

    É logico que embora hajamos maturado nossas potenciações e hajamos conquistado momentos sublimes na evolução, nos demoraremos sempre sustentados pela fonte infinita de amor do universo, pois Ele é a fonte infinita da vida, e independente da evolução que hajamos conquistado na eternidade vamos imprescindir Dele.

    E mais nós já apreendemos na apreciação em que temos nos demorado, no estudo realizado sobre a evolução anímica, de que os atributos de inteligência, de amor, de sexo, e infinitos outros que nos escapa a percepção, já estão contidos na centelha divina em absoluto, de que são esses atributos maturados que nos apresentarão o arcanjo do amanhã. 

    E os animais continuam cooperando com o mecanismo da evolução, fazendo a sua parte de cocriadores, pois através da genética eles participam com a manutenção da espécie, e mais, eles têm modificado em muitas oportunidades a condição ambiente da natureza, para não nos prolongarmos muito lembro o castor.

    E o homem (espirito) desde seus primórdios, enquanto não havia ainda acordado uma inteligência mais plena, uma lógica e uma racionalidade mais ampla, já participava com Deus no mecanismo da evolução através da genética, embora na maioria das vezes esta cooperação fosse inconsciente, pois o homem não pratica o sexo na intenção de procriar, mas pelo prazer que este lhe oferece.

    Mas no reino humanoide, o homem (espirito) passa a ter uma cooperação mais ampla no mecanismo da evolução, pois este aplica sua inteligência e constrói habitats mais sofisticados, passa a elaborar a roupa que veste, constrói utensílios domésticos que lhe facilitem a vida, e sem que imaginemos estamos participando da evolução.

    E estando contido na natureza, enquanto que o mesmo participa com a evolução, atuando-nos mais variados setores da vida, ele amplia a sua própria, e havendo se maturado o suficiente na ampliação da inteligência, tanto quanto na conquista da lógica e da razão, o mesmo descobre a necessidade de perquirir no porque dos fenômenos que o cerca, desenvolvendo através da ciência, leis, normas, formulas, premissas, teoremas, e outros, que lhes propicie conhecer a causa que defina o amago dos fenômenos que os cerca. 

    E embora alguns cientistas não acreditem sequer na existência de Deus, cooperam com este na obra gloriosa da Criação, pois quer queiram ou não, estão evoluindo e cooperando com a evolução da vida no universo, pois descobrindo as leis inteligentes que são a causa dos mais variados fenômenos que nos cerca, descobrem uma inteligência, e porque não dizer uma lógica e uma racionalidade que independe da inteligência humana, então não tenhamos pressa, porque os mais enrijecidos ateístas corroboram a existência de uma inteligência superior a todas as inteligências humanas. 

    O mecanismo da evolução é implacável, não lega nenhum elemento da vida ao esquecimento, ou a estagnação, todos os componentes do universo, sejam estes espirituais, energéticos, psíquicos, ou materiais, são trabalhados por essa engrenagem portentosa, que nos matura através dos milênios sem conta, conduzindo-nos para a razão de existirmos, que é a nossa evolução na eternidade. 

    Quando os homens atingiram a idade da razão, ampliaram mais os potenciais da lógica e da racionalidade que trazem no inconsciente puro como um eterno vir a ser, desenvolvendo dessa forma uma lei sintonica equivalente com as leis que regem as causas dos fenômenos que se manifestam de Deus no universo, e enquanto perquirem esses princípios inteligentes que antecede a qualquer fenômeno físico, ampliam os seus potenciais de inteligência, lógica, e racionalidade, cabendo a este impulsionar aos infinitos elementos que constituem a vida do universo, pois o mecanismo da evolução é absoluto; e como nos disse Jesus, nós somos deuses.

    O que explicito aqui nos leva a concluir de que os nossos cientistas, mesmo o ateístas, cooperam com a evolução da vida, participam na Gloria da Criação, pois se os seres inferiores da natureza vivem esta participação, na manifestação rudimentar de inteligência em que se demoram, o cientista a quem a luz da lógica e da razão já se ampliou, interage de maneira mais precisa, então não mais ignorando a sua intervenção, embora se demore ainda iludido ignorando que a vida inteligente é um fato, e que ele é parte dessa vida, que sua inteligência tem como fonte, a fonte única, a inteligência suprema que é Deus. 

    Mas não precisamos ter pressa, pois pelo já apresentado nos apercebemos de que ninguém, nada, foge a lei de evolução, que embora lenta quase imperceptível a nossa apreciação, esta arrola todos os elementos que constituem a vida do universo, e nós somos apenas um desses elementos, pois nos demoramos no relativo, no absoluto da vida só Deus.

    E estudando a doutrina espirita já compreendemos de que não existe a morte, nada morre tudo se modifica e se transforma mesmo os corpos materiais que imaginávamos haverem se extinguido, quando de sua decomposição, oferecem os elementos químicos ou físicos ao laboratório infinito da natureza e da vida e esses elementos vão formar outros corpos, e isto a física já o corrobora.

    E verificamos ainda através da vidência, e das materializações, de que depois da morte, o espirito continua preexistindo, conservando as mesmas características físicas, e que embora despido do corpo de matéria continua revestido de um corpo energético (períspirito), não se transforma conforme o entender de alguns confrades em uma centelha informe.

    E para corroborar que o espirito conserva a forma física e as características na vida espiritual, estarei apresentando algumas palavras inseridas no livro “Os Missionários da Luz”, vejamos.

    “- Nosso irmão reencarnante apresentar-se-á, mais tarde, entre os homens, tal qual vivia entre nós”? Já que as suas instruções se baseiam na forma perispiritual preexistente, terá ele a mesma altura, bem como as mesmas expressões que o caracterizavam em nossa esfera?

    Alexandre respondeu sem titubear:

    “Raciocine devagar, André! Falamos da forma preexistente, nela significando o modelo de configuração típica ou mais propriamente, o uniforme humano. Os contornos e as minudencias anatômicas vão desenvolver-se de acordo com os princípios de equilíbrio e com a lei de herietariedade”. (Paginas 225 e 226)

    E André Luiz corrobora uma vez mais que o espirito mantém a forma na espiritualidade, pois questiona Alexandre se Segismundo terá a mesma altura, bem como as mesmas expressões que o caracterizavam na esfera espiritual. 

    E mais nos apresenta mais uma revelação maravilhosa, ainda em o livro “Missionários da Luz” no Capitulo Reencarnação na pagina 214, vejamos: “ Sem que me possa fazer compreendido, de pronto, pelo leitor comum, devo dizer que” alguma coisa da forma de Segismundo estava sendo eliminada”.

    Quase que imperceptivelmente, à medida que se intensificavam as operações magnéticas, tornava-se ele mais pálido. Seu olhar parecia penetrar outros domínios. Tornava-se vago, menos lucido”. 

    Quando André Luiz nos informa que alguma coisa da forma de Segismundo estava sendo eliminada, através das aplicações magnéticas por que passa nosso amigo no processo de miniaturização, em que o períspirito perde “elementos” e se torna do tamanho de uma criança, o que está acontecendo realmente é que o períspirito esta sendo liberado das energias mais densas, que absorve no mundo em que se demora, tanto quanto e também das partículas de matéria que revestem o espirito e o períspirito no mundo ou colônia espiritual em que este se demore.

    Raciocinemos Segismundo era um espirito já liberto das influencias mais densas da matéria, influencias estas que provocam no espírito, as dores que viveu antes do desencarne, e como o espirito e o períspirito se demoram em simbiose, pois o períspirito envolve o espirito enquanto que este está encarnado, mas quando o espirito desencarna o períspirito o acompanha na espiritualidade, como acabamos de relatar no caso de Segismundo, somos levados a concluir de que os “elementos” de que o períspirito de Segismundo se desvencilhou, não eram energias densas e negativas do espirito e do períspirito.

    Pode parecer estranho afirmar que o períspirito se envolva de vibrações negativas, e logicamente das influencias da matéria, entretanto é André Luiz quem nos apresenta esta realidade em seu livro “Libertação” quando o períspirito sobrecarregado de energias negativas em excesso devido a pertinência no mal se transforma em um ovoide.

    Então somos levados a deduzir de que os elementos de que Segismundo se despiu através do processo de miniaturização, eram energias perispirituais, mas não negativas, e também da matéria em outra dimensão, matéria esta que acompanha o espirito em sua evolução na eternidade, pois não se revestisse o espirito de matéria em outra dimensão e não aconteceria a possibilidade de se comunicarem nas colônias espirituais, ou em outros mundos mais evoluídos, pois o espirito mesmo revestido do períspirito vive - conforme estudo já apresentado - a possibilidade de um espirito atravessar outro espirito, - são as partículas infinitesimais da matéria que lhes oferece consistência, que lhes permite viver uma vida em que lhes seja possível manterem um contato físico.

    Para corroborar a possibilidade de um espirito atravessar outro espirito, lembro um relato do espirito do irmão Jacob em o livro “Voltei”, através da psicografia de Francisco Candido Xavier, em que uma senhora encarnada, carregando alguns pacotes, sem sequer ter a noção da presença do Bezerra de Menezes, do irmão Jacob, e do Andrade, atropela nossos amigos espirituais, indiferente mesmo de haver se chocado com alguém, e esta revelação não foi jamais extrapolada pelos confrades espiritas, infelizmente. Não estarei a transcrevê-lo, pois é longo, e já o apresentei em outros temas, o que o tornaria redundante.

    Entretanto quero aqui lembrar que em “Nosso Lar” temos espíritos de uma evolução mediana, outros ainda infelizes, ignorantes mesmo do recanto a que foram recolhidos, mas também temos espíritos de uma evolução divina, como é o caso da Ministra Veneranda, o Governador, Alexandre, Clarêncio, e vários outros, e todos eles convivem nessa colônia espiritual, não existisse na mesma partículas de matéria em outra dimensão, que lhes possibilita-se revestir o períspirito dessa mesma matéria e não existiria condições desses espíritos equalizarem seus corpos espirituais, para conviverem uma vida em comum.

    Podemos apresentar como analogia à vida na Terra, - porém com a diferença de que em “Nosso Lar” a matéria que reveste o psiquismo dessa colônia, é mais rarefeita, - entretanto espíritos evoluídos reencarnam na Terra, se revestem de corpos que lhes atenda as necessidades de trabalho e realização, permitindo-lhes corpos matérias idênticos no que concerne a consistência física desses corpos. 

    Os missionários divinos não reencarnam em corpos de matéria mais rarefeitos, embora ao formarem seus corpos, o façam sempre conforme a necessidade da missão a que ajam reencarnado, se isto fosse possivel, e se o fizessem, seriam agenêres, tornar-se-ia impossível a convivência física com os mesmos.

    E não apenas “Nosso Lar”, temos “Alvora Nova” e muitas outras colônias, algumas delas que exercem mesmo a função de laboratórios, - estarei a explicitar melhor está questão um pouco adiante neste texto - tanto quanto e também, mundos que nos escapam a percepção em seu desenvolvimento evolutivo, pois a evolução vai ao infinito na eternidade, e esta realidade nos leva a concluir de que existem mundos de uma evolução que não nos é possivel conceber.

    Alguns confrades negam a evolução da matéria ao infinito, e nos dizem de que Kardec não nos apresentou nada neste sentido: será? 

    Kardec na questão 22 do “Livro dos Espíritos” ao questionar o Espirito da Verdade recebe Deste a seguinte resposta, vejamos. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil, que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria, para vós, porém, não o seria. Nesta afirmativa Kardec de alguma forma se antecipava a ciência quando na atualidade nos revela a matéria em outra dimensão, ao mensurar o elétron, o próton, o neutrino, etc.

    E é a física quem nos informa de que os átomos são divisíveis ao infinito, isto quer dizer de que as partículas de matéria se dividem ao infinito, para formar corpos de matéria em outras dimensões, corpos estes que atendam ao espirito em sua evolução na eternidade, - ver o textos, A Maturação do Átomo, e As Infinitas Propriedades do Átomo - mas é evidente de que a física, não nos esclarece qual seja a aplicação dessas partículas infinitesimais, pois ainda não aceita o mecanismo da evolução a impulsionar os elementos constitutivos do universo, ignoram mesmo a existência de uma inteligência Suprema na regência da vida. 

    E esta lógica reforça a premissa de que o períspirito acompanha o espirito em sua evolução na eternidade, pois a matéria para aderir ao espirito necessitara do períspirito. Algum confrade me dirá de que não existe mais esta necessidade, pois a matéria neste momento evolutivo se demora em uma dimensão sutil, o necessário para aderir ao espirito. Entretanto não podemos nos esquecer de que o espirito também evolui, pois é este o eu diretor que conduz todos os elementos que coexistem em simbiose na formação do Ser e, portanto vai se tornando sempre mais rarefeito, mais diáfano.

    E mesmo porque, o corpo energético (períspirito), é o elemento plasmático que possibilita à aderência da matéria a centelha divina desde o reino do minério, pois sem esse corpo energético, as células de matéria não teriam como se agrupar, e iniciar o desenvolvimento das múltiplas formas que compõe o reino mineral, para sequenciar a evolução, desenvolvendo e aprimorando as formas no reino vegetal, e no animal, para despontar no reino humanoide como obra prima do Criador.

    Verificamos no discorrer deste tema, que a participação da criatura na obra do Criador, é um dos atributos que herdamos do Mesmo, e que esta participação já acontece desde os reinos inferiores da natureza, quando nos estágios embrionários de maneira inconsciente, tornando-se consciente no homem, com o despertar da razão, e principalmente na espiritualidade quando o espirito está liberto da matéria, lógico desde que este haja conquistado maturidade suficiente para participar de forma ativa no mecanismo da evolução.

    E não podemos nos olvidar da participação das entidades infelizes que se demoram nas trevas, pois estas participam também com o mecanismo da evolução, embora ainda envoltas em trevas, vivendo momentos de revoltas, se utilizam da matéria em outra dimensão, elaborando castelos sombrios, e outros aparatos que os favoreçam no momento evolutivo em que se demoram. 

    Algum confrade poderá me questionar, mas em que estas entidades trevosas e infelizes estão cooperando com o mecanismo da evolução?

    No momento infeliz em que estes espíritos se demoram, torna-se necessário aos mesmos elaborarem regiões, habitats, e aparatos necessários que permitam exteriorizar as vibrações negativas que desenvolvem vibrações estas que se demoram em desarmonia com as vibrações harmônicas de Deus no universo, e estarão a modificar lhes os sentimentos, através da dor e das dificuldades. 

    Mas não estão apenas se trabalhando, trabalham o psiquismo, a energia e também a matéria, e não devemos nos esquecer ainda de que as trevas ou inferno, é o céu das almas sombrias e revoltadas, pois nestas regiões elas extravasam seu sentimentos infelizes.

    E alguns espiritas acreditam mesmo, de que no processo maturativo, quando da transposição de um reino para outro, ou seja, do mineral para o vegetal, do vegetal para o animal, e do animal para o humanoide, o “Ser” ou principio inteligente seja conduzido para um mundo superior de outra dimensão, e isto não é possivel de acontecer.

    Não é possivel a nenhum elemento que constitui a vida do universo, estar adentrando em uma dimensão superior, sem haver processado sua evolução, ou seja, sem haver maturado os potenciais que traz na alma, como um eterno vir a ser, pois diferente do que nos apresenta a ficção cientifica, não penetramos em outra dimensão vibracional, através de canais, tuneis, ou buracos no espaço tempo, esta ascensão só é possivel através da evolução do ser. 

    E a lógica nos diz de que qualquer elemento que houver se maturado o bastante para viver essa mutação, não terá como volver mais ao estagio inferior, pois isto seria regredir, e a vida a manifestar-se de Deus no Universo não retrocede esta eternamente em constante evolução, expandindo-se ao infinito. 

    Então acreditarmos que a transposição de um reino para outro aconteça em mundos de uma evolução maior, não atende a realidade da evolução, e como retro informado, lembro de que na própria Terra, temos colônias como “Nosso Lar”, “Alvorada Nova”, e muitas outras, e muitas delas funcionam como laboratórios em que espíritos de uma hierarquia elevada, colaboram com o mecanismo da evolução, facilitando o processo desta transposição. 

    Contudo lembramos de que, como cocriadores não podemos adicionar nada ao universo, e tampouco subtrair só podemos nos utilizar da matéria prima, e em muitas oportunidades está já se demora num processo avançado de maturação, já foi trabalhada por outros Avatares, aguardando apenas ser impulsionada em sua maturação, nesse momento evolutivo em que se demora. 

    Para construir a Terra, Jesus não tinha como partir dos efeitos em busca das causas, como fazemos nós na ciência, analisando os fenômenos existentes, pois o fenômeno Terra, ainda não existia era necessário que o Mestre dos Mestres, guardasse em sua mente divina, conhecimentos detalhados deste fenômeno, que é a Terra. 

    É evidente de que o Mestre Jesus não criou as Leis que regem o mecanismo evolutivo da Terra, pois a Lei Divina é única, é o pensamento de Deus a manifestar-se na vida do universo em infinitas modalidades de ser, regendo os fenômenos, não podemos nos esquecer de que a Lei é Deus e nós somos um dos fenômenos da vida, subordinados a esta Lei Magnânima, nos demoramos regidos pela Mesma. 

    Então verificamos de que não temos como alterar o principio de lei que determina a evolução, está é manifestação de Deus, e não podemos nos olvidar de que estamos submetidos a essa Lei, temos que nos adaptar a mesma, conhecer lhe os princípios, atuando no momento que nos esta sendo proporcionado participar, sem contudo nos esquecermos de que mais adiante na evolução que se manifesta na eternidade, outros Avatares estarão assimilando essa mesma Lei, favorecendo o mecanismo da evolução em sua função na eternidade.

    Como pudemos apreciar, estamos submetidos a Lei Divina, fazemos parte da vida que nos rodeia no universo, nos demoramos no relativo, somos um ponto observando outros pontos do mesmo, no absoluto está Deus, pois Ele é a Vida do universo, a causa, o principio, a razão de ser de todos os elementos constitutivos do mesmo.

    Mas eu entendo de que se nós participamos da evolução, é pelo fato de sermos uma centelha divina do Criador, então herdamos os infinitos atributos do Mesmo, pois nós apenas participamos intensificando o mecanismo da evolução, não acrescentamos nada a este mecanismo, e tampouco a substância de que derivam todos os elementos constitutivos do universo, inclusive nós mesmos. 

    E pretendendo corroborar o que informo, apresento uma analogia entre o processo reencarnatório, e a evolução de todo e qualquer elemento da vida, em que de forma generalizada, os espíritos reencarnam através da reencarnação compulsória, entretanto quando um espirito se torna merecedor, como o caso de Segismundo, recebe a intervenção direta da parte de instrutores maiores como Alexandre e outros.

    Vejamos, no processo de reencarnação de Segismundo, não houve mudanças no que concerne o mecanismo da genética, Alexandre apenas participou estudando e selecionando os cromossomos que oferecessem condições apropriadas para atender o momento evolutivo do mesmo, e tampouco criou novos cromossomos, pois esta possibilidade está fora de alcance, a qualquer espirito, por mais evoluído seja.

    E estás leis que antecedem aos infinitos fenômenos que se manifestam de Deus na vida, tampouco são suscetíveis de alteração, nos compete assimila-las, nos adequarmos as mesmas, e cocriando participamos da vida; pois nós somos deuses, disse nos Jesus. 



    Sola

    quarta-feira, 22 de junho de 2016

    ROUSTAING- UMA ETERNA DESILUSÃO FEBIANA ( JOSE PASSINI, ALTOLFO OLEGÁRIO, LEONARDO MARMO E JORGE HESSEN)



    JOSÉ PASSINI
    passinijose@yahoo.com.br 
    Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil) 

                O Espiritismo, na sua condição de Cristianismo redivivo, não poderia deixar de receber os ataques das forças contrárias ao esclarecimento e libertação do espírito humano. Embora pareça um paradoxo, o volume e a intensidade dos ataques constituem um verdadeiro atestado da legitimidade do Consolador.

    A primeira, e talvez a mais forte das investidas, foi a publicação da obra de J. B. Roustaing, conhecida, em língua portuguesa como “Os Quatro Evangelhos”.

    Na obra “Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, Roustaing é citado como pertencente à equipe de Kardec. Há aqueles que contestam a autenticidade de tal afirmativa. Entretanto, sabe-se que todo missionário que vem à Terra traz consigo uma equipe, constituída de Espíritos, trabalhadores de boa vontade, mas sujeitos a falhas. Zamenhof veio à Terra com um grupo de Espíritos para a implantação do Esperanto. Dentro dessa equipe, houve um Espírito que falhou. Traiu o grande Missionário, liderando um grupo que apresentou uma versão modificada do Esperanto numa convenção mundial. Sua falha foi tão grande, que foi chamado Judas por uma biógrafa de Zamenhof, tal a repercussão da sua atitude.

    Roustaing, embora tenha reencarnado com tarefa definida junto à obra de Kardec, conforme relato de Humberto de Campos na obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, foi vítima de Espíritos que se enquadram perfeitamente na classificação de Kardec, como Espíritos pseudo-sábios, conforme item 104 de “O Livro dos Espíritos”:

        
    “Seus conhecimentos são bastante amplos, mas acreditam saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, a linguagem deles tem caráter sério, que pode iludir quanto às suas capacidades e luzes; porém, na maioria das vezes isso não passa de um reflexo dos preconceitos e das idéias sistemáticas da vida terrestre. É uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos. Em meio aos quais despontam a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação, de que não puderam livrar-se.”
          Roustaing desejou produzir obra própria, tornando-se presa fácil de fascinação. Esse não foi o primeiro, nem o último caso, na Humanidade, da falência de um Espírito pertencente a um grupo de trabalho. Judas, da equipe de Jesus, também falhou.

    Esses quatro volumes constituem obra fantasiosa, repetitiva, que, em muitos pontos, contradiz fundamentalmente a Doutrina Espírita. É apresentada em tom professoral, catedrático, que choca frontalmente com a simplicidade, objetividade e limpidez das expressões de Kardec e dos Espíritos que dialogaram com ele.

    As citações que fizermos, respostas dos Espíritos mistificadores que orientaram Roustaing, todas em negrito vermelho serão referentes à edição de 1971 de Os Quatro Evangelhos, que difere um tanto daquela de 1942, da mesma editora, pois que foram suprimidos ataques a Kardec.

    Roustaing pretendeu dar nova versão à tese da virgindade de Maria, através de uma pseudo-gravidez, que teria culminado no aparecimento de um bebê fluídico, surgido de uma gravidez enganosa, de um parto fictício, de uma lactação aparente, de um desenvolvimento físico falso e de uma desencarnação mentirosa.
    “Mas, não o esqueçais: todo aquele que reveste a carne e sofre, como vós, a encarnação material humana – é falível.” (pág. 166).

    Estaria o Espírito querendo dizer que se Jesus encarnasse estaria sujeito a falhar? Por isso não teria encarnado?
    Jesus viveu a vida de um homem normal da sua época: trabalhava, comia, bebia, hospedava-se nas casas das pessoas. Por que mudou completamente seu modo de agir depois da desencarnação? Não há nenhum registro no Novo Testamento que se tenha hospedado em casa de alguém, nem que tenha feito refeições regulares, como fazia. É claro que desejava deixar claro que não mais estava encarnado, que não mais tinha necessidades materiais.

    Seu enquadramento na vida terrena, enquanto encarnado é claramente demonstrada na citação abaixo:
    “E chegando sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: Donde lhe vem essas coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? (Marcos, 6: 2 e 3).

    Mas, embora tivesse poderes para fazê-lo quando encarnado, nunca atravessou portas fechadas, nem apareceu ou desapareceu subitamente, como o fez depois de desencarnado, demonstrando a imortalidade da alma, apresentando-se apenas com seu corpo espiritual:
    “E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio deles, e disse: Paz seja convosco.” (João, 20: 26)
    Há outro relato de aparecimento, este com desaparecimento também:
    “E eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que não o conhecessem. E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram dizendo: Fica conosco porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão o abençoou e partiu-o, e lhes deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele lhes desapareceu.” (Lucas, 24: 13, 15, 16, 28 a 31).
     Se Jesus não teve um corpo físico, como afirma Roustaing, por que passou a agir de maneira tão diferente depois da sua desencarnação?

    Roustaing tenta apagar a notável lição de Paulo, no cap. 15 da Primeira carta aos Coríntios, onde o Apóstolo fala claramente em corpo físico e corpo espiritual.

    É interessante notar a argumentação de Paulo:

    “Porque se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.” (16)

    “Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?” (35).

    “Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” (44)
    Se Paulo entendesse que Jesus tinha só corpo fluídico, não falaria em ressurreição.

    Àqueles que perguntam sobre o que aconteceu com o corpo físico de Jesus – pois que desaparecera do túmulo – pode-se responder com os trabalhos levados a efeito por equipes de cientistas internacionais que estudaram o pano sobre o qual o cadáver de Jesus foi desmaterializado, pano esse conhecido como o Sudário de Turim. Constitui ele relíquia ciosamente guardada pela Igreja Católica Romana, que retrata a figura de um homem, de frente e de costas, que sofrera flagelações, tudo coincidindo com o que se conhece sobre Jesus. Mas, os cientistas não chegaram a conclusão alguma sobre como fora gravada a imagem. Declaram que não foi pintura, tintura, queimadura por fogo ou por ácido, nem radiação atômica. Sabemos, nós espíritas, que seu corpo foi desmaterializado.

    Entretanto, não é a tese do corpo fluídico o ponto mais grave da obra. Há afirmativas que contrariam frontalmente as bases doutrinárias do Espiritismo. Vejamos algumas, dentre muitas:

    Evolução do Espírito:
                Com Kardec, em O Livro dos Espíritos, aprende-se que o princípio inteligente percorre, durante milênios incontáveis, as trilhas da evolução, antes de atingir o estágio de humanidade. Aprende-se que a consciência moral que caracteriza o ser humano, libertando-o gradualmente do jugo dos instintos, desabrocha lentamente, revelando a perfeição imanente no Ser:
    O Livro dos Espíritos - 607 a. Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?

                “Já não dissemos que tudo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue à da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza.”

                Respondendo a Roustaing, os Espíritos com os quais dialogou, falam numa transformação do instinto em inteligência – num determinado momento – levada a efeito por agentes exteriores e não através do próprio processo evolutivo, o que faz pensar numa espécie de “colação de grau” espiritual. Interessante notar, também, que o Espírito, depois de todas as aquisições individuais retorne ao “todo universal”, onde, certamente, perderia a sua individualidade. Além disso, como teria, um Espírito recém-saído da animalidade ter um perispírito tão sutil a ponto de quase ser invisível aos Espíritos Superiores? Vejamos a pergunta de Roustaing e a resposta dos Espíritos:

                “Como é que, chegado ao período de preparação para entrar na humanidade, na espiritualidade consciente, o Espírito passa desse estado misto, que o separa do animal e o prepara para a vida espiritual, ao estado de Espírito formado, isto é, de individualidade inteligente, livre e responsável?”

                “É nesse momento que se prepara a transformação do instinto em inteligência consciente. Suficientemente desenvolvido no estado animal, o Espírito é, de certo modo, restituído ao todo universal, mas em condições especiais é conduzido aos mundos ad hoc, às regiões preparativas, pois que lhe cumpre achar o meio onde elaboram os princípios constitutivos do perispírito. (...) Aí perde a consciência do seu ser, porquanto a influência da matéria tem que se anular no período da estagnação, e cai num estado a que chamaremos, para que nos possais compreender, letargia. Durante esse período, o perispírito, destinado a receber o princípio espiritual, se desenvolve, se constitui ao derredor daquela centelha de verdadeira vida. Toma a princípio uma forma indistinta, depois se aperfeiçoa gradualmente como o gérmen no seio materno e passa por todas as fases do desenvolvimento. Quando o invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e solta o seu primeiro brado de admiração. Nesse ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós. Tão pálida é a chama que ele encerra, a essência espiritual da vida, que os nossos sentidos, embora sutilíssimos, dificilmente a distinguem.” (1º vol., pág. 308).
               
                Respondendo a Kardec, os Espíritos ensinam que o Espírito emerge lentamente da animalidade, das necessidades materiais, através de sucessivas encarnações, ao longo de milênios sucessivos, que se constituem em oportunidades absolutamente necessárias ao seu progresso. O perispírito, que sempre reveste o Espírito, vai-se modificando com o passar do tempo.

                Roustaing se refere ao períspirito como se fosse uma roupagem preparada longe do Espírito que deva usá-la: “Quando o invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e solta o seu primeiro brado de admiração.”
                Afirma, o Espírito que respondeu a Roustaing : “Nesse ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós.” Que perispírito não é fluídico? Seria apenas naquele momento?

    O Livro dos Espíritos - 609. Uma vez no período da humanidade, conserva o Espírito traços do que era precedentemente, quer dizer: do estado em que se achava no período a que se poderia chamar ante-humano?

                “Conforme a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado. Durante algumas gerações, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição. Há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeias dos seres e dos acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque não têm a secundá-los a vontade. Vão em progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire mais perfeita consciência de si mesmo.”

                Os Espíritos, respondendo a Roustaing, afirmam que o Espírito só volta à vida material por castigo. Se é humanizado apenas após cometer a primeira falta, depreende-se que se não houvesse falta não haveria reencarnação. Como Roustaing explicaria a evolução do Espírito? Analise-se seu diálogo com um Espírito:

                “(...) para o Espírito formado, que já tem inteligência independente, consciência de suas faculdades, consciência e liberdade dos seus atos, livre-arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a encarnação, primeiro, em terras primitivas, depois, nos mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e não um castigo?”

                “Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa.
    O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as consequências.” (1º vol., pág. 317)

                Em Kardec, aprende-se que  o progresso do Espírito é irreversível, o que é racional, pois se não houvesse a irreversibilidade do progresso espiritual não haveria segurança nem estabilidade no Universo.

    O Livro dos Espíritos - 118. Podem os Espíritos degenerar?
                “Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”

                Roustaing admite possa um Espírito que já desempenhou funções elevadas no Mundo Espiritual ser tomado pela inveja, pelo orgulho, etc., o que evidencia uma nova versão para a “queda dos anjos”, conforme a teologia Católica Romana e, também, a Protestante.

                “Já tendo grande poder sobre as regiões inferiores, cujo governo aprenderam a exercer, no sentido de que, sempre sob as vistas dos Espíritos prepostos à missão de educá-los e sob a do protetor especial do planeta de que se trate, aprendem a dirigir a revolução das estações, a regular a fertilidade do solo, a guiar os encarnados, influenciando-os ocultamente, muitos acreditam que só ao merecimento próprio devem o que podem e, desprezando todos os conselhos, caem. É a queda pelo orgulho.
                Outros, por nem sempre compreenderem a ação poderosa de Deus, não admitem haja uma hierarquia espiritual e acusam de injustiça aquele que os criou, porquanto é Deus quem cria, não o esqueçais. Esses os que caem por inveja.
    Até o ateísmo – por mais impossível que pareça – até o ateísmo se manifesta naqueles pobres cegos colocados no centro mesmo da luz. (...) Nesse caso, sobretudo nesse caso, mais severo é o castigo. É um dos casos de primitiva encarnação humana.      Preciso se torna que os culpados sintam, no seu interesse, o peso da mão cuja existência não quiseram reconhecer.
    Qualquer que seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que caem, tornando-se, por isso, Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos lugares de encarnação humana, conforme o grau de culpabilidade, nas condições impostas pela necessidade de expiar e progredir.” (1º vol., pág. 311)

                Kardec obtém dos Espíritos Superiores resposta que deixa muito claro que o Espírito que atingiu a humanização não retorna jamais às formas animais, o que contraria frontalmente a teoria da Metempsicose esposada por Roustaing:

    O Livro dos Espíritos - 612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
    “Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”

                Em Roustaing, vê-se que, além de admitir a Metempsicose, afirmam seus interlocutores possa um Espírito voltar à Terra, ou a outros mundos, animando corpos primitivíssimos, como larvas!

                “Haveis dito que os Espíritos destinados a ser humanizados, por terem errado muito gravemente, são lançados em terras primitivas, virgens ainda do aparecimento do homem, do reino humano, mas preparadas e prontas para essas encarnações e que aí encarnam em substâncias humanas, às quais não se pode dar propriamente o nome de corpos, nas condições de macho e fêmea, aptos para a procriação e para a reprodução. Quais as condições dessas substâncias humanas?”

                “São corpos ainda rudimentares. O homem aporta a essas terras no estado de esboço, como tudo que se forma nas terras primitivas. O macho e a fêmea não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes.
                Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do que encontram no solo e lhes convenha.
                As árvores e o terreno produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie. Os animais carnívoros não os caçam. A providência do Senhor vela pela conservação de todos. Seus únicos instintos são os da alimentação e os da reprodução.
                Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos. Poderíeis formar idéia da criação humana, estudando essas larvas informes que vegetam em certas plantas, particularmente nos lírios.” (págs. 312 / 313)

    Autenticidade da Encarnação de Jesus:
                Kardec mostra Jesus como o modelo mais perfeito para a evolução humana, logo, o seu corpo deveria ter a mesma constituição do corpo daqueles aos quais ele deveria servir de modelo, e seu testemunho basear-se na verdade.

    O Livro dos Espíritos - 625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
                “Jesus.”

    O Livro dos Espíritos - 624. Qual o caráter do verdadeiro profeta?
                “O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Impossível é que Deus se sirva da boca do mentiroso para a ensinar a verdade.”

                Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, desde o seu nascimento até a sua morte, que teria sido também um simulacro, uma verdadeira encenação teatral. Além do mais, ainda o chama de um Deus milagrosamente encarnado! (1º vol., págs. 242 / 243)

                “(...) um homem tal como vós quanto ao invólucro corporal e, ao mesmo tempo, quanto ao Espírito, um Deus: portanto, um homem-Deus.” (pág. 242)

                Aqui, é declarado que o invólucro corporal de Jesus era igual ao de todos nós...

                Kardec afirma categoricamente que Jesus teve um corpo carnal e um corpo fluídico, como todos encarnados temos:
                “A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde a sua concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias de sua vida, revela caracteres inequívocos de corporeidade. (...) também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do que não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda gente.”
                “Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.
                Se as condições de Jesus, durante sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido, é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. (...) e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra, ele teria abusado da boa fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.
                Jesus teve, pois, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.” (A Gênese, cap. XV, itens 65 e 66)

                Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, que fingia alimentar-se, desde o seu nascimento. Seria o guia e modelo enganando que mamava, que comia, que bebia, que sofria e que desencarnou?

                “Quando Maria, sendo Jesus, na aparência, pequenino, lhe dava o seio – o leite era desviado pelos Espíritos superiores que o cercavam, de um modo bem simples: em vez de ser sorvido pelo “menino”, que dele não precisava, era restituído à massa do sangue por uma ação fluídica, que se exercia sobre Maria, inconsciente dela.” (1º vol, pág. 243).
                “Os Espíritos superiores que o cercavam em número, para vós, incalculável, todos submissos à sua vontade, seus dedicados auxiliares, faziam desaparecer os alimentos que lhe eram apresentados e que não tinha para ele utilidade. Aqueles Espíritos os subtraiam da vista dos homens, de modo a lhes causar completa ilusão, à medida que parecia  ser ingeridos por Jesus, cobrindo-os, para esse fim, de fluidos que os tornavam invisíveis.” (1º vol, págs. 262/263).

    Aparição de Moisés e Elias:
                Inegavelmente, as afirmações mais claras a respeito da reencarnação, contidas no Novo Testamento, encontram-se nos Evangelhos de Mateus (17: 10-13) e de Marcos (9: 11), onde se lê que Jesus  dialogou com Moisés e Elias no Tabor, diante dos discípulos Pedro, Tiago e João. Questionado quanto à identidade de Elias, o Mestre afirma categoricamente que João Batista foi a reencarnação do Profeta Elias.
                Em Roustaing, de maneira fantasiosa e completamente inverossímil, numa tentativa de desacreditar a reencarnação, misturando fatos e fantasias, é declarado que Moisés, Elias e, consequentemente, João Batista são o mesmo Espírito, e que ali, no Monte Tabor, um outro Espírito tomou a aparência de Moisés e conversou com Jesus. Vê-se aí, mais uma vez o ilusionismo, para não dizer a falsidade da obra de Roustaing:

                “O que, porém, Jesus naquela ocasião não podia nem devia dizer e que agora tem que ser dito é o seguinte: Moisés – Elias – João Batista – são uma mesma e única entidade. Estamos incumbidos de vos revelar isso, porque chegou o tempo em que se tem de “realizar” a “nova aliança”, em que todos os homens (Judeus e Gentios) se têm que abrigar debaixo de uma só crença, da crença – em um Deus, uno, único, indivisível, Criador incriado, eterno, único eterno: o Pai; em Jesus-Cristo, vosso protetor, vosso governador, vosso mestre: o Filho; nos Espíritos do Senhor, Espíritos puros, Espíritos superiores, bons Espíritos que, sob a direção do Cristo, trabalham pelo progresso do vosso planeta e da sua humanidade: o Espírito Santo.” (2º vol., págs 497 / 498)

                A obra é volumosa, pesada, extremamente repetitiva, escrita em tom catedrático, pretensioso, que nos remete diretamente a “O Livro dos Espíritos”, item 104, no magistral estudo que o Codificador faz a respeito da “Escala Espírita”, quando se refere aos Espíritos pseudo-sábios. São Espíritos pertencentes a comunidades espirituais que teimam em manter erros doutrinários relativamente à interpretação da Mensagem Cristã, para as quais o Espiritismo representa grande perigo por esclarecer a Humanidade.

                A respeito desses Espíritos, Emmanuel faz séria advertência, que serve também como alertamento, diante dessa verdadeira “onda editorial” que está alimentando a vaidade de médiuns invigilantes e enriquecendo editoras: “As próprias esferas mais próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.” (“A Caminho da Luz,” cap. 12),
                Felizmente, a onda de roustainguismo está passando. Mas, como existem ainda muitos volumes dessa obra em bibliotecas e livrarias, animamo-nos a fazer estas anotações.
                                                  
                                                                                                                     




    ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
    aoofilho@oconsolador.com.br
    Londrina, Paraná (Brasil)

    O roustainguismo e seus problemas



    Sempre entendi que a discussão em torno da obra Os Quatro Evangelhos, dada a lume pelo advogado J.-B. Roustaing, devia – e ainda deve – cingir-se exclusivamente aos seus aspectos doutrinários, ou seja, primeiro é preciso conhecer a obra para depois criticar ou defendê-la. Eis o motivo pelo qual, até este momento, jamais tratei do assunto, seja aqui, seja na tribuna. 



    Alguém, porém, me pergunta que problemas há na referida obra e – caso existam – por que a editora da Federação Espírita Brasileira (FEB) a divulga e tantos nomes ilustres em nosso meio a defendem.



    Os adeptos do chamado roustainguismo formam, de fato, um contingente numeroso. Pelo menos é o que informa Luciano dos Anjos em seu livro “Os Adeptos de Roustaing”, publicado em agosto de 1993 pela Associação Espírita Estudantes da Verdade, de Volta Redonda (RJ).


    Respondendo à indagação inicial, digo que é fácil perceber na obra de Roustaing a existência de quatro pontos que a tornam incompatível com a Doutrina Espírita exposta nas obras de Kardec, Delanne, André Luiz e Emmanuel. Claro que, excetuados esses problemas, apresenta ela coisas atraentes, especialmente no que se refere à apresentação primorosa que a FEB lhe deu, um cuidado que jamais a editora teve com quaisquer outras obras. 

    Os quatro pontos a que me refiro são estes:

    I. A tese de que a encarnação não é obrigatória, nem mesmo necessária, e só se dá em caso de queda do Espírito. A evolução da criatura humana, após a passagem do princípio inteligente pelos reinos inferiores da criação, ocorreria, segundo Roustaing, em cidades espirituais nas quais o Espírito reveste tão-somente um corpo fluídico – o perispírito. Se o indivíduo apresentar nessa condição algum defeito a ser corrigido (vaidade, inveja etc.), aí sim, por castigo, terá de encarnar. A reencarnação seria uma conseqüência dessa primeira encarnação. O assunto é tratado no volume 1, pp. 317 e 321, no volume 3, p. 91, e no volume 4, p. 292, da 8a edição, de agosto de 1994, publicada pela FEB.

    II. Ao ter de encarnar, o Espírito fá-lo-á em um mundo primitivo, encarnando-se aí num corpo rudimentar que viverá, como os animais, do que encontrar no solo. “Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos”, diz o livro em seu volume 1, p. 313. Um exemplo conhecido de criptógamo carnudo são as nossas lesmas. O livro de Roustaing está dizendo, portanto, que uma alma humana, depois de viver numa cidade espiritual, encarnará numa forma animal que nem mesmo chegou ao nível dos vertebrados, um ensinamento que reedita a doutrina da metempsicose, rejeitada formalmente pela Doutrina Espírita. O assunto é tratado ainda nas pp. 299 e 312 do volume citado.

    III. A encarnação, que normalmente não é necessária, só se dá em caso de queda do Espírito, uma alusão à retrogradação da alma, que o Espiritismo não admite. Os motivos, diz a obra, são diversos e seus resultados, terríveis. “Qualquer que seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que caem, tornando-se por isso Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos lugares da encarnação humana, conforme ao grau de culpabilidade, nas condições impostas pela necessidade de expiar e progredir”, eis a lição transmitida na obra em seu volume 1, p. 311. 

    IV. Afirma Roustaing que Jesus não encarnou para vir à Terra trazer-nos a Boa Nova. Seu corpo teria sido fluídico. Ele fora, assim, um agênere, um Espírito materializado e desse modo se explicariam seu desaparecimento dos 12 aos 30 anos, período do qual ninguém fala, e o sumiço do corpo material nos dias seguintes à crucificação. O assunto é tratado nos quatro volumes da obra, constituindo um dos aspectos mais conhecidos da doutrina roustainguista e, por isso mesmo, o mais criticado.

    Allan Kardec examinou em suas obras os quatro assuntos acima focalizados: a encarnação do Espírito como requisito indispensável à evolução espiritual e ao progresso dos planetas; a metempsicose, que rejeitou expressamente; o princípio da não-retrogradação da alma e a natureza corpórea do corpo de Jesus, ao qual dedicou os itens 64 a 67 do cap. XV de seu livro “A Gênese”. 



    A conclusão que podemos tirar, à vista do exposto, é uma só: os espíritas que apóiam a obra de Roustaing certamente não a leram; pelo menos é o que deve ter ocorrido com escritores importantes que a elogiaram em certa época e depois mudaram de idéia, como os saudosos confrades Carlos Imbassahy e Henrique Rodrigues.





    LEONARDO MARMO MOREIRA
    leomarmo@iqsc.usp.br
    De São Carlos, SP

    Os erros metodológicos
    de Roustaing
    O benfeitor espiritual Erasto afirma em "O Livro dos Médiuns" que "É preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma única mentira". Tal assertiva denota prudência e critério para a avaliação de qualquer conteúdo, mais notadamente os que são de origem mediúnica.
    A discussão em torno dos pontos controvertidos da obra de Roustaing nos remete não só à avaliação da diferença de conteúdo doutrinário em relação à obra de Kardec mas igualmente à análise da metodologia empregada para a obtenção das mensagens mediúnicas que os dois autores utilizaram na compilação dos seus respectivos textos, pois, obviamente, os dois tópicos supracitados estão intrinsecamente relacionados.
    A partir da leitura do prefácio de "Os Quatro Evangelhos" (foto) é possível constatar os seguintes pontos:

    1) Roustaing superestimou a credibilidade dos textos bíblicos.
    À semelhança de católicos e protestantes, Roustaing considerou a Bíblia "a palavra de Deus" e tentou explicar absolutamente tudo, sem se dar conta de que muito do que está escrito pode não ter acontecido exatamente da maneira como está narrado nos textos bíblicos. Roustaing consciente ou inconscientemente elaborou uma espécie de Reforma, semelhante à Reforma protestante. Assim, a partir da superestimação da Bíblia, a sua fusão desta com os seus limitados conhecimentos espíritas seria uma temeridade.

    Reparem que, ao contrário da codificação kardequiana que nasce como ciência, a proposta roustainguista já nasce como religião, pois se trata de uma nova interpretação da Bíblia a partir da velha tese da infalibilidade dos seus textos. Tanto isso é verdade que a própria estruturação da obra "Os Quatro Evangelhos" é baseada nessa submissão aos textos bíblicos. Se a obra em questão foi realmente orientada pelos quatro evangelistas, assistidos pelos apóstolos, que foram as principais e mais preparadas testemunhas oculares dos fatos evangélicos, por que os apóstolos não contaram o que de fato aconteceu diretamente, ao invés de se basearem literalmente no que sobreviveu de registro na Bíblia e que, obviamente, sofreu com quase dois milênios de interpolações, adulterações, traduções grosseiras e outros problemas?!

    Kardec, ao contrário, parte da análise do fenômeno mediúnico em um estudo criterioso sem nenhuma idéia preconcebida e, em princípio, não utilizando de maneira nenhuma a Bíblia como referencial. Aplicando o método experimental, através de análise qualitativo-quantitativa, por meio de vários médiuns previamente selecionados, busca a chamada "universalidade do ensino dos Espíritos", submetendo todos os autores espirituais ao mais crítico interrogatório e aplicando a mais rigorosa lógica na avaliação do conteúdo das mensagens.
    Portanto, a codificação nasce como ciência, para gerar um corpo filosófico como conseqüência da verdade irrefutável da imortalidade da alma e da comunicabilidade dos Espíritos. E, finalmente, a filosofia espírita repercute nas inevitáveis conseqüências morais, que constituem o aspecto religioso do Espiritismo. Kardec jamais superestimou os textos evangélicos, o que é explícito tanto em "O Evangelho segundo o Espiritismo" como em "A Gênese". É por essa necessidade de nascimento como ciência e, subseqüentemente, como filosofia antes de se aprofundar o seu aspecto religioso, nesse maravilhoso tríplice aspecto, que o primeiro e principal livro espírita é a obra "O Livro dos Espíritos" e o segundo livro publicado, considerado por Kardec como a continuação do primeiro, é "O Livro dos Médiuns". De fato, ao aplicar os princípios espíritas na elucidação dos pontos principais do Evangelho, toda a estrutura doutrinária já estava extremamente sólida, independentemente das inumeráveis controvérsias geradas pelas diferentes interpretações bíblicas. Portanto, o Espiritismo não é uma reforma, como a reforma Luterana, porque não nasce como uma releitura da Bíblia, mas como ciência através do estudo da mediunidade.

    2) Roustaing "decidiu" que era necessária uma nova revelação.

    A partir da excessiva valorização dos textos evangélicos, Roustaing diz "...senti a impotência da razão humana para penetrar as trevas da letra e, desde então, a necessidade de uma revelação nova, de uma revelação da revelação". Note que, a partir de uma premissa equivocada, o próprio Roustaing decidiu que era necessária uma nova revelação, porque, segundo ele mesmo explica no prefácio de sua obra, a codificação explicava muito bem os aspectos morais e doutrinários da Bíblia, mas, em sua opinião, não explicava a figura de Jesus. Ora, decidir sobre a necessidade de uma nova revelação não era tarefa para ele, e nem para nenhum de nós, mas sim trabalho da Providência Divina. Roustaing poderia elaborar o seu trabalho mas daí a defini-lo, aprioristicamente, como a "revelação da revelação" foi um exagero. De fato, essa expressão "revelação da revelação" é repetida exaustivamente tanto no prefácio como na introdução e é quase sempre acompanhada pela expressão "revelação nova", em um esforço evidente para situar a obra realmente como uma revelação divina. Com efeito, na folha de rosto de "Os Quatro Evangelhos" Roustaing define sua obra como sendo "Revelação da Revelação" ou "Espiritismo Cristão", o que poderia sugerir que "há vários tipos de espiritismo" ou, até mesmo, que a Codificação não seria uma obra cristã. Se Roustaing pretendia que sua obra fosse considerada espírita, tendo mesmo enviado uma cópia para a análise de Kardec, conforme registrado na Revista Espírita, essa definição poderia ser considerada uma invigilância do advogado de Bordeaux.

    A título de ilustração vale lembrar que da primeira revelação, personificada em Moisés, até a segunda, personificada em Jesus, foram aproximadamente 2 milênios e de Jesus até a codificação mais 18 séculos. Desta forma, seria muito estranho uma suposta quarta revelação começar a ser elaborada concomitantemente com a terceira revelação, já que a codificação do Espiritismo só seria concluída em 1868 com a publicação de "A Gênese", bem depois, portanto, do trabalho de Roustaing, que iniciou a confecção de sua obra em 1861 para publicá-la em 1866. Na mensagem intitulada "Meu Sucessor", em "Obras Póstumas", Kardec indaga sobre o continuador da obra, em função de já se apresentar com a saúde comprometida, e os Espíritos respondem que não era o momento de que o sucessor aparecesse, pois era necessário que a Codificação ficasse acentuadamente centralizada nas mãos dele, Kardec, para que a obra básica tivesse alta homogeneidade. Segundo o professor J. Herculano Pires, o sucessor em questão se trata de Léon Denis, que ainda era muito moço nessa época. Portanto, nenhuma menção a Roustaing ou a qualquer outro trabalho concomitante à codificação, o que é bastante sugestivo para uma obra que se intitula a "revelação da revelação".


    3) A Igreja Católica nas análises das obras de Roustaing e Kardec.

    No terceiro tomo da obra "Os Quatro Evangelhos" (p.65) os autores ensinam que o futuro espiritual da humanidade estará focalizado na Igreja Católica e no Papa. Eles afirmam o seguinte: "O chefe da Igreja católica, nessa época em que este qualificativo terá a sua verdadeira significação, pois que ela estará em via de tornar-se universal, como sendo a Igreja do Cristo, o chefe da Igreja católica, dizemos, será um dos principais pilares do edifício. Quando o virdes, cheio de humildade, cingido de uma corda e trazendo na mão o cajado do viajante...".

    Esse comentário estranhíssimo, para dizer o mínimo, entra claramente em choque com a opinião dos Espíritos que orientavam Allan Kardec.

    Para citar apenas uma única fonte, basta ler as mensagens registradas em "Obras Póstumas" intituladas "Futuro do Espiritismo" e "A Igreja". Na primeira o autor espiritual assevera "...cabe-nos retificar os erros da história e apurar a religião do Cristo, transformada, nas mãos dos padres, em comércio e em vil tráfico. Instituirá (o Espiritismo) a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem dependência das obras da sotaina ou dos degraus do altar".

    Na segunda mensagem citada é comentado que "Chegou a hora em que a Igreja deve prestar contas do depósito que lhe foi confiado; do modo como praticou os ensinos do Cristo, do uso que fez da sua autoridade, da incredulidade, enfim, a que arrastou os homens". E mais à frente o autor é ainda mais incisivo quanto ao futuro da Igreja estabelecendo que "Deus a julgou e reconheceu-a imprópria, de hoje em diante, para a missão do progresso, que incumbe a toda autoridade espiritual". Ainda sobre a Igreja Católica e o futuro da humanidade o Espírito d´ E... afirma que a Igreja "acha-se nesta alternativa: ou se transforma e suicida-se, ou fica estacionária e sucumbe esmagada pelo carro do progresso". Como se não bastasse, o autor ainda é mais peremptório asseverando que "a doutrina espírita é chamada a ferir de morte o papado..." e conclui seu artigo com a seguinte frase "A Igreja atira-se, por si mesma, ao precipício".

    Essa gigantesca incoerência faz-nos questionar o motivo que levaria o mundo espiritual superior a enviar à Crosta uma terceira e uma quarta revelações se o futuro espiritual da Terra seria guiado pela representante do seu passado, que é a Igreja, com a sua trajetória dominadora, ritualística, inquisidora e obscurantista.
    Para que Espiritismo como terceira revelação se a Doutrina Espírita discrepa profundamente da Igreja Católica em inumeráveis pontos?

    Por outro lado, as perguntas mais simples e objetivas que surgem são as seguintes: Espíritos de mesma intenção e evolução (supostamente evolvidos intelecto e moralmente) poderiam ensinar conceitos tão discordantes um do outro?! E Roustaing não teria avaliado criticamente o conteúdo da mensagem e suspeitado dessa informação?!

    4) Ao contrário de Kardec, Roustaing utiliza uma única médium.

    Roustaing se isolou com a médium Émilie Collignon, evitando o intercâmbio com trabalhadores mais experientes que poderiam elaborar críticas aos textos e indagações mais exigentes e contundentes aos Espíritos orientadores da obra. Roustaing afirma "Mero instrumento, cumpri um dever executando tal ordem, entregando à publicidade esta obra...". Roustaing se mostra muito submisso e passivo em relação aos Espíritos que orientam a obra, o que pode ser facilmente constatado em várias passagens do prefácio da sua obra. Aparentemente, Roustaing não eliminou nenhum texto, o que explicaria a grande extensão de sua obra de mais de 2.000 páginas em um prazo relativamente curto para um trabalho efetuado com uma única médium. Essa atitude é bem diferente da postura altamente crítica do Codificador. Vale lembrar que médiuns psicógrafos de conhecida credibilidade como Chico Xavier, Divaldo Franco e Raul Teixeira afirmam que "queimaram malas de mensagens" no início de suas tarefas, pois eram apenas exercícios mediúnicos, sem qualidade suficiente para publicar. O próprio Allan Kardec, registra mensagens que ele considerou não condizentes com as assinaturas, mostrando que até mesmo ele estava sujeito às chamadas mistificações. O ponto-chave é que ele identificou essas mensagens como oriundas de Espíritos mistificadores e ainda as aproveitou como recurso didático.

    5) Roustaing não avaliou a potencialidade mediúnica e o conteúdo moral de Mme. Collignon.

    Roustaing assevera no prefácio de sua obra: "O trabalho ia ser feito por dois entes que, oito dias atrás, não se conheciam". Está evidente que Roustaing não avaliou o nível moral de Émilie Collignon e nem sua capacidade mediúnica, pois não a conhecia e em um intervalo de 8 dias começou a obra sem um maior planejamento ou avaliação da viabilidade e dos perigos da empreitada. O critério da avaliação moral do médium é fundamental pois pela sintonia o médium convive predominantemente com os Espíritos que correspondem à sua elevação espiritual. Emmanuel, em sua obra "Roteiro", é categórico, estabelecendo que "não existe bom médium sem homem bom". Todo dirigente de reuniões mediúnicas conhece minimamente a complexidade do fenômeno mediúnico e os riscos que procedimento semelhante à atitude de Roustaing pode acarretar.

    6) Roustaing evocou somente Apóstolos e o Precursor João Batista.

    A assertiva conhecida no meio espírita de que "o telefone toca de lá para cá" não foi respeitada por Roustaing. Vale consultar a contundente desaprovação do procedimento de evocação nominal direta, enunciada pelo benfeitor Emmanuel na Questão 369 da obra "O Consolador". Realmente, há riscos óbvios de Espíritos embusteiros usarem nomes de grandes Espíritos para se fazerem mais respeitáveis e aceitos. Por outro lado, quanto mais evoluído é o Espírito, maior número de grandes responsabilidades ele tem no mundo espiritual, que acabam limitando sua capacidade de atender pessoalmente a todas as evocações, principalmente aquelas oriundas de pessoas pouco moralizadas e responsáveis.

    7) São João Evangelista seria co-autor tanto da obra de Kardec como da obra de Roustaing?!

    São João Evangelista é co-autor da codificação, sendo citado até mesmo nos Prolegômenos de "O Livro dos Espíritos". Entretanto, supostamente, ele também seria co-autor da obra "Os Quatro Evangelhos" tanto pela sua condição de Evangelista como também pela sua condição de Apóstolo, tendo sido, inclusive, um dos mais participativos e próximos a Jesus em todo o Evangelho. Assim sendo, como é que as obras em questão teriam pontos tão divergentes como, por exemplo, a questão da reencarnação, que para a Codificação é necessidade e para "Os Quatro Evangelhos" é castigo e o problema da metempsicose, rejeitada peremptoriamente pela Codificação e admitida pela obra de Roustaing? Essa questão da identidade dos autores merece ser analisada com cuidado pois as obras em questão não tratam de opiniões pessoais de Espíritos mas de Leis Universais e, ademais, sendo os autores, em princípio, da mais elevada evolução, eles não poderiam divergir tão intensamente em pontos capitais dos ensinos. São João Evangelista não poderia ensinar algo em um lugar e outra coisa em outro, a não ser que em um desses lugares não fosse ele, mas alguém que se fizesse passar por ele, utilizando seu nome, algo bem comum em mediunidade, quando os cuidados fundamentais para a prática segura de tal intercâmbio não são considerados. Admitindo-se tal possibilidade, a credibilidade das informações contidas na obra em questão estaria comprometida.

    Em suma, Roustaing demonstrou desconhecer as problemáticas da mediunidade, o que é facilmente explicável haja vista a pressa que ele demonstrou no estudo prévio das obras de Allan Kardec. O próprio Roustaing afirma no prefácio de "Os Quatro Evangelhos" que leu "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns" e um número enorme de obras sobre questões correlatas ao Espiritismo a partir de janeiro de 1861, o mesmo ano que ele começou a elaboração de "Os Quatro Evangelhos". Antes disso, ele nem sabia que é possível a comunicação com os Espíritos. Certamente, essas leituras foram superficiais, tendo-se em vista a profundidade do conteúdo das mesmas e o número de obras lidas em um intervalo de tempo reduzidíssimo. Ademais, ler é uma coisa, ao passo que estudar e assimilar é outra completamente diferente, principalmente em se tratando de um assunto com tamanhas nuanças e problemas como é a mediunidade.

    Desta forma, entende-se por que Allan Kardec considerou a obra "Os Quatro Evangelhos" apenas como opinião pessoal dos seus autores espirituais não podendo ser considerada como parte integrante da Doutrina Espírita, conforme exarado na Revista Espírita. Afinal, a priori, "é preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma única mentira". "Na dúvida, abstém-te", nos ensina "O Evangelho segundo Espiritismo" e a obra de Roustaing apresenta várias dúvidas, incoerências e especulações sem comprovações científicas que não estão em coerência com o pensamento kardequiano.




    Jorge Hessen
    jorgehessen@gmail.com
    Brasília -DF

    ROUSTAING – O SESQUICENTENÁRIO TÃO AGUARDADO NA FEB

    Um confrade muito querido sugeriu-me escrever sobre a revista Reformador, estabelecendo um paralelo entre a elevação dos conteúdos doutrinários veiculados no passado remoto , e a atual insipidez doutrinária e excesso de fotografias de dirigentes publicadas nas suas páginas.

    Outro companheiro informou-me que a FEB – Federação Espírita Brasileira está preparando o lançamento (previsto para o mês de junho de 2016) da nova edição dos “Quatro Evangelhos”, almejando a submissão comemorativa aos 150 anos de lançamento do livro de J.B. Roustaing. Em face disso, telefonei  para o departamento editorial da FEB e fui  informado sobre o tal lançamento, em razão disso, deliberei antecipar um manifesto de alerta em face da augurada reedição das obras que representam a ruptura de união ente os espíritas no Brasil.

    Percorrendo determinadas narrativas sobre a história da revista Reformador inteiramo-nos de que ela foi fundada em 21/1/1883 por Augusto Elias da Silva, um fotógrafo português, num corajoso empreendimento de difusão espírita no Brasil do século XIX. Isto porque, fundar e conservar um órgão de propaganda espírita, na Corte do Brasil era, naquele período, para esmorecer o ânimo dos espíritas mais resolutos. Uma vez que dos púlpitos brasileiros, principalmente dos da Capital, choviam anátemas sobre os espíritas, os novos hereges que cumpria abater.

    Escreveu o fotógrafo lusitano o seguinte: “Abre caminho, saudando os homens do presente que também o foram do passado e ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: o “Reformador”. Com essas palavras inaugurais apresentava-se, no Brasil o novo órgão da divulgação espírita. ”[1]

    O artigo de fundo do primeiro número traçava as diretrizes de paz e progresso pelos quais se nortearia o informativo, definindo ainda os objetivos que tinha em vista alcançar. Apresentou-se, portanto, o “Reformador” como mais um semeador da paz, apetrechado da tolerância e da fraternidade, desfraldando a bandeira da presumível “união” entre os espíritas. Ótimo!

    Até 1888 a redação do periódico funcionou (no ateliê) montado na residência do Elias da Silva. Era um jornal quinzenal composto de quatro páginas e estima-se que sua tiragem inicial era de aproximadamente 300 exemplares, contando com cerca de uma centena de assinantes. A partir de 1902 passou ao formato de revista, inicialmente com 20 páginas e periodicidade bimestral. Na década de 1930 passou a ser mensal, e o número de páginas aumentou gradativamente. Em 1939, a FEB adquiriu e instalou as máquinas impressoras próprias, nas dependências dos fundos do prédio da Avenida Passos. Foi uma decisiva empreitada e graças a essa providência, as edições e reedições de livros espíritas e da revista começaram sua expansão.

    Em seguida, com a instalação do complexo gráfico, em 1948, em amplo edifício (atualmente abandonado, arrasado e falido) especialmente construído em São Cristóvão/Rio de Janeiro, a FEB acresceu a propaganda doutrinária. Paradoxalmente, na década de 1970 a FEB “modernizou” as impressões de Reformador com as capas coloridas, substituindo inclusive o logotipo e desenho, mas a Revista tomou novo rumo gráfico oferecendo gigantescos espaços de proeminência para as imodestas imagens (fotos) dos diretores febianos.

    Apesar de ser um dos quatro periódicos surgidos no Rio de Janeiro, de 1808 a 1889, que sobreviveram até os dias atuais e o único que nunca teve interrompida sua publicação, todavia diversas vezes desviou-se do programa de estudar, difundir e propagar a legítima Doutrina dos Espíritos sob o seu tríplice aspecto (científico-filosófico-religioso), sobretudo durante a coordenação do editor Luciano dos Anjos.
    Em verdade, tudo tem matrizes nos eternos diretores roustanguistas que ininterruptamente (há mais de 100 anos) se revezam na direção da FEB até os dias atuais. Nesse confuso cenário foram infligidos e cedidos espaços fadigosos do periódico a fim de veicular as burlescas teses da metempsicose consubstanciada nos “criptógamos carnudos” (involução), do neo-docetismo [2] consoante propostos nas obras do visionário J.B. Roustaing, um “após(tolo)” da discórdia! E pelo que sei, desde a primeira edição já são mais de 15 milhões de exemplares publicados pela FEB.

    A trajetória centenária do Reformador se confunde com a própria história do quartel-general de J.B.Roustaing, a FEB,  da qual tem sido a porta-voz e a representação do seu pensamento. Confrades que não rezam pela cartilha roustanguista, embora sejam coordenadores de uma ou outra área doutrinária da FEB (baixo clero), jamais alcançaram lograr maiores destaques administrativos, sendo “aceitos” de esguelha pelos poderosos diretores (alto clero) , todos fanáticos pelo advogado de Bordeaux.

    A revista Reformador, não raro, expressou várias vezes uma linha editorial e diretrizes a serviço do Evangelho à maneira sorrateira dos fastidiosos volumes dos “Quatro Evangelhos” de Roustaing, tal como ocorreu na presidência do Armando de Assis. Destaque-se que os quatro volumes de Roustaing são estudados sistematicamente nas reuniões públicas realizadas todas as terças feiras na sede da FEB, em Brasília e na sucursal febiana, sediada na Av. Passos-Rio de Janeiro, e isto diz tudo.

    A FEB e UNICAMENTE ELA sucessivamente esteve na dianteira  em defesa do roustanguismo. Nessa linha de contra-senso, tem expressado sempre a prevalência das suas verdades docetistas, embaralhadas e camuflada atrás da boa literatura do Chico Xavier e dos clássicos que edita. A  FEB acredita  que conseguirá catalisar a “unificação” e a unidade da Doutrina; mas em realidade , sempre sucederam e sobrevirão as dissidências (internas e externas) resultantes dos sofismas de princípios insustentáveis pela racionalidade kardeciana.

    Para a consubstanciação do projeto da disseminação do docetismo, há mais de um século a FEB vem catequisando à socapa alguns confrades ingênuos. Na volúpia insuperável das interpretações equivocadas dos eternos fascinados pelos “Quatro evangelhos” vai transformando o caleidoscópico Movimento Espírita Brasileiro numa desordem ideológica sem precedentes inspirados nos vaporosos pilares dos engodos dos Quatro Evangelhos.

    Com Roustaing narcotizando a mente do alto clero febiano será empreita impraticável evitar a dispersão sistemática e generalizada cada vez mais acentuada dos espíritas, em caminho de desintegração, por força de interferências obsessivas em nível de fascinação. Se a unidade doutrinária foi a única e derradeira divisa de Allan Kardec para o fortalecimento do Espiritismo, a união deve ser a fortaleza inexpugnável da Doutrina Espírita. Em verdade a FEB não conseguiu avançar coisa nenhuma nesse quesito de união entre os espíritas, justamente por que se deixou abater diante dos embustes docetistas, e de outras aberrações doutrinárias contidas na obra do bordelense, razão suficiente para não lograr a unificação,  pois desconhece o poderoso antídoto contra os venenos das discórdias e desuniões, a coerência legada pelas obras codificadas por Allan Kardec.

    Herculano Pires na sua sapiência ponderava: “Em os Quatro Evangelhos as verdades são sempre contrariadas pelas mentiras, o natural é prejudicado pelo absurdo e o belo é sempre desfigurado pelo horrível. Jesus é fluidificado, purificado e até endeusado; mas também é ironizado, ridicularizado, deturpado e estupidificado”! “Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de bom senso”. [3]

    Queira Deus que no futuro não distante ressurja o ideário da concepção e fundação de uma CONFEDERAÇÃO ESPÍRITA no Brasil (sem Roustaing, óbvio!)

    Jorge |Hessen
    Referências:
    [1]            disponível em http://febnet.org.br/site/conheca.php?SecPad=3&Sec=188  acesso em 13/04/2016
    [2]            Os gnósticos-docetas do primeiro século sustentavam que Jesus não tinha realidade física, que o seu corpo era apenas aparente. Sua posição contrariava as teses da encarnação do Cristo, apresentando-o como uma espécie de Deus mitológico, sob a influência das idéias helenísticas. O Docetismo exerceu grande influência em Alexandria, propagando-se a Éfeso, onde o apóstolo João instalara a sua Escola Cristã. João refutou a tese doceta como herética, pois além de não corresponder à realidade histórica, transformava o Cristo num falsário.  A fábula dos docetas ( como o apóstolo Paulo a classificou) apresentava-se como uma das mais estranhas desfigurações do Cristo, fornecendo elementos ricos e valiosos aos mitólogos para negarem a existência real e histórica de Jesus de Nazaré.
    [3]            Pires, Herculano. O Verbo e a Carne, São Paulo: Ed Paideia, 1972