Conscientes da responsabilidade que
cabe a todos nós espíritas, no sentido da manutenção da fidelidade à Doutrina
que nos ilumina os caminhos, é que devemos atentar para o cuidado que devemos
ter quando usamos o nome “Espiritismo”.
No Espiritismo não há autoridades
religiosas que possam manifestar-se a favor ou contra qualquer publicação,
tachando-a anti-doutrinária, nem tampouco condenar essa ou aquela prática
levada a efeito numa sociedade espírita.
O Espiritismo é uma doutrina de
livre-exame, adotada por livres-pensadores. Seu embasamento dá-se em
Jesus e em Kardec.
Noutras religiões, há conselhos
formados por pessoas que detêm um certo poder no campo doutrinário, e esses
conselhos deliberam sobre pessoas que devam ser acatadas ou banidas do grupo. Igualmente
deliberam sobre inovações e publicações.
No Espiritismo não há nada disso. Todos
os espíritas temos responsabilidade definida em tudo o que apresentamos ou que
apenas prestigiamos em nome da Doutrina. Cada espírita é, no âmbito de suas
atividades, um guardião dos princípios básicos do Espiritismo, cabendo-lhe –
para ter o direito de dizer-se espírita – o dever de resguardar-lhe a
coerência, a nobreza, a objetividade, a clareza, a simplicidade e a fidelidade
aos princípios ético-morais do Evangelho de Jesus e aos princípios doutrinários
estabelecidos pelos Espíritos Superiores, codificados por Kardec.
Assim pensando, analisemos certas
publicações que nos parecem estranhas:
Fazendo-se um estudo sobre
materialização, com base nas experiências de William Crookes, de Alexander
Aksakoff e de outros cientistas que estudaram o fenômeno nos primeiros tempos
do Espiritismo, vê-se que para se obter uma materialização ou um
simples efeito físico há a necessidade do concurso de várias pessoas, de
ambiente equilibrado e previamente preparado, além de um médium.
André Luiz, no livro "Missionários
da Luz", cap. 10, intitulado "Materialização", descreve
detalhadamente os trabalhos exaustivos desenvolvidos por mais de vinte
entidades, algumas de nobre hierarquia do Mundo Espiritual, numa sala
mediúnica, onde se desenvolveriam os trabalhos de materialização.
Como conciliar o exaustivo trabalho dos
autores acima citados, somado a esse minucioso relato de André Luiz com o que
se lê na obra "Por Amor ao Ideal" (págs. 282/286), psicografado por
Carlos Antônio Baccelli, onde um Espírito desencarnado há um século teria
conseguido materializar-se com os fluidos do cadáver de um bêbado, e teria
saído, materializado, de dentro da cova, caminhado pelas ruas e se consultando
com um médico psiquiatra, por várias vezes, sem sequer dizer seu nome? E o
psiquiatra não lhe estranhou as vestes de mais de um século atrás? Nem há
explicação de como falava Português. Se fosse tão fácil e corriqueira assim a
materialização, nunca se saberia se a pessoa, que encontramos na rua, está
encarnada ou se é um espírito materializado...
No livro "A Escada de
Jacó" (págs. 186/187), do mesmo autor, é descrito o uso de fluidos de
um camelo agonizante no socorro dado por um Espírito a um menino encarnado
que tivera os dois braços arrancados por uma explosão e que se teria tornado
vidente, pois falava com o Espírito que o socorria, comentando até os seus
planos futuros de tornar-se médico também. É de se estranhar, também, que
alguém que perdera dois braços não tivesse desmaiado ou não estivesse gritando
de dor.
Se é tão fácil a obtenção de fluidos
para socorro a encarnados, a ponto de estancar forte hemorragia, a partir de
animais agonizantes, por que os Espíritos têm de se valer de encarnados como
doadores, conforme descrito na obra de André Luiz, acima citada, no seu cap. 7?
Não seria mais fácil, para os Espíritos, a obtenção desse fluido tão abundante
nos matadouros?
E o que dizer ao apoio claro dado ao
aborto, em caso de estupro e de anencefalia, declarado pelo Espírito que se faz
passar pelo Dr. Inácio Ferreira, no livro “Fala, Dr. Inácio!” (pags. 128/131)?
Atavés do mesmo médium, talvez o mesmo
Espírito mistificador, na obra “Chico Xavier Responde” (pags. 136/137), apoia o
aborto em caso de anencefalia, validando-o também em caso de estupro.
O que responderemos àqueles que, ao
ingressarem nos estudos da Doutrina, nos perguntarem sobre isso? Onde está a
nossa fé raciocinada? Onde está o nosso zelo para com a Doutrina a que tanto
devemos, face aos novos horizontes que delineia para nós? Vamos seguir o sábio
conselho de Paulo (I Tes, 5: 21): "Examinai tudo. Retende o
bem."? Temos examinado o que se publica em nome do Espiritismo? Ou temos
deixado correr? Quem é o responsável pela fidelidade doutrinária?
Urge, mais do que nunca, uma ação
corajosa, consciente de fidelidade não só à Doutrina, mas a nós próprios, à
nossa consciência, pois "quem cala, consente".
Com a palavra os responsáveis pelas
livrarias, centros espíritas e clubes do livro.
José Passini
passinijose@yahoo.com.br
Juiz de Fora MG
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