Esta é a nona obra atribuída ao Espírito Dr. Inácio
Ferreira, escrita através do médium Carlos A. Baccelli.
Quem leu as anteriores vai ter uma surpresa, por quase
não encontrar mais aquela linguagem rude, contundente, agressiva,
orgulhosamente apresentada por ele, e justificada pelo seu médium como sendo
marca característica da sua maneira de ser quando encarnado.
É estranho que um Espírito que teria conservado, durante
dezoito anos depois de desencarnado, a mesma maneira rude de se expressar,
tenha mudado de um ano para outro...
Conforme fizemos nas análises precedentes,
transcreveremos em negrito os trechos
que nos chamaram a atenção na obra em estudo, e faremos nossos comentários em
tipo normal. As transcrições de outros livros serão feitas em negrito e itálico:
Raciocinando nestes termos, eu não
podia deixar de me comover ante o empenho dos médiuns, principalmente daqueles
que, quase em completo anonimato, continuavam se superando, em todos os
sentidos, para conservar desfraldada a bandeira da fé raciocinada (...). Eu
convivera, diariamente, com dezenas de sensitivos e digo-lhes: só mesmo uma força de ordem superior, provinda do
Inconcebível, para dar-lhes sustentação, em meio a tantos obstáculos que se
interpunham entre eles e o Ideal. Os médiuns eram e continuam como seres
humanos, com necessidades idênticas às de qualquer um! Como é que conseguiam, e
conseguem, conciliar interesses tão opostos, quantos do espírito imortal e os
da vida material, pela qual se sentiam subjugados? A muitos, inclusive, eu
tivera oportunidade de socorrer com dinheiro, para que não passassem privações
com a família; alguns, pela sua simples condição de espírita, eram rotulados
desajustados e tinham a sua sanidade mental questionada, o que, não raro, fazia
com que perdessem o emprego ou não tivessem seus serviços profissionais
contratados. Eu não sei, mas alguma coisa
que não posso definir existe nos médiuns que perseveram, além de somente
mediunidade; alguma coisa transcende
a teoria e a prática mediúnica em si; alguma coisa que possui à semelhança dos primitivos cristãos, que
enfrentavam o martírio e a morte nos circos romanos, como se seus olhos
estivessem vendo o que mais ninguém conseguia enxergar...
(13 – 14)
Como poderemos conciliar o discurso acima, de louvor aos
médiuns, com o que esse Espírito escreveu no livro “Do Outro Lado do Espelho”?
Vejamos o que ele responde ao ser convidado a participar de uma reunião
mediúnica no Sanatório de Uberaba, onde, quando encarnado, fora diretor:
–
Para quê? Só se for para xingá-los... (Por favor sr.
Médium e sr. Revisor, não me queiram
tolher a liberdade de dizer o que penso, da maneira que penso.) Aliás, para que
saibam que sou eu, basta mesmo que eu abra a boca ou... que acenda um cigarro.
Vou dizer a vocês o que penso: Os meus gatos, que ainda sobrevivem no
Sanatório, apesar da vontade de alguns de expurgá-los, serão melhores
intérpretes meus do que os médiuns que andam por lá... (...) Os médiuns não
querem estudar, não querem disciplina... Ficam parados ao redor da mesa feito
uns robôs; nem pensar eles pensam; esvaziam a mente de idéias, esperando que os
espíritos façam tudo... Isto não é mediunidade, se o pobre do morto pudesse
fazer tudo sozinho, os médiuns seriam meras figuras decorativas. E, depois,
mentem: dizem que são inconscientes, que não se lembram de nada. (158 / 159)
E
continua seus ataques aos médiuns do grupo que dirigiu, no Sanatório:
– O médium me acolhe, me agasalha, abre a boca
e só deixa passar o que não
conflita com os seus pensamentos. Sendo assim, o que vou fazer lá? Passar
raiva? Passar raiva, eu passava na condição de doutrinador, de dirigente dos
trabalhos mediúnicos do Sanatório, que fui por mais de cinqüenta anos... (159 / 160)
Se
o grupo mediúnico era tão ruim, como pôde tolerá-lo durante cinqüenta anos?
Note-se que ele ainda não retornara àquele grupo depois de desencarnado, logo
essas impressões ele já as tinha antes de desencarnar:
–
Nós, os considerados mortos, em matéria de mediunidade temos que nos
contentar com percentagem: 30% nossos, 70% do médium... Quando, pelo menos, são
50% para cada lado, vá lá... Raro o médium que nos permite o empate. Isso sem
falarmos nos médiuns que vivem colocando palavras inteiramente suas em nossos
lábios: é um tal de termos dito, sem termos dito nada... (...) Os médiuns hoje querem improvisar...
Quanta mistificação!... (160)
Mas
a crítica aos médiuns não se restringe apenas àquele grupo. É generalizada:
– O cenário vocês já conhecem, de uma reunião
mediúnica: médiuns chegando em cima da hora, com justificativas vazias: “estava
com visita em casa”, “choveu na hora de sair”, “desarranjo intestinal”, “o
telefone tocou...
– Apenas dois espíritos, dos muitos que estavam
no recinto, lograram dar o ar da graça naquela noite, através da medianeira
anônima: um que havia cometido o suicídio, e eu, que, se pudesse, estrangularia
alguém. (161)
(...) Pretensão à infalibilidade, elitismo,
personalismo; isso tudo, sem mencionarmos o que se vem fazendo através da
mediunidade – o canal que, na maioria dos medianeiros, é ocupado por entidades
contrárias ao movimento de libertação de consciências que o Espiritismo propõe.
Imperceptivelmente, os médiuns vêm sendo hipnotizados por espíritos que os
dominam e que lhes inoculam n´alma o virus
da ambição desmedida. Difícil nos depararmos com quem não esteja a serviço de
si mesmo na Causa que abraçamos!... (180)
Será
que o Dr. Inácio percebeu que suas críticas não foram bem acolhidas pelos
médiuns, decidindo-se a mudar sua opinião?
O que posso fazer para me defender daqueles
que têm rotulado as minhas obras de anti-doutrinárias? (15)
Não
há precedente, em toda a literatura mediúnica séria, de um Espírito tão
preocupado com as repercussões de suas obras. Essa postura é coerente com o que
ele relata no livro “Fundação Emmanuel”, quando se refere a um “jornal”,
intitulado “Resenha”, encarregado de fazer circular, naquela instituição, as
notícias da Terra, inclusive os comentários sobre obras mediúnicas.
Aqui, com a permissão do médium de
quem me sirvo, amigo que aprendi a estimar em longos anos de convivência no
mundo, abro pequeno parêntese, para que nossos companheiros encarnados entendam
parte das dificuldades que, juntos, enfrentamos no serviço do intercâmbio
mediúnico. Tendo levantado de madrugada, ele e eu, para o compromisso que
assumimos, minutos atrás, como é compreensível, tive necessidade de interromper
a minha narrativa, quebrando, de certa forma, a seqüência das idéias.” (15 – 16)
Essa quebra de seqüência
das idéias mostra o grau de informalidade da mensagem que estava sendo
transmitida. Ao contrário do que se imagina num trabalho sério, em que um
Espírito que escreve algo a ser publicado como livro espírita, deve ser o
resultado de estudos maduramente avaliados no Mundo Espiritual e não algo improvisado,
como se fosse uma conversa banal, entre desocupados.
Além do mais, causa estranheza o fato de um Espírito
tecer elogios ao seu médium. Era assim que Emmanuel, André Luiz e outros
Espíritos agiam em relação ao Chico?
— É grave, mas é real. Nós, os
espíritas, Inácio, necessitamos de retomar a vivência dos postulados que
abraçamos: Menos vaidade, menos disputas, menos ambição...
— ...menos mediunidade...
— ...e mais caridade!
— Tornou-se uma virtude piegas... Os
espíritas se intelectualizaram muito: falam diversos idiomas, desfrutam de
certo status social, viajam com
freqüência ao Exterior... (43)
O ataque aos espíritas é uma constante em suas obras. É interessante notar-se que quem fala
em menos mediunidade tem escrito quase dois livros por ano, além daqueles que o
seu médium psicografou de outros Espíritos, numa verdadeira corrida editorial,
sem precedentes.
Quanto à caridade, entendemos que denota falta dessa
virtude aquele que lança acusações anônimas. Será “pecado” aprender outras
línguas? Será erro viajar para o Exterior, levando a mensagem espírita? Dupla
condenação que receberia, do Dr. Inácio, o Apóstolo dos Gentios, cuja missão
foi a de propagar o Evangelho fora dos arraiais judaicos, para o que
necessitava do conhecimento de outros idiomas...
Os médiuns brasileiros que têm viajado para o Exterior
são bem conhecidos no meio espírita. Conquistaram o respeito geral pela sua
fidelidade aos postulados doutrinários, pela sobriedade de suas obras, e pela
nobreza da linguagem em que são redigidas. Alem do mais, impõem-se ao respeito
também da sociedade não-espírita pelo seu inquestionável exercício da caridade.
— O Espiritismo
vem enfrentando uma dificuldade para a qual os nossos companheiros ainda não
atinaram.
— Qual seria, Odilon?
— A de fazer novos adeptos.
— É um péssimo sinal...
(43 – 44)
É estranho que o Dr. Inácio, tão informado a respeito da
repercussão de suas obras aqui na Terra, não saiba que o Espiritismo está
conquistando adeptos em número até preocupante. É só ver as reuniões públicas.
Entretanto, os verdadeiros espíritas nunca se preocupam com o proselitismo...
— Interessante,
Odilon: Chico Xavier desencarnou ainda há pouco, cumpriu 75 anos de legítimo
mandato mediúnico, e – não sei se estou exagerando – percebo já um certo
esquecimento de sua obra, que, principalmente para a nova geração, é inédita...
Há um trabalho das trevas nesse sentido?
O Benfeitor, após ligeira pausa no
diálogo que encetáramos, considerou:
— Até onde sei, Inácio, posso
confirmar, elucidou o companheiro, procurando ser cauteloso.
— Quer dizer...
— ... que faz parte de um plano das
trevas sufocar a qualidade pela quantidade. (45 – 46)
É interessante notar que o próprio Dr. Inácio publicou
dez obras em seis anos... Será que a qualidade
das obras do Chico não estará sofrendo concorrência com a quantidade das do Dr.
Inácio? Isso sem contar as obras de
outros autores, pelo mesmo médium, que há pouco festejava o lançamento do seu
100º livro. Entretanto, essa tentativa de sufocar a verdadeira literatura
espírita não é privativa nem desse médium, nem desse Espírito...
— Não duvide,
Inácio. Ao que estou informado, os espíritos interessados na estagnação das
idéias espíritas montaram uma espécie de central do livro...
— Central do livro?... — perguntei,
quase sem acreditar.
— Sim.
— Central do livro espírita? ... —
insisti.
— Do livro mais ou menos espírita,
que difunde, nas entrelinhas, teorias contraditórias. (48)
Será um mea culpa?
É impressionante que, depois de se referirem a Chico Xavier, tenham coragem de
continuar escrevendo isso que chamam de livro espírita. É fazer pouco da
lucidez dos espíritas.
— Talvez, meu filho — ponderou
Odilon —, você e o espírito que escreve por seu intermédio ainda estejam
naquela fase de estabelecer entre ambos uma melhor sintonia...
(54)
O diálogo acima teria ocorrido no Plano Espiritual, e
esse que conversa com o Dr. Odilon seria o “médium” de um outro espírito, que
se diz ser um antigo habitante da Atlântida...
Ultimamente, falanges de monges
beneditinos desencarnados estavam, e estão, se movimentando para estabelecer
confusão no Movimento; muitos deles fazendo-se passar por espíritos
comprometidos com a Doutrina, dominam médiuns – alguns, inclusive, de renome –,
mudam de identidade e, escrevendo ou falando, têm procurado estender sua
negativa influência, de maneira sutil, com o propósito de desfigurar o Ideal
que abraçamos. (60)
Esse trecho parece um auto-retrato. Quais seriam os
médiuns de renome aqui referidos?
(...) mas o Movimento, que se
elitiza e – pasmem – conta com medianeiros
oficiais, quais modernos hierofantes que se entronizam e estimam ser
incensados está já comprometido e exige rápida revisão, sob pena de se
esfacelar de maneira irremediável. (62)
Por que o Dr. Inácio não fala claramente ao invés de
ficar lançando acusações e provocações, próprias de Espíritos interessados em
disseminar confusão? Quem se propõe a escrever um livro – seja encarnado ou
desencarnado – deve ter a coragem de dizer diretamente as coisas e não se
esconder atrás de afirmativas falsamente fraternas, que soam como cartas anônimas.
Que os nossos
irmãos, pois, permaneçam atentos e não se deixem ludibriar; não há sobre a Terra,
na atualidade, um único médium encarnado com suficiente autoridade para
penetrar nos enigmas pertinentes às anteriores experiências reencarnatórias de
quem quer que seja. O que revelam, nesse sentido, não passa de mera suposição
ou invencionice. (62)
O responsável pelas revelações de qualquer natureza é o
Espírito, e não o médium, que é mero instrumento... Entretanto, por esse mesmo
médium que o serve, na obra “Na Próxima Dimensão”, o Dr. Inácio afirmou que
André Luiz foi Carlos Chagas e que Francisco Cândido Xavier foi Allan Kardec...
Entrementes, diante de nós, Osório
deu início a estranho processo de transfiguração. Recomendando-me calma, Odilon
permaneceu em expectativa, como se já soubesse o que estava para acontecer.
O jovem médium, inclusive do ponto
de vista físico, se transformara quase por completo: parecera ganhar altura e
perder peso, como se outra pessoa se lhe sobrepusesse à imagem; os seus olhos
se mostraram mais penetrantes e a própria cor da pele se alterara...
Com voz um tanto soturna, a entidade
que se lhe assenhoreara das faculdades indagou-nos enigmática:
— O que querem de mim? Por que me
evocaram a presença?
— Quem é você, meu irmão? – tomou
Odilon a iniciativa do diálogo, enquanto eu procurava emocionalmente me
recompor.
— Lêmur. O meu nome é Lêmur –
respondeu com certa altivez.
— Em que lugar você vive atualmente?
— Numa dimensão desconhecida por
vocês...
— Por que não podemos vê-lo?
(67 – 68)
Uma comunicação mediúnica no Mundo Espiritual, com
transfiguração do médium, levada a efeito por um Espírito habitante de uma
região da Lemúria, que teria sido recriada pelo grupo de Espíritos a que
pertencia. Estranhamente, essa comunicação causou perturbação no Dr. Inácio,
que já dialogara – segundo o livro “Sob as Cinzas do Tempo” – com o Espírito
Torquemada. Será que tinha mais equilíbrio quando encarnado?
Além do mais, por que não podiam ver o Espírito? Tratava-se de Espírito inferior, que já
estivera reencarnado à força, e fora monge beneditino, mas não aceitava Jesus.
Como um Espírito assim poderia furtar-se à visão de dois trabalhadores do Bem?
Eu nunca entendi
muito essa história de “ego” e “eu”... Em mim, coexistem dois Inácios? Se um só
já é demais...
— O “eu’, Inácio, é a nossa
consciência: é o ouro que se destaca da ganga, a pérola que se liberta da
concha, o lírio que desabrocha no pântano; o “eu” é tudo o que restará de
nós...
— É o “eu” que argumenta com o
“ego”? O que seria o “ego”?...
— O “ego” é a imperfeição... O “eu”
contraria o ego”, e o “ego” contraria o “eu”...
— Não dá para os dois entrarem num
acordo?...
— Os interesses são diferentes.
— Meu Deus, quanta complicação!...
Como saber quando estou agindo através do eu” ou através do “ego”?
— O “eu” é amor, o “ego” é paixão; o
“eu” é altruísmo, o “ego” é egoísmo; o “eu” é renúncia, o “ego” é desejo...
(84)
Aqui vemos um fato realmente digno de nota: um psiquiatra
que não conhece nada de Psicanálise, recebendo informações de um dentista
desencarnado...
— E a questão do animismo?
— Animismo é mediunidade.
— E a mistificação?
— É mediunidade também.
— Tudo, então, é mediunidade?
— É mediunidade onde prevalece o
“ego” ou o “eu”, um se sobrepondo ao outro. (86)
Um médico psiquiatra, diretor de um sanatório espírita
por 50 anos, depois de desencarnado se esquece de tudo, até mesmo do que é
mediunidade?
Será que é para testar a argúcia dos espíritas, para
zombar deles, ou para produzir livros que, pela quantidade, tentem se sobrepor
à obra de Chico Xavier, como foi dito?
— O espírita,
equivocadamente, acredita que vai chegar iluminado às regiões do Além, guindado
à condição de Espírito Superior. (107)
Sempre, o ataque generalizado aos espíritas... Afirmativa
vazia, provocadora, própria de Espíritos mistificadores.
— (...) Agora, que me dá uma vontade
tremenda de falar – de falar às claras sobre os interesses que, na atualidade,
imperam no Movimento Espírita, inclusive “dando nome aos bois” –, isso me dá!
— É melhor não, Inácio.
— Eu sei, mas que a minha língua
coça, coça; e não sei mesmo – digamos – se, mais tarde, não venha a ser este o
meu “canto do cisne”... A gente fica, vai ficando cansado de tanta hipocrisia; aquilo que na Terra eu tinha –
desativado depois dos 80, mas tinha – e continuo a ter por aqui, já
estourou.... (108)
Novamente, a mesma cantilena contra os espíritas,
finalizando com uma metáfora digna da mesa de um bar.
— Estou aqui por
indicação de amigos; sei que o senhor é espírita, mas não venho procurá-lo por
isto... (109)
Um Espírito que “marcou consulta” por indicação de
amigos... Não é esse o Mundo Espiritual descrito por André Luiz e por outros
Benfeitores. Parece mais uma consulta médica, marcada como na Terra, ainda mais
com uma identificação de religiões jamais vista em obra alguma, a não ser nas
do Dr. Inácio.
Deixando-me aos cuidados de Paulino, que me
apoiava a cabeça, Odilon partiu a pedra que era oca por dentro (sic) e represava em seu interior pequena
quantidade de linfa cristalina, que ele tratou rapidamente de magnetizar e
servir-me aos goles. (192)
O Dr. Inácio estava passando mal porque havia comido um
pedaço de churrasco de porco espinho, oferecido por uns Espíritos habitantes do
Umbral. E, para socorrê-lo, o Dr. Odilon teria quebrado uma pedra que continha
água no seu interior...
— Preciso ir ao
sanitário – disse-lhes, tentando me colocar de pé.
— Sanitário, aqui?!... – reagiu,
Paulino, tão surpreso quanto eu.
— Por favor – solicitei, afrouxando
a calça –, afastem-se...
E, ali mesmo, sem qualquer
escrúpulo, improvisei uma latrina. (192)
O que dizer desse exemplo de literatura “realista”, de
péssimo gosto? O que pensarão do Espiritismo aqueles que dele tomam
conhecimento através de uma obra dessas? E esse Espírito toma ares de
“revelador” de novas verdades...
Assim que entramos, esgueirando,
inicialmente, por estreitos e lúgubres corredores, tive a nítida impressão de
que recuara no tempo: cruzes e tochas embebidas em resina, que penumbravam o
ambiente, psiquicamente me retinham à época da chamada Idade das Trevas, quando
o próprio Sol parecia brilhar de modo mortiço no firmamento.
Evitando provocar o menor ruído,
começamos a escutar um rumor de vozes que aumentava, à medida que avançávamos.
(208)
Na obra“Libertação” (cap. IV, pág 62), o Benfeitor Gúbio
conduz André Luiz e Elói à “Cidade Estranha”, um local bem semelhante a esse
relatado na obra em estudo. André Luiz informa que tiveram de preparar-se durante
algum tempo, adensando seus perispíritos, a fim de serem vistos e poderem
interagir com os Espíritos que lá habitavam. Por que o Dr. Inácio e seus
companheiros de jornada precisariam se esconder, se a sua faixa vibratória era
superior à dos Espíritos que habitavam aquela caverna? Por que, na descrição, o
Dr. Inácio, em vez de fazer “gracinhas”, não dá ao leitor esses detalhes
preciosos? Será que se tivesse existido realmente essa excursão – ele que é tão
prolixo – não as detalharia para esclarecimento do leitor? É interessante se
observe o volume de informações contidas na obra de André Luiz, em que ele não
se detém a relatar pormenores escabrosos, limitando-se a mostrar – de negativo
– apenas o essencial necessário à transmissão de informações e ensinamentos
novos. A obra do Dr. Inácio prima por ressaltar aberrações, tanto no
comportamento, quanto nas formas das criaturas.
— Todavia, Odilon,
sejamos francos, é raro que nos deparemos com um espírita tendo semelhante
grandeza de alma... Na atualidade (reafirmo o que tenho dito nas páginas que
tenho tido oportunidade de escrever, transformando-as em livros), é o império
da desunião, da disputa velada, dos conflitos de opinião, de escusos interesses
em jogo... Muita gente interpreta que eu esteja a criticar o Movimento, com o
intuito de demoli-lo, ou a censurar os confrades, com o intuito de
desestimulá-los; a intenção que me move é completamente diferente, e lamento os
que me julgam interpretando as minhas palavras e colocações de maneira literal...
(216)
Sempre atacando os espíritas. Como
essa atitude tem sido criticada em análises de suas obras, o Dr. Inácio nega
que tenha procurado denegrir o Movimento, mostrando que, embora desencarnado,
sofre de amnésia, conforme se constata no trecho abaixo, do livro “Fala, Dr.
Inácio!”:
–
O senhor está fazendo graça, não é?
–
Estou provocando... (172)
–
Provocando a quem?
–
Os espíritas ortodoxos. Adoro fazer isto... (172)
–
Para quê?
–
Para que eles saibam que não podem me calar, que não são os donos do Movimento
e nem tampouco os espíritos missionários que se supõem; são, na verdade, um
bando de ingênuos... Tenho dito, me segurando para não dizer mais. (172)
E, na obra “A Escada de Jacó”, volta
à carga:
— O personalismo
campeia entre médiuns e dirigentes...
—
Necessitamos de rever a proposta de Unificação; o homem ainda não sabe ocupar
qualquer condição de liderança, sem que o cargo lhe suba à cabeça. (42)
Será
uma interpretação literal, ou um ataque real? Qual outra interpretação que se
poderia dar?
Aquela cobra que,
sem dúvida, seria capaz de nos devorar em um só bote, estrangulando-nos,
primeiro, entre as suas imensas mandíbulas, ergueu mais a cabeça, enquanto
Odilon, que a olhava fixamente nos olhos, se aproximava, cauteloso.
O meu instinto de defesa, confesso,
fez com que eu vasculhasse o terreno a ver se encontrava uma pedra ou um
porrete qualquer, caso houvesse necessidade de lutar pela sobrevivência... Eu
não estava disposto a morrer daquele
jeito, nem que fosse para morrer para cima,
quanto mais para baixo, que, com certeza,
era o que me aconteceria em tais circunstâncias.
(265)
Que preparo espiritual tinha o Dr. Inácio para dirigir-se
a zonas inferiores, pensando em defender-se a pedradas ou porretadas... Além do
mais, como pensar em lutar com um animal que poderia abocanhar um homem? E o
que dizer do risco de morrer?
— Em meu primeiro
livro escrito depois de morto, “Sob
as Cinzas do Tempo”, eu me refiro diversas vezes ao meu antigo hábito de fumar;
pois bem: segundo soube, houve alguém que teve o capricho e a paciência de
contar o número de vezes que fiz menção ao tabaco, para chegar à conclusão de
que não sou um Espírito Superior... (217)
Aqui, o Dr. Inácio se esqueceu de que essa mesma queixa já fora feita pelo
seu médium, no livro “Fala, Dr. Inácio” (80): “— Outro chegou a contar o número
de vezes que, em “Sob as Cinzas do Tempo”, se refere ao cigarro...”
Em verdade, nunca se viu na
literatura mediúnica, até o advento das obras do Dr. Inácio, um Espírito usar
as páginas de seus livros para defender-se daquilo que chama de acusações dos
espíritas. Ele se preocupa e se insurge contra aqueles que, no uso da sua
liberdade de pensar, procuram seguir o sábio conselho de Erasto: “Melhor é
repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria
errônea.” (O Livro dos Médiuns, 230)
Ainda há muito o que comentar, mas para que não fique
excessivamente longa esta análise, finalizaremos apontando algumas das já
costumeiras acusações contra os espíritas:
—
Com raras exceções, não vejo mais o espírita interessado em
perdoar – em perdoar ao companheiro de fé!... Dentro de certos grupos
espíritas, é uma intriga só... (43)
— Na minha opinião, sim; vejamos que
os espíritas já estão tomando gosto pelo poder...
(139)
— O espírita, via
de regra, imagina que os seus privilégios começarão assim que botar a ponta do
nariz para fora do túmulo. (218)
— Essa história de ter sido médium
40, 50 anos, de ter feito inúmeras palestras, de ter escrito dezenas de livros
ou artigos em jornais e revistas, de nunca ter perdido a pose...
(219)
José Passini
Juiz de
Fora MG passinijose@yahoo.com.br
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