MINHAS PÁGINAS

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  • sexta-feira, 27 de novembro de 2015

    JESUS, ESPIRITISMO E AS OPERÁRIAS DIVINAS DO CRIADOR (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen

    A primeira das congregações cristãs surgiu na Galileia, e era composta principalmente de mulheres simples, do povo. Tais sustentáculos do Evangelho socorriam os mendigos, pedintes, coxos, aleijados. Na crise do Calvário, as mulheres galileias tiveram posição destacada ao pé da cruz. A “Casa do caminho” contou com a colaboração fundamental delas. Portanto, elas não foram simples coadjuvantes das passagens que marcaram os tempos apostólicos. Foram as testemunhas de momentos-chave daqueles tempos em que as mulheres eram tratadas como seres de “segunda classe”, porém o Cristo as tratava com respeito incondicional. 

    No primeiro prodígio público do Mestre , nas bodas de Caná, é descrita a pujante fé exercida por Maria de Nazaré ao instruir os servos a obedecerem ao seu Filho amado: “Fazei tudo quanto Ele vos disser”. [1] Logo, as talhas de água foram enchidas, e o Senhor transformou a água em vinho atendendo ao pedido de ajuda de Maria para servir aos convidados do casamento. 

    Junto à mulher de Samaria o Mestre comprova sua reverência a todas as mulheres, sem distinção de nacionalidade ou formação religiosa. Após marchar sob um sol causticante, o divino Carpinteiro parou para descansar e abater a sede. Iniciou uma conversa com aquela samaritana à beira do poço de Jacó e solicitou um pouco d’água. Gradualmente, ao longo da conversa, a samaritana assumiu um testemunho da divindade daquele homem, primeiro chamando-o “judeu”, depois de “Senhor”, então “profeta” e por fim de “Messias”. Ressalte-se que os judeus consideravam os samaritanos mais abomináveis do que quaisquer outros gentios e evitavam ter contato social com eles. Além do mais , nessa ocorrência, o Divino Rabi além de abandonar as tradições judaicas declarou pela primeira vez para a mulher que era o Cristo.[2]. 

    O excelso Galileu informou que tinha a “água viva” [3]e os que bebessem dela jamais teriam sede. Assombrada, a samaritana fez outras indagações. O príncipe da Paz , então , revelou a desventura dela e seu atual relacionamento “impuro”. Embora ela pudesse ter-se sentido envergonhada, percebeu, porém, que Jesus lhe falou com benignidade, porquanto respondeu, absorta: “Senhor, vejo que és profeta”.[4] Ela, então, deixando o pote de água foi até a cidade e anunciou: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?” [5] 

    Jesus sempre atento às mulheres conhecia os detalhes da vida delas. Além disso, Ele as respeitava independentemente da condição moral de cada uma. Tal como ocorreu noutro episódio com a mulher adúltera. Embora os escribas e fariseus persistissem em provocar Jesus e a humilhar a adúltera, o Mestre, por compaixão da mulher caída, lançou a sentença aos acusadores: Aquele que de entre vós estiver sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. [6]. Condenando-se a si mesmos, os acusadores, um a um, afastaram-se humilhados, deixando apenas a frágil mulher diante do Governador da Terra que perguntou-lhe: “Onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor!. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais” [7].

    Como observamos Jesus tratava as mulheres com compaixão e respeito, a despeito das suas histórias. Noutro episódio demonstrou empatia consolando a convertida de Magdala quando a encontrou em lágrimas no jardim do sepulcro. Narra o evangelista: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro” [8]. Ao ver que a pedra havia sido removida, Maria correu para procurar ajuda e para alertar os apóstolos de que o corpo de Jesus desaparecera. Ela encontrou Pedro e João, que correram ao sepulcro e somente encontraram as roupas de sepultamento. Então, os dois apóstolos partiram, deixando Maria sozinha no jardim da sepultura.

    Madalena estava chorando no jardim que ficava junto à catacumba: a ideia de não saber o que havia acontecido com o corpo do Crucificado pode tê-la deixado desolada. Embora o Mestre lhe tenha aparecido e falado com ela, a princípio ela não O reconheceu. Mas então “disse-lhe Jesus: Maria!” [9] neste instante algo fez com que ela soubesse que se tratava de Filho de Deus. O reconhecimento foi instantâneo. Seus olhos em lágrimas brilharam de alegria. Depois de testemunhar o Senhor “ressuscitado”, foi pedido a Maria que testificasse aos apóstolos que Ele estava vivo. 

    Madalena obedeceu. Embora os discípulos tenham se mostrado céticos a princípio [10], o testemunho da convertida de Magdala deve ter tido algum impacto. Mais tarde, os discípulos estavam reunidos para falar dos acontecimentos daquele dia, provavelmente ponderando o testemunho de Madalena , quando “chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco”. [11]

    Historicamente o patriarcalismo ancestral tem dominado a trajetória do Cristianismo. Os donos da Igreja entronizaram um Deus “Pai” e não Mãe, um Criador e não Criadora, exaltaram os 12 apóstolos e não as apóstolas, exaltaram o filho de Deus e não filha. 

    Mas sem sombra de dúvida que foram as mulheres que não só participaram, como protagonizaram boa parte dos momentos decisivos da Boa Nova. Recordemos Maria Salomé (esposa de Zebedeu), Maria [esposa de Cléofas], Maria (mãe de João Marcos), Maria e sua irmã Marta (irmãs de Lázaro) Lídia (mãe de Silas), Joana de Cusa, Loíde (avó de Timóteo) Eunice (mãe de Timóteo), Priscila (esposa de Áquila) Lídia (viúva digna e generosa) Suzana dentre outras que trabalharam nos “bastidores”. 

    Prosseguindo no tempo, vamos identificar a força das mulheres no protagonismo da Terceira Revelação. Foram elas, as irmãs Fox, Florence Cook, Amália Domingo y Soler, Elisabeth D'Espérance, Eusápia Paladino, Roger, Plainemaison que colaboraram intensamente para a propagação da imortalidade. Allan Kardec teve incondicional apoio moral de sua consorte Amélie Gabrielle Boudet, estudou as arrebatadoras mediunidades das irmãs Julie Baudin e Caroline Baudin, Ruth Celine Japhet, Aline Carlotti e Ermance Dufaux. 

    Para quem desconhece, saibamos que as irmãs Baudin psicografaram a quase totalidade das questões de O Livro dos Espíritos nas reuniões familiares dirigidas por seus pais e gerenciadas pelo mestre de Lyon. A senhorita Ruth Celine Japhet foi a medianeira responsável pela revisão completa do texto, incluindo adições do livro pioneiro do Paracleto. A jovem Aline Carlotti [12] era membro do grupo de médiuns através do qual Kardec referendou as questões mais espinhosas do Livro dos Espíritos, fazendo uso da Concordância dos Ensinos dos Espíritos.[13]

    Afinal, não poderíamos deixar de bancar uma justa homenagem às personagens espirituais (populares entre os brasileiros), a saber: Maria Dolores, Meimei, Auta de Souza, ministra Veneranda, Sheila, Maria João de Deus (mãe de Chico Xavier), Joana de Angelis, irmã Rosália, Maria Dolores, Ad

    quarta-feira, 25 de novembro de 2015

    DESAMPARO AFETIVO (Jorge Hessen)


    Jorge Hessen


    A 2ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça de Santa Catarina negou indenização por danos morais a uma filha que alegava “abandono afetivo” do pai. O tribunal entende que não se pode obrigar um pai a amar o filho com a ameaça de indenização. Segundo o desembargador Gilberto Gomes de Oliveira, relator do caso “o afeto não é algo que se possa cobrar, quer in natura ou em pecúnia, tampouco se pode obrigar alguém a tê-lo, pois não se pode exigir que pai ame filhos com ameaça de indenização”. [1]

    Em direção oposta, três anos atrás, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou um pai a indenizar em R$ 200 mil a filha por "abandono afetivo". A ministra Nancy Andrighi entendeu que é possível exigir indenização por dano moral decorrente de “abandono afetivo” pelos pais. Para ela “amar é faculdade, cuidar é dever", afirmou no acórdão, pois não há motivo para tratar os danos das relações familiares de forma diferente de outros danos civis.” [2]

    A ministra Andrighi ressaltou que nas relações familiares o dano moral pode envolver questões subjetivas, como afetividade, mágoa ou amor, tornando difícil a identificação dos elementos que tradicionalmente compõem o dano moral indenizável: dano, culpa do autor e nexo causal. Porém, entendeu que a paternidade traz vínculo objetivo, com previsões legais e constitucionais de obrigações mínimas. Concluindo que "aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição biológica e legal de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade das pessoas de gerarem ou adotarem filhos", argumentou a ministra. [3]

    Sob as vias dos contextos jurídicos, Samara Luiza Pereira Hessen[4], técnica judiciária do Tribunal de Justiça do DF , formanda em direito, explicou-me que “o dano moral possui dois aspectos: o primeiro é a condenação de alguém ao pagamento de danos morais para compensar algum sofrimento que adveio sobre a vítima. Sob este ponto de vista, e considerando que o pai biológico tivesse arcado com todas as obrigações legais, não haveria que se falar em sofrimento da vítima, consequentemente seria impossível a condenação de alguém por “abandono afetivo”. 

    Entretanto, conforme Samara Luiza, “existe a teoria do desestímulo (punitive damages), ou seja, o que se condena é a atitude do agente causador do dano. Assim, ter um filho e simplesmente pagar pensão alimentícia, sem cumprir com o dever de pai, causaria indenização por danos morais, além de coibir que outros tenham filhos e simplesmente paguem pensão alimentícia, sem a preocupação de formalizarem a família, de acompanharem o crescimento do filho”. 

    Sob quaisquer aspectos jurídico ou espírita, elevado é o preço que pagamos pelas lesões afetivas[5] que provocamos nos outros. Rodeando o tema, sem propor debatê-lo em profundidade em face do contexto jurídico sobre a eficácia ou não da indenização por danos morais por “abandono afetivo”, ressaltamos que os pais que não assumem seus filhos (bastardos ou não) comprometem drasticamente a composição psicológica dos rebentos. A consternação de experimentar a rejeição afetiva continuará até que o filho recusado consiga optar pelo indulto. 

    Em psicologia, o termo afetividade é utilizado para designar a suscetibilidade que o ser humano experimenta perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio. Nossa vida afetiva é composta de dois afetos básicos: o amor e o desamor. Esses dois elementos estão presentes em nossa vida psíquica e também estão juntos em nossas expressões, ações e pensamentos. A afetividade não se vive por estes meros sentimentos e sim pela prática, pela ação que vem oriunda do sentimento. Afeição é uma atitude, e não somente um sentimento. A relação de mãe e pai para com os filhos naturais é afeto automático. 

    Já as relações afetivas de amizade ou de amor, precisam ser cultivadas. Os vínculos afetuosos, na Terra, permitem-nos abeirar dos nossos afetos e desafetos do pretérito, que também renascem sob liames biológicos, em sujeição aos compromissos assumidos com as leis da vida. Desta forma, as ligações da consanguinidade nos possibilitam experiências em comum, nas quais podemos nos tornar instrumentos de aprendizado recíproco. 

    Sim! O convívio no corpo nos enseja o desenvolvimento da compreensão, da paciência, do perdão, da abnegação, valores que, gradualmente, nos educam o amor absoluto. Mas se não nos habituamos a renunciar, a abdicar mormente de nós mesmos, nos doarmos pelo próximo, despojar-nos de ambições, enfim, não esperar que a vida gire à nossa volta, sofreremos os reveses naturais de maneira inevitável. Em face disso, aos pais e filhos (bastardos ou não) sem cogitar de serem amados a qualquer preço, lhes é indispensável amar, especialmente àqueles que talvez não alcancem evidenciar o verdadeiro e desapaixonado amor em razão das circunstâncias talhadas pela vida.

    Referências:

    [3] Idem 
    [4] Filha do autor do texto (Jorge Hessen)

    [5] Afetividade, Afecção, do Latim afficere ad actio, onde o sujeito se fixa, onde o sujeito se liga.

    segunda-feira, 23 de novembro de 2015

    AS ARENGAS SOBRE O “DE MENOR” (Jorge Hessen)

    Jorge Hessen

    Foi altruística indubitavelmente a reação do carioca Deivid Domênico, carteiro, músico e autor do samba enredo 2016 da “estação primeira da Mangueira” que após ter o celular roubado por um menor infrator (na janela do ônibus), conseguiu detê-lo, protegendo-o de um possível linchamento. Acompanhou o delinquente “de menor” até a delegacia, prometendo visitá-lo no centro de reclusão para onde foi levado.

    Deivid é contra a redução da maioridade penal, e de forma um tanto burlesca disse que seguirá o “conselho” da Rachel Sheherazade[1], adotando “seu” bandido “apreendido”. Contudo, a opinião do carteiro sambista não reflete a tendência da sociedade brasileira, conforme consigna a última pesquisa nacional em torno do tema: segundo o instituto Datafolha, 87% dos brasileiros são favoráveis à redução.[2]

    Sei perfeitamente que é ingenuidade acreditar que a redução da maioridade para 16 anos resolverá o problema da criminalidade. O que o nosso país necessita é de ética, moralização, patriotismo e educação. A única educação que poderia reduzir a criminalidade é a educação moral, aquela dada em casa pelos pais, a educação formal das escolas apenas instrui e há “menores “criminosos (“infratores”) muito bem instruídos. a solução não deve ser tão simplista. Mas aos menores criminosos (“infratores”) deve haver punição, responsabilização e ressocialização. 

    Quanto aos “de menores” imersos nos desvãos da criminalidade é importante distinguir e separar: os violentos cruéis, que expressam real perigo para a sociedade, que deveriam ser ressocializados numa penitenciária, que por sua vez também precisa ser humanizada, pois que no Brasil encontra-se em estágio adiantadíssimo de decomposição moral. 

    Em relação aos delinquentes não violentos, a solução deve ser a reeducação imprescindível, em período integral e em regime de cerceamento da liberdade, pois, nenhuma sociedade moralmente sadia aceita milhões de crianças e “de menores” desamparados nas ruas. Lamentavelmente a Organização das Nações Unidas revelou que o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking dos países mais violentos. 

    Mas, falar sobre a educação no Brasil é miragem. Por estas plagas a irreflexão de educadores imaturos, não habilitados moralmente para os relevantes misteres de preparação das mentes e caracteres em formação, contribui com larga quota de responsabilidade no capítulo da delinquência juvenil, da agressividade e da violência vigentes na utópica “Pátria do Evangelho”.

    Sem subterfúgios inócuos , apesar de ser a opinião dominante entre os especialistas que transformar de 18 para 16 anos a maioridade penal não restringirá a violência e não conseguirá afastar o “ de menor” da criminalidade, urge reconhecer que é consenso, na maioria da população descrente do judiciário, que medidas urgentes precisam ser tomadas para garantir a redução da criminalidade, a fim de que não sejam massacrados, trucidados, assassinados por “de menores” (apiedados pela Lei) ou “de maiores” incorrigíveis, os seres de bem (crianças, jovens, adultos e velhos) nessa alucinada e interminável guerra urbana. 

    Referências:

    [1] “Conselho” lançado pela jornalista Raquel Sheherazade (SBT), depois que um grupo de bandidos de classe média, no Rio de Janeiro, chamados “Bairro do Flamengo”, prenderam, espancaram e amarraram em um poste um jovem “criminoso” ou “possível criminoso” (O Globo 5/2/14, p. 8). 

    [2]Diponível em http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151109_salasocial_adoteumbandido_rs acesso em 17/11/2015

    sábado, 14 de novembro de 2015

    Refugiados na Europa


    Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

    Em novembro, por ocasião de viagem a cidades suíças e a Viena, principalmente nesta última manifestamos interesse em conhecer a realidade dos refugiados de países do Oriente Médio que têm chegado à capital austríaca. Não há apenas sírios, mas também iraquianos e afegãos. 

    Como se sabe a Áustria é um dos roteiros dos refugiados, como rota de passagem ou para permanência. Soubemos que ali já aconteceram momentos críticos, quando algumas estações ficaram superlotadas, com o agravamento do fechamento de algumas fronteiras e a suspensão temporária de algumas rotas ferroviárias.

    Estivemos numa das estações vienenses, a Westbannhoff, onde ao lado funciona uma sede da Cáritas, que é uma grande instituição católica internacional. Ali, os refugiados são temporariamente albergados, recebem roupas e material de higiene pessoal e são encaminhados para postos de atendimento governamental onde freqüentam cursos de alemão e são orientados para ocupações de trabalho. Junto à Cáritas, atuam muitos voluntários, principalmente os que falam o árabe. Ali soubemos que há plantonistas brasileiros e conhecemos, em instituição espírita, pessoas que fazem campanhas em favor dos refugiados e também uma assistente social que lida com eles em trabalho junto a órgão assistencial governamental. 

    Claramente se percebe que os refugiados são egressos de várias condições sociais. Na Cáritas vimos pessoas de excelente aparência escolhendo roupas doadas. Nas cercanias e na própria estação vimos família sentada no chão e muitos jovens circulando com alguns poucos pertences. No conjunto, o cenário é triste e provoca muitas reflexões sobre as condições do mundo de nossos dias.

    O governo da Áustria tem oferecido condições de permanência para muitos refugiados. Todavia, em diálogos com amigos, verificamos que ocorrem posições diferentes no seio da população: os que apóiam e aqueles que tendem a uma reação discriminatória e contrária. Inclusive, alguns interlocutores se mostraram preocupados com eventuais acirramentos de posturas autóctones. 

    Em diálogos e após palestras nossas, inclusive na Suíça, fizeram-nos perguntas sobre a visão espírita a respeito da relação entre Europa e as populações que emigram do Oriente Médio e da África, em condições dramáticas. Evidentemente que os mecanismos reencarnatórios com base na lei de causa e efeito e o popular conceito da “lei do retorno”, esclarecem tais situações. Ao longo de milênios e até recentemente quantos equívocos se estabeleceram nas relações entre os países e os descendentes dos povos do entorno do Mar Mediterrâneo e da Europa em geral!

    O momento grave – tangenciando questões políticas, econômicas, sociais, religiosas e de segurança -, somente poderá ser amenizado, como comentaram nossos interlocutores, com ação coordenada da União Européia, e, entendemos que com amplo apoio dos vários segmentos da sociedade, mas pautados em princípios de respeito à diversidade, fraternidade e solidariedade. Como a essência dos ensinos do Cristo pode ser valiosa para o balisamento de ações realmente humanitárias!

    Como reflexão lembramos que o ex-doutor da Lei, o intimorato Paulo de Tarso, chegou a Roma como prisioneiro e sobrevivente de naufrágio durante a travessia do Mediterrâneo... (Atos, ). Nos seus escritos o apóstolo da gentilidade anotou sobre o esforço de sermos “embaixadores do Cristo” (2 Cor. 5:20), e este relatou a parábola do bom samaritano como balisamento para a “regra áurea”!


    (*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP; membro da Comissão Executiva do CEI e do Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier.

    Fonte:  http://grupochicoxavier.com.br/refugiados-na-europa/ 

    sexta-feira, 13 de novembro de 2015

    DIANTE DE UM FILHO, CUJO CORPO GÉLIDO JAZ DEITADO NO CAIXÃO (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen


    O que poderíamos explanar, evitando a redundância, perante o depoimento abaixo da escritora Graziela Gilioli [1]? Impossível não admirá-la, reverenciá-la. Num dos mais marcantes episódio de sua vida, ela declarou que durante os quase dois anos em que o seu filho caçula (à época com 14 anos) esteve internado no hospital com o diagnóstico de neurablastoma [2] aprendeu que o sofrimento pela “perda” de um filho é inevitável. Mas que se pode escolher de que jeito viver: nutrindo tristeza ou resignação construtiva. [3]

    Conquanto não se declare espírita demonstrou uma sabedoria espiritual e grandeza d’alma insólitas perante a desencarnação de seu filho. Gilioti escreveu que tinha dois filhos e há doze anos eles se separaram por uma escolha do destino. Seu filho mais velho (hoje com 28 anos), vive aqui na Terra [encarnado] e o filho caçula vive num outro mundo [desencarnado] que ela “desconhece”. Para Graziela, ante a própria percepção de eternidade, lá no “desconhecido” [além túmulo] não se contam os dias, por isso seu caçulinha permanece com 14 anos, para sempre. [4]

    Leiga (sob o ponto de vista espírita) Graziela descreve com excelsa clareza que somos tímidos em pensar na morte. Acreditamos que se não tocarmos nesse assunto teremos paz e conforto, e é essa ilusão que nos impede de compreender a vida em sua plenitude. Na sua lucidez garante que em nada nos ajuda vivermos como se a morte fosse um engano ou um azar ou uma injustiça que atinge apenas alguns desafortunados. Aceitar o próprio destino não é uma atitude passiva, é uma escolha, a chance de escolher como viver o que o destino nos oferece. Por que abrir mão disso? Professou.

    A escritora recomenda-nos buscarmos sermos felizes, por escolha. Para ela, o ser feliz é uma decisão difícil [mormente diante da morte de um filho], mas nos ajuda a conviver com as dores mais profundas que nos acompanham durante a vida toda. Diante de tantos prodígios que fazem nossa vida possível como não agradecer o que temos? É verdade! A gratidão pela vida não deveria ser um pequeno detalhe no meio dos afazeres do dia a dia e sim a coisa mais importante de tudo. Aprender a viver com serenidade para aceitar com naturalidade as coisas que facilitam ou dificultam nossa vida pode ser um bom começo para descobrirmos o que importa na vida. 

    Revelo que lendo na íntegra o testemunho de Graziela Gilioli (vide link nas referências abaixo), meus olhos estiveram submersos nas fartas lágrimas que insistentemente brotaram das glândulas lacrimais. Nesse “frisson” psicológico, minha garganta esmagou a respiração sob o impulso de uma consciência que sussurrava para mim mesmo, Jorge como agiria no momento do “adeus extremo” para um dos 5 filhos deitado no interior de um ataúde? 

    Obviamente a verdade espírita consola bastante nesses instantes cruciais, todavia, sei que a minha agonia terá o tamanho exato da dor daquele que neste exato instante está diante de um filho, cujo corpo gélido jaz deitado num caixão. Todavia, embora sob o guante da saudade, importa eleger viver com dignidade, alimentando resignação diante da inabalável certeza da imortalidade.

    Notas e referências bibliográficas:

    [1] Palestrante , escritora e fotógrafa premiada na 10ª Bienal Internacional de Arte de Roma.

    [2] um tipo de câncer que se desenvolve principalmente em crianças com menos de cinco anos de idade. Ele nasce a partir das células nervosas em várias partes do corpo, como pescoço, tórax, abdômen ou pélvis, mas é mais comum nos tecidos da glândula suprarrenal.

    [3] Disponível em http://projetodraft.com/a-morte-do-meu-filho-me-ensinou-que-a-gente-pode-escolher-de-que-jeito-queremos-viver-felizes-ou-tristes/ acessado em 11/11/2015


    [4] idem

    terça-feira, 10 de novembro de 2015

    EVITEMOS DA SÍNDROME DO “COITADINHO” (Jorge Hessen)



    Jorge Hessen

    O problema da pobreza é muito diverso e complexo. Talvez o ser pobre significa ter falta de segurança e estabilidade, portanto não é só uma questão de carência de dinheiro. O mundo atual tem alguns vencedores e muitos perdedores. Os pobres se encaixam na categoria dos perdedores, daqueles que não podem surfar na onda de mudança e que, de certa forma, são esmagados por ela.

    A palavra “pobre” deriva do latim pauper, radicado em paucus (pouco). No conceito original, “pobre” não era o deserdado, mas o terreno agrícola ou gado que não produzia o suficiente. Sob outro ponto de vista, entre alguns grupos, especificamente os religiosos, a pobreza é considerada como necessária e desejável, e deve ser aceita para alcançar um certo nível espiritual, moral ou intelectual.

    Nesse aspecto, o papa Francisco assevera que a Igreja deve articular com a verdade e também com o testemunho da pobreza. Não é possível que um fiel fale de pobreza e dos sem teto e leve uma vida de faraó. Na Igreja há alguns que, ao invés de servir, de pensar nos demais, se servem da Igreja. São os arrivistas, os apegados ao dinheiro. Quantos padres e bispos deste tipo já vimos? É triste dizer, não? Pronunciei o pontífice ao jornal holandês "Straatnieuws", de Utrecht.

    A pobreza é considerada como um elemento essencial de renúncia por budistas e jainistas enquanto que para o catolicismo romano, como vimos acima, é um princípio evangélico e é assumido como um voto por várias ordens religiosas e é entendida de várias formas. A ordem franciscana, por exemplo, abandona tradicionalmente todas as formas de posse de bens. Neste caso, a pobreza voluntária é normalmente entendida como um benefício para o indivíduo, uma forma de autodisciplina através do qual as pessoas se aproximam de Deus.

    O professor de psicologia Elliot Berkman, diretor do Laboratório de Neurociência Social e Afetiva da Universidade do Oregon/EUA, estuda como o cérebro é parte da armadilha da pobreza. As pessoas pobres frequentemente têm muita motivação para trabalhar duro e ter vários empregos porque colocam o foco na sobrevivência no momento presente ao invés do sucesso de longo prazo. Libertar as pessoas da preocupação da sobrevivência diária é a melhor forma de garantir que eles foquem no futuro. Afiança Berkman.

    Para o Espiritismo, a pobreza, tal como a riqueza, nada mais é que uma prova pela qual o Espírito necessita passar, tendo em vista um objetivo mais alto que é o seu progresso. Deus concede, pois, a uns a prova da riqueza, e a outros a da pobreza, para experimentá-los de modos diferentes. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação.

    Ao que nasce na pobreza é dado aprender o valor do trabalho árduo, resistir às tentações do ganho fácil, descobrir os valores reais do espírito, e não raro se vê entre os pobres as mais dignas demonstrações de solidariedade. Na pobreza aprendemos a nos compadecer dos males alheios fazendo-nos compreendê-los melhor.

    É evidente que a desigual repartição de bens materiais, culturais e políticos exclui um vasto número de pessoas deserdadas dos processos de participação e consente a coexistência em formas inumanas de sobrevivência e de insignificante protagonismo social. Por isso mesmo, diante dos deserdados, a nossa primeira e obrigatória ação deve ser a do auxílio.

    Mas primeiramente suavizemos o sofrimento dos pobres, abraçando-o fraternalmente, manifestando de tal modo o nosso sentimento de acolhida a fim de estabelecer o laço de confiança essencial e poder ajudá-los. Em seguida, nos informemos a respeito da situação transitória de seu sofrimento. Dessa forma, não cairemos nas armadilhas que consideram o pobre como “coitadinho’, não vendo nele as potencialidades de Espírito imortal e de indivíduo capaz de, com as devidas oportunidades, prover dignamente a própria existência.

    Aliás, a síndrome do “coitadinho” é uma das moléstias oportunistas mais comuns da sociedade atual, onde muitos deserdados têm medo de encarar a vida de frente e de cabeça erguida, sendo maduros e responsáveis. A principal característica de uma pessoa que sofre da síndrome do “coitadinho” é colocar-se como “vítima” das circunstâncias, e como tal passa a ideia de que a culpa de sua pobreza é dos outros. Aliás, os oportunistas das ideias do socialismo ATEU adoram fazer isso!

    Diante dos pobres, procuremos nos informar de suas lutas materiais e verifiquemos se a oferta de trabalho e de orientação espírita não será mais eficaz do que a aviltante doação da esmola em seu favor. Recordando aqui que a esmola dentro da lógica assistencialista é uma ação que atende a deficiência material sem o móvel educativo e que envilece a humanidade do sujeito, adestrando-o à condição da mendicância ou da dependência. Como tal, não atende ao projeto regenerador do Espiritismo para Humanidade.

    Não se pode esquecer que a Lei do Trabalho e do Progresso, promulgada em O Livro dos Espíritos, relata justamente a importância de o indivíduo romper com o acomodamento e ultrapassar os obstáculos existenciais, o que inclui buscar sair também da penúria material (pobreza) através de seu esforço.