Análise do livro
“Reencarnação no Mundo Espiritual”, psicografado por Carlos Antônio Baccelli.
O título do livro é
equivocado, porque o leitor fica na expectativa de receber uma informação séria,
embora o título já se contradiga. Reencarnar é retornar à carne, ou seja, ao
corpo físico, o que não é viável no Mundo Espiritual. A obra consta de uma
sucessão de relatos pueris, num tom de conversa superficial, muito distante do
que se espera ler num livro espírita. Reconhecemos o direito que qualquer
pessoa tem de escrever um livro. Mas, valer-se do nome da Doutrina Espírita e
encher páginas e mais páginas com comentários descompromissados com o tom
edificante, educativo, sério que caracteriza as obras espíritas, isso atinge as
raias do oportunismo.
É tanta a diferença que
há entre esse Espírito e o respeitável Dr. Inácio Ferreira, que temos escrúpulo
em citá-lo pelo nome usurpado, por isso, colocamo-lo entre aspas. É bom que se
diga que nessa obra já não se vê mais aquele “Dr. Inácio” agressivo,
fanfarrônico, que alardeou, em várias obras, seu vício de fumar, suas crises de
depressão, de mau humor, embora ainda conserve algumas expressões de mau gosto,
de uso incompatível com o ambiente dos Benfeitores espirituais com os quais ele
declara conviver em outras obras.
As citações são feitas
em itálico-negrito.
Um traço que permanece
é o ataque sistemático, generalizado, doentio, aos espíritas:
No fundo o espírita
ainda permanece na expectativa de uma ascese fácil, sem nenhum esforço de
renovação íntima! Aguarda ser admitido em uma cidade-modelo como “Nosso Lar” e,
se possível, logo se transferir para dimensões mais altas, sem mais necessidade
de reencarnar. O espírita, pela sua única condição de espírita, espera por
favorecimentos da Lei. Prega uma coisa para os outros e, para si mesmo,
permanece na expectativa de outra.
(76)
Mas “Dr. Inácio”, de
vez em quando, não resiste ao emprego de expressões chulas e de mau gosto:
– É uma honra, Doutor, é uma alegria
trabalhar ao seu lado!
– Não puxe, não, hem?, que arrebenta... (130)
Sempre diálogos que
mais se parecem conversas de mesa de bar. Eis seu comentário a respeito da sua
própria desencarnação, na condição de idoso:
– A situação, às vezes, é vexaminosa... A
gente se descompõe, não é?
– E tem que rezar muito, Longino, para não fazer
besteira...
– Eu sei: dizer palavrão, tirar a roupa...
– Para mostrar o quê? Se bem que, agora, com o Viagra, a
gente reage...
O meu interlocutor
gargalhou.
– Impagável, Doutor! Veja se esta é conversa de dois
espíritas, no Além?!
– De dois espíritas normais, é! (134)
Ele acha que ser normal
é expressar-se dessa forma:
– Desculpem-me – disse
eu –, mas, graças a Deus, os nossos intestinos se encarregavam de não nos
deixarem esquecer a nossa condição humana...
(306)
Falando de suas visitas
à Terra, não perde oportunidade de vangloriar-se, com arroubos de adolescente
tolo:
–
De quando em quando, faço questão de visitar a Terra, apenas para ver como
estão aqueles que, quando eu tinha 80, estavam com os seus 30, 40 de idade...
Se não se cuidarem, não chegarão à minha marca, com os cigarros que fumei a
vida inteira! Alguns estão irreconhecíveis, com as rugas que têm no rosto
contando das lutas que enfrentam na vida. Coitados! E eu, neste Outro Lado,
remoçado e forte, simpático como sempre fui, tendo de me esconder do assédio da
mulherada... (141)
E segue no ataque
sistemático e generalizado aos espíritas:
– Ora, o espírita, de maneira geral, lê meia
dúzia de livros e passa a considerar-se o tal... O que é isso Doutor?
(143)
O “Dr. Inácio” diz
estar recebendo cartas, no Mundo Espiritual, até de encarnados...
A correspondência sobre uma de minhas mesas
se acumulava. Missivistas da Terra e do Além me escreviam, expondo suas dúvidas
sobre os mais variados assuntos: perguntas sobre temas da Doutrina, questões
pessoais, indagações sobre mediunidade, pedidos de intercessão em favor de um
ente querido desencarnado, palavras de estímulo e coragem ao trabalho que
estamos desenvolvendo... (148)
Eis alguns trechos de
uma carta recebida, transcrita pelo “Dr. Inácio”:
“Dr. Inácio – dizia-me ela –, sou assídua
leitora de seus livros mediúnicos e, em nome do enorme bem que o senhor tem
feito a mim e a centenas e centenas de outros, mas principalmente à Doutrina e
ao nosso Movimento, venho lhe pedir para que não esmoreça em trabalho tão
importante como este. Eu não sou ninguém, mas ouso lhe dirigir a palavra,
porque não ignoro as críticas infundadas, algumas até maledicentes, de que o
senhor e o médium têm sido vítimas. Tenho ficado horrorizada com o que ouço da
boca de alguns espíritas, ou, pelo menos, dos que se dizem ser. Acredite que
possuo fortes razões para crer que os seus livros mediúnicos estejam, nos
bastidores do nosso Movimento, que, de fato, precisa ser passado a limpo,
enquanto é tempo, sendo perseguidos e censurados, porque contrariam interesses
escusos de supostas lideranças, mormente dos que se encontram à frente das Federações,
salvo uma ou outra, mais independente na maneira de pensar e de agir. (...) O
pior, Doutor, é que estou sabendo que existem médiuns de renome fomentando tal
estado de coisas, inadmissível em uma Doutrina como a nossa, que prima, como o
senhor próprio tem dito, pela liberdade de expressão. (...) Não posso concordar
é com o modo sórdido desses confrades, que, lendo as suas obras estão sendo
induzidos a um confronto com a própria consciência e se rebelam, muitos deles,
talvez, por estarem sendo desmascarados em suas intenções.” (148/149)
A “carta” é longa, e
continua com cumprimentos, palavras de encorajamento, de louvor ao “Dr.
Inácio”. A referência a André Luiz nem merece comentário:
“Dias atrás,
conversando com um amigo que é um homem muito culto e inteligente, ele me fez a
seguinte observação, em relação às suas obras:
‘– Os livros do Dr.
Inácio têm me feito redescobrir André Luiz’... Veja, Doutor, que beleza! Não
vale a pena? Que o pessoal que tem as mãos desocupadas no bem continue atirando
pedras... Elas não o atingirão e, creio, nem mesmo ao médium.”
(150/151)
É claro que, se o
“Correio do Além” levou a carta ao “Dr. Inácio”, deve ser portador da respectiva
resposta:
– Querida irmã L. G. D.
S.. O senhor nos abençoe!
“Faço votos para que
esta carta ainda possa encontrá-la na Terra, desfrutando de saúde e paz. (...)
mas também para mostrar que ninguém pode querer nos intimidar no testemunho da
fé, como se ainda estivéssemos na Idade Média, quando essa gente, hoje
travestida de espírita, vivia de archote nas mãos acendendo as fogueiras da Inquisição...
(...) Por vezes, diante
da fúria de nossos opositores, que não economizam palavras na ofensa, tenho a
impressão de que cometi um crime... (151/152)
Prosseguindo, diz que
em conversa com amigos no Mundo Espiritual busca atinar com a causa da rejeição
de seus livros:
(...) Confesso-lhe que
ainda não chegamos a um consenso: uns acham com grande probabilidade de razão,
que é porque defendo abertamente a reencarnação de Allan Kardec em Chico Xavier ; outros
são de opinião que é porque efetuei referências à realidade da gravidez no
Plano Espiritual, contrariando a turma que supõe alcançar a Perfeição de um
átimo, após o desenlace do corpo. (Quanta ingenuidade, meu Deus!); alguns dizem
que é porque tenho me servido de um certo estilo irônico ou irreverente, nas
advertências que dirijo aos irmãos de ideal, mormente se ocupam cargos de liderança...
(152/153)
Ele chama de
advertência aquilo que é ataque e tentativa de ridicularização que ele, em
todos os seus livros, lança sobre dirigentes espíritas. E continua sua longa missiva:
Agora, querida L..., vamos à parte talvez
mais doída e, por sinal, de minha preferência: a de que a linguagem dos meus
livros é chula, rasteira demais... Ora, se vocês dispusessem de ouvidos para
ouvir o que os espíritas mais moralistas pensam, com as exceções de praxe, é
óbvio! Os ‘monstros’ que são gerados pela mente dos que vivem pregando na
tribuna, escrevendo e... até orando em público! Devaneios mórbidos! Há gente
que, quando percebe, até crime já cometeu, mentalmente... (155)
A “carta” é longa,
cheia de acusações doentias como as acima. Mas, vamos ao seu encerramento:
“Com meu fraternal
abraço, peço-lhe que redobre as orações em meu favor, para que eu não me deixe
contaminar pela ‘febre de vaidade e personalismo’ que tem mandado muita gente
promissora para os sanatórios da Terra e do Além.” (156)
Respondendo outra
“carta”, desta vez a um irmão, também encarnado, Joaquim, dá-lhe conselhos de
como lidar com médiuns que ameaçam deixar a Doutrina, diante de exigência do
dirigente. É de se notar a grosseria da linguagem.
Por qualquer
contratempo que lhe aconteça, tem espírita que nos faz ameaças, mostrando-se
disposto a largar a Doutrina! – ‘Eu deixo o Espiritismo...’ – fala, em tom
quase solene. – ‘Onde é que estão os espíritos que não me auxiliam?...’ Ora,
para estragar esta carta na qual, até agora, eu me mostrava tão bem comportado,
responderei: Quer largar, que largue e vá para o raio que o parta! Mas não
fique nos fazendo ameaças, não, lançando sua indignação aos céus!... Estou
certo ou errado, Joaquim? Não é mesmo um desaforo?! – ‘Ah! – diz –, eu vou
deixar o Espiritismo e virar evangélico...’ Pois que vire, que vire até lobishomem,
caso lhe aprouver. (164)
Só agora, já no meio do
livro, depois de ter ficado até aqui enchendo páginas com assuntos pueris, o
“Dr. Inácio” toma ares de orientador de Espíritos que psicografam na Terra. Nesse
sentido, dialoga com Manoel, auxiliar seu, sobre uma palestra que fará aos
alunos do “Liceu”, que aguardam esclarecimentos:
– Querem solicitar do senhor alguns
esclarecimentos.
– Sobre qual tema?
– A questão da gravidez no Mundo Espiritual
– Gente, uma coisa tão simples de se entender!
– É que eles estão encontrando barreiras para abordar o
assunto através de outros médiuns.
– É natural, quem quer ser criticado? Estamos apenas no
começo do Espiritismo na Terra; muita coisa ainda há de ser causa de maiores
polêmicas... Sinceramente, Manoel, eu não sei a idéia exata que os próprios
espíritas fazem do Mundo Espiritual! Vamos lá! – disse. – Farei o que puder.
– Se eu ainda estivesse no corpo, Doutor, também
vacilaria... A gravidez no Mundo Espiritual representa uma revolução no
pensamento espírita! Mexe com a cabeça
de muita gente...
– É porque o que sabemos sobre Reencarnação, até mesmo na
Terra, que dirá o Universo, é muito pouco!
(176)
A seguir, o “Dr.
Inácio” começa sua preleção aos estagiários do “Liceu”:
Vocês vêm se deparando com dificuldades, no
que tange a maior esclarecimento sobre a Reencarnação no Plano Espiritual... Os
espíritas, com exceções, vêm relutando em considerar a tese que defendemos
abertamente e que, para nós, é prática insofismável, ou seja, natural, tão
natural quanto à necessidade do espírito tomar um novo corpo na Terra, seguindo
em sua ininterrupta trajetória rumo às cumeadas da Evolução. (177/178)
Se a reencarnação no
Mundo Espiritual fosse um fato, como é que o “Dr. Inácio” dela não tinha
conhecimento, conforme o seu livro “Fundação Emmanuel” (págs. 97/100), publicado
em 2006? Note-se que ele já estava desencarnado há 18 anos e já se dizia
diretor de um hospital há seis, pelo menos, pois ele declara-se nessa função em
seu livro, de 2002, “Na Próxima Dimensão” (pág. 13)
Além do mais, se fosse
verdade essa reencarnação no Mundo Espiritual, por que o “Dr. Inácio” a estaria
expondo, no “Liceu”, em 2008, como novidade a um grupo de estagiários? Será que
esses Espíritos, convivendo nessa colônia, nunca tinham visto uma mulher
“grávida”, como aquela que causou espanto ao “Dr. Inácio”, conforme citado
acima?
Em toda a obra de André
Luiz não há a mais leve referência ao assunto. Em “Nosso Lar” (cap. 9), André
Luiz fala que essa colônia recebeu, em determinada época, cerca de duzentos
instrutores vindos de esferas mais altas para dar instruções sobre alimentação.
André Luiz diz que foram trinta anos de trabalho de convencimento. Embora
tenham vindo de esfera mais alta, não houve necessidade de “reencarnação”,
conforme tese do “Dr. Inácio”.
Na obra “Fundação
Emmanuel”, “Dr. Inácio”, depois de se surpreender com a gravidez de uma jovem,
descreve o seu parto. A parturiente tem um sensor no braço, a fim de verificar-lhe
o nível de glicose, oscilação de temperatura, pressão sanguínea, presença de
microorganismos patogênicos e até a iminência de um colapso cardíaco... (pág.
226). Se houvesse um colapso cardíaco, a parturiente “desencarnaria”? Se de
fato houvesse encarnação, deveria haver desencarnação, mormente nas regiões
inferiores onde há muita violência entre Espíritos.
Veja-se que esse
Espírito apresenta, às vezes, citações verdadeiras, mas que não têm relação alguma
com a pretendida “reencarnação no Mundo Espiritual”. Cita, em negrito: Com
essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, como ele, lançara Jesus
à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens. (180)
Sim, é verdade, mas
isso se deu no plano físico. Depois, cita a civilização chinesa, sem conexão
alguma com a pretendida reencarnação no Mundo Espiritual. Sempre um discurso
palavroso, com comentários chistosos com os quais pretende atrair a atenção dos
incautos, ao tempo que se coloca como arauto de “verdades novas”.
André Luiz, em
“Evolução em Dois Mundos ”
(1ª Parte, final do cap. II), assim se expressa, a respeito do perispírito:
“Esse corpo que evolve e se aprimora nas experiências de ação e reação, no
plano terrestre e nas regiões espirituais que lhe são fronteiriças, (...) pode
desgastar-se, na esfera imediata à esfera física, para nela se refazer,
através do renascimento, segundo o molde mental preexistente, ou ainda,
restringir-se a fim de reconstruir-se de novo no vaso uterino, para recapitulação
dos ensinamentos e experiências de que se mostre necessitado, de acordo com as
falhas da consciência perante a Lei.” (grifei)
Note-se que André Luiz
fala da recomposição do perispírito numa nova encarnação, e encarnação é na
carne, na esfera física.
É de se notar, ainda,
que André Luiz descreve com minúcias a vida no Mundo Espiritual, em toda a sua
obra, que tem características de legítimo desdobramento da Terceira Revelação.
Observe-se a seriedade com que desenvolve o seu trabalho, a linguagem nobre e
cuidadosa em que se expressa. E não poderia ser de outra forma, pois as
revelações que nos vêm da Vida Maior são sempre trazidas por Espíritos
evangelizados, sérios, equilibrados. No caso de André Luiz, veja-se o que dele
disse o Diretor Espiritual da obra de Chico: “(...) André Luiz frequentou-nos a
tarefa durante setecentos dias consecutivos, afinando-se com a
instrumentalidade. Além disso, o esforço dele é impessoal e reflete a cooperação
indireta de benfeitores nossos que respiram em esferas mais altas.” (“Voltei”,
pág. 22) Por aí pode-se avaliar como as Altas Esferas Espirituais preparam
Espírito e médium para revelações verdadeiras.
Por que o Alto agora
daria o nobre encargo de fazer novas revelações à Humanidade a um Espírito desequilibrado,
desrespeitoso, que tem arroubos de valentia, que faz concessões ao aborto
(“Fala, Dr. Inácio!”, págs. 130/131), que se interessa por mexericos que teriam
sido publicados, segundo ele, num jornal, chamado “Resenha”, um periódico circulante
no Mundo Espiritual, conforme descrito na obra de sua autoria, “Fundação
Emmanuel” (pág. 135)? Além do mais, segundo ele próprio relata no livro, lendo
o referido jornal, diante de críticas que lhe estariam sendo feitas na Terra,
reagiu, dando uma banana aos espíritas, com gesto e tudo...
A abordagem que se
segue é de mau gosto, não condiz com a ética espírita, e além do mais, está
inserida nesse livro, que é anunciado como portador de “verdades novas”:
– Os evangélicos o extorquiram
quanto puderam...
– Pois é, meu caro, tem
muita gente assim: boba! Antes, caíam no conto do vigário, agora caem no conto
do pastor... Tomara que nunca venham a cair no conto do espírita! (170)
Fazemos um apelo à
razão daqueles que se encantam com referências ao Chico, a Emmanuel, a André
Luiz e suas obras, citadas pelo “Dr. Inácio”, sem nenhuma base coerente.
Imaginemos que houvesse chegado o tempo de vir à Terra uma revelação
importante. Não seria através de um Espírito da dignidade, da postura, da
elevação de Allan Kardec? Ou de Chico Xavier? Será que os níveis de seriedade
baixaram no Mundo Espiritual, a ponto de novas revelações serem feitas através
de um Espírito desrespeitoso, fanfarrão, divulgador de anedotas incompatíveis
com a seriedade da Doutrina Espírita? Viriam as revelações de tal magnitude
através de um Espírito que usa uma linguagem agressiva, chula, grosseira?
Na obra em estudo, “Dr.
Inácio” reproduz, em dez capítulos, uma pretensa visita de Chico Xavier à sua
equipe. Formaram uma caravana, constituída de mais de uma dezena de nomes
conhecidos. Visitaram vários locais de sofrimento, com aplicações da pomada do
Vovô Pedro em Espíritos usada até para curar pesadelos, além de ser dada a um
outro para comê-la com pão. Durante a visita, longos bate-papos, degustação de
chá de variados sabores com biscoitos, comentários de receitas de rosquinhas...
Será que Chico estaria assim tão disponível? Nessa ocasião, põe na boca do
Chico a seguinte afirmativa, em que ele reconheceria o poder permanente das
Trevas na Terra:
As Trevas, se assim
posso me expressar, consentiram que o Cristo pregasse a Boa Nova em seu
reduto, que era a Terra, desde que, por fim, triunfassem permanentemente. (279) (Grifei)
A imagem que se tem da
Vida Espiritual é de que Espíritos Superiores valorizam muito o tempo. André
Luiz, em “Os Mensageiros” (cap. 1), diz: “A conversação espiritualizante
tornara-se-me indispensável.” No cap. 6, aprende-se que “Pelas nossas palestras
construtivas, portanto, receberemos também a remuneração devida à cooperação normal.”
Ainda mais que “Dr.
Inácio” reafirma a tese absurda de que Chico foi a reencarnação de Kardec.
Veja-se a reunião daquela noite de “reafirmação de compromissos”, descrita por
Humberto de Campos, no livro “Cartas e Crônicas” (cap. 28), quando se
apresentou a venerável figura daquele que seria o Codificador, que foi
reverenciado por dezenas de Benfeitores, cujos nomes significam pontos altos na
história da Humanidade. Será que agora, depois de passados mais de dois
séculos, esse Espírito de escol ficaria assim, dando palpites vagos em assuntos
doutrinários? Onde está a nobre e austera figura do cientista, filósofo,
educador, teólogo, sociólogo, penólogo, que dialogou com os Espíritos
Superiores, em nível de igualdade, deixando-nos as luzes da Terceira Revelação?
Além do mais, Kardec,
ou mesmo Chico, necessitaria do concurso de um médium – dada a diferença de
nível espiritual – para manifestar-se no plano em que estavam “Dr. Inácio” e
seus companheiros, conforme aconteceu com Matilde, que teve de se valer dos
fluidos de Gúbio para materializar-se diante de seu filho Gregório.
(Libertação, final do cap. XX)
Mas, nem a nobre figura
do trabalhador incansável que foi Francisco Cândido Xavier, familiarmente
chamado Chico, estaria assim disponível para frequentar círculos onde admitiria
ter sido Kardec. Também ele, um Espírito de escol, terá preocupações mais
nobres e elevadas no Plano Espiritual onde se encontra. É fazer pouco desse
abnegado Missionário que, tendo sido o medianeiro do desdobramento da Terceira
Revelação, ficasse aqui, a gastar seu precioso tempo com um grupo de Espíritos,
dirigido por alguém que se comporta e se expressa da maneira como visto acima.
Finalizando, pode-se reafirmar que é enganoso o título
desse livro, onde pretendeu-se abordar o tema “Reencarnação no Mundo
Espiritual”. A reencarnação abordada é a física, a respeito da qual estão os
espíritas já bem informados. Nenhuma das citações de Kardec ou de André Luiz,
feitas ao longo da obra, demonstra ao leitor a veracidade dessa tese absurda.
José Passini
passinijose@yahoo.com.br
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