José Passini
passinijose@yahoo.com.br
Este livro,
como os demais psicografados por Carlos Antônio Baccelli, contém bons
ensinamentos e exemplos edificantes, cuja presença, na obra, só pode ser
atribuída à tentativa de legitimar o resto do conteúdo, habilmente trabalhado
por Espíritos que se dedicam ao combate ao Espiritismo. Essa mistura
intencional de joio com trigo tem levado muitos leitores à aceitação de
revelações mirabolantes, não raro vazadas em linguagem grotesca, fanfarrônica, na
pretensão de ser hilária. Essa aceitação se deve ao desconhecimento das obras
da Codificação e das subsidiárias, de bons autores encarnados e desencarnados.
O Espírito que
se comunica através do médium Baccelli declara ser o Dr. Inácio Ferreira,
espírita militante, eminente médico psiquiatra, que dirigiu o Sanatório
Espírita de Uberaba durante cinquenta anos.
Nesta obra, como em outra, “Sob as Cinzas do
Tempo”, o Autor relata um determinado período de sua vida na Terra, como
diretor-clínico desse Sanatório, apresentando-se sem a menor preocupação de demonstrar
alguma renovação espiritual, depois de mais de quinze anos de desencarnado. Até
entende-se que relate seus equívocos de quando encarnado, mas não com esse tom
de desafio com que sempre se apresenta quando se refere ao hábito de fumar, à
sua franqueza rude, à sua impaciência. Será que depois de todo esse tempo no
Mundo Espiritual, convivendo com Espíritos Superiores, conforme relato dele
próprio, não aprendeu nada que o pudesse orientar no sentido de dar às suas
obras um caráter consentâneo com a Doutrina que diz professar, que é o da
educação, do aprimoramento da alma?
É-nos difícil
aceitar que um médico que deixou uma contribuição valiosa à medicina
psiquiátrica nos seus cinqüenta anos de profícuo trabalho, agora se torne um simples
comentarista de fatos banais da sua vida enquanto encarnado, usando a
mediunidade e o nome do Espiritismo. Seria possível alguém descer da cátedra de
eminente instrutor de terapias psiquiátricas, à luz do Espiritismo, para
tornar-se um contador de histórias corriqueiras? Em quase todas as suas obras,
ele fala do seu hábito de fumar: no livro “Do Outro Lado do Espelho”, ele fala
vinte e cinco vezes que acendeu um cigarro; nesta obra, onze vezes, sem que em
nenhuma delas mencione, ainda que de leve, os malefícios do fumo.
Essa obra,
como as outras, é catalogada como romance. Por que um psiquiatra desencarnado
não nos brindaria com conhecimentos avançados hauridos no Mundo Espiritual?
Imaginemos quantos ensinamentos poderiam ser passados aos psiquiatras espíritas,
se o Autor usasse o seu tempo e a faculdade do seu médium para uma ampliação
dos conhecimentos da psiquiatria à luz do Espiritismo...
Analisemos
algumas passagens do livro, que transcrevemos em negrito:
O casal se despediu e, mal havia entrado no
carro estacionado lá fora, terminei de entrar no hospital aos berros,
assustando os próprios gatos que me esperavam para o almoço:
— Quem é o infeliz escalado para o turno da
noite e que deve ter dormido?...
Conhecendo-me a têmpera, Manoel Roberto me
seguia, alguns passos atrás, na expectativa de que aquela crise – uma das
muitas que me acometiam semanalmente – passasse.
— Vamos, quem é o macho que vai se
denunciar?... Quero esfolá-lo vivo! Aqui ninguém é pago para cochilar no
serviço. Se não aparecer o culpado, vou escolher qualquer um e demiti-lo.
Depois de uns quinze minutos, quando a
fervura íntima começava a se acalmar, caminhou na minha direção um pobre
coitado que eu empregara para tirá-lo do alcoolismo.
— Foi você, não foi? –
gritei com o dedo em riste, entre uma e outra baforada de cigarro. — Você é um
ingrato! Deve estar querendo voltar para a sarjeta... Você sabe que a minha cabeça
vive a prêmio na cidade; se alguma coisa de pior tivesse acontecido ao rapaz,
eu estaria perdido... Não passam de um bando de incompetentes. Vocês deveriam
estar tomando conta de um bordel, não de um hospital. (38/39)
Esse, o
equilíbrio de um médico psiquiatra espírita? Se eram esses seus modos quando na
Terra, como transcreve isso sem nenhum comentário? Além do mais, é de se notar
a falta de organização reinante no Sanatório, onde ninguém sabia quem estivera
de plantão... Mas, a exibição de mau humor continua:
Após ter vomitado impropérios à vontade...
— Afinal, quem manda nesta espelunca?...
— O senhor, Doutor...
— Quem dita as normas aqui? – questionei,
aproveitando para um recado indireto às cozinheiras, que viviam, nos
bastidores, reclamando da minha criação de gatos. (40/41)
Depois dessa
demonstração de ausência completa de boas maneiras, da falta daquela autoridade
que emana do respeito e do equilíbrio, dada pelo diretor, o enfermeiro-chefe
pondera que o funcionário que estava para ser demitido havia cochilado porque
estava dobrando serviço havia quinze dias, e que era pai de cinco filhos, às
vésperas do sexto. Ouvindo essas ponderações do defensor, desiste da demissão,
mas faz uma advertência desrespeitosa à vida íntima do funcionário:
— Mas, você avise o safado do Silva para
deixar de incomodar a pobre da mulher durante o dia e dormir. Seis anos de
casados, cinco filhos. Uma explosão demográfica sem precedentes e tudo para o Sanatório custear, não é?
(41/42)
E demonstração
da falta de serenidade e mesmo de delicadeza prossegue, ao ser informado de que
uma moça o esperava para uma consulta particular:
— Particular, só na minha casa. Eu já me
cansei de explicar a vocês.
— Ela está chorando...
— E isso aqui é o “muro das lamentações” –
um chora aqui, outro chora de lá... Eu é que sou obrigado a viver com os olhos
secos, consolando todo o mundo.
— Vai-se ver, Doutor, que na outra encarnação...
– intrometeu-se uma morena redonda, das melhores cozinheiras que já passaram
pelo Sanatório.
— Cuide de suas panelas... Como é que pode
ir adiante um hospital de loucos em que até a cozinheira dá palpites? Que outra
encarnação, que nada!... É a primeira vez que estou vivendo no meio dessa corja
– primeira e última, se Deus quiser.
A morena sorriu e caminhou requebrando com
sua pesada traseira, não dando a mínima para o que eu havia falado. (42)
È difícil crer
que o médico sério que escreveu os livros “Novos Rumos da Medicina” (2 volumes)
e “A Psiquiatria em face da Reencarnação” não teria nada a aduzir a essas
obras, agora, com o seu saber enriquecido pela experiência que o exercício da
Psiquiatria no Mundo Espiritual lhe estaria propiciando, nessas quase duas
décadas de desencarnado. Mas, ao invés disso, demonstra um prazer mórbido de
tratar mal uma funcionária, subalterna sua, num linguajar próprio de mesa de
bar, freqüentado por pessoas que vivem longe do Evangelho.
— Quem é Mãe Joana? – indagou, ingênua, a
funcionária.
— Sou eu – respondi, enquanto, ao invés de
acender um cigarro, cheirava um rapé que me fazia espirrar até a alma. — A Mãe
Joana sou eu; noutra encarnação, eu botei uma filharada no mundo e agora tenho
que aguentar vocês nas minhas tetas... (51)
Torna-se até
difícil comentar uma passagem como essa, tanto pela linguagem vulgar, quanto
pelo conteúdo. Parece que esse Espírito tem um prazer mórbido de se mostrar
irreverente, revoltado, através dessas expressões que, no mínimo, são de mau
gosto e demonstram um estado-de-espírito incompatível com alguém que se
propunha a tratar de doentes mentais.
Porém, profanando o ambiente, eu não
resisti. Antes de me levantar e ir embora, aproximei os lábios de seu estúpido
conduto auditivo e sussurrei-lhe, pausadamente, certos termos chulos que quase
todo menino da rua sabe dizer! O homem arregalou os olhos, as suas faces
ficaram congestas e eu pensei que, ao invés de um, teríamos dois cadáveres
expostos no salão... (91)
Essa, a reação
do Dr. Inácio ante uma proposta de trabalho na Faculdade de Medicina, que lhe
fora oferecida, mas que para aceitá-la teria de renunciar a direção do
hospital, ou concordar que fosse encampado pela referida Faculdade. Aqui já se trata de um caso de
falta de educação! Será que o Dr. Inácio usaria esse vocabulário no círculo que
diz freqüentar no Mundo Espiritual?
Quando ambos se retiraram, recostei-me na
poltrona giratória e acendi um enganoso cigarro, procurando descansar o
pensamento. Eu tentara dar àquela mãe sofredora o que, muitas vezes, não
possuía nem para o meu próprio consumo, ou seja, – fé! (140)
Como é que
alguém que diz dirigir trabalhos de desobsessão podia ser assim tão vacilante
na fé?
— Se você conta com a aprovação e o apoio
de um homem como Chico Xavier, dê uma banana para o resto – comentei indignado.
(232)
Será que essa
indignação legitimaria esse conselho tão grosseiro?
Eu estava espiando pela vidraça, perdido
com os meus pensamentos nas espirais de fumaça do cigarro que fumava, quando vi
estacionar um carro no pátio do hospital e descerem, esbaforidos.
— Tolos! – resmunguei. — Idiotas! – repeti
não satisfeito. — Duas bestas quadradas, apeando de um carro de luxo! –
praguejei, tossindo... (250)
É claro que eu estava exagerando; o garoto não
tinha nada a ver com aquelas duas, desculpem-me, toupeiras... Eu nunca haveria
de xingá-los o suficiente pela proposta que ambos haviam sido capazes de me
fazer. (E vocês, que estão me lendo agora, não pensem que eu, o Dr. Inácio
Ferreira, fosse diferente de qualquer um de vocês – o meu arsenal de palavras
grosseiras era considerável!) (251)
Embora esse
Espírito diga o contrário, não resta a menor dúvida de que ele é realmente
diferente da grande maioria dos espíritas. Se não, o que vale a Doutrina? Essas
demonstrações de falta de refinamento espiritual não se coadunam com o que se
espera de um psicoterapeuta que se proponha à cura de doentes da alma, principalmente
dentro dos parâmentros do Evangelho. É de se notar o quase-orgulho com que esse
Espírito fala de sua grosseria e da sua capacidade de agredir. Como é que uma
pessoa que se ufana da sua brutalidade pode concitar alguém à mansuetude, à
calma, ao perdão, numa reunião mediúnica, como ele diz ter dirigido durante
tantos anos? Será crível que alguém que diz estar em contato com Bezerra de
Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Hernani Guimarães Andrade, Leopoldo Cirne,
Cairbar Schutel, Batuíra e outros Espíritos Superiores, se expresse de forma
tão vulgar e rasteira?
O meu misterioso paciente estava de volta...
Chegou à minha casa num sábado à tarde, num desses sábados sem luminosidade,
com excesso de nuvens escuras no firmamento. Havia vários meses que eu não o
via. (261)
— Tem obras publicadas?
— Alguns ensaios apenas; nada que tenha
repercutido...
— E o seu sotaque?
— Eu já preciso ir, Doutor — levantou-se,
sem me responder.
— Mandarei, depois, o dinheiro da
consulta... (273)
No entanto, quando abri o livreto, quase
caí de costas: um retrato a bico-de-pena, feito com tinta nanquim, era a
reprodução exata do rosto do meu paciente!... “E. A. Poe” – dizia o pequeno
texto —, morto em 1918, vitimado por alcoolismo. Contista e poeta norte-americano
que, infelizmente, nos deixou tão cedo — aos 39 anos de idade.” (275/6)
O relato acima
começa com um equívoco: Edgar Allan Poe nasceu em 1809 e desencarnou em 1849. A falta de cuidado ao
montar toda essa história chega a ser ofensiva à argúcia e à inteligência dos
leitores, pois quem há de acreditar que um médico, por mais desorganizado que
fosse, teria atendido um cliente, repetidas vezes, sem ao menos saber-lhe o
nome, a fim de fazer, numa ficha própria, as anotações referentes às consultas?
Os trechos
acima são fragmentos de algumas consultas que o Espírito Edgar Alan Poe – mais
de um século após a sua desencarnação – teria tido com o Dr. Inácio, sem o
concurso de um médium, pelo fato de esse Espírito estar materializado, falando
Português fluente, apenas com sotaque.
Tal
comunicação não encontra apoio em nenhuma obra espírita. Pelo contrário, André
Luiz, na obra “Os Mensageiros” (cap. 18), relata o que ouviu de Alfredo,
relativamente ao socorro a desencarnados na guerra: “Mas
não há dificuldade no socorro a essa gente? – indagou Aniceto em tom grave. — E
a questão da linguagem? — Os serviços de socorro, apesar de intensos na Europa,
têm sido muito bem organizados, explicou Alfredo; para cada grupo de cinqüenta infelizes, as
colônias do Velho Mundo fornecem um enfermeiro-instrutor, com quem nos possamos
entender, de modo direto.”
Há, ainda,
referência ao problema linguístico entre Espíritos nas obras: “Voltei”,
“Esperanto como Revelação”, “Memórias de um Suicida”, “Além da Morte”.
Entretanto, essa barreira parece não existir para o Dr. Inácio, pois conforme
ele relata em sua obra “A Escada de Jacó” (caps. 21 – 26), teria conversado
naturalmente com árabes encarnados e recém-desencarnados, no Iraque, em plena
zona de conflito, sem o concurso de um médium, nem de um intérprete... Nem
explicou como pudera, na sua condição de desencarnado, conversar com um menino
encarnado e socorrê-lo, usando ectoplasma de um camelo agonizante...
Relativamente
à materialização, Edgar Allan Poe teria explicado, noutra oportunidade, através
da médium Maria Modesto Cravo, como conseguira materializar-se para falar, em
várias oportunidades, diretamente ao Dr. Inácio, em seu consultório, como se
fosse um paciente qualquer.
O que vou lhes dizer em seguida – caros
leitores –, ficará a critério de vocês aceitarem ou não. Devo ser fiel à verdade
dos fatos.
Prosseguindo pela voz da médium, o célebre
criador do romance policial contou:
— Observando-me as tentativas frustradas de
contactá-lo, um desconhecido me orientou:
— “Por que você não se materializa? Não é
tão difícil assim... É só conseguir ectoplasma...”
— Ora – explicou a entidade –, eu jamais
havia ouvido falar em ectoplasma... “Que substância é esta?” – perguntei sem me
dar conta, como das vezes anteriores, do idioma em que eu estava me
expressando: eu pensava em inglês e
ele entendia em português, exatamente, Doutor, como está acontecendo agora.
— “Ectoplasma – respondeu-me – é fluido
animal; se você conseguir quantidade
suficiente para se revestir, poderá tornar-se visível...”
— De que maneira obtê-lo? – quis saber,
curioso.
— “Através de um doador vivo ou... morto.”
— Morto? – questionei, duvidando que aquela
história toda fosse verdade.
—“Sim, no cemitério...”
— Poderei encontrar tal substância
materializante no cemitério?
—“Não nos corpos em adiantado estado de
decomposição, mas nos que morreram recentes...”
— E o que devo fazer?
—“Mentalize, plasme-se...” falou o
espírito, que se retirou.
— Quase a desanimar (Poe deu seqüência à
inusitada narrativa), localizei o cemitério e me pus a esperar um enterro. Foi
difícil, pois não me consentiam me aproximar de certos cadáveres... Algumas
entidades que não falavam comigo dispersavam uma matéria brilhante na atmosfera
e os cadáveres ficavam vazios.
“Aquilo é o ectoplasma” – pensei. Depois disso, um enterro com quase nenhum
acompanhamento chegou ao cemitério... O corpo inanimado era o de um homem que,
bêbedo, havia caído de um andaime; espessa substância leitosa ainda lhe
escapava abundante, dos orifícios e, inclusive, dos poros, a praticamente
envolver-lhe toda a forma física... Dele, curiosamente, eu pude me aproximar
sem qualquer embaraço e, após o seu corpo ter descido à cova rasa, postei-me ao
seu lado e, com as mãos, comecei a me cobrir com aquele tecido gaseificado... O
meu desespero era tamanho, Doutor, que eu o introduzia na boca, eu o inalava
através das narinas, como se eu fosse um paciente hospitalizado recebendo uma
transfusão de sangue...
— Aos poucos, sem que eu pudesse explicar o
fenômeno – prosseguiu dizendo –, fui tomando forma humana, ou melhor,
retomando-a... Era interessante observar. Felizmente, não havia ninguém por
perto... A imagem que eu conservava de mim era tão forte em minha mente, que,
devagar, fui reconstituindo, com a força do pensamento, detalhe a detalhe,
inclusive a própria indumentária – aquela que, de hábito, eu envergava em meus
derradeiros dias no corpo quando, infelizmente, tombei vítima do alcoolismo.
Quando a metamorfose se completou, a
minha primeira iniciativa foi a de procurar um espelho – eu queria me ver...
Saí do túmulo no qual praticamente me encontrava mergulhado e, percebendo um
carro estacionado à porta do campo santo, me fitei no seu retrovisor externo –
era eu, sem tirar nem pôr! De imediato, acudiu-me uma déia à cabeça: – Que bom
seria, se eu pudesse, sempre me conservar assim: este corpo certamente não
adoece e... não morre, não estando sujeito às vicissitudes do corpo feito de
carne... De certa maneira, inclusive, eu me remoçara e aquelas indisposições
orgânicas haviam desaparecido.
A narrativa de Poe me surpreendia; eu nunca
havia lido nada parecido a respeito na extensa bibliografia espírita
especializada. (282/6)
Na verdade não
poderia ter lido mesmo, pois o Espiritismo não ensina absurdos...
Analisemos
alguns pontos desse relato inusitado:
Será que pelo
simples fato de se materializar, um Espírito remoçaria e se livraria de
indisposições orgânicas? Ainda mais com o ectoplasma de um bêbado? Mas, se ele,
só então, fora tomando a forma humana, como é que antes sentia indisposições
orgânicas? O Espírito disse que materializara não somente o corpo, mas também a
indumentária. Como é que o Dr. Inácio, ao recebê-lo, materializado, no seu
consultório, não teria percebido que as roupas do seu cliente eram de um século
atrás?
Se uma
materialização pudesse ser tão facilmente obtida, e com tanta nitidez, que nem
o experiente Dr. Inácio pôde percebê-la, por que Espíritos inferiores não se
materializariam diariamente, a fim de atuarem na vida física? Se houvesse
tamanha facilidade de materialização, nós, os encarnados, teríamos de estar
sempre atentos, a fim de verificarmos se estaríamos vendo e conversando com um
encarnado ou com um desencarnado...
No livro “Obreiros
da Vida Eterna” (caps. 15 e 16), lê-se que trabalhadores do Bem dissipam na
atmosfera comum as energias remanescentes no cadáver, quando o desencarnado é
merecedor de cuidados, a fim de que os vampiros não profanem o corpo, pois há
verdadeiras legiões de Espíritos que aguardam os enterros, disputando essas
energias. Diante disso, é de se perguntar: como poderia um Espírito,
recém-informado dessa possibilidade, apossar-se – e por várias vezes – desses
fluidos? Onde estariam aqueles vampiros, contra os quais ele deveria ter
lutado?
As várias consultas
teriam sido longas. Como poderia uma materialização – fora de um ambiente preparado
– manter-se durante tanto tempo? Note-se que o Espírito diz ter-se
materializado no cemitério, e de lá se movimentado até o local da consulta. E o
efeito da luz? Quem já leu algo sobre materialização de espíritos sabe das
restrições quanto à luminosidade e ao tempo.
O Espírito diz
que, aos poucos, foi tomando a forma humana. Que forma tinha o seu corpo
espiritual até então? Será que ainda não tivera oportunidade de ver a si
próprio e de constatar que sempre tivera a forma humana? Que forma tinham, ele
e os Espíritos com quem conversara?
É realmente
impressionante como esse Espírito, que diz ser o Dr. Inácio Ferreira,
aproveita-se da ausência de estudo de muitos leitores para relatar algo assim
tão inverossímil. Se a materialização de um Espírito pudesse ser obtida com
tanta facilidade, por que todo aquele trabalho descrito por André Luiz na obra
“Missionários da Luz” (cap. 10)? Note-se que ali há o trabalho altamente
responsável de muitos Espíritos, que conjugam energias oriundas de um médium e
de outros doadores encarnados, com elementos da natureza, num trabalho delicadíssimo,
que a simples presença de alguém que ingerira alcoólicos poderia perturbar, não
fossem as providências de isolamento dessa pessoa. Paradoxalmente, Edgar Allan
Poe teria dito que usara as energias oriundas do corpo, justamente de um bêbado.
Além do mais, há uma informação errada a respeito da data da desencarnação, que
foi em 1839, e não em 1918, segundo a Enciclopédia Delta Larousse.
Aí estão,
Irmãos, nossas considerações sobre mais esta obra, as quais submetemos à sua
análise, porque entendemos que todos nós, espíritas, somos responsáveis pela
manutenção da objetividade, da seriedade e da dignidade da Doutrina Espírita.
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