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  • terça-feira, 9 de agosto de 2016

    DESERTORES, INFILTRADOS, DESANIMADOS E DISCORDANTES



    Mauro Quintella

    Na coletânea pós-morte chamada "OBRAS PÓSTUMAS", encontramos um texto de Kardec intitulado "OS DESERTORES", onde o pensador francês analisa não só a deserção, mas, também, outras situações problemáticas do movimento espírita.
    Os tipos de indivíduos que caracterizam essas ocorrências estão relacionados abaixo:

    1) simpatizantes que desertaram por enfado ou interesses frustrados;

    2) falsos espíritas infiltrados no movimento por inimigos do Espiritismo para causaram discórdias e escândalos;
    3) falsos espíritas que se infiltram no movimento espírita para causarem desunião;

    4) espíritas que apresentam declínio de ânimo na militância;

    5) espíritas que romperam com a orientação de Kardec.
    Como já disse, o artigo não trata só de deserção, que, segundo os dicionários, é o ato de abandonar uma empreitada, um projeto, um movimento, um partido, mas também de infiltração, desânimo e discordância.

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    O primeiro grupo está constituído da seguinte forma:

    a) pessoas que cansaram de se divertir com o fenômeno e não querem se aprofundar na vivência dos postulados éticos do Espiritismo;

    b) pessoas que constataram que não obteriam ganhos pecuniários com a prática do Espiritismo.
    Kardec os classificou como desertores típicos, totalmente dispensáveis.

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    O segundo grupo é composto por falsos espíritas, comandados por inimigos do Espiritismo, que se infiltram no movimento espírita para causarem discórdias e escândalos.
    Acredito que essa situação só aconteceu no tempo de Kardec, pois nunca vi ou ouvi falar de uma ocorrência dessa espécie na atualidade.

    Kardec não os classificou como desertores, pois eram soldados teleguiados na guerra contra o Espiritismo.

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    O terceiro grupo é composto por inimigos do Espiritismo que se fazem passar por espíritas para semearem a desunião.
    Mesmo comentário do grupo anterior: nunca vi ou ouvi falar dessa ocorrência na atualidade, que deve ter ocorrido apenas na época de Kardec.

    Kardec não os classificou como desertores, pois eram os comandantes da cruzada contra o Espiritismo.

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    O quarto grupo é composto por espíritas  que não abandonam as fileiras do Espiritismo, mas apresentam um declínio de ânimo na militância, em decorrência da ausência de devotamento e abnegação.

    Kardec diz que essas pessoas não desertam, mas esfriam, não se podendo contar com elas para o trabalho na seara espírita. 

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    O quinto grupo é composto por elementos que se afastam por discordarem das proposições de Kardec.

    O pensador francês dividiu esse grupo em dois segmentos:
    a) os discordantes que são guiados pela sinceridade;

    b) os discordantes que são movidos pelo orgulho.

    Segundo Kardec, os primeiros não devem ser considerados desertores. Os segundos, sim.

    No entanto, eu acredito que sinceridade e orgulho não podem ser utilizados como parâmetros para validação ou invalidação dos argumentos dos discordantes. 

    Além disso, Kardec não poderia dizer que todos os elementos do segundo sub-grupo são desertores porque algumas dessas pessoas abandonaram o círculo sob sua influência, mas continuaram acreditando nos postulados básicos do Espiritismo e defendendo-os.

    Por outro lado, como o professor lionês não "privatizou" o uso da palavra espiritismo, fica difícil dizer que só existe o Espiritismo fundado por Kardec.  

    A identificação dos limites do Espiritismo fundado por Kardec também é prejudicada pelo resistência contra as expressões espiritismo kardecista e kardecismo, fazendo com que elas não sejam usadas, pela maioria dos espíritas, para separar alhos de bugalhos. 

    Por último, é preciso considerar que a palavra desertor e suas variações são muito usadas no ambiente militar, e, por isso, têm uma forte conotação maniqueísta, induzindo-nos a pensar no desertor como alguém que está nos combatendo ou desajudando, ensejando uma postura absolutamente desnecessária na prática espírita, onde não estamos em guerra ou disputa com ninguém, devendo nos preocupar apenas com a capacidade e qualidade de nosso próprio time.

    Por essas razões, eu chamo os elementos do primeiro sub-grupo de discordantes moderados e os elementos do segundo sub-grupo de discordantes radicalizados. Os discordantes moderados não pretendem ombrear ou superar Kardec. Os discordantes radicalizados não têm acanhamento em tentar ombrear ou superar Kardec.

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    Como eu discordei bastante de Kardec na análise de seu texto "OS DESERTORES", é possível que alguns de vocês possam estar me classificando como um discordante radicalizado. Se o fizeram, erraram. Defino-me como um discípulo de Kardec. Contudo, meu discipulado é crítico, embora sem a pretensão egóica de emparelhar com meu mestre em brilhantismo. Basta-me explicitar minhas discordâncias quando não concordo com ele.