Ao lermos um livro novo sempre
surgem questionamentos, para os quais buscamos respostas, que deverão ser
claras para nós, antes de as “passarmos para frente”, principalmente se estamos
na condição de expositor, de evangelizador ou de escritor. Atualmente, nota-se
uma onda avassaladora de novas obras, algumas até atraentes pelas novidades,
mas que postulam leitura atenta e análise criteriosa, a fim de que os
malefícios de um deslumbramento inoperante não nos atinjam. O livro em pauta,
psicografado por Carlos A. Baccelli, tem a autoria espiritual atribuída ao Dr.
Inácio Ferreira, médico psiquiatra, um dos primeiros especialistas da área a
ter a coragem de declarar-se espírita e, nessa condição, tratar muitos
pacientes. Causa estranheza, nessa obra, o ilustre clínico apresentar-se como
personagem controversa, rude mesmo, cuja tônica, nesta e em outras obras, é
atacar os espíritas e mais particularmente os médiuns. Entretanto, não é apenas
a sua postura pessoal que causa estranheza, mas determinadas “revelações”, que
merecem cuidadosa análise. Reparto com meus irmãos as minhas dúvidas, por
julgar que, não tendo o Espiritismo “autoridades doutrinárias”, cabe-nos a
todos nós, espíritas, o dever de preservar-lhe a integridade e a pureza.
Nas citações a seguir, os
trechos em negrito foram transcritos da obra citada; os números entre
parênteses se referem, às páginas:
“Eu não habitava nenhuma região etérea, feita, como
imaginava, de matéria quintessenciada: aos meus sentidos, tudo era quase igual,
inclusive eu, que aos poucos me modificara em minha intimidade.” (11).
Não é fácil entender, como um
Espírito, que estudou o Espiritismo durante a sua encarnação, que conheceu as
descrições claras e palpáveis de André Luiz sobre a continuidade da Vida, e
como esta se organiza no Mundo Espiritual, pode, depois de já ser diretor de um
hospital na colônia espiritual que o acolhera, ainda ficar espantado com a
“materialidade” das coisas que o cercavam. Além do mais, o psiquiatra espírita,
Dr. Inácio Ferreira, manteve contato com o Mundo Espiritual, durante décadas,
através da mediunidade segura de Maria Modesto Cravo.
“Ainda lutando para me adequar à nova realidade, quando
vi que a minha biblioteca estava sendo desfeita – o recanto em que eu passava a
maior parte do meu tempo ocioso –, provoquei um encontro espiritual com Chico
Xavier e, por via mediúnica, solicitei àquela que fora minha esposa no mundo
que não continuasse dispersando meus livros: eu ainda necessitava deles, não
para compulsá-los, mas é que, depois de perder o corpo, a sensação de perda que
nos acomete é muito grande, para que nos conformemos em perder mais alguma
coisa.” (12).
É estranho, também, o fato de um Espírito em quem
seria natural presumir-se equilíbrio e desapego, ter acesso à mediunidade e ter
ocupado o precioso tempo de Chico Xavier para dar um recado de sua preocupação
com a biblioteca que deixara na Terra. Estava no Mundo Espiritual ou ficara
agarrado às coisas materiais? Note-se que se trata de um psiquiatra que estudou
Espiritismo durante décadas!
“(...) grande hospital, cuja direção, no Mais Além,
estava sob minha responsabilidade (eu não sei quando é que vou me livrar desse
carma!)” (12)
Difícil, também, é imaginarmos que alguém, a quem
fora concedida a direção de um hospital, considerasse a nobre tarefa como um
carma, quando se aprende na Doutrina algo como a “honra de servir”...
“(...) eu não sei a causa de, ao nos tornarmos
espíritas, passamos a achar que somos privilegiados...” (17).
“Os médiuns, Inácio, acham que a mediunidade corre por
conta dos espíritos; quase nenhum quer ser parceiro ou sócio e entrar com a
parte que lhe compete...” (21).
“(...) mil vezes combater os padres que os espíritas!...
Qualquer que ocupe um cargo de direção, vira a cabeça e passa a se acreditar um
espírito encarnado investido de elevada missão...” (30).
“O espírita necessita, com urgência, de se conscientizar
de sua indigência.” (33).
“Eu já tinha ouvido falar de alguns espíritas que
apregoam um Espiritismo sem espíritos.” (40).
“(...) os espíritas, com raras exceções, acham que são
os tais: colocam a mão no bolso e olham os outros por cima da cabeça, como se o
conhecimento espírita, por si só, lhes concedesse supremacia...” (88).
Atualmente, afirmativas como
essas não se encontram nem nos pronunciamentos daqueles poucos que ainda atacam
o Espiritismo e os espíritas. Trata-se de uma generalização leviana, capaz de
suscitar defensores dos espíritas até dentre pessoas que não professam a
Doutrina, mas que respeitam a maioria dos seus profitentes.
“É uma questão que, infelizmente, ainda há de suscitar
muita polêmica entre os espíritas que mourejam na carne, mas, para determinado
segmento espiritual, no qual eu me incluo, isto é ponto pacífico. São notáveis
as “coincidências” ou os pontos de contato entre as duas personalidades,
inclusive na semelhança física...” (54).
Alguns argumentos apresentados
em defesa dessa tese, a começar por esse apresentado acima, referindo-se à
semelhança física entre Kardec e Chico Xavier, constituem um verdadeiro
atentado à capacidade de comparação, de análise e à própria lucidez do leitor.
Além do mais, se o próprio Dr.
Odilon reconhece que o assunto irá “suscitar muita polêmica”, por que ele o
traz à discussão? Não se entende o motivo por que um Espírito venha trazer
lenha à fogueira da inócua e inoportuna discussão que se estabeleceu a respeito
de Chico ser a reencarnação de Kardec. Quanta gente, que poderia empregar
melhor o seu tempo, irá demorar-se em conjecturas e pesquisas. Para quê? Em que
isso contribui para a divulgação do Espiritismo, para o esclarecimento e a
evangelização dos espíritas?
Neste contexto, vale a pena
transcrever advertência de Emmanuel em se referindo a outra tese, defendida via
mediúnica, que causou muita discussão inócua: “As próprias esferas mais próximas da Terra, que pela força das circunstâncias
se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos
espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem opiniões contraditórias
da Humanidade (...).
São dignos de nota alguns
argumentos apresentados em defesa da tese:
“(...) o casal havia renunciado a qualquer tipo de
convivência mais íntima na esfera sexual, para devotar-se aos valores do
espírito, e, tanto assim que ambos não geraram herdeiros diretos (...)” (56).
Causa também estranheza essa
“revelação”, que invade a intimidade do casal, talvez na tentativa de mostrar
que a abstinência sexual vivida pelo Chico já lhe era habitual... Ou talvez
para pôr em relevo uma “conduta monástica”?
Será que, no caso de Kardec,
não seria mais racional e humano deixar o assunto por conta do seu plano reencarnatório
que poderia ter previsto uma esterelidade, sua ou da esposa? Até para que não
ficasse na Terra alguém que quisesse continuar uma “dinastia kardequiana”?
“É inegável que a obra de um é o complemento da
outra: a mesma linha de pensamentos, a mesma terminologia, a mesma luz...” (57).
Essa mistura de afirmações é que leva muitos
leitores a não observarem o restante de um período que contém uma verdade,
seguida de afirmações discutíveis. É inegável que a obra de Chico Xavier é um
desdobramento da Revelação codificada por Kardec, mas isso não serve como prova
de que o autor seja o mesmo, pois qualquer outro grande Espírito poderia tê-lo
feito. Entretanto, no rastro dessa verdade, vem a argumentação falaciosa,
atribuída a Antusa, em favor da tese: “a
mesma linha de pensamentos, a mesma terminologia, a mesma luz...” Ora, é
claro que a “linha de pensamentos” tem de ser a mesma, vez que é a própria
expressão doutrinária. Quanto à terminologia, qualquer Espírito, encarnado ou
desencarnado, expondo o pensamento espírita deverá usar a mesma terminologia.
Igualmente diga-se da “luz”, que deve
ser aquela própria de um Espírito Superior que se proponha à missão de
desdobrar a Doutrina Espírita. Se, entretanto, com a afirmativa pretendeu
comparar estilos, pouco se tem para definir um “estilo” do Chico, mesmo porque,
quanto melhor o médium, menos o seu estilo se revela. E se formos nos basear no
pouco que escreveu, a prova é exatamente contrária ao que foi argumentado.
E o que dizer da “Saudação de Allan Kardec”,
psicografada por Júlio César Grandi Ribeiro, na noite de 2 de janeiro de l984,
na comemoração do centenário da Federação Espírita Brasileira e transferência
de sua sede para Brasília, conforme publicado no “Reformador” de março de 1984?
Entretanto, aqueles que quiserem continuar
argumentando, sabemos que poderão dizer o Chico poderia ter deixado seu veículo
físico em Uberaba, possivelmente psicografando àquela hora – era uma
segunda-feira – e ter ido a Brasília, feito toda uma revolução psicológica em
si mesmo, a fim de apresentar-se como Kardec...
Bem, vamos ao restante do
livro: Conversando sobre a possibilidade de o Chico comunicar-se em breve, o
Dr. Inácio diz não acreditar isso possa ocorrer. O Dr. Odilon concorda, mas diz
que “o seu pensamento, que continua a se
irradiar, será captado diferentemente, por diversos medianeiros...” e arremata:
“Quando o espírito não vai ao médium, o
médium vai ao espírito...” Depois, explica: “Na ânsia de obter contato com
determinada entidade, o médium provoca
a sintonia, apropriando-se do seu pensamento (...).” Não satisfeito com a
explicação, o Dr. Inácio diz-lhe: “Mas aí
não é o espírito...”, ao que ele responde: “Não é nem deixa de ser.” Continuando seus “esclarecimentos”, diz
ser necessário levar em conta o problema da sintonia
direta e indireta, afirmando: “Na primeira temos o fenômeno genuíno; na indireta
a participação do médium sobrepõe-se à do espírito que está sendo trazido à baila...”
E para que o assunto fique ainda mais ambíguo: “Quer dizer que o espírito não vem; ele é trazido?...” E a
resposta do Instrutor: “Sim e não”.(116
/ 118).
Pode-se prever que, lendo
isso, haverá muita gente querendo se apropriar desse pensamento do Chico que
“se irradia”. Não serão essas afirmativas
um convite ao estabelecimento de um clima de descrédito da mediunidade?
“(...) também sou suscetível a periódicas crises de
depressão... Afinal, ao que me consta, ainda sou gente, não é?” (138).
Causa estranheza o fato de um Espírito que é o
diretor de um hospital no Mundo Espiritual sofrer crises de depressão, e usar
de uma argumentação infantil para justificá-la.
“Li o seu livro, que se converteu em best seller, uma
única vez e não tive oportunidade de ler, detalhadamente, os demais que lhe
constituem a famosa série; desculpe-me, mas para ler, como a maioria dos espíritas,
sempre fui um tanto preguiçoso...” (207/208).
O diálogo acima está num
pretenso encontro com André Luiz, em “Nosso Lar”.Fica difícil entender como um
Espírito que tem tanto amor à biblioteca, a ponto de incomodar um médium do
porte de Chico Xavier (12), para que sua esposa não dispusesse dela, agora dizer
que tinha preguiça de ler. E, para não perder a oportunidade, mais um ataque
aos espíritas!
“(...) Doutor, estou apenas admirando o seu modo
transparente de colocar as coisas... Isso talvez seja uma virtude também rara
por aqui, depois da morte” (210).
É realmente absurda essa declaração atribuída a
André Luiz. É absurda porque seus livros são exemplos vivos de transparência
nos diálogos entre Espíritos. O próprio André Luiz experimentou, por várias
vezes, a advertência clara, sem subterfúgios, transparente, conforme registrado
nas seguintes páginas da obra “Nosso Lar”, em diálogos com o médico Henrique de
Luna (32 e 33), com Lísias (39, 47, 69 e 73), com o Ministro Clarêncio (43, 44,
76, 77, 78, 81 a 84), com a sua mãe (88, 89, 93), com a senhora Laura (137 e
138). Isso, sem nos referirmos a todas outras obras de André Luiz, onde a
transparência, a limpidez nos pronunciamentos se revela de forma a servir de modelo a nós encarnados.
Como é que poderia, um Espírito que
vivenciou e relatou tantas situações como as citadas acima, de repente, perder
o compromisso com a Verdade e generalizar essa acusação de falsidade sobre os
habitantes da colônia “Nosso Lar”?
“Mas,
respondendo-lhe, digo-lhe que é preciso que eu esqueça, assim como não mais me
lembro de que, um dia, fui Carlos Chagas, haverei de me esquecer de que sou
André Luiz...
- Você não era Osvaldo
Cruz?... indaguei sem vacilar.
- Não!..
- E por qual motivo não se identificou desde o início?
- A obra do médium Xavier não
necessitava do meu nome para lhe conferir credibilidade e, depois, precisávamos
evitar maiores problemas para a Doutrina...
- Está se referindo ao caso
envolvendo a família do escritor Humberto de Campos?
- A ele e ao
estardalhaço que a imprensa leiga haveria de promover; se o próprio Emmanuel
constitui pseudônimo, por que eu não poderia ter feito o mesmo?... E Frederico
Figner, porventura, não adotou o pseudônimo Irmão Jacó, em tributo à sua
origem judaica?” (210).
Mesmo
que houvesse provas irrefutáveis de que André Luiz foi Carlos Chagas,
pergunta-se em que esse conhecimento contribuiria para melhor divulgação e
aceitação do Espiritismo? Afirmação extemporânea, inconseqüente, que assume
caráter mais grave, diante do fato de o famoso cientista ainda ter descendentes
encarnados. Será que os Espíritos que se sentiram autorizados a fazer
semelhante revelação não tiveram acesso a dados referentes à vida de ambos? Vejamos:
Não é difícil calcular a época da
desencarnação de André Luiz, tomando-se por base suas conversas com Lísias: “Talvez não saiba ainda que sua permanência
nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos.” (N.L., pág.
47). Em agosto 1939, André Luiz ouvia Lísias, que lhe falava sobre a iminência
da Segunda Guerra Mundial (N.L., pág. 132). Daí pode-se deduzir que já
estivesse desencarnado há, pelo menos, nove anos, portanto em 1930, vez que já
estava perfeitamente sadio.
Há, ainda, outros registros que permitem saber
que André Luiz desencarnou em 1930: São suas estas palavras: “Meu pai, igualmente, fez a grande viagem,
três anos antes do meu trespasse. (N.L., pág. 47). Em conversa com sua mãe,
esta comenta: “Ah! teu pai! teu pai!...
Há doze anos está numa zona de trevas compactas, no Umbral.” (N.L., pág. 91). É apenas questão aritmética:
Se estão conversando em 1939, e a mãe de André Luiz diz que seu pai desencarnara
havia doze anos, logo a sua desencarnação se dera em 1927; como o filho desencarnou
três anos depois, só pode ter sido em 1930, possivelmente aos 40 anos, pois
clinicou apenas 15 anos, conforme declaração de Clarêncio, citada abaixo.
Carlos Chagas desencarnou em 1934, aos
55 anos.
Além
do mais, André Luiz fica perfeitamente caracterizado como clínico, pelas
palavras de Clarêncio: “(...) nos quinze
anos de sua clínica, também proporcionou receituário a mais de seis mil
necessitados. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no fundo, sente
falta dos seus clientes, do seu gabinete, da paisagem de serviço com que o
Senhor honrou sua personalidade na Terra.” (...) Logo depois de graduado,
começou a receber proventos compensadores, não teve sequer a dificuldade do
médico pobre, compelido a mobilizar relações afetivas para fazer clínica.
Prosperou tão rapidamente que transformou facilidades conquistadas em carreira
para a morte prematura do corpo. Enquanto moço e sadio, cometeu numerosos
abusos, dentro do quadro de trabalho a que Jesus o conduziu.” (N.L., pág.
81).
Nessa
referência ao desempenho profissional de André Luiz na Terra, nada que pudesse
identificá-lo com o eminente cientista: pesquisador, bacteriologista e
sanitarista, que foi Carlos Chagas, que ingressou, ainda na condição de
acadêmico, no Instituto Bacteriológico Osvaldo Cruz, de que viria a ser diretor
(1917 -1934). Cientista reconhecido mundialmente, foi professor da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro; recebeu o título Magister Honoris Causa das Universidades de Harvard e de Paris;
pertenceu às academias científicas de Nova Iorque, Paris e Lima; foi premiado
com medalha de ouro pela Universidade de Hamburgo (Prêmio Kummel); passou dois
anos viajando pelo vale amazônico, levantando a carta epidemiológica da região;
à frente de campanha profilática, erradicou a malária na cidade de Santos.
(Grande Enciclopédia Delta Larousse).
No
desempenho profissional, nada que identifique André Luiz com Carlos Chagas.
Este foi bacteriologista desde os tempos de estudante: André Luiz foi médico de
consultório, conforme declarado por Clarêncio e por ele próprio: “Não nego a sua capacidade como excelente
fisiologista, mas o campo da vida é muito extenso.” (N.L., pág. 82). Mais
adiante, é o próprio André Luiz que declara sua condição de médico: “Perdi muito tempo na vaidade inútil, fiz
enormes gastos de energia na ridícula adoração de mim mesmo... (...) No fundo,
era o desejo de continuar a ser o que tinha sido até então – o médico orgulhoso
e respeitado, cego nas pretensões descabidas do egotismo em que vivia,
encarcerado nas opiniões próprias.” (N.L., pág. 143).
Há,
ainda outros dados que podem ser comparados: André Luiz teve um filho e duas
filhas; Carlos Chagas teve dois filhos. André Luiz desencarnou de câncer, no
intestino, depois de sofrer duas operações graves, devido a oclusão intestinal
(N.L., pág. 32); Carlos Chagas desencarnou subitamente, na sua mesa de trabalho.
(Correio da Manhã, R. J., 09.11.34). Carlos Chagas ficou órfão de pai aos
quatro anos; o pai de André Luiz desencarnou três anos antes dele. Carlos
Chagas foi um benfeitor da Humanidade, reconhecido internacionalmente; André
Luiz, segundo Henrique de Luna: “O meu
amigo, no entanto, iludiu excelentes oportunidades, esperdiçando patrimônios
preciosos da experiência física. A longa tarefa, que lhe foi confiada pelos
Maiores da Espiritualidade Superior, foi reduzida a meras tentativas de
trabalho que não se consumou.” (N.L., pág. 33).
É de se ver que a novidade
anima tanto, a ponto de esses que se põem a propalá-la se esquecem das palavras
de Emmanuel, ao apresentar André Luiz, no prefácio do livro “Nosso Lar”: “Embalde os companheiros encarnados
procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção. Por vezes o
anonimato é filho do legítimo entendimento e do legítimo amor (...). É por isso
que não podemos apresentar o médico terrestre e autor humano, mas sim o novo
amigo e irmão na eternidade.”
Diante de duas vidas em tudo
tão diferentes, será que o que foi dito sobre André Luiz o foi apenas para
despistar? Nesse caso, o livro traria uma longa série de inverdades, todas
forjadas com o intuito de enganar o leitor. Apenas silenciar, não seria mais
consentâneo com o caráter da Doutrina? E – mais grave ainda – se tivermos
alguma dúvida sobre as declarações desses Espíritos, inclusive do próprio André
Luiz, como acreditar no resto do livro?
Importa se observe que a
argumentação de “André Luiz”, nesse diálogo, aponta exatamente no sentido contrário
a qualquer revelação de identidade, quando lembra o rumoroso “Caso Humberto de
Campos”, e o cuidado posteriormente tomado na publicação da obra “Voltei”, o
que foi feito sob pseudônimo. Por que, de um momento para outro, é revelado que
Jacob foi Frederico Figner, e que André Luiz foi Carlos Chagas? Quem teria
decidido a suspensão do anonimato? Será que não persiste o risco de
“estardalhaço da imprensa leiga”, além de ação judicial semelhante à do Caso
Humberto de Campos? Além do mais, como entender essa mudança de atitude do
Mundo Espiritual, se na Terra tudo continua como dantes?
“Enganam-se
os que pensam que sejamos assexuados... (...) E nascem crianças por aqui? (...) É claro que sim, no entanto, convém que
o senhor não se aprofunde agora neste assunto, pois correrá o risco de
invalidar toda a sua obra...” (214/215).
Já que o assunto correria “o risco de invalidar toda
a sua obra”, por que foi citado? Seria melhor calar a respeito. Na verdade,
fica um tanto difícil entender o nascimento de crianças no Mundo Espiritual,
principalmente diante do que é ensinado em “Evolução em Dois Mundos”. Ali,
vê-se que o princípio inteligente evolui pari
passu com o corpo físico. De fato foi revelado que há vegetação em “Nosso
Lar”, logo há células vivas, há algum processo de reprodução celular. Mas no
caso humano, o assunto apresenta outros aspectos. Com que fim um Espírito
tomaria um novo corpo espiritual? Esse corpo teria que ser gestado no útero de
uma mulher? Haveria o esquecimento do passado? A ser real essa revelação, salta
aos olhos o contraste entre a magnitude de tal assunto e a superficialidade,
para não dizer leviandade, com que foi tratado. Percebe-se, com facilidade, que
o assunto trará muita polêmica inútil, e que em nada contribuirá para o esforço
de aperfeiçoamento humano, tão urgente nesta fase da vida na Terra. Além disso,
confundirá ainda mais aqueles que ainda não conseguem ainda entender a reencarnação
nem na Terra...
“O
sexo, além da morte, não é algo pecaminoso: é instrumento de sublimação.” (216).
O sexo não é algo pecaminoso em lugar algum, nem em
dimensão alguma. O seu mau uso, sim, é pecaminoso, tanto na Terra, quanto nos
Planos Espirituais.
Finalmente, para que se analisasse minuciosamente os
capítulos 35 e 36, seria necessário escrever todo um livro...
José Passini
passinijose@yahoo.com.br
Fico muito chateado por ser tão ignorante na DE. Comecei a ler as obras espíritas por volta do ano 2.000, embora à época já contasse 53 anos. Portanto, não tenho a lucidez nem o vasto conhecimento que o querido Passini tem. Então, leio sempre suas críticas para me ajudar na separação do joio e do trigo.
ResponderExcluirMuito obrigado.
Fico muito chateado por ser tão ignorante na DE. Comecei a ler as obras espíritas por volta do ano 2.000, embora à época já contasse 53 anos. Portanto, não tenho a lucidez nem o vasto conhecimento que o querido Passini tem. Então, leio sempre suas críticas para me ajudar na separação do joio e do trigo.
ResponderExcluirMuito obrigado.