MINHAS PÁGINAS

  • LEITORES
  • segunda-feira, 7 de julho de 2014

    A Nova Literatura Mediúnica (José Passini)


    “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”
    Paulo (I Co, 14: 29)

    As palavras de Paulo – inegavelmente a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos – deveriam servir de alerta àqueles que têm a responsabilidade da publicação de obras de origem mediúnica.

    A literatura mediúnica tem aumentado de maneira assustadora. Diariamente, aparecem novos médiuns, novos livros, alguns bem redigidos, se observados quanto ao aspecto gramatical, mas de conteúdo duvidoso se analisadas as revelações fantasiosas que iludem muitos novatos, ainda sem conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame criterioso daquilo que leem.

    Muitos desses livros se originam de Espíritos ardilosos que, de maneira sutil, se lançam no meio espírita como arautos de novas revelações capazes de encantarem leitores menos preparados, aqueles sem um lastro de conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame lúcido, capaz de os levar a conclusões esclarecedoras.

    Muitas pessoas que conheceram recentemente a Doutrina, antes de estudarem Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne e outros autores conceituados; antes de lerem as obras de médiuns como Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco, José Raul Teixeira, estão se deparando com obras fantasiosas, escritas em linguagem vulgar, contendo o que pretendem seus autores – encarnados e desencarnados – sejam novas revelações.

    Bezerra de Menezes, Emmanuel, André Luiz, Meimei, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis e tantos outros Espíritos se tornaram conhecidos e respeitados pelo conteúdo sério, objetivo, seguro, esclarecedor de suas obras, sempre redigidas em linguagem nobre. Esses Espíritos conquistaram, pouco a pouco, o respeito, a credibilidade e a admiração do público espírita pelo conteúdo de seus escritos, na forma de mensagens ou de livros, publicados espaçadamente, como que dando tempo a um estudo sereno e criterioso do seu conteúdo.

    Nos dias que correm, infelizmente, o quadro se modificou. Muitos médiuns, valendo-se de nomes já conhecidos pelo valor de suas obras, tentam impor-se aos leitores espíritas, não pelo valor das mensagens em si, mas escorados em nomes respeitáveis.

    Sabendo-se que nomes pouco importam aos Espíritos esclarecidos, é de se perguntar por que os benfeitores que se notabilizaram através de Francisco Cândido Xavier haveriam de continuar usando seus nomes em mensagens transmitidas através de outros médiuns? Se o importante é servir à causa do Bem, por que essa continuidade na identificação, tão pessoal, tão terrena? Não seria mais consentâneo com a impessoalidade do trabalho dos Servidores do Bem deixar que o valor intrínseco da mensagem se revele, sem estar escorado num nome conhecido? Por que não deixar que a mensagem se imponha pelo valor de seu conteúdo? Por que escudar-se em nomes respeitáveis, quando o texto não resiste a uma comparação, até mesmo superficial, de conteúdo e, às vezes, até mesmo de forma?

    Por que essa ânsia insofreável de publicar tudo o que se recebe – ou que se imagina ter recebido – dos Espíritos? Onde o critério, a sobriedade tantas vezes recomendada na obra de Kardec? Será que o público espírita já leu, estudou, analisou, entendeu toda a produção mediúnica produzida até agora?

    Ao dizer isso não se está afirmando que a fase de produção mediúnica está encerrada. Sabe-se que a Doutrina é dinâmica, que a revelação é progressiva. Progressiva, e não regressiva, pois há obras que estão muito abaixo daquilo que se publicou até hoje, para não dizer que há aquelas que nunca deveriam estar sendo publicadas.

    Infelizmente, os periódicos espíritas, de modo geral, não publicam análises dessas obras que estão sendo comercializadas, ostentando indevidamente o nome da Doutrina. 

    Impera, no meio espírita, um sentimento de falsa caridade, um pieguismo mesmo, que impede se analise uma obra diante do público. Essas atitudes é que encorajam médiuns ávidos de notoriedade à publicação dessa verdadeira avalancha de obras, que vão desde aquelas discutíveis a outras verdadeiramente reprováveis.

    Nesse particular, é justo se chame a atenção dos dirigentes de núcleos espíritas, sejam centros, sejam livrarias, a fim de que avaliem a responsabilidade que lhes cabe quanto ao que é dado a público em nome do Espiritismo. O dirigente – ou o grupo responsável pela direção de uma casa espírita – responderá perante o Alto, sem a menor dúvida, pela fidelidade aos princípios doutrinários de tudo o que se divulga em nome do Espiritismo, seja na exposição oral, num livro ou simplesmente num folheto. O mesmo se diga relativamente àqueles responsáveis pelas associações intituladas “clube do livro”.

    José Passini
    passinijose@yahoo.com.br

    Análise, Apreciação, Crítica (José Passini)

    Qualquer obra ao ser exposta ao público fica sujeita à análise, à apreciação, à crítica, da parte daqueles que a examinam, seja ela uma escultura, uma música, uma pintura ou uma página literária.

    No mundo da literatura, há até a atividade normal de pessoas que se especializam em crítica literária, exercendo-a, sem que os autores de artigos ou de livros sintam-se ofendidos por verem suas idéias, suas posições, ou opiniões serem analisadas, criticadas, contestadas, desde que através de linguagem compatível com a ética e com o respeito.

    Esses trabalhos de crítica literária são, não raro, usados em estudos levados a efeito em academias de letras, ou em cursos universitários de língua e literatura, com real proveito para aqueles que se entregam ao aprendizado da arte de bem escrever, seja num Curso de Letras, seja num de Comunicação Social.

    Tendo consciência de que haverá aqueles que analisarão e darão a público sua apreciação sobre aquilo que publica, o autor, por certo, preocupar-se-á com o que diz, e como o diz, ou seja, com o conteúdo e com a forma.

    No meio espírita, infelizmente, isso não se dá. Atualmente, assiste-se a uma verdadeira avalancha de obras, na maioria mediúnicas, cheias de inovações, de revelações, de modismos, sem que haja espaço na imprensa espírita para uma apreciação séria, clara, fraterna, a respeito de conteúdos altamente duvidosos, que são levados a público como se fossem verdades reveladas. 

    Paulo, a maior autoridade em assuntos mediúnicos nos tempos apostólicos, conforme se constata nos caps. 12 e 14 da sua Primeira Carta aos Coríntios, dentre outras orientações, recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”1 Sábio conselho, repetido reiteradamente mais tarde na obra de Kardec, destina-se à prevenção contra o deslumbramento, a vaidade, à atuação de Espíritos enganadores no intercâmbio mediúnico. Cuidado semelhante pode-se observar também em João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.”2

    Será que estamos esperando que aqueles que combatem o Espiritismo venham trazer a público certos absurdos que estão sendo publicados ante a comunidade espírita completamente silente, sem que tenhamos meios de demonstrar-lhes que certas “revelações” foram contestadas? Ou será que foi esquecido o brocardo: “Quem cala, consente.”? Será que Kardec não sairia hoje em defesa dos verdadeiros postulados espíritas? Ou calar-se-ia, receando desagradar pessoas? Onde podemos situar a recomendação de Erasto: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”3

    A Federação Espírita Brasileira e várias outras editoras são entidades de utilidade pública e que, coerentemente com o que ensina o Espiritismo, não visam a lucros. Malgrado esses nobres exemplos, instalaram-se inúmeras editoras que aí estão a divulgar obras que contrariam frontalmente os postulados espíritas, através de publicações que, embora declarem serem os recursos obtidos destinados a entidades assistenciais – o que jamais deve influir na análise doutrinária das publicações – agem como entidades meramente comerciais, colocando o lucro acima do ideal da divulgação. 

    O médium, autor material dessas obras, por vezes é pessoa bondosa, bem intencionada, até promotora de nobres atividades no âmbito da assistência social. Mas o seu trabalho nesse setor será suficiente para legitimar sua produção mediúnica, transformando-a em livros? Lamentavelmente, há aqueles que confundem caridade com pieguismo. Dizem que não se pode ir contra um irmão. Ninguém, em sã consciência deve criticar o autor, mas sim a obra. Aquele deve ser preservado, em nome do respeito que se deve ter para as suas boas intenções, mas esta deve ser analisada, dissecada. Essa maneira de agir aprende-se com Jesus, que nunca atacava o pecador, mas o pecado.

    Nesse contexto, deve ser ressaltada a responsabilidade daqueles que dirigem estabelecimentos espíritas, sejam centros ou livrarias, no sentido de fazerem a devida seleção do material escrito divulgado no recinto da instituição. Muito maior do que a preocupação com o conteúdo da exposição oral, deve ser o cuidado com o material impresso entregue ao público, seja livro ou folheto avulso, pois um livro adquirido, ou tomado por empréstimo, numa instituição espírita – principalmente para o leigo –, será tomado como legítimo.

    Entretanto, há dirigentes que se abrigam sob a capa de uma falsa caridade em relação aos autores. Omitem-se quanto a um cuidadoso exame, deixando de ler, ou de colocar nas mãos de irmãos responsáveis, para análise, muitas obras que estão aí a tentarem desmentir a seriedade da mensagem espírita, permitindo seja ela apresentada na forma de romances, relatos, “revelações”, em linguagem absolutamente não condizente com a seriedade e com a nobreza da doutrina que herdamos de Kardec.

     José Passini 
    jose.passini@gmail.com      

      
    1. I Co, 14: 29
    2. I Jo, 4: 1

    3. O Livro dos Médiuns, 230

    COBRANÇA (José Passini)


                                                                                                        “... de graça recebestes, de graça  daí.”   Jesus (Mt, 10: 8)

    Vez por outra, discute-se no meio espírita a questão do pagamento de taxa de inscrição para participação em eventos doutrinários. É tema delicado, que envolve muitas situações particulares e, às vezes, se choca frontalmente com opiniões até apaixonadas de alguns irmãos. Por isso, merece a atenção e a preocupação daqueles que se propõem ao trabalho espírita, mantendo as atividades sob a sua responsabilidade dentro dos parâmetros saudáveis que não são facilmente verbalizáveis numa lista de “permitido/proibido”, mas intuitivamente sentidos por todo espírita que busca agir com equilíbrio e bom-senso.
    É imprescindível tenhamos cuidado constante, muita vigilância e apoio na oração, na busca de diretrizes do Alto, a fim de não levarmos o Movimento Espírita a incidir nos mesmos desvios sofridos pelo Movimento Cristão que, vagarosa e imperceptivelmente se tornou uma religião institucionalizada, hierarquizada, na qual o trato com valores monetários passou, da contribuição espontânea para assistência aos mais necessitados, à fixação de taxas disfarçadas sob vários nomes, encaminhadas para a manutenção do profissionalismo, construção de prédios e acumulação de riquezas.
    Necessário se faz que nós, que abraçamos a Doutrina Espírita – e que temos a certeza inabalável da sua missão de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais – avaliemos as ações que estão sendo levadas a efeito na nossa esfera de decisão, com vistas aos reais objetivos do Espiritismo.
    Entre os extremos de dar tudo de graça – inclusive livros – e cobrar entrada ou taxa de inscrição para palestras, simpósios, seminários, há um meio-termo ideal, ditado pelo bom-senso.
    Mesmo no tocante ao livro, devemos tomar cuidado para que não se estabeleça uma comercialização exacerbada, em detrimento da qualidade das obras, como, lamentavelmente, já se vê. O produto da venda do livro espírita deve objetivar o ressarcimento dos custos, ou a manutenção de atividade social. Infelizmente, não é o que se constata em muitos casos, diante do alto preço de obras – algumas de qualidade duvidosa, sob o aspecto doutrinário – que têm sido lançadas no mercado ultimamente, muitas das quais vendidas em livrarias ou centros espíritas, cujos dirigentes, muitas vezes, tentados pela obtenção de recursos para melhoria de instalações para ou trabalho assistencial, deixam de examiná-las criteriosamente. Não estamos defendendo, com isso, o estabelecimento de um “index”. Só nos move a lembrança de que uma instituição espírita ao divulgar uma obra está – para a maioria das pessoas – dando-lhe aval doutrinário.
    O ideal seria que as editoras fossem sociedades civis, dirigidas por conselhos não-remunerados, como acontece nos centros e outras entidades espíritas. Conforme as conveniências, os livros poderiam ser confeccionados em empresas especializadas e as entidades espíritas promoveriam a sua venda a preços capazes de apenas manter as editoras funcionando. Somente os profissionais dessas sociedades seriam assalariados para a prestação de serviços específicos, como existem em muitas entidades espíritas.
             Quanto ao pagamento de taxa de inscrição, há pessoas que argumentam não terem as casas espíritas fundos suficientes para cobrir despesas com viagem de expositores, aluguel de auditório, material de trabalho. Daí, argumentam, a necessidade da cobrança de taxa de inscrição.
    Será que não há outros meios de se resolver o problema? Sempre chamamos a atenção de companheiros de ideal, dirigentes de casas espíritas, para o fato de necessitarmos de colaboradores financeiros, a fim conseguir recursos para o pagamento de despesas, como água, luz, telefone, material de limpeza, conservação do imóvel, etc. Há grupos espíritas que têm excesso de escrúpulos no sentido de pedir ao público em geral, levando o ônus financeiro a alguns poucos. Neste particular, lembramos Emmanuel, que aconselhou: “As obras espíritas devem ser mantidas com o pouco de muitos e não o muito de poucos.”
    Concordamos que determinados eventos demandam grande movimentação financeira, entretanto cremos que há outros meios, que não sejam o de pura cobrança de taxa de inscrição ou ingresso. São procedimentos mais trabalhosos, mas parece-nos serem mais féis à maneira espírita de agir.
    Por exemplo: planeja-se um seminário para algumas centenas de pessoas. Sabemos que há custos: material para estudo, pastas, e, às vezes, aluguel de auditório, serviço de som, etc. Nesse caso, por que não fazer um levantamento prévio dos custos e solicitar a contribuição sigilosa e espontânea daquele que se inscreve, alertando que, se todos pudessem pagar, o custo “per capita” seria tal, mas como nem todos dispõem de recursos, pede-se um pouco mais daqueles que podem doar.
    Não se estaria assim evitando uma seleção de participantes com base no poder monetário?  Como ficaria a situação de uma família que, integrada no movimento espírita, não tivesse recursos para pagamento da taxa?
    Alguém, num juízo apressado, poderá dizer que não dará certo, vez que as pessoas não estão preparadas para uma contribuição espontânea. Nesse caso, achamos que seria necessário inicialmente um longo trabalho educativo dessa comunidade, a fim de sensibilizá-la para o exercício da fraternidade cristã, o que significaria uma boa base para o posterior aproveitamento de seminários mais teóricos.
    Se medidas como essas não derem certo, é porque aquela comunidade espírita ainda não está suficientemente madura para empreendimentos mais amplos. Carece-lhe base. Nesse caso, seria preferível a não-realização do evento. O prejuízo para a divulgação da Doutrina Espírita seria menor.                          
    Lembremo-nos de que Paulo divulgava o Cristianismo viajando a pé, trabalhando em teares alugados, hospedando-se em casa de irmãos, falando diante de pequenos grupos. A divulgação do Cristianismo foi feita num trabalho de “contaminação” quase que de pessoa para pessoa. Não devemos perder isso de vista. Não desejemos trabalhos de “massificação” no Espiritismo. Sua maior propaganda é feita pelo testemunho de vivência pessoal dos espíritas. Lembremo-nos de que, durante mais de um século, o Espiritismo divulgou-se sem cobrança de inscrições e de ingressos e sem essa comercialização desvairada de livros... E divulgou-se muito, de maneira segura. E quando nos assalte a dúvida, é só olharmos para os imensos patrimônios materiais que os nossos predecessores nos deixaram e imaginarmos como eles conseguiram isso tudo.
                                                                                                                                                  
                                                                                                                                         José Passini
                                                                                                                                  Juiz de Fora MG           
                                                                                                          jose.passini@gmail.com
                                       

    Considerações sobre Mediunidade (José Passini)



    José Passini
    A mediunidade é conhecida e registrada desde tempos remotíssimos. Conheceram-na hindus, egípcios, os gregos e os hebreus. Os registros mais acessíveis encontramo-los no Judaísmo, no assim chamado profetismo. Todos os reis de Israel eram aconselhados por profetas, quando eles próprios não o eram. Os profetas, além de anunciarem, por séculos seguidos, a vinda de Jesus, tiveram presença marcante nas cortes de Israel, cujos reis recebiam, através deles, orientações e até severas admoestações do Mundo Espiritual. Os reis, que não raro eram prepotentes, por não gostarem das advertências recebidas, às vezes ordenavam severos castigos aos profetas, conforme registra Paulo: “Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de pele de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados.” (Heb, 11: 37).

    O Velho Testamento registra inúmeros fenômenos mediúnicos, como aquele ocorrido diante do rei Baltazar e de sua corte reunida no palácio: “... uns dedos de mão de homem, e escreviam, defronte do castiçal, na estucada da parede do palácio real; e o rei via a parte da mão que estava escrevendo.” A mensagem era escrita em língua desconhecida de todos, inclusive dos magos e adivinhos que o rei mandara chamar. É então chamado Daniel, que decifra a mensagem, anunciando corajosamente o fim do reinado de Baltazar, que morre naquela mesma noite. (Dan, cap. 5). 

    No capítulo 3, do Primeiro livro de Samuel, este, pela sua mediunidade nascente, informa ao sacerdote Eli que ele havia caído em desgraça diante de Deus por não educar convenientemente seus filhos. Nesse mesmo livro, no capítulo 28, há o registro da visita que o rei Saul fez à pitonisa de Endor, conforme título dado pelo tradutor João Ferreira de Almeida. Há traduções mais modernas em que a palavra pitonisa foi substituída por médium, sobressaindo-se uma que diz médium espírita. (Whatchtower Bible and Tract Society of New York, inc.) A impropriedade da expressão é flagrante, pois se existem médiuns desde todo o sempre, Espiritismo só existe a partir de 1857, quando Kardec cunhou os vocábulos Espiritismo, espiritista e espírita. Foi ele quem tomou ao latim a palavra medium, na sua forma original, para designar o intermediário, o profeta, em linguagem própria do Espiritismo. Por aí pode-se avaliar o grau de desconhecimento, ou o desejo de confundir... Na citada passagem, fica patenteada a conversa do rei Saul com o espírito Samuel, através daquela mulher. Nessa oportunidade, o rei foi advertido que, se entrasse na batalha, morreria ele e morreriam seus filhos. Ele, que era prepotente, como estava a buscar apoio e não conselho, entrou em luta com os Filisteus e morreu, juntamente com os filhos, como fora previsto pelo Espírito. 

    Entretanto, há alguns apaixonados, negadores por sistema, incapazes de raciocinar, que dizem ter sido o rei Saul enganado pelo Demônio. Diante disso seria de se perguntar que demônio bom seria esse que lhe deu um bom conselho, tentando desviá-lo da morte...

    Há, ainda, os que invocam a proibição de se consultarem os mortos, contida no livro Deuteronômio, capítulo 18, a ela referindo-se como lei de Deus. Como se sabe, as Leis de Deus são as dos Dez Mandamentos. Essa proibição faz parte dos regulamentos disciplinares de Moisés, que pretendeu, com essa medida, coibir os abusos do intercâmbio mediúnico – com o que o Espiritismo concorda plenamente – com a única diferença de não proibir, mas apenas desaconselhar, vez que o Espiritismo não proíbe nada... A mediunidade, segundo se aprende no Espiritismo, deve ser usada para fins nobres, de interesse geral, e não para conversa miúda.

    Deve-se ressaltar, entretanto, que a própria proibição de Moisés constitui prova concludente a respeito da existência do fenômeno mediúnico, pois ninguém proíbe o que não existe. As leis são sempre feitas a posteriori, isto é, para regulamentar ou proibir uma atividade já existente. Por que não há lei que proíba alguém voar sobre o quintal do seu vizinho? Simplesmente porque o homem não voa. Mas, no momento em que se inventar um aparelho que possibilite o vôo individual ao homem, haverá certamente leis que irão resguardar a privacidade das pessoas, prevendo punição àqueles que as transgredirem. A própria existência da lei constituirá prova cabal de que, a partir de determinada época, o homem começou a voar...

    Quem pode negar a condição de médium aos profetas bíblicos? A palavra profeta, na sua origem, já indica a condição de medianeiro, de intermediário. A edição da Bíblia Sagrada da Editora das Américas (vol. 15), na sua Introdução Geral dos Livros do Antigo e Novo Testamentos, diz que os homens que recebiam as manifestações divinas eram conhecidos por nebi-in (plural de nabi), que significa “aquele que fala em nome de alguém”. Quando os textos bíblicos começaram a ser traduzidos em Grego, a palavra nabi foi traduzida pelo termo prophetes.

    O termo grego é formado pelo prefixo pro, que significa em lugar de e phetes, que quer dizer locutor, logo aquele que fala em lugar de alguém, por alguém. 

    A Enciclopædia Britannica (edição original) diz que a origem da palavra nabi é obscura, mas que suas derivações significam “intensa excitação”, reportando-se a uma palavra assíria que significa cair em transe. 

    Algumas enciclopédias, como a Britannica e a Americana mostram o verdadeiro significado da palavra: A Britannica diz que profeta em Grego clássico quer dizer “aquele que, ao falar, não o faz pelos seus pensamentos, mas por uma revelação “de fora”. Cita Platão: “Não devem ser chamados profetas aqueles que simplesmente interpretam oráculos, mas aqueles que falam em transe.”

    No dicionário de Funk & Wagnalls, lê-se: “no contexto bíblico, profetizar é pronunciar verdades religiosas sob inspiração divina, não necessariamente predizer acontecimentos futuros, mas admoestar, exortar, confortar”. (apud “As Marcas do Cristo”, de Hermínio Miranda). Exatamente como entende o Espiritismo: os profetas bíblicos eram médiuns! E existiram profetas maiores, que se notabilizaram, deixando seus nomes na História, e outros de menor expressão, que passaram anônimos. O mesmo ocorre na atualidade com os médiuns, sejam eles espíritas ou não.

    É relevante que se diga que o Dicionário da Bíblia, de John D. Davis, em seu verbete Espírito Familiar diz: “Espírito de uma pessoa falecida que os médiuns invocavam para consultas, que parecem falar desde a terra, ou encarnar-se (sic) no médium, homem ou mulher”.

    No Novo Testamento encontramos provas de que o profetismo teve a sua atividade estimulada. No Cristianismo nascente, a presença da mediunidade foi marcante. É digna de nota a naturalidade com que são relatados os fenômenos mediúnicos no Novo Testamento. O Apóstolo Paulo, seguramente a maior autoridade em assuntos mediúnicos do seu tempo, escreveu o primeiro livro dos médiuns de que se tem notícia. O Apóstolo revela profundo conhecimento do fenômeno em sua Primeira Carta aos Coríntios, nos capítulos 12 e 14. Paulo, não só reconhece o exercício mediúnico como atividade útil, como recomenda o seu desenvolvimento, conforme se lê no primeiro versículo do capítulo 14: “Segui a caridade, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar.”

    No capítulo 12, Paulo assim se refere à mediunidade: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil." E passa, a seguir, a enumerar os vários tipos de mediunidade, que João Ferreira de Almeida, na sua tradução da Vulgata Latina para o Português, intitula Acerca da diversidade dos dons espirituais: “Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência.”

    Paulo continua enumerando os dons, falando da mediunidade de cura, de efeitos físicos, a que ele chama operação de maravilhas. (A Parapsicologia diz ectoplasmia). Chega a dizer do dom de discernir espíritos, que pode ser interpretado como a mediunidade intuitiva que deve ter aquele que dirige uma reunião mediúnica, a fim de saber com que espírito dialoga através de um médium.

    Refere-se também à capacidade de falar línguas, mediunidade que o Espiritismo cataloga como xenoglossia. Mas, com o bom senso que lhe conhecemos, adverte judiciosamente, numa demonstração de que entendia a mediunidade como prática útil, construtiva, edificante: “Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo e com Deus.” (I Co, 14: 28)

    Paulo entendia o exercício mediúnico como atividade eminentemente prática, não se perdendo ele em encantamentos místicos. É dentro dessa perspectiva que ele recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29) Essa passagem está inserida num trecho a que João Ferreira de Almeida, em sua tradução, intitulou: A necessidade de ordem no culto. O que demonstra ter também o tradutor entendido que a prática mediúnica requer controle e avaliação.

    Essa necessidade de análise das comunicações é enfatizada também por João (I Jo, 4: 1), quando diz: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” 

    Essas duas passagens, primeiro a de Paulo, recomendando seja feito um julgamento após duas ou três comunicações e a de João, no sentido de se verificar a índole do espírito que se comunica, servem de resposta aos que dizem que é o Demônio que sempre se comunica. Ora, se se comunicassem apenas espíritos voltados ao mal, nem um nem outro teria feito recomendações no sentido de serem feitas as verificações e avaliadas as comunicações. Teriam, simplesmente, dito que todas as comunicações deveriam ser recusadas por serem produzidas por espíritos malignos, como querem aqueles que, teimosamente, negam a mediunidade. 

    Embora existam ainda aqueles que negam a mediunidade, os tempos estão mudando. Depois do longo e benéfico testemunho de Francisco Cândido Xavier, muitos milhares de pessoas conseguem ver a mediunidade como atividade caridosa e respeitável, vendo nele um profeta dos tempos novos, um profeta cristão, que se enquadrou perfeitamente na recomendação contida no livro Didaquê, segundo registro no verbete “profeta” da Enciclopædia Britannica: “Profeta para ser digno de acatamento e respeito deve ter piedade indubitável e conduta digna do Senhor.”

    José Passini
    Juiz de Fora

    FIDELIDADE DOUTRINÁRIA (Jose Passini)

    Há pessoas que estão sempre a buscar atalhos, soluções prontas, para agirem sem o esforço da análise, do exame cuidadoso, conforme recomenda o Apóstolo Paulo: “Examinai tudo; retende o bem.” (I Ts, 5: 21). Essas pessoas, por certo, ainda não entenderam a inspirada assertiva do Codificador, ao grafar na folha de rosto do primeiro livro eminentemente religioso da Doutrina, O Evangelho segundo o Espiritismo: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” O esforço para a construção dessa fé inabalável é penoso para aqueles que desejam receber tudo pronto. Os que assim se posicionam têm muitas dúvidas no terreno da fidelidade doutrinária. Seria do seu agrado o estabelecimento de um index para orientar o que deveriam ler, de um manual de procedimentos para as atividades desenvolvidas nos centros espíritas e, também, de uma cartilha de orientação para o seu próprio procedimento em sociedade.

    Em relação à fidelidade doutrinária, há posições as mais variadas assumidas pelas pessoas. Há aquelas que desejariam houvesse uma lista de obras “condenadas”, o que lhes facilitaria a escolha para a leitura de informações seguras, sem terem que “esquentar a cabeça”. No outro extremo, outras há que reagem negativamente a qualquer tipo de avaliação ou de juízo formulado sobre uma publicação, tachando tal ato como estabelecimento de um index.

    Nesse contexto, deve ser lembrado que uma das características marcantes do Espiritismo é exatamente a liberdade que confere aos seus profitentes. Liberdade aprendida com Jesus, que nunca constrangeu ninguém a fazer ou deixar de fazer algo, simplesmente porque lhe fora ordenado. O Mestre sempre buscava levar o ouvinte a entender os seus ensinamentos, raciocinando sobre eles, o que obtinha através dos diálogos que estabelecia.

    Muitas passagens discutíveis do Novo Testamento, muitas palavras e frases atribuídas a Jesus, lá estão porque o Alto o permitiu. Apesar de muitos cortes, acréscimos e adaptações, o essencial foi conservado intacto. O que se tornou objeto de discussão serve para aprendermos a raciocinar em termos de fé e exercitarmos o bom-senso. Se Jesus tivesse vindo para trazer-nos fórmulas acabadas de salvação – tão a gosto dos simplistas – não teria sido carpinteiro, mas sim canteiro, pois trabalhando com pedras teria oportunidade de deixar seus ensinamentos insculpidos em lajes, como verdadeiras “receitas” de salvação, a serem seguidas ipsis verbis pelos séculos afora. Esse desejo do Mestre, de conduzir seus discípulos ao estudo e à reflexão, fica muito claro quando recomenda: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo, 8: 32).

    Dentro dessa perspectiva, como encontrar o ponto de equilíbrio entre os que querem um index e um manual de procedimentos, e aqueles que advogam liberdade ampla, total e irrestrita? Avaliar se uma obra ou uma prática está em consonância com os princípios doutrinários é tarefa para quem conhece realmente a Doutrina. Daí, a necessidade do estudo, da reflexão, da análise serena e desapaixonada, a fim de que se chegue à conclusão do que está de acordo e do que está em confronto com as verdades que o Espiritismo esposa.

    A preservação da fidelidade doutrinária no que diz respeito às práticas desenvolvidas numa entidade espírita é mais fácil, pois ninguém usaria velas, bebidas, fumaça, roupas especiais, imagens, rituais, etc. Entretanto, quando se trata do uso da palavra, seja oralmente, seja por escrito, a tarefa de verificação se torna mais difícil. Mais difícil porque esbarra, quase sempre, no personalismo camuflado numa capa de inovação, renovação, atualização, etc. 

    A mediunidade tem sido veículo para a divulgação de muitas “novidades” que deveriam ter merecido acurado exame antes de se terem transformado em folhetos e, principalmente, em livros. Infelizmente, o encantamento provocado pelo fenômeno ainda oblitera a visão de muitos, conduzindo-os a entendimentos equivocados.

    Se houvesse mais estudo da Codificação, por certo o número de obras anti-doutrinárias existentes, tanto pela ação de médiuns quanto de leitores seria bem menor, para não dizermos nulo. Temos o exemplo maior em Kardec, que se conservou sereno e judicioso, embora a imensa emoção que deve ter sentido ao comprovar a imortalidade da alma, ao “descobrir” o Mundo Espiritual, e ao verificar o relacionamento efetivo entre encarnados e desencarnados. É oportuno seja lembrada a sempre atual advertência de Erasto, que Kardec inseriu em O Livro dos Médiuns: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” (item 230).

    A necessidade do uso do bom-senso no campo da mediunidade é evidenciada desde os tempos apostólicos, conforme se aprende com o Apóstolo Paulo – seguramente a maior autoridade em assuntos mediúnicos no Cristianismo nascente – que recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29). O mesmo cuidado é recomendado por João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. (I Jo, 4: 1). 

    Essas recomendações continuam atualíssimas, diante do momento que vivemos, pois atravessamos um período que nos requer muita atenção relativamente à fidelidade doutrinária, principalmente no campo mediúnico voltado à produção de livros. Note-se que o vocábulo produção é intencionalmente usado aqui para substituir publicação, pela verdadeira avalancha de obras mediúnicas que invadem as prateleiras das livrarias.

    Há uma ânsia desenfreada de se publicar tudo o que médiuns invigilantes produzem, sequiosos de verem seus nomes em capas de livros. Há editoras que descobriram um verdadeiro filão de ouro no meio espírita. Muitos dos que adquirem livros pensando estarem ajudando instituições de amparo a necessitados não são informados do que resta no final, depois de deduzidas as despesas e os ganhos das editoras... Os adversários do Espiritismo de há muito desistiram de combatê-lo através de ataques exteriores. Agora, eles se imiscuem no nosso Os adversários do Espiritismo de há muito desistiram de combatê-lo através de ataques exteriores. Agora, eles se imiscuem no nosso meio, onde quase imperceptivelmente, valendo-se da invigilância de expositores e de médiuns, buscam lançar o descrédito através de mensagens fantasiosas, quando não ridículas. Por isso, no quadro atual, mais que nunca, deve ser posta em prática a lapidar recomendação de Jesus: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação (...)” (Mt, 26: 41). Diante do exposto, fica claro que não se pode nem estabelecer um manual de procedimentos, nem elaborar um index, objetivando a preservação da fidelidade doutrinária. Mas, então, como proceder diante dessa quantidade imensa de obras inovadoras e de posicionamentos inusitados, cujas “revelações” e “modernizações” vão desde o simplesmente discutível ao claramente anti-doutrinário?

    Em atitudes discretas, equilibradas, ao amparo da oração sincera, cada espírita consciente deve constituir-se em guardião fiel dos princípios Em Em atitudes discretas, equilibradas, ao amparo da oração sincera, cada espírita consciente deve constituir-se em guardião fiel dos princípios doutrinários, o que será conseguido através do estudo, da reflexão, do uso do bom-senso.

    José Passini
    Juiz de Fora 
    jose.passini@gmail.com

    LITERATURA MEDIÚNICA (Jose Passini)


    “Melhor é repelir dez verdades do que
    admitir uma única falsidade uma só,
    teoria errônea.”
     Erasto-O Livro dos Médiuns, item 230                       
             Por reviver a Mensagem Cristã na sua pureza, objetividade e pujança originais, tem o Espiritismo sofrido ataques ao longo dos tempos. Anos a fio, aqueles incomodados com os esclarecimentos propiciados pela obra de Kardec promoveram verdadeiros bombardeios, objetivando descaracterizar a Doutrina Espírita como religião cristã.  Entretanto, como o bombardeio não alcançou o alvo desejado, decidiram os promotores desencarnados a mudar a estratégia, trocando o bombardeio pela implosão. O bombardeio sempre é mais notado pela movimentação de recursos externos, a fim de destruir. A implosão, ao contrário, passa despercebida até a hora do desmoronamento total.
    Cansaram-se as forças contrárias ao Espiritismo de combatê-lo de fora para dentro. Através dos médiuns usados fora do meio espírita, as Trevas não conseguiram desacreditar a Doutrina, embora tenham-se empenhado por larga faixa de tempo. Pelo contrário, ajudaram muito na divulgação dos postulados espíritas, porque as acusações falsas e as tentativas de ridicularização sempre foram rebatidas com a verdade, o que propiciava o conhecimento da Doutrina Espírita a muitos que dela não tinham notícia.
    Por isso, atualmente ninguém sai a público, através de periódicos ou de livros, na tentativa de atacar as teses espíritas, numa confrontação aberta, em que haja oportunidade de debate. Quando muito, uns ataques pela Internet, que não exibem endereço para resposta. Vê-se que o bombardeio vindo de fora quase desapareceu. As Trevas desistiram dessa prática. Agora, a o ataque é interno, pela implosão.
    Hoje, a Treva se empenha em atuar dentro dos arraiais espíritas, usando principalmente médiuns invigilantes, que publicam tudo o que recebem, sem atentarem para as sábias palavras do Espírito Erasto, conforme citado acima. Decidiram, as forças das Trevas, não mais atuar confrontando-se, mas fingindo caminhar ao lado, falando em Jesus, falando no Bem, doando parte do produto das edições de livros e discos a instituições de amparo, no intuito de criar simpatia e credibilidade.
    Mas, de permeio com ensinamentos nobres, estão atitudes ridículas, conversas banais, e verdadeiras caricaturas de respeitáveis personalidades que deixaram na Terra testemunho de trabalho e dignidade, agora mostradas como pessoas vulgares e desprovidas do nível de seriedade que sempre mantiveram enquanto encarnadas.
    Existe uma verdadeira avalancha de obras fantasiosas que pretendem trazer novidades, que vão desde o comentário leviano que invade a intimidade de pessoas, a pretensas revelações de novos pontos doutrinários. São obras capazes de causar admiração naqueles que não estudam e, por isso mesmo, se encantam e não observam que o objetivo maior delas é levar o Espiritismo ao descrédito. 
    Não podendo, os inimigos da Verdade, combater o Espiritismo no campo das idéias, procuram minimizá-lo, banalizá-lo através de diálogos pueris que, apresentando-se como linguagem descontraída, mais se assemelham à conversa descompromissada de uma roda de amigos do que a comentários em torno de temas doutrinários. Nessa tentativa de apequenamento da mensagem espírita, valem-se de tudo, até de humorismo barato, que tem aparecido através de médiuns fascinados, que ainda não atentaram para a milenar advertência: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. (I Jo, 4: 1).
    Essa advertência do Apóstolo João nunca encontrou tanta aplicabilidade como agora! É tempo de as livrarias espíritas analisarem com cuidado as obras que divulgam. Não se trata do estabelecimento de um index, mas de um critério para constatar o que é Espiritismo e o que não é, visto que, ao divulgar uma obra – seja um folheto, um disco ou um livro – um estabelecimento espírita está, automaticamente, pelo menos para o leigo – e é  justamente esse que deve ser orientado – legitimando o valor e a fidelidade daquela obra quanto às bases doutrinárias. É chegada a hora de se alertar o irmão que se deixou envolver, apontando-lhe os equívocos, e não se calando, a pretexto de um falso sentimento de fraternidade. O compromisso com a Verdade foi claramente declarado por  Jesus: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim, Não, não, porque o que passa disto é de procedência maligna.” (Mt, 5:37).
    Aos que acham que esse procedimento não é consentâneo com a liberdade que o Espiritismo confere aos seus profitentes, deve ser lembrado que sempre há um critério na seleção do que se entrega ao público numa casa que ostente o nome “espírita”, pois o critério deve caminhar ao lado da liberdade, uma vez que, em nome desta, ninguém concordaria que um estabelecimento espírita divulgasse todos os tipos de livros e revistas que são expostos em bancas e livrarias. Oportuna nessa hora, a recomendação do Apóstolo Paulo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convêm (...).” (I Co, 6: 12).


    José Passini
    Juiz de Fora  MG

    jose.passini@gmail.com

    Publicação de obras mediúnicas (Jose Passini)


    A publicação de livros mediúnicos tem crescido vertiginosamente. Na primeira década deste milênio, o volume aumentou de modo a chamar atenção de muitos médiuns e a excitar o desejo de lucro, da parte de determinadas editoras. Entretanto, paralelamente a esse crescimento editorial, a qualidade decresceu na mesma proporção. Há livros cuja tônica é o ataque sistemático a dirigentes espíritas e ao ingente trabalho de Unificação. Outros, se constituem em descrições mórbidas de zonas espirituais inferiores, com detalhamento de monstruosidades, do poder das Trevas, sem apontar caminhos e soluções para tal estado de coisas. Alguns há que trazem sutis mensagens de desvalorização do estudo, do esforço de auto-aprimoramento, veiculadas em linguagem pretensamente psicológica, conducente ao desencanto. Há ainda outros que, num discurso estéril, como arqueólogos espirituais, se lançam à pesquisa de quem foi quem, provocando discussões que só contribuem para o descrédito da Doutrina ante aqueles que dela se aproximam em busca de esclarecimento. Nisso, demonstram nunca terem lido as advertências veiculadas no trecho “O Esquecimento do Passado”, no cap. 5 de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, nem tampouco o cap. 10 de “Os Mensageiros”, de André Luiz, que mostra os prejuízos sofridos por um médium que se deixou levar por essas pesquisas do passado, nelas enovelando-se e perdendo a sua encarnação.
    Diante disso, pergunta-se: Por que esses Espíritos que agora fazem publicar tantas "revelações" fantasiosas a respeito da vida espiritual, relatando ambientes grotescos, aterrorizantes, pueris e mesmo cenas ridículas, levando muitos incautos à formação de quadros mentais negativos, por que não desenvolvem os palpitantes assuntos tratados por Kardec na Terceira Parte de “O Livro dos Espíritos”, as chamadas “Leis Morais”? Será por falta de conhecimento ou de talento? Há todo um manancial de temas a serem examinados à luz do Espiritismo nessa parte da obra, que poderia ser intitulada Sociologia Espiritual. Por que não apresentam estudos comparativos entre a sociedade terrena e as diferentes organizações sociais existentes no Mundo Espiritual? Por que não desdobram os ensinamentos trazidos por André Luiz a respeito da interação Mundo Físico e Mundo Espiritual, conforme descrito em suas obras, notadamente em “Os Mensageiros”, detalhando o trabalho levado a efeito, na Terra, pelos Espíritos desencarnados com a colaboração de encarnados libertos pelo sono físico? Será que a esses médiuns e aos Espíritos que por eles se comunicam escapa-lhes a consciência do objetivo principal da Doutrina Espírita, que é a revivescência do Evangelho de Jesus aplicado à vida diária como fator educativo do espírito imortal? Entretanto, o que mais se vê são relatos medíocres, fantasiosos, com pretensões de serem revelações ou romances.  
    Outra vertente muito explorada por Espíritos e médiuns pouco preocupados com a educação moral é a tão falada transferência, para outro planeta, dos Espíritos que não assimilaram princípios básicos de fraternidade. Esse planeta, como se fosse uma nave espacial, deveria aproximar-se da Terra a fim de buscá-los. Baseiam-se no fato de a Terra ter recebido, há milhares de anos, um grande contingente de Espíritos vindos de um planeta do sistema Cabra ou Capela, conforme descrição de Emmanuel na obra “A Caminho da Luz”. Mas os Espíritos que fazem os relatos atuais se esquecem de que a nossa Terra não se deslocou de sua órbita para, como um ônibus, para ir lá buscá-los. Afirmativas como essas constituem-se em verdadeiras heresias astronômicas, que são feitas em detrimento do bom senso e da seriedade da Doutrina dos Espíritos.
    Por que, em vez de fazerem esses relatos fantasiosos, esses Espíritos não promovem uma campanha no sentido incentivar a educação da juventude, discutindo temas como a sexualidade à luz do Espiritismo? Por que não discutem a responsabilidade na constituição de um lar, a vida em família, o encaminhamento dos filhos? Por que não incentivam a evangelização da infância, a ser levada a efeito no lar e no centro espírita? Por que não dão notícias detalhadas da vida daqueles que desencarnaram ainda na fase infantil? Por que não incentivam o Movimento Espírita a dar mais atenção ao Espírito recém-encarnado, portanto necessitado de orientação, invés de ficarem descrevendo cenas mórbidas de que teriam participado antes da sua encarnação? É bem verdade que a resposta recebida por Kardec, conforme o item 383 de “O Livro dos Espíritos”, ainda não ecoou suficientemente nas consciências de muitos daqueles que dirigem comunidades espíritas em todos os níveis: "Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo." Então por que esses Espíritos, que se dizem tão interessados em esclarecer, não encetam uma campanha no sentido de ajudar os recém-encarnados?
    Por que esperar que ele se torne adulto, que erre, para depois tentar convencê-lo dos valores do Evangelho? Ou, então, aguardá-lo à mesa mediúnica, na condição de sofredor resgatado de zonas umbralinas?
    É importante que se estude a obra de Kardec e de médiuns verdadeiramente afinados com os ideais do Espiritismo, ideais esses que estão muito acima da obtenção de lucro com a venda indiscriminada de obras ditas espíritas, como se o Centro Espírita, a Livraria Espírita, ou o Clube do Livro Espírita tivessem por finalidade única a obtenção de recursos financeiros a qualquer preço. Lembremo-nos de que o sucesso de um centro espírita não deve ser medido pela quantidade de passes que dá, nem pelo volume de água fluidificada que produz, nem pela quantidade de roupas ou alimentos dispensados, mas pelo número de Espíritos encarnados e desencarnados que encaminha rumo ao Bem, conforme ensinado e exemplificado por Jesus.

                                                                               José Passini
    jose.passini@gmail.com



    Responsabilidade Nossa (Jose Passini)


             Conscientes da responsabilidade que cabe a todos nós espíritas, no sentido da manutenção da fidelidade à Doutrina que nos ilumina os caminhos, é que devemos atentar para o cuidado que devemos ter quando usamos o nome “Espiritismo”.
             No Espiritismo não há autoridades religiosas que possam manifestar-se a favor ou contra qualquer publicação, tachando-a anti-doutrinária, nem tampouco condenar essa ou aquela prática levada a efeito numa sociedade espírita.
             O Espiritismo é uma doutrina de livre-exame, adotada por livres-pensadores. Seu embasamento dá-se em Jesus e em Kardec.
             Noutras religiões, há conselhos formados por pessoas que detêm um certo poder no campo doutrinário, e esses conselhos deliberam sobre pessoas que devam ser acatadas ou banidas do grupo. Igualmente deliberam sobre inovações e publicações.
             No Espiritismo não há nada disso. Todos os espíritas temos responsabilidade definida em tudo o que apresentamos ou que apenas prestigiamos em nome da Doutrina. Cada espírita é, no âmbito de suas atividades, um guardião dos princípios básicos do Espiritismo, cabendo-lhe – para ter o direito de dizer-se espírita – o dever de resguardar-lhe a coerência, a nobreza, a objetividade, a clareza, a simplicidade e a fidelidade aos princípios ético-morais do Evangelho de Jesus e aos princípios doutrinários estabelecidos pelos Espíritos Superiores, codificados por Kardec.
             Assim pensando, analisemos certas publicações que nos parecem estranhas:
             Fazendo-se um estudo sobre materialização, com base nas experiências de William Crookes, de Alexander Aksakoff e de outros cientistas que estudaram o fenômeno nos primeiros tempos do Espiritismo, vê-se que para se obter uma materialização ou um simples efeito físico há a necessidade do concurso de várias pessoas, de ambiente equilibrado e previamente preparado, além de um médium.
             André Luiz, no livro "Missionários da Luz", cap. 10, intitulado "Materialização", descreve detalhadamente os trabalhos exaustivos desenvolvidos por mais de vinte entidades, algumas de nobre hierarquia do Mundo Espiritual, numa sala mediúnica, onde se desenvolveriam os trabalhos de materialização.
             Como conciliar o exaustivo trabalho dos autores acima citados, somado a esse minucioso relato de André Luiz com o que se lê na obra "Por Amor ao Ideal" (págs. 282/286), psicografado por Carlos Antônio Baccelli, onde um Espírito desencarnado há um século teria conseguido materializar-se com os fluidos do cadáver de um bêbado, e teria saído, materializado, de dentro da cova, caminhado pelas ruas e se consultando com um médico psiquiatra, por várias vezes, sem sequer dizer seu nome? E o psiquiatra não lhe estranhou as vestes de mais de um século atrás? Nem há explicação de como falava Português. Se fosse tão fácil e corriqueira assim a materialização, nunca se saberia se a pessoa, que encontramos na rua, está encarnada ou se é um espírito materializado...
             No livro "A Escada de Jacó" (págs. 186/187), do mesmo autor, é descrito o uso de fluidos de um camelo agonizante no socorro dado por um Espírito a um menino encarnado que tivera os dois braços arrancados por uma explosão e que se teria tornado vidente, pois falava com o Espírito que o socorria, comentando até os seus planos futuros de tornar-se médico também. É de se estranhar, também, que alguém que perdera dois braços não tivesse desmaiado ou não estivesse gritando de dor.
             Se é tão fácil a obtenção de fluidos para socorro a encarnados, a ponto de estancar forte hemorragia, a partir de animais agonizantes, por que os Espíritos têm de se valer de encarnados como doadores, conforme descrito na obra de André Luiz, acima citada, no seu cap. 7? Não seria mais fácil, para os Espíritos, a obtenção desse fluido tão abundante nos matadouros?
             E o que dizer ao apoio claro dado ao aborto, em caso de estupro e de anencefalia, declarado pelo Espírito que se faz passar pelo Dr. Inácio Ferreira, no livro “Fala, Dr. Inácio!” (pags. 128/131)?
             Atavés do mesmo médium, talvez o mesmo Espírito mistificador, na obra “Chico Xavier Responde” (pags. 136/137), apoia o aborto em caso de anencefalia, validando-o também em caso de estupro.
             O que responderemos àqueles que, ao ingressarem nos estudos da Doutrina, nos perguntarem sobre isso? Onde está a nossa fé raciocinada? Onde está o nosso zelo para com a Doutrina a que tanto devemos, face aos novos horizontes que delineia para nós? Vamos seguir o sábio conselho de Paulo (I Tes, 5: 21): "Examinai tudo. Retende o  bem."? Temos examinado o que se publica em nome do Espiritismo? Ou temos deixado correr? Quem é o responsável pela fidelidade doutrinária?
             Urge, mais do que nunca, uma ação corajosa, consciente de fidelidade não só à Doutrina, mas a nós próprios, à nossa consciência, pois "quem cala, consente".
             Com a palavra os responsáveis pelas livrarias, centros espíritas e clubes do livro.


    José Passini

    passinijose@yahoo.com.br
    Juiz de Fora MG               

    RESPOSTA A BACCELLI (Jose Passini)

    Prezado irmão Baccelli,
    Que a paz de Jesus nos envolva!
    Agradou-me imensamente o recebimento de sua mensagem, de vez que até agora não conseguira nenhum contato com você, embora tivesse sempre enviado meus escritos aos seus editores, solicitando-lhes que fizessem-nos chegar às suas mãos.
    Peço excusar-me pela forma como responderei sua mensagem, intercalando
    minhas declarações com as suas, pois assim me pareceu a forma mais clara e objetiva.
    A HORA DA VERDADE – II
    Estimado irmão Passini: Jesus nos abençoe!
    Desculpe-me, se tomo a liberdade de escrever para o seu e-mail, intrometendo-me em sua
    correspondência eletrônica. Ocorre, porém, que amigos fizeram chegar às minhas mãos o artigo que publicou, dias atrás, no jornal “O Imortal”, de Cambé-PR, que, não obstante tenha sido fundado por Hugo Gonçalves, meu particular amigo, hoje permanece sob outra direção. O seu endereço estava disponível no documento que divulga, em que contesta a autenticidade das obras do Dr. Inácio Ferreira vindas por meu intermédio.
    Na verdade, não havia enviado esse artigo a nenhum órgão espírita, porque
    julguei que ninguém tivesse coragem para estampá-lo em suas páginas, diante da acomodação reinante na nossa imprensa, orientada no sentido de não se dar a público nenhuma análise de obra, quando não seja para louvá-la. Na imprensa espírita é quase nulo o espaço para a análise, o que nega um dos fundamentos da nossa Doutrina, que é a liberdade de crítica, que aprendemos com Paulo e com Kardec.
    Ainda não aprendemos a discordar em alto nível, esquecidos de que Jesus
    nunca impôs nada a ninguém, e que não se agastava quando duvidavam dele. Sei que você conhece de sobejo a passagem relatada por Mateus, no cap. 17: 10 a 13, quando os discípulos puseram, indiretamente, em dúvida a Sua própria condição de Messias.
    A bem da verdade, devo dizer-lhe que enviei, endereçadas a você, através de
    seus editores, as análises de suas obras, antes de dá-las a público. Entretanto, fico sabendo agora que não as recebeu. Por isso, as envio em anexo, aproveitando a oportunidade para mostrar-lhe que o meu objetivo não tem nada de pessoal – e sim de doutrinário –, pois analiso também outros autores.
    De início, devo concordar com você: realmente, o Dr. Inácio que se comunica através de
    minhas limitadas faculdades mediúnicas não é o mesmo Dr. Ignácio que aparece em “Tormentos da Obsessão”, de Manoel Philomeno de Miranda, psicografado por Divaldo Pereira Franco. Se bem que, como deve ser de seu conhecimento, em “O Livro dos Médiuns”, no capítulo XIX, encontraremos: “... qualquer que seja a diversidade dos Espíritos que se comunicam por um médium, os ditados obtidos por ele, mesmo procedendo de espíritos diversos, trazem o cunho da forma e da cor pessoal desse médium”.
    É verdade, mas num bom intercâmbio, a influência do médium é pequena, e
    tanto menor, quanto maior for a fidelidade mediúnica. Além disso, cunho e forma, no meu entender, revelam apenas aspectos exteriores, pois a essência da mensagem deve ser a mesma. Se a influência do médium se desse a ponto de modificar o conteúdo da mensagem, aceitarímos as meninas Boudin como co-autoras de grande parte de “O Livro dos Espíritos”. Talvez você aceite isso, pois na obra “Fala, Dr. Inácio!” (p.15), ele afirma que o médium é co-autor. No livro “Do Outro Lado do Espelho” (p. 170), diz que 30% é do Espírito e 70% do médium. Note que ali ele não se refere só àquele grupo do Sanatório: ele generaliza, dizendo que raro o médium que consegue 50%. Observe que esse Espírito lança dúvida sobre a faculdade mediúnica em geral.
    O Dr. Inácio Ferreira, de quem fui particular amigo, tendo, inclusive, com ele trabalhado
    no Sanatório Espírita de Uberaba, era como se identifica nas obras de minha lavra mediúnica:
    “Sob as Cinzas do Tempo” (que você já contestou junto à USEERJ – recorda-se? –, tentando fazer com que fosse retirada de circulação), “Do Outro Lado do Espelho”, “Na Próxima Dimensão” e tantas outras já publicadas e ainda a serem publicadas.
    Não foi minha a iniciativa de fazer contato com a USEERJ. Enviei, a pedido de
    um membro da Diretoria, a análise que fiz da citada obra. Tenho a consciência tranquila de que fiz a minha parte. Entretanto, se tivesse oportunidade de ser ouvido, teria pedido isso mesmo, pois estou profundamente convencido que o Dr. Inácio que se comunica por seu intermédio precisa ser evangelizado e mais educado, para que seu vocabulário e suas posições não achincalhem a nobreza da Doutrina Espírita. Você, que conviveu tanto com o saudoso Chico, deve ter notado que, pela sua psicografia, nunca apareceu nada que não fosse vazado na mais nobre, respeitosa e elegante linguagem.
    Tenho toda a documentação que a USEERJ me enviou, concluindo pela originalidade do
    referido livro, que, aliás, se transformou em sucesso editorial. Não contente, porém, você continua com a sua “guerra santa” particular, que, segundo me parece, se lhe transformou em idéia fixa, ou seja, obsessão!
    Não tenho idéia fixa, pois se a tivesse, estaria ciente do que a USEERJ está
    divulgando. Se está vendendo seus livros, tenho fortes razões para mandar as análises que fiz dos outros, diretamente a seus diretores, pois se acreditam num diretor de hospital do Mundo Espiritual, que tem crises de depressão, conforme o Dr. Inácio declara (“Na Próxima Dimensão”, p. 138), as coisas por lá não são tão equilibradas como aprendemos com André Luiz.
    Não tenho idéia fixa, meu Irmão, apenas analiso e posso ver que existe um
    outro Baccelli, que não é mais aquele que foi até, aproximadamente, o ano 2000. É fácil achar que os outros estão obsidiados, mas repare que você produz livros mirabolantes, às catadupas, que, felizmente, ainda não foram descobertos pelos detratores do Espiritismo. Já que você fala em idéia fixa e em obsessão, aconselhoo a ler os caps. de 6 a 12 de ‘Os Mensageiros”. Chego a pensar que o sucesso editorial subiu-lhe à cabeça. Você já refletiu o sobre o peso relativo que têm o sucesso editorial e a fidelidade à Doutrina? Temos visto muitas obras mediúnicas de valor discutível serem publicadas no meio espírita, sempre com intenções comerciais, mesmo que a renda seja destinada à filantropia.
    O Dr. Inácio Ferreira que, repito, escreve por meu intermédio não é o mesmo Dr. Ignácio
    do hoje tão conhecido Hospital “Esperança”. Aliás, o que foi apresentado aos espíritas como
    sendo uma revelação, na obra “Tormentos da Obsessão”, já aparecera em dois livros anteriores
    (confira as datas dos prefácios): “Dr. Odilon”, de Paulino Garcia, com edição em abril de 1998, e “Lindos Casos de Além-Túmulo”, de Ramiro Gama, com prefácio de maio de 1998, ambos recebidos por mim. O que terá ocorrido? Como haveríamos de duvidar da honestidade mediúnica de Divaldo, companheiro que tem percorrido o Brasil e o Exterior na divulgação da Doutrina que nos é tão cara?
    Não duvido do Divaldo. Ele continua no mesmo ritmo de trabalho que sempre
    executou, no mesmo estilo. Entretanto, como já disse, você já não é o mesmo Baccelli dessa época acima referida.
    Conforme ele se explicou no “Fantástico”, da Rede Globo, comentando um outro episódio,
    deve ter ocorrido um “fenômeno de corroboração”, ou, se preferir, com Kardec, “Controle
    Universal do Ensino dos Espíritos”.
    Portanto, caro Passini, não imagine que eu lhe possa guardar alguma mágoa; você, sem
    perceber, está prestando-nos excelente serviço, com mostrar que, no Mundo Espiritual, existem
    um Dr. Inácio e um Dr. Ignácio, personalidades distintas – o primeiro escreve por meu intermédio, e o segundo, destacada personagem nos livros da responsabilidade mediúnica de nosso caro Divaldo, que nos merece o maior apreço e consideração.
    Não tive o prazer de conhecer o Dr. Inácio pessoalmente, mas conheço-lhe a
    obra e a respeitabilidade. Não consigo vê-lo com esse linguajar rude, vaidoso de ser contundente, ofensivo contra os espíritas e os médiuns. Esse da obra “Fala, Dr. Inácio” é uma verdadeira caricatura, de muito mau gosto, de um homem digno, sério, que, embora contundente enquanto aqui na Terra – segundo você assevera – deveria ter-se refinado um pouco depois de quase três lustros no Mundo Espiritual. Depois de treze anos, ainda estava se queixando de que estavam vendendo sua biblioteca e que se sentia espoliado pela perda do corpo físico. (“Na Próxima Dimensão”, p. 12).
    Como conciliar esse apego à biblioteca, diante do que declara às ps. 207 e 208: “... desculpe-me, mas para ler, como a maioria dos espíritas, sempre fui um tanto preguiçoso.” Se é brincadeira, é de mau gosto, capaz de levar alguns à confusão e outros ao escárnio.
    Gostaria de que, na primeira oportunidade, você viesse a Uberaba, a meu convite, conhecer
    o Sanatório Espírita e ouvir mais sobre o Dr. Inácio, que você não deve ter conhecido pessoalmente, não é? O que lamento, pois você não sabe o que perdeu... Aquele homem, que me auxiliou na construção do Lar Espírita “Pedro e Paulo” e foi um de meus maiores incentivadores nas lides doutrinárias, tinha um coração enorme, dono de um senso de humor que, infelizmente, vai se mostrando cada vez mais raro em nosso meio. O Espiritismo é uma doutrina alegre, mas você me parece sempre de mal com a vida, incapaz de sorrir de um inocente chiste.
    Como você pode dizer que pareço sempre de mal com a vida e incapaz de
    sorrir, se não me conhece pessoalmente?
    O Chico é um Espírito alegre. Tive, várias vezes, oportunidade de frequentar a
    casa de seu irmão André. Lembro-me das boas risadas que demos em Pedro Leopoldo e, depois, em Uberaba. Mas o seu humor é fino, que não ofende ninguém. Entre senso de humor e desrespeito, parece-me, há alguma distância... Acho que ele seria incapaz de entrar na intimidade da vida de alguém, como está em “Fala, Dr. Inácio! (p. 62) Seria falta de assunto? Ou falta de respeito? Não há nada mais nobre em que ocupar sua mediunidade além de fazer gracinhas, em linguagem própria de roda de amigos, despreocupados e desocupados? Será que Kardec codificou a Doutrina para isso? Atente para a conversa chula da página 108 da obra “Fala, Dr. Inácio!” Há muita diferença entre um chiste inocente e posicionamentos doutrinários equivocados, frases de mau gosto, e palavras insultuosas dirigidas a espíritas em geral (“Fala, Dr. Inácio”,
    p. 172), e a médiuns em particular (“Do Outro Lado do Espelho”, ps. 158 a 161)
    Em tempo: Gostaria de lhe informar que médiuns e espíritos podem, sim, cometer erros.
    Por exemplo, na 1ª edição do livro “Tormentos da Obsessão”, à página 59, terceiro parágrafo, há insignificante equívoco, que já não mais aparece na 2ª. O espírito Manoel Philomeno de Miranda escreveu que a médium Maria Modesto Cravo chegara ao Espiritismo pelas mãos do Dr. Inácio, e é justamente o contrário: o Dr. Inácio é que, com D. Modesta, solidificou a sua fé... O descuido, corrigido em “A Flama Espírita”, a pedido do próprio Divaldo, pelo Prof. Fausto De Vito (o qual conviveu com o Dr. Inácio por 40 anos), foi objeto de carta dirigida por ele ao mesmo Divaldo, não se deveu a erro de paginação, ou coisa que o valha, concorda? Eu não vejo nada de mais nisto. Chico Xavier – o grande Chico Xavier, inimitável e insuperável! –, às vezes, à mesa do “Grupo Espírita da Prece”, em Uberaba, solicitava uma borracha emprestada para corrigir um erro na transmissão de mensagem que terminara de receber; à frente de todos, sem o menor constrangimento, ele apagava um nome ou uma data, e escrevia a informação correta. Ora, médiuns e espíritos não são infalíveis. Ou são?
    Sim, o Divaldo corrigiu um pequenino equívoco e o Chico os corrigia rapidamente, como você diz. Corrigiam antes de publicar. Observe, entretanto, que não os continuavam publicando, como é o seu caso.
    Mas, até aqui discutimos apenas o perfil do Dr. Inácio, que se apresenta, por
    seu intermédio, sem a sobriedade, o equilíbio, a serenidade, o comedimento vocabular, a afabilidade que se espera de quem se diz, no Mundo Espiritual, dirigir uma organização direcionada à harmonização mental de Espíritos. Mas, se fôssemos discutir os equívocos doutrinários, teríamos de escrever outros livros...
    Pretendo, caro Prof. Passini, não retornar a tão desagradável assunto, já que as minhas
    tarefas em Uberaba e fora daqui me absorvem enormemente: tenho que dar conta da psicografia diária, das palestras, das casas espíritas que dirijo, dos 30 velhinhos sob a minha responsabilidade direta, da minha família, enfim, de tanta coisa que os Espíritos me arranjaram para que eu não perdesse tempo com arengas doutrinárias. Chico, certa vez, me disse: – “Baccelli, meu filho,livro espírita é como a produção que colhemos na horta e levamos à feira: o pessoal olha e escolhe o que mais lhe apetece ao paladar...” Depreendi que não temos o direito de tolher a
    liberdade de os médiuns produzirem e exporem o resultado da colheita.
    Também eu não pretendo retomar esse assunto que, embora possa não parecer-lhe, me é desagradável. Tenho, também, muitos afazeres, pois além de minhas exposições orais, colaboro na divulgação do Espiritismo em programa semanal no rádio e na televisão. Sou trabalhador ativo da seara de evangelização infantil, há mais de trinta anos. Concordo plenamente que não temos o direito de tolher a liberdade de médiuns e de qualquer pessoa que publique algo, mas temos o direito – e mais do que isso – o dever de apontar-lhes os equívocos. É o que procuro fazer.
    Desculpe-me, se me alonguei em excesso, tomando o seu precioso tempo.
    Sei que você é um homem de bem, íntegro, devotado seareiro da Causa que abraçamos e
    compreendo, sinceramente compreendo o seu zelo. Se, em algum trecho da presente missiva, o
    ofendi, saiba que não tive tal intenção.
    Tenho a certeza de que sua intenção não é ofender-me. Aliás, creio que não é
    por influência sua que há tanta rudeza e demonstrações de mau humor na obra do Dr. Inácio. Igualmente, declaro que não me moveu nunca o desejo de ofendê-lo. Se o fizesse, estaria negando o Evangelho, que nos é guia comum.
    Com votos de Feliz Natal a você e familiares, e Ano Novo repleto de bênçãos espirituais,
    sou, fraternalmente,
    Carlos A. Baccelli
    Uberaba-MG, 13 de dezembro de 2006.
    Saudações fraternais e votos de um Feliz Ano Novo.

    José Passini