domingo, 12 de agosto de 2018

Armar a população ou amá-la


Armar a população ou amá-la 
Jorge Hessen 
jorgehessen@gmail.com 

Em 24 de março de 2018, mais de 2 milhões de pessoas tomaram as ruas dos Estados Unidos em protestos contra a violência. Lá cidadãos têm de 300 a 350 milhões de armas e a taxa de homicídio por arma de fogo é 25 vezes maior do que as taxas de outras nações abastadas. 
Segundo Jeffrey Swanson, professor de Psiquiatria e Ciência Comportamental da Escola de Medicina da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, cerca de cem pessoas morrem no país diariamente por causa de um tiro. Por outro lado, a política de desarmamento da Austrália fornece evidências reais e convincentes de que ter menos armas disponíveis para a população está relacionado a uma redução significativa em mortes. Ou seja, o risco de morrer por tiros na Austrália caiu mais de 50%, e não houve nenhum sinal de aumento nos últimos 22 anos. 
Mas há os que ainda defendem o armamento da população. Alguns pesquisadores afirmam que a mera presença de uma arma torna o comportamento do homem mais agressivo, um fenômeno chamado "efeito das armas". Pronunciam que a história comprova que a violência está entranhada na natureza humana, e armas de fogo não são, de forma alguma, um pré-requisito para a violência social. Ou seja, se todas as armas de fogo desaparecessem da face da Terra, guerras e conflitos civis continuariam a acontecer por outros meios. 
Não somos tão ingênuos a ponto de acreditar que a restrição (proibição) do uso de armas de fogo equacione definitiva e imediatamente o problema da violência. Uma arma de fogo pode ser substituída por outras, talvez não tão eficientes. E mais, na ausência de estrutura da aparelhagem repressora e preventiva do Estado, as armas de fogo continuarão chegando às mãos dos indivíduos descompromissados com o bem e fazendo suas vítimas. Por isso, é importantíssimo meditar que devemos aprender a desarmar, antes de tudo, nossos espíritos, e isso só se consegue pelo exercício do amor e da fraternidade. 
Consterna-nos saber que o Brasil é um dos líderes mundiais em casos de mortes produzidas com a utilização de armas de fogo, destarte, a sociedade clama por soluções efetivas para o problema da violência urbana. Cremos ser falsa a segurança oferecida pelas armas, especialmente considerando o potencial de alto risco do uso da arma por familiares não habilitados, que podem causar efeitos danosos irreparáveis na vida doméstica do cidadão de bem. 
Os espíritas conscienciosos creem, obviamente, que uma das soluções para a criminalidade seria a proibição da venda de armas de fogo em todo o território nacional, ressalvada a aquisição pelos órgãos de segurança pública federal e estadual, municipal e pelas empresas de segurança privada regularmente constituída, na forma prevista em Lei. 
É com inquietação que acompanhamos a crescente popularidade de certo “candidato à presidência” que, não obstante, jaza como um ponto fora da curva dos corrompidos, entretanto tem discorrido sobre o aparelhamento da população através da obtenção de armas de fogo. É óbvio que tal discurso preocupa bastante. Não duvidamos da integridade moral de tal candidato, contudo, suas promessas de governo têm sido controversas, ainda mesmo que esteja imbuído de boas intenções, e até mesmo reunir a seu favor excelentes cidadãos brasileiros. Todavia, insistimos dizer que o seu discurso “messiânico” para transformação social sob o látego do contra-ataque através de armas de fogo é cabalmente desfavorável à paz social. Acreditamos mais nas flores. 
As leis e a ordem impostas à sociedade como resposta à exigência coletiva são aceitáveis e compreensíveis, porém, conforme advertem os Benfeitores espirituais é mais coerente nos amarmos ao invés de nos armarmos e desta forma fazermos aos outros o que desejaríamos que os outros nos fizessem. 
Nesse contexto o ensinamento espírita em seu esboço filosófico e religioso (ético-moral) é e sempre será a ferramenta por excelência determinante para transformação social pela não violência. 

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