segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Quem tem medo de “fantasmas”? (Jorge Hessen)


Quem tem medo de “fantasmas”?  (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com 
Brasília/DF

O temor de “fantasmas” é uma atitude ingênua causada pela ausência de conhecimento a respeito da natureza etérea dos “mortos”. Sobre as suas aparições são mais frequentes do que se pensa e muitos creem que a preferência dos Espíritos [“fantasmas”] é pelos ambientes escuros, mas isso é um mito e um engano. Ocorre, simplesmente, que a substância vaporosa dos períspiritos dos “fantasmas” é mais perceptível no escuro, tal como ocorre com as estrelas que só podem ser visualizadas à noite. A claridade do dia, por exemplo,  ofusca a essência sutil que constituem os corpos dos “mortos”. Isto porque os tecidos perispirituais são compostos de energia semelhante à luz , portanto, o perispírito dos “fantasmas” não é, digamos, fosco, ao contrário, é dotado de grande diafaneidade para ser perceptível  a olho nu, durante o dia.

O perispírito, no seu estado normal, é invisível; mas, como é formado de substância etérea, o Espírito, em certos casos, pode, vontade própria, fazê-lo passar por uma modificação molecular que o torna momentaneamente visível. É assim que se produzem as aparições, que não se dão, do mesmo modo que outros fenômenos, fora das leis da Natureza. Conforme o grau de condensação do fluido perispiritual, a aparição é às vezes vaga e vaporosa; de outra, mais nitidamente definida; em outras, enfim, com todas as aparências da matéria tangível. Pode mesmo chegar à tangibilidade real, ao ponto do observador se enganar com relação à natureza do ser que tem diante de si. [1]

A pesquisadora Elizabeth Tucker, da Universidade Estadual de Binghamton, em Nova York, apresenta diversos relatos de aparições [Espíritos] em campus universitário. Conta-se que os fantasmas revelam o lado sombrio da ética. Suas aparições são muitas vezes um lembrete de que a ética e a moral transcendem nossas vidas e que deslizes podem resultar em um pesado fardo espiritual. No entanto, as histórias de fantasmas também trazem esperança. Ao sugerir a existência de uma vida após a morte, elas oferecem uma chance de estar em contato com aqueles que já morreram e, portanto, uma oportunidade de redenção - uma forma de reparar erros do passado.[2]

A crença nos “fantasmas” é comum, pois baseia-se na percepção que temos na existência e sobrevivência dos Espíritos e na possibilidade de comunicar-se com eles. Deste modo, todo Ser espiritual que manifesta a sua presença sob várias circunstâncias é um Espírito que no senso comum é chamado de “fantasma”. Comumente, pelo conhecimento vulgar, são imaginados sob uma aparência fúnebre, vindo de preferência à noite, e sobretudo nas noites mais sombrias, em horas fatais, em lugares sinistros, cobertos de lençóis ou bizarramente cobertos. Todavia, os tais “fantasmas” assustadores , longe de serem atemorizantes, são, comumente, parentes ou amigos que se apresentam por simpatia, entretanto podem ser Espíritos infelizes que eventualmente são assistidos; “algumas vezes, são farsantes do mundo Espírita que se divertem às nossas custas e se riem do medo que causam; Mas supondo-se mesmo que seja um mau Espírito, que mal poderia ele fazer, e não se teria cem vezes mais a temer de um bandido vivo que de um bandido morto e tornado Espírito!”[3] 

Todos que vemos um “fantasma” podemos conversar com ele, e é o que se deve fazer nesse caso, podendo perguntar-lhe quem é, o que deseja e o que se pode fazer por ele. Se o Espírito for infeliz e sofredor, o testemunho de comiseração o aliviará. Se for um Espírito bondoso, pode acontecer que traga a intenção de dar bons conselhos. Tais  Espíritos [“fantasmas”] poderão responder, muitas vezes verbalizando mesmo, porém na maioria das vezes o fazem por transmissão de pensamentos.” [4]

Os “fantasmas” afáveis, quando surgem, têm intenções elevadas ou, no mínimo para confortarem pessoas queridas que padecem com a desencarnação de entes queridos e ou com a dúvida sobre a continuação da vida post-mortem; oferecerem sugestões ou, ainda, solicitarem auxílio para si mesmos, “o que pode ser feito através de orações e boas ações, no sentido de corrigir ou compensar as transgressões do morto. Mas os espíritos perversos também aparecem e estes, sim, têm o intuito de "assombrar" os encarnados movidos por sentimentos negativos.” [5]

Os “fantasmas” , aliás, estão por toda parte e não temos a necessidade de vê-los para saber que podem estar ao nosso lado. “O Espírito [“fantasma”]que queira causar perturbação pode fazê-lo, e até com mais penhor, sem ser visto. Ele não é perigoso por ser Espírito [“fantasma”], mas pela influência que pode exercer em nosso pensamento, desviando-nos do bem e impelindo-nos ao mal.” [6]

Em resumo, não é lógico assustar-nos mesmo diante da “assombração de um morto”.  Se raciocinarmos com calma compreenderemos que um “fantasma”, qualquer que seja, é menos perigoso do que certos espíritos encarnados que existem à sombra das leis humanas (marginais).


Referências bibliográficas:

[1]       KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns, II parte “das manifestações espíritas” capitulo VI “manifestações visuais”, RJ: Ed FEB 2000

[2]      Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-46515221   acessado em 25/12/2018.

[3]       KARDEC, Allan . Revista Espírita, julho de 1860, DF: Ed Edicel, 2002
[4]       KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns , II parte “das manifestações espíritas” capitulo VI “manifestações visuais”, RJ: Ed FEB 2000
[5]       KARDEC, Allan . Revista Espírita, julho de 1860, DF: Ed Edicel, 2002
[6]       KARDEC , Allan. O Livro dos Médiuns , II parte “das manifestações espíritas” capitulo VI “manifestações visuais”, RJ: Ed FEB 2000

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A doença não pode ser instrumento de punição (Jorge Hessen)

A doença não pode ser instrumento de punição   (Jorge Hessen)

Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com 
Brasília/DF

Os órgãos do corpo físico respondem a todos os estímulos (internos ou externos), determinando um encadeamento de reações, além dos estímulos físicos que impactam, através dos sentidos, as emoções ou sentimentos que também provocam reações. Estas excitam ou bloqueiam os mecanismos de funcionamento. Em verdade, o processo de preservação e deterioração de qualquer órgão tem uma relação direta com as emoções e os sentimentos.
A cólera, a raiva, o temor, a ansiedade, a depressão, o desgosto, a aflição, assim como todas as emoções derivadas delas, sobrecarregam a economia saudável do corpo. Há outros fatores emocionais que podem influenciar patologias físicas, como relacionamentos afetivos infelizes, penúria econômica, desigualdade de renda e estresse relacionado ao trabalho profissional. Quando estamos tristes e depressivos por uma desilusão amorosa, ou quando estamos ansiosos e irritados por causa de dívidas, também desenvolvemos enfermidades.
Mens sana in corpore sano ("uma mente sã num corpo são") é uma célebre frase latina, proveniente da Sátira X do poeta romano Juvenal. Nós somos o que sentimos. René Descartes já dizia que somos aquilo que pensamos. Quando as nossas emoções são reprimidas, elas acabam se constituindo na fonte de um conflito emocional crônico, segundo Sigmund Freud, que gerará distúrbios físicos ou psicológicos, se não forem aliviadas, mediante os canais fisiológicos competentes.
O estresse é como um conjunto de reações fisiológicas produzidas pelo nosso organismo para reagir e se adaptar às situações apresentadas no dia a dia. O problema é que tais reações, psíquicas e orgânicas, podem provocar um desequilíbrio no nosso organismo caso ocorram de forma exagerada ou intensa, dependendo também do tempo de duração. Quanto mais durar o estresse, obviamente a ruína será maior.
Adquirimos doenças porque não conseguimos conviver em harmonia com o meio e com as pessoas ao nosso redor. Enfermamos porque mantemos antipatias, inimizades, desgostos, culpas, arrependimentos, ressentimentos, temores e frustrações que não queremos superar. Por desconhecermos as nossas próprias emoções, muitas vezes desejamos ocultá-las dos outros, e de nós mesmos, mormente os pensamentos e os sentimentos egoísticos.
Cada doença, cada dor, cada sofrimento, cada frustração, cada sintoma traz uma mensagem única e exclusiva para nós e apenas para nós. Quando estivermos prontos para abrigá-los e compreendermos o que elas querem nos dizer, estaremos aptos a andar firmes pelo caminho do nosso aperfeiçoamento espiritual que decisivamente passa pelas vias da nossa saúde moral.
Naturalmente, as nossas doenças são advertências da vida para que venhamos a ter mais consciência de nós mesmos e dos nossos compromissos na família, na natureza e na sociedade, governando-nos pela vida caridosa, solidária e amorosa.
Precisamos ter consciência de que doença e saúde são consequências das nossas livres escolhas através das emoções ou sentimentos, e tal responsabilidade não pode ser terceirizada. Além do quê, a doença não pode ser instrumento de punição. Na verdade, deve ser um expediente de aprendizado, na sábia pedagogia divina, convidando-nos ao exercício do amor

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Sessões para os "curandeirismos" ilusórios (Jorge Hessen)

Sessões para os "curandeirismos" ilusórios (Jorge Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com 
Brasília/DF

Kardec não priorizou o estudo específico da mediunidade de “cura” nas obras da  Codificação, a rigor, jamais  tocou no assunto sobre “cirurgiões do além”. Em face disso, é inteiramente contraditório e lamentável a forma de como alguns centros espíritas propõem sessões de “cura especial” através da incorporação de “espíritos cirurgiões” por meio de alguns médiuns “especiais”.
Não ignoramos os efeitos relativamente atraentes contraídos por alguns incomuns médiuns de “cura”, contudo não entendemos como imprescindível e nem valorizamos esse tipo de mediunidade. As práticas mediúnicas fora das orientações de Kardec, são sempre espetacularizadas e não devem colonizar as instituições espíritas.
Em que pese terem despertados curiosidades de cientistas e estudiosos no Brasil e no exterior em face do uso de apetrechos cirúrgicos estranhos , alguns até mesmo enferrujados, doutrinariamente jamais identificamos nas mediunidades de José Arigó, Rubens Faria, Edson Queiroz, João de Deus e semelhados como “médiuns” imprescindíveis para propagação dos princípios espíritas, não obstante seja o Espiritismo capaz de explicar as intervenções de “médicos do além” nos fenômenos de “cirurgias espirituais”.
Obviamente quando os médicos encarnados compreenderem o valor da mediunidade (em suas várias tipificações) e sobretudo da obrigatoriedade de mudança de comportamento moral do homem, a medicina terrena ampliará o seu poder terapêutico.
Não somos dos que aceitam ou deixem de aceitar um centro espírita sem “espíritos”, mas cremos que a legítima mediunidade transformadora, a da cura legítima e concreta, é a mediunidade da mudança de conduta, mediunidade do amor ao próximo, mediunidade da caridade, mediunidade da paciência, mediunidade da tolerância, mediunidade da benevolência, mediunidade da indulgência e mediunidade do perdão. Ou seja, uma instituição espírita também pode funcionar impecavelmente sem absoluta necessidade da mediunidade com “desencarnados”.
Um Centro espírita  bem  orientado  não privilegia ou destaca  os fenômenos mediúnicos ditos “ostensivos”, especialmente aqueles agrupamentos espíritas imprudentes que apenas oferecem tratamentos de “cura” espiritual ou físico . A legítima instituição espírita deve priorizar (acima de tudo e de todos) as reflexões pelos os estudos, especialmente do Evangelho e ponto!
Ah! Vociferam alguns, há muitos sofredores no mundo. Sim e daí? É óbvio que ninguém sofre os ressaibos das dores por prazer, mas a dor não provém de Deus, pois é apenas reflexo de quem erra e ponto! E quem não erra? Portanto, todos nós sofremos algum tipo de dor. Por isso, ofereçamos nas casas espíritas o Evangelho, eis aí o remédio para todas as dores.
Fazer uso da mediunidade sem o adequado entendimento dos seus perigos pode levar a distúrbios mentais. Não estamos recriminando a mediunidade, todavia refletindo-a melhor, propondo enxergar maiores finalidades através do intercâmbio com o além tumulo.
Ora, se a mediunidade está presente no cotidiano de cada um e se manifesta por diversas fontes e foi herdada nessa longa trajetória evolutiva que percorremos, ela deve ser aproveitada como potencial de transformação pessoal sem qualquer necessidade de apelos invocatórios e  sistemáticos aos irmãos do além. 
Sim!! Nossa reforma íntima é o salvo-conduto para a espiritualidade e não a mediunidade ostensiva. Recordemos que os Espíritos não estão à nossa disposição para promover curas de patologias que quase sempre são providências corretivas para nosso crescimento espiritual no buril expiatório.
Em resumo, os dirigentes de Centros espíritas deveriam promover as bases de estudos e reflexões sobre as propostas do Evangelho, em vez de prestigiarem sessões inócuas para os "curandeirismos" ilusórios.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Um “médium curador” [não espírita] e o rebuliço na mídia global (Jorge Hessen)

Um “médium curador” [não espírita] e o rebuliço na mídia global   (Jorge Hessen)
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com

A TV Globo entrevistou mulheres que acusaram o “médium” [não espírita] João de Deus sobre as violações sexuais que teriam sofridos quando elas buscaram o tratamento espiritual na “Casa Dom Inácio de Loyola”, localizada em Abadiânia, Goiás. As acusações são de três brasileiras que pediram para não serem identificadas e da coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous, a única que aceitou mostrar o rosto na televisão.
Será que estamos diante de crimes análogos ao cometido pelo médico “Roger Abdelmassih” ? Hum! Será ?Em nota enviada à TV Globo a assessoria de imprensa do “médium” [não espírita] afirmou que as acusações são "falsas e fantasiosas" e questiona o motivo pelo qual as vítimas não procuraram as autoridades. Ainda afirma que a situação é lamentável, uma vez que o Médium [não espírita] João é uma pessoa de “índole ilibada"(sic).
Após a difusão da sinistra notícia (de repercussão nacional), a Federação Espírita Brasileira emitiu uma pequena nota sobre atuação de médiuns curadores, declarando que o Espiritismo orienta que o serviço espiritual não deve ocorrer isoladamente, em face disso, não recomenda a atividade de médiuns que atuem em trabalho individual, por conta própria. Esclarece ainda que tais médiuns “curadores” [dentre eles o (não espírita) “João de Deus”] não estão vinculados ao Movimento Espírita, nem seguindo sua recomendação. (1) “Oh, meno male!”
Há 5 anos, após leitura de reportagem da Revista VEJA, resolvemos refletir e contextualizar alguns trechos da matéria publicada. O título da reportagem era exatamente: “A face humana do mais endeusado médium brasileiro” (2), a Revista VEJA destacou a capacidade do médium [não espírita] João de Deus de atrair gente do mundo inteiro para um município próximo do Distrito Federal. Afirma a reportagem que o “santificado médium” vive o cotidiano sob o manto da contradição entre o “espírito e a carne”, a “cura e a doença”, o “desprendimento e a vaidade”, os gestos de “generosidade, os arroubos de cólera” e os negócios terrenos (3) [é milionário], os amores [tem onze filhos com dez mulheres diferentes]. (grifei) A cada dois anos o “curandeiro-endeusado do cerrado” troca a frota de carros da família. O dele era um Mohave Kia, avaliado em 2013 em 170 000 reais” [cento e setenta mil reais]. (4)
Sabemos que a mediunidade não guarda relação com a retidão moral do médium; seu funcionamento independe das qualidades de honradez. O fato é que os médiuns de tais “cirurgiões do além” sempre seduzem grande número de fregueses, estabelecendo, não raro, com a mediunidade, um negócio rendoso, uma polpuda fonte de captação de dólares e reais.
Em 2013 a instituição dirigida por tal “deus da mediunidade de cura” “ teve um faturamento de aproximadamente 7,2 milhões de reais (isso mesmo! sete milhões e duzentos mil reais), levando-se em conta somente a venda de passiflora, preparado à base de maracujá, produzido ali mesmo, comercializado à época a bagatela de 50 reais o frasco e receitado a uma média de 3.000 visitantes semanais.”. (5)
É lamentável que os médiuns invoquem "Espíritos" para que lhes sirvam  como “cirurgiões do além” a fim de retalhar e perfurar corpos físicos em nome de “operações espirituais”, que lhes prescrevam placebos.
É constrangedor essa tendência de subestimar a contribuição da medicina humana, entregando nossas enfermidades aos Espíritos “curandeiros do além” (preferencialmente com nome de santos, ou com sotaque germânic ou hindu) para que "curem" doenças. Lembremos que precisamos "aproveitar a moléstia como período de lições, sobretudo como tempo de aplicação de valores alusivos à convicção religiosa. A enfermidade pode ser considerada por termômetro da fé”. (6)
Não desconhecemos a possível intervenção dos desencarnados nos processos terapêuticos na Terra, mas não se pode dar prioridade a esse tipo de trabalho, na suposição de curas ou na falsa ideia de fortalecimento do Espiritismo por esses meios. Lembramos que certa vez o Espírito do “Dr. Fritz” quis operar Chico Xavier, em 1965, através do médium [não espírita] Zé Arigó: - "Eu te ponho bom desse olho. Faço-te a cirurgia agora! Pronunciou Arigó, e Chico Xavier respondeu-lhe: - "Não, isso é um reflexo do passado. Eu sei que o senhor pode consertar o meu olho. Mas como o compromisso do passado continuará, vai aparecer-me outra doença. Como eu já estou acostumado com essa, eu a prefiro. Por que eu iria querer uma doença nova?.
Os Espíritos não estão à disposição para promover curas de doenças que não raro representam providências corretivas para nosso crescimento espiritual no buril de reparação moral. Por tudo isso, é urgente não abrirmos mão da precaução! Ainda mesmo que o excesso em tudo seja ruinoso. Contudo, Kardec endossa nossa atitude dizendo que “vale mais pecar por excesso de prudência do que por excesso de confiança". (7)

Referências bibliográficas:

[1]           Disponível em http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/feb-esclarece-sobre-atuacao-de-mediuns-curadores/    acesso 08/12/2018
[2]          Disponível em http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/joao-do-ceu-e-da-terra-508 acesso em 14/09/2013
[3]          Suas economias vêm do garimpo. Ele é dono de fazendas na região, é proprietário de apartamentos em Brasília, Goiânia, Anápolis e Abadiânia, segundo a Revista Veja
[4]          Disponível em http://vejabrasil.abril.com.br/brasilia/materia/joao-do-ceu-e-da-terra-508 acesso em 14/09/2013
[5]          Idem
[6]          VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Cap.35. RJ: Editora FEB, 1977-5ª edição
[7]          KARDEC, Allan. Viagem Espírita-1862, Brasília, Ed. Edicel, 2002, pág. 33

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Deus não pune, logo a nossa dor não é uma “reação” a nada (Jorge Hessen)

Deus não pune, logo a nossa dor não é uma “reação” a nada (Jorge Hessen)

Jorge Hessen

Em sânscrito, karma significa "ato deliberado". Nas suas origens, a palavra karma significava "força" ou "movimento". Apesar disso, a literatura pós-védica expressa a evolução do termo para "lei" ou "ordem", sendo definida muitas vezes como "lei de conservação da força". Isto significa que cada pessoa receberá o resultado das suas ações. É um mero caso de causa e consequência. [1]
O Espiritismo esclarece que o sofrimento atual não está obrigatoriamente relacionado às nossas ações erradas (“pecados”) do passado, porém ao estado de imperfeição moral mantido no presente. Logo, sofremos nesta atual encarnação em virtude da imperfeição da qual ainda não nos libertamos, e não por causa de atos errados (“pecados”) atuais ou de outras encarnações.
Conta-se que um sofrimento desta vida, se não tem causa visível, estará certamente na vida anterior. Por esta razão defende-se o princípio do carma, ou causa e efeito, ou inadequadamente de “ação e reação”. Mas não é esse o preceito revelado pelos espíritos superiores, até porque é uma ingenuidade crer que o carma ou “pecado” é o princípio que Deus estabeleceu como regras que devem ser obedecidas pelos indivíduos, caso contrário serão “castigados”. Contudo se forem obedientes serão recompensados.
Ninguém sofre tão-somente para “pagar” a ação errada do passado. A nossa dor não é uma reação a nada, mas uma ação, pois sofremos necessariamente pela causa da liberdade e não "por causa" dela. Allan Kardec faz ligeira alusão ao termo causa e efeito e jamais citou o termo “carma” para pesquisar e esclarecer as razões da dor e das aflições. Portanto, o “carma” não foi mencionado em nenhum momento por Kardec ou pelos Benfeitores espirituais. Além do mais, a reencarnação jamais será um processo punitivo. Renascemos para progredirmos. Se sofremos, de vez em quando, é pela causa que abraçamos livremente e não inapelavelmente por causa de alguma desobediência às leis divinas.
Na pergunta nº 132 do Livro dos Espíritos, Kardec questiona sobre qual seria o objetivo da encarnação. A resposta é clara: “A lei de Deus impõe a encarnação com o objetivo de chegarmos à perfeição ...”. Em nenhum momento aparece a palavra amargura, fardo, dor ou qualquer outro termo que signifique “carma”.  Pelas sucessivas existências, mediante nossos esforços e desejos de melhoria no caminho do progresso, avançamos sempre e alcançamos a perfeição, que é a nossa destinação final”. [2]
"Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes o efeito da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre [“muitas vezes”] o que fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano,poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilde condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc." [3] Evidentemente as expressões "muitas vezes" e "poderá" relativiza o processo da lei e não afirma que a dor seja sempre uma penalidade. Até porque as leis de Deus não são punitivas.
O livre-arbítrio é a nossa grande ferramenta evolutiva, inexistindo, pois, determinismos e fatalidades. A fatalidade existe apenas na escolha que fazemos ao reencarnar e suportar esta ou aquela prova. E da nossa escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição que escolhemos e em que nos achamos. Falamos das provas de natureza física porque, quanto às de natureza moral e às tentações, ao conservarmos nosso livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, seremos sempre senhores para ceder ou resistir...”. [4]
Atingido o patamar evolutivo de nos integrar ao reino humano conquistamos gradualmente a faculdade do livre arbítrio. Apoderamo-nos da liberdade como a grande alavanca da evolução. A liberdade de escolher nosso próprio destino, todos os dias, torna-se o diferencial entre nós e os animais inferiores, que ainda não podem discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado, o moral e o imoral.
Expõe Kardec que a Lei de Deus está gravada na consciência de cada um. Desta forma, identificamos o porquê da liberdade de consciência, e da sua progressividade à medida que a realizamos em nós. [5] Deus é amor, não existe nada fora de Deus; portanto deduzimos que não existe nada fora do amor. O que é contrário à Lei de Deus, na realidade não existe de forma absoluta. As nossas escolhas transportam na essência as implicações boas ou ruins.
Em síntese, sofremos as consequências naturais de todas as imperfeições que não conseguimos corrigir, mas não porque “pecamos” no passado. O nosso estado, feliz ou calamitoso, é intrínseco ao nosso estado de pureza ou impureza. Por isso, não devemos procurar em Deus a imunidade das nossas dificuldades, mas exoremos a força necessária para superá-las. Notando que no mundo espiritual não há qualquer código que puna ou premie, por lá vigora a "Lei da Escolha das Provas", e não "Lei de Causa e Efeito" com atributos punitivos. O espírito sempre escolherá o que ele irá enfrentar no futuro, como meio de seu desenvolvimento moral e intelectual.

Referências bibliográficas:
[1]            Disponível em https://www.significados.com.br/karma/   acesso 02 de dezembro de 2018
[2]            KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50a ed., Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1980, questão 132
[3]            KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo., Capítulo V - Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1975
[4]            KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50a ed., Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1980, questão 851
[5]            Idem, questão 621