quarta-feira, 31 de maio de 2017

“Fogo fátuo” e “duplo etérico” - o que é isso ? (Jorge Hessen)



Jorge Hessen

Um amigo indagou-me o que era  “fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se defende sobre o “fogo fátuo”, acena para  a emanação “ectoplásmica” de um cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”.

Outra explicação encontramos no dicionarista laico ,definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[1], ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição. Ou , ainda, a inflamação espontânea do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente.

Sob o enfoque espírita, Allan Kardec fez breve referência ao termo conforme inserto  no cap. VI, de O Livro dos Médiuns ,  questão 29, ao indagar: “Que se deve pensar da crença que atribui os “fogos-fátuos” à presença de almas ou Espíritos?” Os espíritos responderam: "Superstição produzida pela ignorância. Bem conhecida é a causa física dos “fogos-fátuos”. [2]

Sobre o tema “duplo etérico” explicamos ser muito intricado.  O termo não está presente na Codificação, porém existem associações teóricas subjetivas,  por vezes polêmicas, contidas  nas obras “complementares” para explicá-lo. O fato é que não encontramos  a nomenclatura, digamos,  “clássica” no Espiritismo, isto é, não é definido por Kardec, embora superficialmente o tema é  acenado (uma única vez) em O Livro dos Médiuns. [3] A rigor, a palavra e seus conceitos dimanam especialmente dos burgos místicos do esoterismo, apinhada de crença orientalista , mística e espiritualista, portanto não sendo objeto de estudo de Kardec ou dos Espíritos nas Obras básicas.

Partindo do princípio definido pelo dicionário esotérico somos informados que todo corpo físico está cercado por um invólucro de matéria etérica, sendo uma reprodução perfeita do corpo físico. Ele ultrapassa epiderme cerca de cinco centímetros. Não é um veículo independente, se desfazendo após a morte física. Sua grande importância é receber e distribuir as forças vitais provenientes do sol e da terra. É nele que estão localizados os chamados “chacras”. [4]

Kardec inquiriu aos Espíritos se a alma é externa e envolve o corpo. Os Benfeitores explanaram que as almas (os encarnados)  irradiamos e nos manifestamos no exterior (do corpo físico), como a luz através de uma lâmpada ou como o som em redor de um centro sonoro. É por isso que se pode dizer que ela (alma) é externa, mas não como uma película do corpo. A alma tem dois envoltórios: um, sutil e leve, o primeiro que chamas perispírito; o outro, grosseiro, material e pesado, que é o corpo biológico. [5]

Divulga-se que o “duplo etérico”, ou, para alguns, a “bioenergia”, é o contingente de energia vital (“neuropsíquica”), resultado da ação do corpo espiritual (perispírito) sobre os elementos físicos, canalizados à consolidação do corpo físico como, também, aglutinados em uma outra estrutura que vai servir de verdadeiro reservatório de vitalidade, necessário, durante a vida física, à reposição de energias gastas ou perdidas. [6]

André Luiz distingue o perispírito - a que chama também de “corpo astral”, “corpo espiritual” e “psicossoma” - do “duplo etérico”, cuja natureza, afirma como sendo de "um conjunto de eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo biológico" (...), "formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao arcabouço carnal por ocasião da morte renovadora".[7]

Na desencarnação “duplo etérico” (ou “corpo vital”) pode ficar adjunto ao corpo físico ou pairar no ambiente, por um período curto ou longo consoante a evolução do desencarnado, até o desligamento definitivo, quando sobrevém a sua desintegração. Isto porque, sendo um campo de energia de predominância física, poderá servir de sustentação a espíritos vampirizadores. Nos seres evoluídos, o “duplo etérico” é quase que imediatamente desintegrado.

André Luiz , portanto , confirma  que todos os seres vivos se revestem de um halo magnético que lhe corresponde à natureza e que no homem essa projeção é modificada e enriquecida pelos fatores do pensamento contínuo, constituindo a “aura” humana, o “corpo vital” ou "duplo etérico". Por ele exteriorizamos o reflexo de nós mesmos, de acordo com o que pensamos e fazemos. [8]

Sinceramente? Não identificamos problemas conceituais nas considerações de André Luiz. Não obstante, ocorrerem clamores que divergem do autor de “Nosso Lar”, a propósito do emprego das terminologias “aura”e “corpo vital”. Asseguram tais divergentes que as palavra e os conceitos estão propostos sem um maior critério doutrinário, pois que nas obras básicas e na Revista Espírita, Kardec não usou tais palavras. Lembremos, porém, que o Codificador usou a expressão “atmosfera fluídica” ou “atmosfera individual” para definir o mesmo fenômeno aqui analisado.

Nalgumas escolas espiritualistas, o “corpo vital” (empregado por André Luiz) é constituído por átomos de matéria sutil (etérea), sendo denominado como tal  por ser a fonte das forças nervosas eletrovitais, e, portanto, o construtor e restaurador das formas densas, interpenetrando todo o corpo físico.  Todavia, na época de Kardec  não se empregava com frequência o termo “duplo etérico” ou “corpo vital”, mas ao registrar Kardec que o perispírito é composto de matéria sutil, de matéria nervosa, de matéria inerte, evidentemente estava referindo-se ao perispírito como um corpo complexo, e não de natureza compacta.

Leopoldo Cirne, um espírita estudioso de Kardec,    concluía, das experiências de materialização, a existência de um corpo invisível no encarnado, dessemelhante do perispírito, que poderia subsistir por algum tempo após a morte física, mas não permaneceria definitivamente ligado ao Espírito desencarnado, a que denominou de “corpo etéreo”, “duplo astral”, “corpo astral”, responsável pela possibilidade de materialização dos Espíritos. [9] Em seguida, na sua obra (póstuma) O Homem Colaborador de Deus, Cirne manteve seu ponto de vista sobre a existência de um corpo não-físico além do perispírito, não o designando mais de duplo (corpo) astral, mas apenas de “corpo etéreo”, inseparável do corpo físico durante a vida. [10]

Sabemos que o tema é sensível, difícil, problemático e não pacificado ainda, mas faço minhas as palavras de Kardec,   mencionando que o estudo de um tema que nos lança numa ordem de coisas abstratas só pode ser feito com inteligência, imparcialidade e utilidade por pesquisadores sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam “a priori”, inconsideradamente, sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis. [11]

Referências bibliográficas:

[1] Disponível em https://www.priberam.pt/dlpo/fogo-f%C3%A1tuo acessado em 25-05-2017
[2] KARDEC , Allan. O livro dos Médiuns, cap VI, questão 29, RJ: Ed FEB, 1990
[3] Idem questão 4 do item 128 do capítulo VIII
[4] Disponível em https://dicionarioesoterico.wordpress.com/ acessado em 24-05-2017
[5] KARDEC , Allan. O livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1990 questão. 141
[6] ZIMMERMANN Zalmino. PERISPÍRITO, SP: Editora: Centro Espírita Allan Kardec, 2002
[7] XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos, RJ: Ed. FEB 1958, 13a ed.
[8] Idem
[9] CIRNE, Leopoldo. Doutrina e Prática do Espiritismo, 1 edição, RJ: Editora: Typ . do Jornal do Commercio, 1920
[10] CIRNE, Leopoldo. O Homem Colaborador de Deus, SP: Ed Mundo Maior, 1949
[11] KARDEC , Allan. O livro dos Espíritos, item VIII da introdução, RJ: Ed FEB, 1990

Coerência da Lei Divina ante a reencarnação (jorge Hessen)


Jorge Hessen

Como toda criança, Virsayia Borum, de sete anos, é bastante ativa - em suas próprias palavras, adora "dançar, pular e voar". Mas ela tem de tomar muito mais cuidado, pois nasceu com a chamada Pentalogia de Cantrell. Uma  doença, que afeta apenas cinco em cada 1 milhão de pessoas, faz com que os órgãos vitais se desenvolvam fora de suas cavidades. No caso de Virsayia , seu coração não desenvolveu dentro da cavidade, mas abaixo da pele do tórax  e seus intestinos se desenvolveram fora do abdômen. [1]

Já historiamos sobre Bethany Jordan, uma garota da cidade inglesa de Stourbridge, que sofre da Síndrome de Ivemark, uma síndrome patológica de etiologia desconhecida, caracterizada por problemas cardiovasculares. [2] Jordan também nasceu com alguns de seus órgãos invertidos, isso mesmo! O fígado, o intestino e o baço estavam posicionados de trás para frente. O fenômeno foi descoberto em exames de ultra-som enquanto ela ainda estava no útero de sua mãe.

Sob o enfoque espíritas aprendemos que nos Estatutos de Deus não há espaço para injustiças. Desta forma, acreditamos que Virsayia e Bethany suicidaram-se em vidas passadas. Em verdade, conforme o tipo de suicídio empreendido (voluntário ou involuntário), brotam na estrutura do ser as desarmonias psíquicas e fisiológicas reflexas, que se manifestam nas diversas aberrações congênitas, inclusive a Pentalogia de Cantrell e a Síndrome de Ivemark, que se tornam terapêutica providencial na cura da alma.

Antes de renascermos, examinando nossas próprias necessidades de aperfeiçoamento moral, muitas vezes, rogamos a limitação psicomotora na nova experiência física, para que essa condição nos induza à elevação de sentimentos. Solicitamos ou nos é sugerida ou infligida (pelos Benfeitores) a enfermidade de longa duração, capaz de nos educar os impulsos; essa ou aquela lesão física que nos exercite a disciplina; determinada mutilação que nos iniba o arrastamento à agressividade exagerada; o complexo psicológico que nos remova as idéias, etc. É a lógica de justiça da Reencarnação, o que nos remete a analisar as patologias congênitas pelo Princípio de Causa e Efeito.

Nosso estado moral é que determinará os renascimentos com anomalias congênitas ou não. Chico Xavier conta o seguinte: Muitas vezes, temos encontrado irmãos nossos suicidas, que dispararam um tiro contra o coração, e que voltam com a cardiopatia congênita ou com determinados fenômenos que a medicina classifica dentro da chamada Tetralogia de Fallow; nós vemos companheiros que quiseram morrer pelo enforcamento e que voltam com a Paraplegia Infantil; nós vemos muitos daqueles que preferiram o veneno e que voltam com más formações congênitas; outras pessoas que violentaram o próprio ventre e que voltam, também, com as mesmas tendências e que, às vezes, acabam desencarnando com o chamado enfarto mesentérico.

Conta ainda o médium de Uberaba, que vemos, por exemplo, aqueles que preferiram morrer pelo afogamento, num ato de rebeldia contra as leis de Deus e que voltam com o chamado enfisema pulmonar. Vemos, ainda, aqueles que dispararam tiros contra o próprio crânio e voltam com fenômenos dolorosos, como, por exemplo, a idiotia, quando o projétil alcança a hipófise; todas essas consequências, porque estamos em nosso corpo físico, mas subordinados ao nosso corpo espiritual. Então, principalmente os fenômenos decorrentes do suicídio, por tiro no crânio, são muito dolorosos, porque vemos a surdez, a cegueira, a mudez, e vemos esse sofrimento em crianças também, o que nos afigura incompatíveis com a misericórdia de Deus, porque nós sabemos que Deus não quer a dor. [3]

Somos herdeiros de nossas ações pretéritas, tanto boas quanto más. O compromisso moral ou conta do destino criada por nós mesmos está impresso no corpo perispiritual.  Esses registros fluem para o corpo físico e culminam por determinar o equilíbrio ou o desequilíbrio dos campos vitais e físicos. É certo que junto de semelhantes quadros de provação regenerativa funciona a ciência médica por missionária da redenção, conseguindo ajudar e melhorar os enfermos de conformidade com os créditos morais que atingiram ou segundo o merecimento de que disponham.[4]

Referências bibliográficas:
[1]           Disponível no vídeo http://www.bbc.com/portuguese/geral-39185557  acessado em 31 de maio de 2017
[2]           A Síndrome de Ivemark consiste de más formações de diferentes órgãos, e a expectativa de vida depende de como cada órgão, principalmente o coração, é afetado.
[3]           XAVIER, Francisco Cândido. Pinga Fogo, São Paulo: Ed. Edicel, 1975
[4]          XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos, Cap 48 , ditado pelo espirito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 1999